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Mamangavas: as abelhas mágicas

Todos conhecemos a importância dos insetos polinizadores e sabemos o quanto a humanidade depende muito deles para continuar sobrevivendo. Isso porque algumas plantas só conseguem completar o seu ciclo reprodutivo porque os insetos transportam o pólen, provendo a reprodução.

De uma forma geral, os insetos prestam este relevante serviço ecossistêmico, mas, por óbvio, tiram desta atividade os recursos para seu sustento, uma vez que são atraídos pelas plantas pela produção do néctar e do pólen, contrapartida bastante importante não somente para os insetos, mas para outras espécies polinizadoras como aves e morcegos.

Em artigo publicado na Revista Science em 2020, cientistas suíços descobriram uma estratégia interessante das abelhas mamangavas (Bombus terrestris). Cientistas observavam que as abelhas provocavam danos nas plantas quando a oferta de pólen era menor na temporada. Ao danificarem as folhas, os cientistas mediram e descobriram que as plantas antecipavam em até 20 dias o seu período de floração. O dano provocava como resposta a antecipação da floração. Os cientistas então montaram um experimento e provocavam um dano similar, obtendo o mesmo resultado das abelhas (a antecipação da floração). O estudo foi denominado Bumble bees damage plant leaves and accelerate flower production when pollen is scarce.

É importante compreendermos as respostas dadas pela natureza. Neste caso as mamangavas são verdadeiras abelhas mágicas. Há magia neste fenômeno!

Boa semana para todos (as).

Mulheres na Ciência

Por estes dias estive pesquisando a biografia de algumas pessoas que se destacaram na ciência, para complementar um projeto e cheguei a uma conclusão que depois me pareceu até um tanto quanto óbvia: as mulheres são fantásticas em tudo que insistem em fazer!

Sem querer fazer média com qualquer grupo e nem preocupado com o filme da Barbie, andei lendo sobre a vida de algumas mulheres que se destacaram dentro de suas profissões e hoje resolvi fazer o comentário sobre seis delas.

Marie Curie – Física e Química nascida na Polônia que viveu na França. Fez importantes descobertas sobre a Radioatividade e mostrou para a ciência como fazer o isolamento de isótopos radioativos. Foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel (ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1903) e o único pesquisador do Planeta a ganhar mais de um prêmio Nobel (ganhou o Prêmio Nobel de Química em 1911).

Ada Lovelace - Foi uma matemática e escritora inglesa responsável por criar e executar o primeiro algoritmo a ser utilizado em uma máquina de processamento de dados. Por usa criação, é considerada a primeira programadora de computador da história. Ada desenvolveu seus estudos iniciais em casa, aprendendo fortemente matemática e ciências. Era filha do escritor inglês conhecido como Lord Byron.

Enedina Alves - Foi uma professora e engenheira brasileira. Nascida do Paraná, Enedina foi responsável por muitas obras de engenharia em várias cidades do Estado do Paraná. Foi a responsável pela construção de prédios públicos além de ter sido coordenadora do Plano Hidrelétrico do Paraná. É considerada a primeira engenheira civil negra do Brasil.

Emmy Noether - Foi uma matemática alemã que fez importantes estudos sobre o cálculo de anéis, corpos e álgebra em geral. O teorema de Noether, criado por ela, é muito importante para os conceitos de simetria e leis de conservação na Física. Sua contribuição é muito importante nos campos da Física Teórica e Álgebra Abstrata, apresentando aplicações diretas na área de Astronomia e Astronáutica.

Rosalind Franklin – Foi uma química nascida em Londres, Inglaterra, cujas pesquisas ajudaram a elucidar a estrutura do DNA e do RNA. Além disso, pesquisava a estrutura dos vírus e do carvão mineral. Sua contribuição na descoberta do DNA alimentou outros pesquisadores a concluir sobre a forma da molécula, considerada um dos temas mais importantes da história da Biologia. O reconhecimento pela descoberta veio apenas de forma póstuma, pois na época que os descobridores ganharam o Prêmio Nobel, Rosalind havia falecido.

Niède Guidon – Arqueóloga brasileira que dedicou sua vida a um conjunto de descobertas arqueológicas no sertão do Piauí (região de São Raimundo Nonato). Com suas descobertas, pôs em xeque a teoria de ocupação das Américas pelo estreito de Bering há 11 mil anos. Ao descobrir vestígios datados de 50 mil anos, propôs que o homem pode ter chegado às Américas pelo mar, aproveitando que, em épocas pretéritas, o nível dos oceanos era mais baixo e que mais ilhas existiam o que facilitou a leva migratória da África para as Américas.

Já faz alguns anos que algumas iniciativas promovem o ingresso de mais mulheres nas ciências de uma maneira geral. Há inclusive o apoio de órgãos de fomento que promovem bolsas para o ingresso de mais meninas nas áreas científicas. Olhei rapidamente o painel do Currículo Lattes do CNPq e descobri que existem mais currículos de Mulheres (225.153 doutoras) com Doutorado do que de Homens (224.078 doutores). Descobri ainda que as áreas preferenciais do gênero feminino são as Ciências Humanas (29.069 doutoras), seguida das Ciências da Saúde (24.353 doutoras) e depois Ciências Biológicas (20.889 doutoras).

Pelo sim, pelo não, sou dos que torce para que mais mulheres cheguem às áreas de pesquisa, porque na grande maioria dos casos, em tudo o que fazem prevalece a competência!

Feliz domingo para todos e todas!

Não há nada de errado com o que funciona bem

Observei atentamente dois fatos relacionados à educação e o fechamento de escolas que merecem a atenção daqueles que se preocupam com as gerações futuras. O fechamento das escolas do campo e a extinção das escolas cívico-militares. As duas ações têm, ultimamente, dividido opinião dos educadores. Quem é de esquerda é contra o fechamento das escolas do campo e a favor do fechamento das escolas cívico-militares. Quem é de direita é a favor da manutenção das escolas cívico-militares e, principalmente por omissão, é a favor do fechamento das escolas do campo (digo isso porque não vi ninguém falar sobre isso, mas a omissão, neste caso, joga contra as escolas). Eu sou contra o fechamento das duas.

Antes que falem qualquer coisa, parto da seguinte premissa: não há nada de errado com o que está funcionando bem! Ponto. Tenho ressalvas que norteiam os dois modelos, mas precisamos entender o papel destes dois entes escolares.

As escolas do campo foram iniciativas da década de 1960 com o objetivo maior de universalizar a educação, especialmente para as populações que viviam mais afastadas dos centros urbanos e que, como qualquer cidadão, merecem a ascensão promovida pelo acesso à educação. Estas escolas nunca receberam a atenção merecida, mas de uns tempos para cá, até as academias se preocuparam com este segmento que pode modificar muito a vida das pessoas e pescar talentos fabulosos que não tiveram a oportunidade de alcançar os melhores centros de ensino no mundo. Defendo ardorosamente que todos tenhamos oportunidades e por isso sempre me posicionei a favor destas iniciativas. Inclusive, quando estive em postos de comando dentro da universidade que trabalho, fui um dos agentes proporcionadores da possibilidade de que cursos superiores fossem promovidos em assentamentos rurais, ajudando a implantar uma boa relação entre o INCRA e a UESPI lá em 2012. Depois tive a oportunidade, como Presidente do Conselho Estadual de Educação de assinar o ato reconhecendo estes cursos. Mas porque as escolas do campo estão fechando?

Como qualquer coisa mantida pelo Governo, seja na esfera municipal, estadual ou federal, as escolas seguem alguns parâmetros necessários para receberem financiamento. O que muitas prefeituras vêm fazendo é a chamada Nucleação, ou seja, fundindo escolas de determinadas localidades, sob a alegação que não existem alunos suficientes para povoá-las. Mas algumas perguntas são necessárias: a região atendida pela escola foi pesquisada para verificar se realmente não existem mais estudantes? Foi realizada busca ativa de crianças para estudarem naquela escola? Foram colocados atrativos para que aquela escola consiga trazer novos alunos? Fechar porque não tem aluno não é a solução primeira. Deve ser a última.

As escolas cívico-militares são instituições que focam em premissas da disciplina militar. Baseiam-se em modelos de escolas que são segmentos das forças armadas ou das forças de segurança pública, e estas, existem há muitos anos no Brasil. Estas escolas ganharam força no último governo que as usava como vitrines de uma boa prática educativa. Os resultados destas escolas são bem diferenciados, mas já se reconhece que utilizam somas mais vultosas de recursos para prestação do serviço. Além disso, mobilizam uma mão de obra educacional que também trabalha em outro segmento bem importante, que é a segurança pública. Não sei ao certo se, trabalhando nas escolas, estes profissionais da área de segurança, se desligam de suas funções enquanto agentes de segurança pública. Se se distanciam das funções para as quais foram contratados, então há prejuízo para o segmento original. Todavia, observa-se uma grande aceitação por parte de estudantes e dos pais de estudantes a forma como estes estabelecimentos programam suas atividades educacionais. Tive a oportunidade de conhecer uma escola de Teresina com esta característica e, sem medo de errar, afirmo que está entre uma das melhores do Sistema Estadual. E por que acabar com uma escola que funciona bem? Não vejo qualquer sentido, se não houver uma boa justificativa, pautada na metodologia, nos gastos ou em qualquer outro motivo. Sei que, em nível nacional, políticos vem trocando farpas sobre o tema, o que para mim é uma discussão desnecessária, mas que se move com desenvoltura na mídia por que fortalece a polarização.

Sou a favor de que todos merecem uma educação de qualidade, inclusive (e principalmente) as pessoas do campo. Uma educação que prime pela equidade. Sou a favor da escola que prime pela disciplina e pela qualidade no que ensina. Estas características estão nas duas escolas que estão sendo sujeitas a serem extintas: seja pela passividade das pessoas que deveriam estar atentas à dinâmica das populações e dos seus interesses, seja pelo excesso de atividade em defender o que acreditam, sem considerar que o que pregam como antimodelo também funciona.

A premissa norteadora está no título: não há nada de errado com o que funciona bem.

Boa semana para todos (as).

Inteligência Artificial: um caminho sem volta

O mundo vem testemunhando os avanços promovidos pelas Revoluções Industriais desde o Século XVIII. Primeiro foram criadas máquinas que permitiram que determinadas ações fossem executadas em uma escala superior às manufaturas humanas, com o surgimento das máquinas a vapor para produzirem determinados produtos. Anos depois, com o domínio da eletricidade, seria inevitável que seu uso chegasse até o chão da indústria, permitindo que os processos fabris se aperfeiçoassem.

Com o desenvolvimento da área computacional, no final da Segunda Guerra Mundial, processos de automação e da entrada de computadores nas indústrias passaram, paulatinamente, a se incorporar no cotidiano das fábricas. Até que, no final do século XX, desaguássemos na Quarta Revolução Industrial. Esta revolução tem incorporado alguns elementos fundamentais aos processos. E um destes elementos é a Inteligência Artificial.

Desenvolvida a partir da década de 1950, iniciada pelos pesquisadores norteamericanos Allen Newell e Herbert Simons, que fundaram o primeiro laboratório de Inteligência Artificial na Universidade Carnegie Melon, no EUA, a Inteligência Artificial (IA) ou Artificial Inteligence (AI, do inglês), lida com o processo de reprodução dos padrões de comportamento humano realizado por dispositivos usando programas computacionais.

A IA tem como objetivo a realização de tarefas automatizadas, sendo um campo da Ciência da Computação que se dedica ao estudo e ao desenvolvimento de máquinas e programas de computadores que permitam a reprodução de comportamentos humanos na realização de tarefas mais simples, até a tomada de decisões mais complexas. De toda forma, as IAs já fazem parte do nosso cotidiano há algum tempo, representada por personagens já relativamente comuns no nosso cotidiano, como a Siri, assistente de voz dos nossos iPhones e, mais recentemente, a Alexa, a governanta eletrônica que vai comandando algumas coisas de automação nos nossos lares, como o pré-aquecimento do forno, enquanto ainda estamos a caminho de casa, presos no trânsito.

As IAs trabalham com um volume muito grande dados, partindo de duas premissas metodológicas já desenvolvidas: o chamado Aprendizado de máquina (Machine learning) que lida com a emulação do comportamento humano para tomada de decisões, nas quais, literalmente, os dispositivos e seus softwares aprendem como um humano se comportaria em uma determinada situação e; o Aprendizado profundo (Deep learning) que tem o funcionamento baseado em redes neurais, ou seja, simula o funcionamento do cérebro humano.

A educação precisa atualizar alguns dos importantes conceitos necessários a esta Revolução Industrial em curso. A Revolução Industrial 4.0 lida com os sistemas ciberfísicos, a computação quântica e em nuvem, a inteligência artificial, a internet das coisas, a biotecnologia e outros atributos que, à medida que avançam, cobram dos mais jovens uma maior atualização. Como o lugar comum da formação de pessoas, a escola precisa focar-se também nestes avanços tecnológicos. Devemos dar as gerações futuras o direito de ingressar no mundo pela porta da frente. Só com a educação conseguiremos galgar estes espaços.

Assim como todos os componentes desta Quarta Revolução Industrial, a inserção da Inteligência Artificial no contexto de aprendizagem dos estudantes os colocará com os dois pés no futuro. Por quê? Porque o futuro já chegou!

Boa semana para todos e todas.

Saqueadores

Atribuímos muitos dos desarranjos da natureza ao ser humano. Filósofos sempre se debateram com questões que parecem ser exclusivamente humanas, como ato de matar um organismo pelo simples prazer de matar, ou ato de estuprar (forçar o ato sexual) que, ao que consta, é uma atitude exclusivamente humana, apesar da selvageria envolvida.

Observações no comportamento de outros animais, conseguem enumerar atitudes que mais parecem humanas, por não fazerem parte do arcabouço do que seria de se esperar. É o caso de plantas polinizadas por beija-flores.

Em geral, os beija-flores ou colibris, aquelas aves encantadoras, sobre as quais até já escrevi anteriormente (veja aqui), prestam um enorme serviço para algumas plantas. Em troca de um pouco de néctar, o beija flor realiza a polinização, meio que sem querer: se “suja” de pólen e o transporta até outra planta, ajudando a completar o ciclo reprodutivo, conduzindo o pólen (gametófito masculino) até o estigma de outra flor, onde pode acontecer a formação do tubo polínico, permitindo o encontro do núcleo espermático (gameta masculino) com a oosfera (gameta feminino).

Pego no flagra, saqueando a flor (Foto: Christopher Becerra/Science)

Todavia, estudos recentes publicados na The American Naturalist, mostraram há um considerável número de beija-flores realizam saques de néctar sem prestar o serviço da polinização. Nestes estudos foram medidos exemplares de mais de 200 espécies de beija-flores e verificou-se que um número considerável era de beija-flores aderentes: possuem o bico curto e seguram as flores com as patas, explorando o néctar sem, necessariamente polinizá-las. A grande maioria das espécies consideradas aderentes (que seguram as flores para saquear o néctar) apresentam o hálux (dedo que corresponde ao nosso polegar) bem maior do que as espécies que realizam a polinização pela via “normal” (possuem o bico grande e acessam o néctar se sujando de pólen).

Há neste sentido uma “espécie” de desencanto dos beija-flores. Mas como em todo processo evolutivo, estudos já apontam que, as espécies de plantas “enganadas” pelos falsos polinizadores, já produzem uma oferta de néctar bem menor, do que aquelas que precisam ser polinizadas pelos beija-flores “honestos”. Não brinquemos com a Evolução: é a parte mais cruel da biologia (risos).

Boa semana para todos e todas!

 

E aí, tem vida em Marte?

A ideia de que Marte pode ter abrigado formas de vida ainda continua na pauta do dia das sondas que se deslocam na superfície do Planeta Vermelho.

Uma pesquisa publicada na revista Science sobre ravinas que se formaram na superfície do planeta vão confirmando, com cada vez mais precisão, o quão a presença de água e gelo na sua superfície, deixaram marcas. Estas ravinas, correspondem escavações provocadas por ação mecânica da água, no relevo. Em tese, é como quando observamos registros de ondulações em rochas resultantes da sedimentação, a exemplo das que encontramos em pontos da Floresta Fóssil em Teresina. Estas marcas que ficaram como registros na rocha são resquícios de movimentos da água bem típicos das regiões de praia. Então isso significa que, um dia tivemos praia nos terrenos onde hoje é Teresina. Assim, a presença destas “cicatrizes” aponta para presença de água na superfície marciana.

Ravinas em Marte. Fonte: Revista Science.

O que dá para inferir é que lá teve água em algum momento. Se teve água, na forma líquida, em condições climáticas similares às condições da Terra, então já houve vida. A água é imprescindível à vida. Enquanto a ciência anda a passos largos tentando identificar as evidências de vida fora da Terra, ainda tem terráqueo que acha que a Terra é plana. Pode?

Até o próximo post...

Ciência Viva vai virar livro

Quando começamos esta iniciativa de escrever um Blog sobre Ciência, a ideia era trazer para a sociedade um pouco dos conceitos que lidamos nas academias e que são mais que necessários para uma vida de luz no entendimento da mecânica de funcionamento da vida, de forma geral.

A ideia teve o apoio do Grupo Cidade Verde que encampou e abrigou o Ciência Viva que se mantêm ininterrupto desde 2017. Nestes seis anos já publicamos mais de 500 textos sobre diferentes áreas da ciência, tecnologia, meio ambiente e educação.

Eis que surgiu a ideia de lançar um e-book com textos selecionados pelos próprios leitores. Fizemos um apanhado de 60 textos mais acessados pelos leitores do Ciência Viva e montamos (está em fase de editoração) a obra “Ciência Viva: a aventura de fazer divulgação científica”.

Nele vamos trazer alguns dos temas que estiveram na mira dos nossos leitores. A obra está dividida em seções que trazem a concentração das temáticas atendidas: Ciência, Tecnologia, Educação, Meio Ambiente, além de textos reservados nas sessões Homenagens, Opinião e Sobre o nosso lugar.

Com textos de apresentação das Jornalistas Jordana Cury e Ana Flávia Soares, publicado com o selo do THE LAB, a previsão é que seja lançado agora no próximo mês de julho. Agora é esperar para ver essa mais nova aventura!

Boa semana!

Dor no braço

Na semana que passou pesquisadores dos Laboratórios farmacêuticos Glaxo-Smith-Kline (GSK Vaccines), uma empresa dos EUA que trabalha no desenvolvimento de diversos produtos imunoterápicos, publicaram na Revista Advances Science um artigo sobre a modelagem de novos recursos que permitam o combate mais efetivo contra variações do vírus SARS-CoV2.

Traduzido para o português (tradução livre), o título do artigo foi “Projeto estrutural e computacional de um antígeno de pico SARS-CoV-2 com expressão e imunogenicidade melhoradas”. A ideia foi usar a proteína S2D14 como uma base antigênica mais eficaz, dadas as modificações encontradas nas novas variações do vírus da COVID-19.

O grande problema na hora de gerar um imunoterápico contra um vírus extremamente mutante é exatamente o de reproduzir um recurso que consiga despertar no sistema imunológico a defesa necessária para o organismo. As vacinas contra COVID-19 se mostraram eficientes no momento de restringir o avanço da doença mortal, mas não o suficiente para cercear de vez o avanço, até porque existem populações inteiras que foram mal imunizadas. Umas porque não tiveram acesso, outras porque preferiram acreditar em Fake News.

O grande problema é que a humanidade vive em ciclos. Há 50-70 anos atrás vivíamos imersos em um conjunto de doenças que deixavam muitos mortos ou sequelados, como foi o caso da poliolielite. Todavia, com o desenvolvimento das vacinas Sabin e Salk, gradativamente, nossas populações foram se livrando dos problemas. As gerações atuais, que foram vacinadas na infância, não conviveram com estas doenças que maltratavam e até matavam. Assim, parece que desaprenderam sobre o valor das vacinas e, como reflexo, temos uma população com taxas de cobertura vacinal bem abaixo do que tínhamos há 10, 15 anos atrás.

Esta semana aproveitei para tomar os imunizantes de COVID-19 (estava sendo aplicado o imunizante da Pfizer) e de Influenza. Foi a minha quinta dose contra COVID-19 e a quarta contra a Influenza. Peguei COVID duas vezes e gripe não sei nem quantas, ao longo da minha vida. É preciso ter o entendimento que, ao recebermos a vacina, estamos recebendo parte integrante do causador da doença, para que o nosso sistema imunológico prepare as defesas. Isso pode evitar ataques do agente patogênico ou atenuar os sintomas, quando o sistema já apresenta defesas. Isto é relativamente simples de entender, mas deixei sublinhado para chamar atenção sobre o papel das vacinas.

Eu entendo perfeitamente a preocupação de algumas pessoas com relação às vacinas contra COVID-19. De fato, elas foram produzidas no calor da emergência sanitária mundial. Mas as pesquisas nunca pararam. Quanto mais tempo passar, mais aperfeiçoadas virão. Por enquanto eu vou preferindo ficar com uma dor no braço do que viver a dor da falta de abraço das pessoas que amamos e que perdemos para doenças que, na atualidade, podem ser evitadas.

Boa semana para todos (as).

 

Vida sustentável

Na última quinta-feira, dia 01/06, os expectadores da TV Cidade Verde tiveram a grata surpresa de se deparar, durante a programação do Jornal do Piauí, com um novo quadro do noticioso chamado Vida Sustentável, apresentado pela jornalista Gorete Santos, na afiliada do SBT de Teresina.

A ideia do Vida Sustentável, segundo conversei com Gorete Santos, é trazer ao grande público para discussão sobre o momento do nosso Planeta no que tange às questões ambientais. Discussões importante como a proteção à biodiversidade, as mudanças climáticas, os diferentes tipos de poluição, a arborização dos espaços urbanos, o lixo e outros serão mediados pela jornalista para levar, ao cidadão comum, telespectador da TV, além da informação, mas uma ideia de educação ambiental informal que precisa, de fato, ser inserida na nossa “programação pessoal”.

Parabenizo à iniciativa do Grupo Cidade Verde em tocar temas tão importantes para nossa sobrevivência na Terra. Às vezes são necessários estes tipos de revolução para causar um impacto que vá além das questões locais, mas avance para questões mais globais das quais temos sempre uma parcela de culpa: ou por corroborarmos com as ações, ou por omissão. Da minha parte, enquanto biólogo, desejo vida longa para este programa.

Veja aqui a estreia do Vida Sustentável:

Boa semana para todos (as)!

 

Paraplegias e tetraplegias podem estar com dias contados (*)

A estrutura do nosso corpo é muito perfeita. Grande parte do nosso sistema nervoso encontra-se protegido por estruturas que preservam a integridade do centro de operações principal, formado pelo encéfalo e pela medula espinhal: repousam no interior do crânio e da coluna vertebral. Entretanto, estamos sujeitos a acidentes que podem danificar as estruturas protetoras e nossos centros nervosos ficam suscetíveis a danos.

Quando as lesões ocorrem na coluna, dependendo da altura em que ocorre, o paciente pode perder movimentos da cintura para baixo ou dos ombros para baixo, gerando quadros que vão da paraplegia (comprometimento dos movimentos dos membros inferiores) a tetraplegia (comprometimento dos movimentos dos membros inferiores e superiores). Quadros acidentais podem determinar, de sua ocorrência em diante, uma vida menos autônoma.

Foi o que aconteceu com Gert-Jan Oskam que perdeu a capacidade de andar em 2011, quando machucou a coluna em um acidente de bicicleta na China. Seis anos depois, o holandês conseguiu dar alguns passos curtos graças a um pequeno conjunto de eletrodos implantados no topo de sua medula espinhal que emitia pulsos de eletricidade estimulantes aos nervos. O dispositivo permitia que ele andasse, mas o processo era complicado e às vezes frustrante. Atualmente, uma equipe internacional de pesquisadores relatou que deu a Oskam uma solução melhor: uma maneira de preencher digitalmente a lacuna de comunicação entre seu cérebro e a parte inferior do corpo. As ondas cerebrais que sinalizam o desejo de Oskam de andar viajam de um dispositivo implantado em seu crânio para o estimulador espinhal, redirecionando o sinal ao redor do tecido danificado e fornecendo pulsos de eletricidade à medula espinhal para facilitar o movimento. Oskam agora pode andar com mais fluidez, navegar por obstáculos e subir escadas. “A estimulação antes estava me controlando e agora estou controlando a estimulação”, diz ele.

A nova interface cérebro-espinha também parece promover uma recuperação maior do que apenas a estimulação. Oskam, que manteve algumas conexões da medula espinhal intactas após o acidente, também pode andar usando muletas mesmo com os dois dispositivos desligados, algo que nunca havia conseguido fazer antes.

A estimulação da medula espinhal e as interfaces cerebrais já foram usadas no passado, mas “nunca foram colocadas juntas dessa maneira”, diz Keith Tansey, neurologista do Centro Metodista de Reabilitação. “Do ponto de vista da engenharia biomédica, é um verdadeiro tour de force.” Mas ele e outros, incluindo os autores do estudo, enfatizam que é importante reconhecer que o estudo é uma prova de conceito com um único participante. Ainda não está claro se outras pessoas com lesões na medula espinhal verão os mesmos resultados. Algumas lesões paralisantes cortam completamente a medula espinhal, mas, com mais frequência, as conexões danificadas entre o cérebro e a parte inferior do corpo permanecem. Durante décadas, os cientistas tentaram encontrar maneiras de reparar essas rodovias nervosas quebradas.

O novo estudo se baseia no trabalho de Grégoire Courtine, neurocientista do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne, e Jocelyne Bloch, neurocirurgião da Universidade de Lausanne. Em 2018, a dupla e seus colegas mostraram que a estimulação da coluna combinada com treinamento intensivo pode ajudar pessoas com paralisia parcial a andar. Oskam foi um dos três primeiros participantes desse teste, cada um dos quais manteve alguma sensação na parte inferior do corpo. No ano passado, os pesquisadores relataram que a estimulação também funciona em pessoas com lesões mais graves que não tinham sensação ou movimento nas pernas.

A novidade pode por fim aos sacrifícios impostos para acidentados ou pessoas com problemas semelhantes com outras causas. Vamos torcer para que as pesquisas avancem e que mais pessoas possam gozar do benefício de restabelecer seus movimentos. Pesquisadores em várias partes do mundo buscam este tipo de reparo.

Até o próximo post...

(*)Com base no texto da Science publicada em 24.05.2023.

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