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Festival do Rio lança documentário gay do diretor Rodrigo Felha

Enquanto a homofobia se cristaliza no Brasil em declarações e ações violentas, o cinema é refúgio seguro para os gays. Na boa safra de filmes, uma novidade: a estreia de "Favela Gay"


“Favela Gay” será lançado nesta sexta-feira (3) no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, e tem exibições marcadas também para o sábado e o domingo. O que o público vai ver é a vida dos LGBT nas favelas cariocas. “O viés político e a pluralização sempre vão fazer parte dos meus filmes”, declara ao iGay o diretor do documentário, Rodrigo Felha. Felha insiste que “Favela Gay” deve ser visto como “um filme comum de pessoas comuns”, mas não nega a importância política de sua obra. “Alguns filmes têm a missão direta de cumprir este papel.”

 

Filmado em comunidades como Cidade de Deus, Rio das Pedras, Rocinha, Complexo do Alemão, Complexo da Maré e Andaraí, o filme tem a preocupação de mostrar o cotidiano de gays em um ambiente marcado por preconceito, pobreza e violência.

 

“Não há nada mais diferente de um homossexual do que outro homossexual (Jean Wyllys)


“Não há nada mais diferente de um homossexual do que outro homossexual”, diz Jean Wyllys, colunista do iGay, deputado federal e um dos entrevistados pelo filme que tem como objetivo construir um olhar sobre personagens negligenciados pela cultura LGBT tradicional. Felha, no entanto, rejeita o rótulo de personagens para aqueles que povoam o seu filme. “Não consigo tratar essas pessoas como personagens, elas foram elas mesmas com ou sem a câmera ligada”.

 

Olhar para o indivíduo

 

O diretor conta que sua prioridade sempre foi “visualizar e valorizar a pessoa. A favela na qual morava era apenas consequência.” A confiança foi surgindo aos poucos e a produção se beneficiou de pessoas que se entregaram ao projeto. “Quando notavam que era um projeto sério e que era fundamental estar dentro, se doaram.”

 

A heterossexualidade de Felha foi um fator decisivo na construção da narrativa de “Favela Gay”. “A curiosidade e a minha falta de informação para muitos assuntos eram usados propositalmente como arma.” Perguntas simples levavam a assuntos íntimos e proporcionavam aos entrevistados o compartilhamento de memórias lindas e trágicas.

 

A ideia de rodar um filme sobre gays em comunidades carentes do acalorado Rio de Janeiro beliscou Felha num desses lances descompromissados da vida. “Em 2008, estava registrando em vídeo um jogo de queimada na Cidade de Deus, organizado pela cantora Tati Quebra-Barraco. Algo me chamou muito a atenção quando a energia do jogo e daquele ambiente mudava, trazendo sorrisos e alegria para o público. Estavam em cena os gays transformando a ‘Queimada’ em ‘Gaymada’”.

 

10 minutos para convencer Cacá Diegues

 

“Mandei um vídeo de pesquisa que tinha em mãos e 10 minutos depois o Cacá Diegues me ligou interessado em ajudar (Rodrigo Felha)


O passo seguinte foi contatar o cineasta e produtor Cacá Diegues, que produziu a primeira experiência de Felha atrás das câmeras como diretor de um dos episódios de “5 x favela – agora por nós mesmos” (2010). “Mandei um vídeo de pesquisa que tinha em mãos e10 minutos depois o Cacá me ligou interessado em ajudar.” Ele conta que a liberdade proporcionada pelo experiente colega foi vital para o êxito do projeto.

 

Como é de praxe no cinema, muita coisa boa ficou fora da versão final do filme. “Histórias engraçadas como transar e penetrar um homem homofóbico, que falava que odiava “viado”, foram contadas no filme nos mínimos detalhes. No entanto na montagem não havia encaixe, seria gratuito”, contextualiza Felha.

 

O diretor tem consciência de que seu filme é incapaz de reproduzir, ou mesmo de mimetizar, todo o universo gay dessas comunidades e reconhece orgulhoso que sua maior dificuldade como realizador foi peneirar as muitas boas histórias a que teve acesso. “Naturalmente não podíamos filmar todas”, resigna-se.

 

“O cinema sempre esteve à frente, é a arte que nos possibilita dar vidas e tirar vidas, construir e desconstruir histórias. À sociedade falta ser sociedade, falta entender o sentido dessa palavra. (Rodrigo Felha)


A carreira de “Favela Gay” nos cinemas ainda vai começar, mas Felha não precisa nem mesmo saber se seu filme será um sucesso de crítica ou público para indicar que está estreando o salvo-conduto para sua maioridade intelectual e cultural. “O cinema sempre esteve à frente, é a arte que nos possibilita diretamente e subjetivamente dar vidas e tirar vidas, construir e desconstruir histórias de nações, por exemplo,” diz ele, sobre o fato do cinema estar à frente da sociedade na abordagem da homossexualidade. “À sociedade falta ser sociedade. Falta entender o sentido dessa palavra.


Fonte: iGay

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