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Fala de participante do BBB22 sobre amar e ser amada: os (des)caminhos do amor

Por Herbert Medeiros

O músico e poeta Raul Seixas poetizou na letra “A Maçã” o seguinte verso: ‘o amor só dura em liberdade”.  E como situar a liberdade de amar quando os sujeitos do processo amoroso envolvem mulheres negras ou pessoas lgbts? Em uma fala no BBB22 a sister Natalia expressou “Nós não queremos ser só reconhecidas como mulheres(homens) pretas e pretos, mas queremos também ser reconhecidos como seres que sentem”.

A declaração da participante do Big Brother é sintomática dos efeito danosos  de como o  imaginário histórico, social e cultural constroem o  lugar dos afetos na vida de mulheres negras. No senso comum basta rolar a química, ser flechado,  encontrar a cara metade e tudo segue seu rumo natural dos ‘felizes para sempre’.

Ma essa liberdade de escolher quem amar(?) é bem mais movediça no campo das interações amorosas.   Segundo o IBGE (2010), 52,2% das mulheres negras pesquisadas naquele período não estavam em reunião estável. Dado é revelador para desencantar do slogan ‘querer é poder’, ou seja,  crer que basta desejar profundo e as portas do amor se abrem como num passe de mágica.

Em entrevista para Revista Claudia, a estudante de Arquitetura & Urbanismo e  ativista do Feminismo Negro, Stephaine Ribeiro, também analisa mesma pesquisa do IBGE que aponta: 70% das pessoas se casam com parceir@s da mesma cor.   Ribeiro  ressalta como os afetos são entremeados por fatores sociorraciais  segregadores das possibilidades de interações afetivas livres.  Ainda destaca:  “A mulher negra não é vista como sujeito a ser amado”.

Os valores estéticos sobre beleza, capacidade de sedução, atributos de encantamento são orientados pela matriz branca de referencial sociocultural para estabelecer condicionantes dos encontros  amorosos. 

Nós Lgbt+ também sabemos das dores e delícias para transitar nas relações amorosas com nível de autonomia, autoestima e  dignidade. O Caldo cultural da nossa primeiras socializações já vinha com os comandos dos afetos pré-fabricados: o que , quando, onde, para quem e como SENTIR. No ambiente familiar, na escola, na convivência comunitárias, nos protagonistas de novelas, filmes e produtos de entretenimento, o cardápio do amor não era nado generoso com afetos de pessoas lgbts.

A vivência para nós não é só   apertar o botão do desejo e se jogar para (des)encontros do amor. O processo de sair do armário, se autoconhecer, explorar seus potenciais de sentimentos e emoções não segue fórmulas batidas pelos manuais de amor publicizados por coaches, sites de relacionamentos, plataformas de assessoria amorosa.

 Anos   ou décadas ouvindo você ser espezinhado, subestimado, silenciado nas expressões dos afetos não é da ordem de vitimismo,  são situações internalizadas que produzem efeitos reais sobre corpos, desejos, psique.  Muitos dos lgbts quando conquistam sua autoconfiança e autoestima para viver as idas e vindas dos amores,  não foram somente uma força individual vinda das entranhas que os ergueram.

Resgatar o sentimento de protagonizar sua vida afetiva é caminhos edificado por condições de existência favoráveis: interações com pessoas aliadas, participação em organizações sociais para empoderamento do desejo;   busca de rede de apoio psicossocial, ousadia para romper subalternização imposta pelas instâncias normatizadoras da experiência amorosa.

Sim, o amor liberta mas precisamos pavimentá-lo dia-a-dia:  descontruindo  estradas pisadas de padrões imutáveis,  preconceituosos e monocromático  para viver o amor; horizontalizando as interações para criar vias múltiplas de sentir e experenciar as afetividades. E na dança do amor, parafraseamos os versos de Adriana Calcanhoto:  Quero porque quero e não espero para começar/Danço porque danço e não descanso até o sol raia /Dançando(amando) certo/ Dançando(amando) louco/ Dançando(amando) contra corrente/Dançando(amando) Diversamente”

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