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Marcas da COVID-19

Nestes últimos dias tenho deparado com situações novas na minha carreira de professor e pesquisador. Esta semana que passou fiquei sabendo de um colega que entrou em profunda depressão por não conseguir manter-se produtivo no seu trabalho de pesquisador. Há alguns dias soube de um antigo aluno que trancou o seu curso de pós-graduação porque sua saúde mental não estava perfeita.

Já tem um tempo que observo os danos provocados pela pandemia ou, ainda que não tenham provocado dano direto, de certa forma vieram a prejudicar pesquisas em andamento e, especialmente professores e estudantes, ainda impactados com os efeitos da COVID-19. Na última sexta-feira, dia 27/10, participei de modo remoto de uma banca de uma estudante de Doutorado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A doutoranda mostrou um trabalho fabuloso desenvolvido exatamente no período da pandemia, avaliando os impactos da doença na atividade física. No final de tudo, já aprovada, fez um agradecimento aos filhos e ao esposo por terem ajudado na coleta de dados durante o período, especialmente por causa do quadro depressivo que a arrebatou durante a pesquisa.

Os efeitos da pandemia vão perdurar por muitos anos na vida de todos. Os efeitos sobre a educação, na minha opinião são os mais severos, uma vez que uma série de ciclos foram quebrados pela pandemia e seus efeitos: o medo, as medidas, as proibições, as mortes, o pânico provocado quando alguém da família adoecia, e o papel nefasto desenvolvido por alguns órgãos de imprensa que, de modo equivocado, ajudaram ainda mais a transformar o período em um caos, transmitido via satélite.

As marcas da COVID-19 deveriam ser observadas pelos órgãos de fomento que não arrefeceram as cobranças por produtividade sem qualquer tipo de trégua. Parece até que os tomadores de decisão nesta área não viveram o período. Da minha parte, tenho tentado acalmar meus alunos, especialmente aqueles que tinham projetos grandiosos e que tiveram que encolher para comportar nos novos prazos e diante das circunstâncias pós-pandêmicas.

Se faz importante que as pessoas tomem consciência que, só agora, já podemos deflagrar uma situação de calma em relação ao processo pandêmico. Com o alcance das vacinas, a vida começou a voltar ao normal. Mas o produtivismo exigido pode vir com mais calma.

Boa semana para todos e todas.

 

Curtas & rápidas em Ciência (#1)

Amostras de asteroide contém água e compostos orgânicos

A primeira observação do material do asteroide Bennu, que chegou à Terra pela espaçonave OSIRIS-REx da NASA, revelou altos níveis de água e moléculas orgânicas. Análises mais aprofundadas poderão fornecer pistas sobre como os impactos de asteroides na Terra há bilhões de anos podem ter ajudado a vida a começar. De acordo com técnicos do Johnson Space Center, que ainda não abriram o recipiente principal da amostra, os testes iniciais de poeira e areia que vazaram para um compartimento circundante mostram indícios de carbonato, que pode ter precipitado da água corrente no corpo de Bennu durante a infância do Sistema Solar.

IA decifra pergaminho queimado

Pesquisadores revelaram na semana passada a primeira palavra inteira a ser identificada no que resta dos rolos de papiro incinerados pela erupção do Monte Vesúvio em 79 dC: “porphyras”, que significa “roxo” em grego antigo. Tentar desenrolar os pergaminhos, recuperados de uma biblioteca em ruínas na antiga cidade de Herculano, quase certamente os destruiria. Mas os pesquisadores conseguiram ler letras dentro de um deles treinando um algoritmo de inteligência artificial para decifrar os caracteres granulados e pouco legíveis revelados pelos raios X. Ao decodificar essa primeira palavra, Luke Farritor, um estudante de ciência da computação da Universidade de Nebraska, Lincoln, ganhou um prêmio de US$ 40.000 em uma competição, o Desafio Vesúvio, que começou em 2019. Ainda não reclamado está o grande prêmio de US$ 700.000 para o primeiro a decifrar. quatro passagens de dentro de um dos pergaminhos; o prazo termina no final deste ano.

Pesquisa coleta genomas negros

Pesquisadores anunciaram esta semana planos para criar o primeiro banco de dados de genomas exclusivamente de pessoas com ascendência africana. Estão entre os mais geneticamente diversos do mundo, mas continuam sub-representados nas bases de dados genéticas e, por extensão, nos estudos genéticos: apenas 0,48% dos participantes neste tipo de investigação em todo o mundo se identificam como afro-americanos ou afro-caribenhos e apenas 0,18% como africanos. Como resultado, alguns tratamentos – para o cancro, por exemplo – podem não funcionar bem neste grupo porque foram testados principalmente em pessoas de ascendência europeia. O novo esforço, denominado Juntos para Mudar os Cuidados de Saúde para Pessoas de Ancestrais Africanos através de uma Genómica e Equidade Internacional, visa recrutar pelo menos 500.000 voluntários. Está sendo liderado pela Meharry Medical College, uma faculdade historicamente negra, e pelas empresas farmacêuticas AstraZeneca, Novo Nordisk, Regeneron e Roche. Cada empresa está contribuindo com US$ 20 milhões. O grupo espera formar parcerias com outras instituições historicamente negras dos EUA e com universidades em África. Todos os parceiros terão acesso exclusivo aos dados resultantes.

Quais espécies de serpentes viviam no Egito antigo?

Os cientistas deram nomes a algumas das misteriosas espécies de cobras que picaram os antigos egípcios. Os pesquisadores há muito discordam sobre as identidades de 34 cobras mencionadas em um pergaminho, datado do século VI aC e guardado no Museu do Brooklyn, que descreve como tratar picadas de cobra e é considerado um dos primeiros textos médicos. Uma equipe da Universidade de Bangor analisou 19 variáveis que descrevem o clima de distribuição de espécies de cobras conhecidas e concluiu que nove - incluindo a altamente venenosa víbora e a mamba negra - que não vivem mais no Egito moderno poderiam ter vivido no clima predominante no antigo Egito.

Guerra paralisa pesquisas

Países em Guerra sofrem de todas as formas. A ofensiva do grupo terrorista Hamas contra Israel tem provocado um apagão nas pesquisas em universidades tanto de Israel quanto as situadas na faixa de Gaza e na Cisjordânia.

De acordo com Asher Cohen, Presidente da Universidade Hebraica de Jerusalém no clima de guerra não é possível manter estruturas de pesquisa funcionando plenamente. Algumas famílias choram pela morte de pesquisadores, estudantes e funcionários das instalações de pesquisa mortos nos ataques surpresa do Hamas, iniciado em 08 de outubro.

O lado palestino coleciona mais prejuízos. Segundo Marwan Awartani, Presidente da Academia de Ciência e Tecnologia da Palestina, com sede na Cisjordânia, “a prioridade não é a Ciência. A prioridade é se manter vivo”.

Na Universidade Bem Gurion, situada a 41 km da Faixa de Gaza, mais de 240 estudantes de pós-doutorado estrangeiros foram aconselhados a voltar para seus países de origem. A universidade já perdeu certa de 50 pessoas entre estudantes, funcionários e pesquisadores. Um número ainda desconhecido encontra-se como refém nas mãos dos terroristas do Hamas. Dentre as perdas já confirmadas estão o físico teórico Sergey Gredeskul e sua esposa, a matemática Viktoria Gredeskul, mortos na primeira ofensiva contra Israel.

Outra perda ocorre quando pesquisadores são convocados para servir o exército para realizar a contraofensiva. De acordo com o pesquisador Yuval Dor, da Universidade Hebraica de Jerusalém, cinco dos 20 membros do seu laboratório foram convocados para servir o exército, o que resultou na paralisação de pesquisas na área de Diabetes e outras doenças metabólicas.

A guerra traz o terror para a população em geral. Os prejuízos são imensuráveis. Passemos a refletir melhor sobre o terror de viver em regiões nas quais não há nenhuma certeza sobre o dia de amanhã. A vida nestes locais tem outro significado.

Boa semana para todos e todas.

 

Sitio Paleobotânico de Altos: uma riqueza ameaçada

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  • fossil1.jpeg Francisco Soares Santos Filho

No dia 08 de outubro de 2023, por iniciativa de alguns colegas do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), foi organizada uma excursão exploratória à Floresta Petrificada existente no município de Altos, Piauí. A missão foi organizada pela Profª Drª Gardênia Batista, especialista em algas da UESPI, que montou equipe formada pelo Prof. Henrique Moita (geólogo), Prof. Paulo Lopes (biólogo) e por mim, Prof. Francisco Soares (botânico). Ao chegarmos em local combinado nos encontramos com a Profª Joira Fernandes (professora de Biologia e ex-aluna da UESPI), Prof. Ivan Azevedo (professor de História), Prof. Rubem Félix (professor de História) e a Profª Natiele Cruz (professora de Língua Portuguesa, acadêmica de Arqueologia da UFPI).

A ideia inicial era conhecer este local, cujas primeiras informações científicas foram trazidas na década de 1990 pelo Prof. Henrique Moita, que na época publicou resumos em eventos científicos e até um artigo na Revista do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), o que deu ampla repercussão na imprensa local, com a publicação de fotos dos fósseis e a narrativa da equipe liderada pelo geólogo da UESPI.

Chegamos ao ponto do assentamento do INCRA no qual o sítio paleontológico encontra-se inserido, deixamos os veículos e seguimos a pé até chegar nas proximidades dos fósseis, numa caminhada de uns 15 minutos. Visualizamos e registramos com fotografias alguns dos fósseis, um pouco diferentes dos encontrados na Floresta Fóssil do Rio Poty, em Teresina e que já tive a oportunidade de escrever sobre ela algumas vezes. Se quiser rever os textos que escrevi bem no início do Ciência Viva sobrea Floresta Fóssil de Teresina, às margens do Rio Poty, clique aqui, aqui e aqui.

Na área são encontrados um conjunto de quase 70 fósseis de troncos de árvores que viveram na região há pelo menos 280 milhões de anos antes do presente. De acordo com estudos anteriores, a área pertence à formação geológica Pedra de Fogo, uma formação com idade entre os períodos Permiano e o Carbonífero, da Era Paleozóica, ou seja, bem antes da passagem dos dinossauros pela Terra. Na área são registrados exemplares in situ (expressão usada para identificar que ali surgiram e ali permanecem até hoje, para contrastar com a expressão ex situ, que se refere a uma peça que estava em um local e foi removida para um museu, por exemplo), rolados e em posição de vida dos gêneros Psaronius, Artropitys, Amyelon e Cycadoxylon. Seriam plantas de grupos que ainda existem nos dias atuais como as plantas Gimnospermas (grupo dos pinheiros, Cycas e ciprestes) e grupos que já desapareceram como intermediários entre os pinheiros e samambaias (pteridospermófitas), que desapareceram no fim da Era Paleozóica.

Necessidade de conservação

O sítio atualmente padece do básico: proteção. Fica situado dentro de um assentamento do INCRA, órgão do Governo Federal. Mas poderia ser protegido, ambientalmente por qualquer esfera (federal, estadual ou municipal). Poderia se transformar em um Parque ou, numa hipótese de pouca proteção, mas pelo menos, alguma proteção, virar uma Área de Proteção Ambiental. Durante a visita vimos o movimento para construção de uma estrada que corta a área. Segundo relatos das pessoas que nos acompanhavam nenhum estudo ou encaminhamento ambiental foi feito. Um dos nossos guias mostrou um fóssil que fora removido pela máquina que abria a estrada.

Pesa sobre esta situação a ação de quem está construindo a estrada, por fazê-lo sem o devido zelo, bem como de órgãos de fiscalização como Secretaria de Meio Ambiente, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e o Ministério Público, responsável por fiscalizar a lei.

Boa semana para todos e todas.

 

Nobel de Medicina e Fisiologia em favor da vacina

Desde o final de 2019, quando a COVID-19 começou a se proliferar pelo mundo, até transformar-se em uma emergência mundial fechando tudo aqui no Brasil, em meados de março de 2020, até o começo de 2021 quando as primeiras pessoas começaram a receber doses das primeiras vacinas produzidas e distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), boa parte dos brasileiros sonhava com uma solução para o problema em curso do espalhamento e contaminação pelo SARS-CoV2. A vacina, que grande parte dos brasileiros costumava a considerar como uma salvaguarda era de fato um sonho. Mas o que se sabia era que qualquer coisa com alguma eficiência e segurança só apareceria com 5 ou mais anos de estudos, considerando o melhor dos prognósticos.

Contra todos os prognósticos, contra uma imensa campanha difamatória das vacinas, contra outra campanha gigante de Fake News que, ainda hoje, aposta no uso da Cloroquina e da Ivermectina como medicações offlabel para o tratamento da Covid-19, em 17 de janeiro de 2021 a Enfermeira Mônica Calazans recebeu uma dose da vacina Coronavac, produzida a partir de uma parceria entre o Instituto Butantan e a companhia farmacêutica chinesa Sinovac. Esta vacina foi concebida, utilizando o capsídeo viral como estimulador imunológico, modo tradicional de se conceber vacinas, mas de eficácia menor, dado ao poder mutante do vírus.

O Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia foi anunciado esta semana, premiando a cientista húngara Katalin Karikó e o cientista norteamericano Drew Weissman, pelo desenvolvimento da vacina utilizando o RNAmensageiro do vírus, uma tecnologia que já vinha em desenvolvimento, mas que teve na vacina produzida pelos laboratórios Pfizer e BioNTech o seu principal produto e argumento no convencimento do comitê que distribui o prêmio. Diferente das vacinas Coronavac, e das vacinas produzidas pela Astrazeneca e pela Jansen que usam métodos tradicionais, a vacina da Pfizer mostrou-se com uma eficácia próxima dos 100% (95%).

Sem qualquer dúvida a dupla mereceu este reconhecimento pelo mérito de ter desenvolvido uma técnica que vai muito além deste primeiro momento, no qual forneceu para o mundo o direito de sair mais rápido de uma pandemia sem precedentes na história mundial, até então.

A ciência mostrou para o mundo o seu valor e o comitê de escolha dos laureados para o cheque de 11 milhões de coroas suecas da Fundação Alfred Nobel (cerca de 4,8 milhões de reais) também souberam reconhecer o valor destes pesquisadores. Isso é motivo para nos encher de orgulho!

Boa semana para todos e todas.

Pesquisa de 40 anos comprova Teoria da Evolução

Há na Biologia uma área que sofre constantes ameaças dos “homens de pouca fé”, aqueles que se rendem a sua própria ignorância e cegueira, os negacionistas. Esta ciência é a Evolução. Mas para tudo existe uma explicação, sempre baseados em fatos. Vamos à nossa história de hoje.

A teoria da evolução, de que os seres vivos sofrem mudanças ao longo do tempo, foi lançada em 1859 com a publicação do livro “A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural” do naturalista inglês Charles Darwin. A teoria foi defendida na Sociedade Linneana de Londres e é atribuída a Darwin e ao naturalista Alfred Russel Wallace. A ideia da imutabilidade sempre permeou a crença popular com base na interpretação literal de textos sagrados, de cunho religioso.

A ideia de Darwin foi representada por muitos dos exemplos descritos na natureza, inclusive alguns deles a partir de informações coletadas pelo próprio Darwin ao longo de uma viagem a bordo do navio H.M.S.Beagle que passou por muitos lugares, dentre eles a América do Sul, com destaque para o Arquipélago de Galápagos no Oceano Pacífico e que pertence ao território do Equador. Em Galápagos, Darwin teve contato com uma fauna bastante “diferente”, encontrando desde Tartarugas Gigantes, Aves diferentes e dentre estas o pequeno Tentilhão. Examinando melhor estas aves, Darwin conseguiu relacionar o formato do bico ao tipo de alimento disponível na ilha em que havia coletado a ave, um feito sensacional para quem apenas passou pelas Ilhas do arquipélago.

O Casal Grant

Peter e Rosemary Grant, um casal de pesquisadores, iniciaram na década de 1970 uma pesquisa que vem sendo conduzida até hoje, com a finalidade geral de comprovar as intuições e suspeitas de Charles Darwin, no que se refere aos tentilhões. O trabalho dos Grant e sua equipe de pesquisadores que combina dados ecológicos, observacionais, de biologia molecular, de genética e outras áreas da Biologia, desvendando os detalhes da história evolutiva destas aves, já que elas se enquadram em um modelo interessante, por estarem isoladas em ilhas que apresentam diferenças ambientais que atuam diretamente na seleção dos organismos mais aptos. A revista Science desta semana nos premiou com a publicação do artigo “Community-wide genome sequencing reveals 30 years of Darwin’s finch Evolution” (“O sequenciamento do genoma em toda a comunidade revela 30 anos da evolução do tentilhão de Darwin”, em tradução livre). O artigo de pesquisadores da equipe dos Grant (inclusive estão entre os coautores) traz a comprovação, utilizando o sequenciamento do genoma de quatro espécies de tentilhões.

O trabalho comprovou que, ao longo do tempo, estas quatro espécies acumularam características nos seus genomas que lhes permitiram viver as intempéries ocorridas ao longo do tempo, como secas prolongadas e estações de chuva intensa, o que interferia na disponibilidade de alimentos em cada ambiente.

O artigo é mais um trabalho que pode ser lido pelos “de pouca fé”, que, entre outras coisas, engrossam teses malucas como a de que a Terra é plana.

Boa semana para todos e todas.

Sem cérebro é possível pensar?

Se tem uma coisa quase unânime é ideia de que, para pensar é necessário ter um cérebro pulsante! Afinal foi isso o que aprendemos a vida toda. Mas a espécie Tripedalia cystophora está aí para provar que SIM: é possível pensar e até aprender, mesmo sem ter um cérebro!

Os cnidários são animais aquáticos, na sua grande maioria, marinhos que ocupam uma das posições mais basais da escala evolutiva no Reino Animal. Entre os seus representantes mais conhecidos estão as Águas Vivas e Corais, organismos que se caracterizam exatamente pela simplicidade. Os cnidários recebem este nome porque tem como característica mais importante o fato de liberarem substâncias urticantes para se defender. São muito comuns os acidentes nas praias envolvendo as Caravelas, organismos (ou associação de organismos) do grupo dos Cnidários em crianças e adultos, que sofrem com queimaduras provocadas por substâncias urticantes liberadas por estes animais.

A Tripedalia cystophora, que vamos chamar aqui de TC, é uma água viva típica do Mar do Caribe que, como qualquer Água viva não possui cérebro. Os cnidários apresentam um sistema nervoso difuso, sem um centro de controle. Diferente da grande maioria dos grupos de animais que possuem uma organização neuronal que se concentra geralmente por um cérebro e outras estruturas que centralizam os impulsos nervosos, caracterizando os sistemas nervosos com centros de processamento, como o humano, por exemplo.

Tripedalia cystophora (Fonte: Science)

Testes realizados com a TC desvendaram que, mesmo sem apresentar um cérebro, esta Água Viva é capaz de desenvolver aprendizado. Os cientistas descobriram, inclusive que ela é capaz do chamado aprendizado associativo, segundo o qual cada ação é vinculada a outras ações. TC consegue não se chocar com barreiras durante seu deslocamento e, de acordo com cientistas da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, este comportamento é fruto de um aprendizado.

O mais curioso é que antes de reconhecer este comportamento, ao que se sabia, dada a simplicidade destes animais, já se tinha a certeza do aprendizado não associativo, com base na Habituação e na Sensibilização.

À medida em que as pesquisas avançam, mais ficamos maravilhados com os mistérios da natureza. A ciência tem proporcionado surpresas para lá de curiosas. Pensar, portanto, não depende do cérebro. Aprender muito menos. Assim, o interessante é que, quem tem um cérebro bem desenvolvido, pode começar a usá-lo para fins mais nobres!

Uma boa semana para todos e todas!

Ciência Viva, o e-book

A ideia de escrever semanalmente para o público sobre ciência sempre me pareceu um tanto utópica. Primeiro porque, dificilmente, a grande maioria das pessoas tem um interesse maior em temas científicos. Segundo porque, muitas vezes, o desafio maior é o de fazer a chamada Transposição Didática, que é, de certa forma, “traduzir” os textos científicos, a descoberta, em uma linguagem que seja palatável e que permita ao leitor comum consumir como qualquer outro tipo de informação.

Quando apresentei esta ideia em 2017 para a Jornalista Jordana Cury e esta levou à Jornalista Yala Sena, então editora-chefe do Portal Cidade Verde, não tinha ideia do quanto iria conseguir impactar o público leitor do Portal com o Blog Ciência Viva. Na época estava muito empolgado com novas formas de veiculação da ciência. Alguns anos antes tínhamos modelado com o então diretor da Rádio FM Universitária uma ideia de diluir na programação da Rádio pequenos “drops” com ciência, partindo de curiosidades até difusão do que vinha sendo pesquisado nas universidades e instituições locais. Depois conheci e coordenei o Pint of Science, um evento internacional no qual os cientistas são convidados para irem aos bares conversar sobre ciência.

Assim vinha com a empolgação de que, se conseguíssemos popularizar a ciência, daríamos a contribuição necessária para estimular mais gente a entender o que se passa no intramuros das instituições de pesquisa. A princípio não foi muito fácil migrar a minha forma de escrever, em geral mais técnica, para uma linguagem mais acessível. Mas contei muito com o auxílio da Jornalista Ana Flávia Soares, que dava dicas de como os títulos e matérias poderiam atrair mais público.

Com a pandemia, aumentei a regularidade da escrita e passei a me dedicar aos esclarecimentos necessários e apontar os estudos que poderiam dar alguma esperança para uma população que se debatia com a falta de informações e uma chuva de fakenews que só atrapalhava algumas das medidas tomadas com a finalidade de frear a doença. Tive acesso a muitas informações e fiz a triagem de algumas a partir do fio condutor do que o mundo trabalhava em termos de informação. E não ficamos somente na Ciência. Ao longo dos mais de seis anos que o Blog está no ar, trilhei pelas áreas da Tecnologia, Educação e Meio Ambiente.

Como surgiu a ideia do e-book?

Para comemorar os mais de 500 posts publicados em seis anos de existência do Blog e os mais de 600 mil acessos, resolvi aproveitar a seleção dos leitores para publicar os textos neste outro formato. Optamos pelo e-book com uma série de QR-Codes que levam direto para a página na qual o texto original foi publicado. Dividimos a seleção em nove sessões, utilizando sempre os textos mais acessados pelo público daquele tema, em cada ano.

As sessões são: 1) Os mais acessados; 2) Ciência; 3) Educação; 4) Tecnologia; 5) Meio Ambiente; 6) Sobre o nosso lugar; 7) Opinião; 8) Homenagens e: 9) Outros textos, totalizando 60 textos.

Outro aspecto importante é que o acesso ao e-book, em formato PDF é gratuito e vitalício.

Se quiser ver esta seleção, feita com base nos leitores do Ciência Viva faça o download aqui.

 

Boa leitura! Viva a Ciência! Ciência Viva!

Nova terapia contra o Câncer

Já tem algum tempo que os pesquisadores haviam descoberto que alguns tipos de câncer são motivados por aneuploidas específicas em alguns cromossomos. Estas aneuploidias são ganhos ou perda de cromossomos específicos que já se sabia há algum tempo serem os responsáveis por alguns tipos de tumores malignos. [Para que o leitor entenda as Aneuploidias representam cromossomos extras. Um exemplo bem comum é a Trissomia do Par 21, também conhecida como Síndrome de Down, na qual o paciente tem um cromossomo 21 a mais, formando, ao invés de um par de cromossomos, um trio]

Esta semana que passou, uma pesquisa comandada por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Yale, publicaram artigo na Revista Science onde concluem que certas aneuploidias comumente encontradas nos genomas tumorais desempenham um papel central no desenvolvimento do câncer, e a eliminação dessas aneuploidias compromete o potencial de crescimento maligno. Isso pode representar uma nova estratégia de se eliminar o mal pela raiz. A anulação desta aneuploidia pode significar o fim da doença no paciente.

Ao mesmo tempo, a aneuploidia causa vulnerabilidades terapêuticas colaterais que podem ser direcionadas para eliminar seletivamente células com desequilíbrios de dosagem cromossômica. O desenvolvimento de metodologias flexíveis de engenharia cromossômica, permitirá experimentos adicionais para desvendar ainda mais as consequências da aneuploidia no desenvolvimento e na doença.

Neste caso a genética pode estar chegando com uma nova abordagem para coibir alguns tipos de formações tumorais, livrando pacientes do problema

Outra boa notícia vinda da Genética

Pesquisadores realizaram o que antes era considerado uma tarefa impossível: sequenciar completamente não apenas um cromossomo Y, mas dezenas deles de homens de diferentes populações de todo o mundo. Quando o Genoma Humano foi publicado, há mais de 20 anos, o cromossomo Y (um cromossomo diminuto que define o sexo masculino, geneticamente) mostrou-se muito mais difícil de sequenciar do que o resto, porque tinha muitas regiões repetitivas e invertidas. Esta semana na Revista Nature, pesquisadores relataram decifrar o código usando tecnologias mais recentes. Em outro estudo, uma equipe relatou o sequenciamento de mais 43 cromossomos Y coletados de 21 populações. A equipe descreve uma grande variação em alguns recursos, como o tamanho das regiões repetitivas. Ainda não foi determinado se isso afeta os homens de alguma forma, mas uma coisa é clara: O Y é realmente tão estranho e tão interessante quanto pensávamos, afirmou um geneticista que não participou da pesquisa.

Cromossomo Y (à direita): embora menor do que os demais, deu muito trabalho para se revelar para ciência (Fonte: www.science.org)

Boa semana para todos e todas!

 

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