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Diversidade

Casa da Cultura e centro Urbano de Teresina: a vida ainda pulsa?

Por Herbert Medeiros

O Filósofo Walter Benjamim denomina de flanar a   experiência de perceber as redes  de sentidos contraditórias  da cidade:  andar ociosamente pelas curvas e retas das ruas, avenidas e construções urbanísticas com olhar atento, sensível, aguçado para mapear a vida social e suas dinâmicas.

 Neste sentido, quando se faz a  experiência de flanar    pelo centro de Teresina, o olhar de choque se depara com  os (des)caminhos cinzentos que atravessam a cidade. Casas Residenciais, comerciais, edifícios públicos e privados adormecem em estado de deterioração. O pulsar da vida nestas territorialidades clamam por socorro.

Caso ilustrativo do abandono é  o prédio onde funcionava a Casa da Cultura de Teresina, próxima à praça Saraiva.  Edificação centenária que exala memórias históricas:  moradia do Barão de Gurgueia, funcionamento de Seminário,  residência Episcopal, Sede do DNOCS e por fim, em 1994,  constituiu espaço vivo das expressões culturais da capital e Estado.

A riqueza  de um povo se expressa nos espaços urbanos que celebram a diversidade cultural. A Casa da Cultura era esse lugar onde se respirava as artes :  exposições de artistas plásticos,  apresentações de   dança, performance de bandas e músicos, exibição de filmes. Por ali, interações e diálogos instigantes  sobre cena cultural teresinense palpitavam pelas salas e pátio da casa.

O que  teresinenses de todas classes, escolaridade, condição socioeconômica,  origem, credo e identidade cultural  desejam é poder flanar pelas ruas do centro da cidade: sentir as cores, luzes,  os aromas, as sinuosidades  e registros históricos e patrimoniais  de praças, ruas, jardins, casas, estabelecimentos mercantis.

Para isso, autoridades públicas e privadas precisam reconectar-se com cada lugar da região  central de Teresina. Andar, sentar, escutar, conversar, sentir o testemunho de quem por ali trabalha, mora, passa apressado, circula detidamente. O centro urbano não é só um amontoado de edifícios, praças e casas, estacionamentos – triste fim de um região central privatizada para louvar os carros em detrimento de outras dinâmicas mais ricas complexas.

A vida – em todas dimensões – é marcada pela valorização do patrimônio arquitetônico, cultural e artístico das cidades. O turismo cultural em cidades do Brasil atentam essa realidade: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, São Luís, Recife, Belo Horizonte, cidades históricas de Minas Gerais. Grandes cidades europeias têm sua riqueza e fonte de sustentação ao oferecer uma gama de lugares para flanar e fruir as cidades.

Mercados, ruas, avenidas, galerias, cafés, centros culturais, casas de espetáculo, museus, parques, praças, monumentos, feiras, festas, celebrações, teatros dão a tônica para uma cidade se tornar um espaço de experiências, memórias, vivências, trocas diversas. Empregos, renda, trabalho e bilhões são gerados quando agentes públicos, privados, sociedade civil dialogam para criar uma vida urbana potente via políticas   culturais democráticas, gerando sustentabilidade socioeconômica e ambiental.  

E com a palavra o grande cronista da vida urbana; João do Rio

“Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia -o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.” – Alma Encantadora das Ruas

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