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Lobista da SBM diz que garantiu ‘ganhos expressivos’ à Petrobras

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Suspeito de ser um dos operadores do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, o ex-representante da SBM Offshore no Brasil Júlio Faerman afirmou nesta terça-feira (9) à CPI da Petrobras que garantiu “ganhos expressivos” à estatal de petróleo brasileira enquanto atuava em nome da empresa holandesa de aluguel de plataformas.

Em audiência da comissão parlamentar de inquérito, Faerman fez um breve relato de sua trajetória profissional, disse que não é lobista e informou que não responderá às perguntas dos parlamentares porque firmou acordo de delação premiada como o Ministério Público Federal.

“Minha empresa foi contratada pela SBM para atuar como representante de seus negócios no Brasil. Desde então o trabalho por mim desenvolvido resultou em ganhos expressivos à Petrobras especialmente pelo novo modelo de contratação de plataformas de petróleo. Venho sendo equivocadamente identificado na imprensa nacional como lobista”, afirmou Faermen aos deputados da CPI, pouco antes de anunciar que ficaria calado durante a audiência.

“Temo que repercussão midiática das formulações aqui proferidas possa vir a prejudicar minha ampla defesa e acima de tudo venha a ser prejudicial ao acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público e ainda não homologado pela autoridade judicial”, explicou o ex-representante da SBM Offshore.

O procedimento assinado com o MPF em 12 de maio prevê que Faerman irá colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em troca de benefícios como redução da pena e possibilidade de responder a processo em liberdade.

O ex-representante da SBM é apontado pelo ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, um dos delatores da Operação Lava Jato, como o responsável pelos pagamentos de propina vinda da SBM para Petrobras desde 1998. O dinheiro era pago em troca de contratos de aluguel de plataformas de petróleo firmados entre a SBM e a estatal brasileira.

Em depoimento a integrantes da CPI, em Londres, em 19 de maio, o ex-diretor da SBM Jonathan Taylor confirmou que os pagamentos de propinas a funcionários da Petrobras eram feitos por Faerman. Numa das gravações entregues por Taylor à CPI, um ex-diretor de Vendas da SBM chegou a explicar que a comissão era de 3% sobre cada contrato. Faerman ficava com 1% e o restante ia para pessoas da Petrobras, segundo o ex-diretor.

Silêncio

Diante da existência de delação premiada ainda não homologada pela Justiça, os integrantes da CPI da Petrobras decidiram dispensar Faerman, sem fazer perguntas. Antes, o presidente da comissão perguntou se o lobista se comprometia a retornar à comissão depois que o sigilo do teor da colaboração for derrubado pela Justiça, o que só pode ocorrer quando o MPF apresentar denúncia e ela for aceita pelo juiz.

“Toda vez que for convocado, aqui estarei. Não há dúvida nenhuma. Vou cumprir com o que a lei manda. Quando voltar, em qualquer momento, vou cumprir com o que a lei manda”, respondeu Faerman.

Para garantir que Faerman retornará à comissão, a CPI decidiu que irá requerer à Justiça Federal a retenção do passaporte do lobista, já que ele reside atualmente em Londres, na Inglaterra. "A nossa CPI foi prorrogada para atuar por mais 60 dias. Acredito que dará tempo para a homologação da delação e para que ele retorne. A nossa preocupação em pedir a retenção do passaporte é garantir que ele estará aqui quando a delação for concluída", disse Hugo Motta.

O pedido de retenção do documento deverá ser feito à Justiça Federal do Rio de Janeiro, já que a delação premiada foi firmada por Faerman com o Ministério Público Federal no Rio. As investigações correm no Rio de Janeiro porque o procedimento foi aberto antes da deflagração da Operação Lava Jato no Paraná, onde se encontram os processos de réus no esquema da Petrobras que não possuem foro privilegiado. Como as suspeitas que recaem sobre Faerman têm relação com as denúncias apuradas pelo Ministério Público Federal no Paraná, deverá haver compartilhamento de provas entre os procuradores.

Faerman obteve no Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para ficar calado. Na decisão, a ministra Rosa Weber menciona que o lobista contratado pela SBM firmou acordo de delação premiada com o MPF. A delação ainda não foi homologada pela Justiça e o teor deve permanecer em sigilo até que seja recebida denúncia.

Faerman chegou a ser convocado para depor na CPI antes da sessão desta terça, mas não apareceu, afirmando depois que não recebeu um comunicado oficial sobre a sessão. O lobista só entrou em contato com a comissão depois de o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), encaminhar, em maio, um pedido de prisão temporária à Polícia Federal (PF) e à Interpol para que ele fosse conduzido à força à Câmara dos Deputados.

Durante a audiência desta terça, os deputados criticaram a postura de Faerman e o acusaram de ter “desrespeitado” a CPI. Antes de anunciar que ficaria em silêncio, Faerman pediu “desculpas” aos parlamentares.

“Gostaria de esclarecer que, tão logo recebi a convocação, coloquei-me à disposição das autoridades. Soube pela imprensa que teria sido convocado anteriormente, convocação que jamais recebi. Peço desculpas se esses fatos deixaram a errônea impressão de que me furtava a prestar esclarecimentos”, afirmou o lobista.

Fonte: G1.

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