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Confira seleção de produções para desconstruir o sexismo

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O abuso sexual coletivo sofrido por uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro e suas repercussões, como a culpabilização da garota nas redes sociais, trouxeram à tona um problema antigo na sociedade: a cultura do estupro. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o termo se refere à naturalização de comportamentos machistas, sexistas e misóginos que normalizam agressões sexuais e outras formas de violência contra a mulher.

Mulheres de diferentes estados e até de outros países se manifestaram pelas redes sociais e saíram às ruas para pedir o fim desse tipo de comportamento e prestar apoio à jovem. A partir daí, o termo cultura do estupro — que não é novo — voltou a aparecer. Em vídeo publicado no canal Jornalistas Livres, a escritora e professora de filosofia Marcia Tiburi explicou a expressão e seus significados. “Seria o nosso modo de viver, de pensar e de agir em que o estupro foi naturalizado. A sociedade, de modo geral, não se preocupa com o estupro. Quando passa a comoção, a mesma sociedade desconsidera a cultura do estupro”, afirma.

Para que a discussão sobre a cultura do estupro não se perca, o Diversão & Arte apresenta uma seleção de obras culturais que debatem a temática. “É sempre importante colocar na literatura, no cinema, na mídia, uma versão que é a da vítima. De modo geral, temos isso em filmes, livros e novelas de uma forma muito ruim. As obras precisam mostrar a importância de denunciar, dar espaço para as mulheres”, analisa a brasiliense Bianca Cardoso, uma das responsáveis pelo site Blogueiras Feministas.

O livro Má feminista: Ensaios provocativos de uma ativista desastrosa, da escritora norte-americana Roxane Gay, que chega ao Brasil na segunda semana de junho, trata do tema em artigos. Logo na introdução, Roxane cita diversas atitudes na sociedade atual que servem para naturalizar a cultura do estupro, como um comediante que pede aos fãs que toquem levemente a barriga das mulheres porque ignorar limites pessoais é engraçado; e as músicas que glorificam a degradação das mulheres. A autora dedica um capítulo à temática, A linguagem negligente da violência sexual, em que debate a maneira casual com que se lida com o estupro. “Você pode pensar em uma série dramática de televisão que não incorporou algum tipo de enredo envolvendo estupro? Enquanto o estupro como assunto de entretenimento pode, certa vez, ter incluído um elemento didático, agora não é mais esse o caso. O estupro é bom para render audiência”, critica.

Filmes para desconstruir a cultura do estupro:

Acusados

De 1988, o filme protagonizado por Jodie Foster acompanha a história de uma mulher de classe baixa que numa noite é estuprada por vários homens em um bar. Inicialmente, a promotora do caso aceita que os violadores sejam acusados de agressão corporal. Porém, a pedido da vítima, ela resolve acusar os envolvidos do crime.

Confirmação

O filme estrelado por Kerry Washington e produzido e lançado pela HBO neste ano mostra os bastidores de uma história real. Kerry interpreta a professora de direito Anita Hill que acusou o juiz Clarence Thomas, indicado por George W. Bush a ocupar uma cadeira na Suprema Corte norte-americana, de assédio sexual.

Livros sobre a temática:

Exames de empatia: Ensaios De Leslie Jamison.

O livro propõe uma investigação da palavra empatia, por meio de suas próprias experiências, como um aborto e um soco que levou de um desconhecido em Granada, na Nicarágua. Mas não chega a tratar de estupro em si, apesar de revela muito sobre a cultura que leva a normalização do assédio contra a mulher. "Mais tarde disseram que eu não deveria caminhar à noite, naquela vizinhança ou numa rua vazia, sozinha. Eis o que sozinha realmente significa: sem um homem", conta no ensaio Morfologia da agressão.

Vamos juntas? O guia da sororidade para todas De Babi Souza.

A boa repercussão do projeto nas redes sociais - atualmente a página Vamos juntas? tem mais de 360 mil curtidas no Facebook - fez com que o projeto se tornasse um livro, intitulado Vamos juntas? O guia da sororidade para todas. A obra conta a história do movimento abordando temas como sororidade, empoderamento e feminismo por meio de depoimentos.

Fale! De Laurie Halse Anderson.

O livro de ficção acompanha a jovem Melinda que sofre bullying dos colegas e sofreu abuso. Na obra, a autora mostra que a garota aprendeu a lidar com os acontecimentos sombrios de sua juventude.

Má feminista: Ensaios provocativos de uma ativista desastrosa. De Roxane Gay.

Na obra, Roxane Gay lembra um caso acontecido nos Estados Unidos, bastante semelhante com o brasileiro. Uma jovem de 11 anos foi estuprada por 18 homens em Cleveland, no Texas, e teve o ataque divulgado na internet. "Houve uma discussão sobre o fato de a menina vestir-se como se tivesse 20 anos, deixando implícita a possibilidade de que uma mulher possa 'pedir por isso' e também de que, de alguma forma, é compreensível que 18 homens estuprem uma menina. Vivemos em uma cultura excessivamente permissiva em relação ao estupro. Enquanto por um lado há muitas pessoas que o entendem, bem como os danos causados por ele, por outro, vivemos em uma época que exige a expressão cultura do estupro".

Não sou uma dessas: Uma garota conta tudo o que "aprendeu". De Lena Dunham.

Em obra biográfica, a atriz e roteirista da série Girls da HBO apresenta relatos pessoais e discute temas como abuso sexual e machismo por meio de experiências.

Fonte: Correio Braziliense

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