Por Herbert Medeiros
Dias dos Pais: nas redes sociais e nas teias da vida além do universo digital observam-se muitas celebrações, fotos, declarações de amor, presentes, publicidades sedentas por excitar o desejo consumista bem como avalanche de discursos pautado em idealizações sobre esse sujeito cultural que chamamos de ‘pai’. Mas também é preciso pensar: novos arranjos familiares SOCIEAFETIVOS com dimensões vinculadas à responsabilidades paternas e masculinidades múltiplas.
Quem não lembra das peças publicitárias veiculando um modelo da Família Margarina vivendo em um ambiente idealizado de harmonia – preferencialmente com o ‘macho adulto sempre no comando’. Ali naquela foto idílica não havia espaço para outros modos de amor familiar. Mas como canta o poeta ‘o tempo não para’: famílias homoafetivas sempre existiram e cada vez mais buscam na vida contemporânea ocupar espaços de reconhecimento para expressar sua voz e vez nas representações sociais cotidianas.
Entre pensadores/as e estudiosos/as do Direito de Família já é uma realidade fática a constatação de que é o AFETO o núcleo impulsionador para constituição das famílias. Nesse sentido, o Amar, cuidar, educar, proteger, compartilhar responsabilidade integram os vínculos formadores da vidas Heteroafetivas e Homoafetivas. O Educador e psicodramatista Içami Tiba bem expressou a máxima: Quem AMA CUIDA.
E falar em CUIDADO dentro do universo paternal é trazer para a reflexão o lugar masculino como exercício de sensibilidades, verbalização de sentimentos, disposição de reelaborar/repensar paterno como poder arbitrário e incontestável, prontidão para escuta e diálogo na interação familiar, generosidade de buscar ajuda profissional quando assim for necessário bem como sabedoria para sempre estar a aberto a apreender e reaprender no convívio com os/as filhotes. O desaprender é parte dessa dinâmica familiar, afinal, as certezas são um morada para uma zona de conforto que sufoca novas aprendizagem.
Para avançar na construção de paternidades socieafetivas responsáveis se faz necessário problematizar o senso comum de enquadrar famílias como desprovidas de relações de poder. Idealiza-se um papel social rígido e hierarquizado para cada membro familiar, favorecendo condições propícias ao abusos de quem manda mais quem pode mais. Nesse cenário, a percepção imediata do núcleo do comando dominante - simbolizado em uma idealização paterna - se constrói baseado no medo, na intimidação, na tradição opressiva.
A vida masculina e paterna hoje em dia apresenta-se gradativamente em diferentes tons de cores assim como mais dinâmica e complexa do que aparece ao primeiro olhar. Filhas/os convivem com duas figuras paternas, pai solo e outras organizações socioafetivas.
Aos que disseminam pânicos infundados acerca das novas famílias - sugerindo falta autoridade dos pais e perda da tradição – é importante lembrar que autoridade real passa por estabelecimentos de limites, gerenciamentos de conflitos, habilidades dialógicas, respeito fruto de acordos estabelecidos. E Tradição não significa um modo intransigente de impor a conduta ética e moral para todos/as, estabelecendo sanções autoritárias para quem pensa, sente e age diferente.
Na vida sociocultural, tradicionalismo não reina soberana acima do bem e do mal, pelo contrário, está em diálogo/conflito/negociação/ perpetua com a o novo, a mudança . Necessário que seja assim para a História seguir seus fluxos de riqueza das Diversidades existenciais. Os sujeitos masculinos paternos são atravessados por essas dinâmicas, gerando aprendizagens ricas em possibilidades de exercício das paternidades. ASSIM É, ASSIM SEJA.