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Plantas Alimentícias Silvestres: uma discussão necessária

Você já parou para pensar sobre as plantas que come? Nossa diversificação alimentícia é muito pequena, quando comparada a diversidade de plantas na natureza. As plantas superiores (que produzem flor, fruto e semente) são o terceiro maior grupo de seres vivos (perde apenas para Moluscos e Insetos), possuindo entre 250 e 300 mil espécies. Entretanto, se for parar para refletir, usamos cerca de 200 espécies de plantas na nossa alimentação, o que representa, aproximadamente 0,06% das espécies encontradas. E por que tão pouco?

Um leitor incauto diria que não as comemos porque são tóxicas, não tem sabor agradável ou porque não está dentro dos nossos hábitos culturais aproveitá-las. Há um pouco de verdade em cada tópico, mas existe muito mais por trás deste fato. Sabemos todos que algumas das plantas que comemos e que são cultivadas, já estão conosco há alguns milhares de anos. A agricultura foi “inventada” há cerca de 10 mil anos, quando o homem que era coletor-caçador, enterrou algumas sementes e estas deram lugar a plantas, porque germinaram. O nomadismo que era a prática que incentivava o hábito de coletar-caçar, deu lugar ao sedentarismo, que optou pelo cultivo das plantas e a criação de animais para abate.

Há de comum em todas as espécies amplamente difundidas, o aprendizado sobre as técnicas de cultivo, seleção de progênies melhores e mais produtivas, combate de pragas que foram aprendidos e aperfeiçoados ao longo dos anos. Este aprendizado acomodou o homem a selecionar estas poucas variedades que utiliza e as relações de escambo e comércio, passaram a incentivar as monoculturas, tornando os cultivadores especialistas na produção destas espécies mais comuns. O fato de serem tóxicas, por exemplo, não é uma boa justificativa, já que ao longo do tempo aprendemos até extrair produtos alimentícios de plantas bem venenosas, sem maiores problemas. É o caso da nossa farinha de mandioca, de cuja extração forma-se o Ácido Cianídrico, que é extremamente tóxico.

Mas a natureza provê coisas muito melhores das que utilizamos normalmente. Nas regiões mais inóspitas, nas quais o cultivo das plantas mais conhecidas é mais complicado, existem alternativas que foram experimentadas por povos tradicionais, mas que, com a facilidade de cultivo e disseminação, acabou por ser substituída pelas espécies mais comuns. Neste particular, chamamos atenção para as Plantas Alimentícias Silvestres (PAS). O desconhecimento do potencial das PAS leva ao desperdício e até à desnutrição de populações que não dominam o conhecimento das potencialidades de algumas plantas, cujo conhecimento tradicional até se perdeu, por falta de conexão entre as gerações de determinadas comunidades.

Dra. Mirna Andrade em coleta no interior do Ceará. Fonte: Arquivo Pessoal.

Pensando nisso, a pesquisadora Mirna Andrade Bezerra, desenvolveu sua tese de Doutorado, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Piauí, na qual elencou algumas plantas alimentícias silvestres em comunidades do interior do Ceará e passou a verificar o modo de transmissão dos conhecimentos tradicionais destas plantas nas escolas das comunidades, por processos de transposição didática.

A pesquisadora encontrou uma lista de plantas pouco usuais no mercado comum, mas bem tradicionais na região, que suplementam a dieta das comunidades encontradas. A pesquisa teve minha orientação e das Doutoras Edna Chaves (IFPI) e Josiane Araújo (UESPI). Embora muito da cultura tradicional tenha desaparecido, foi possível resgatar a memória de professores oriundos da região e do seu entorno, no município de Viçosa do Ceará (CE).

A pesquisa resultou na publicação de dois artigos e mais quatro artigos foram produzidos contando as estratégias para o mundo científico. O uso de Plantas Alimentícias Silvestres enseja mais discussões sobre o tema. Estas discussões podem minimizar os efeitos da fome em regiões mais isoladas e ajudar na preservação de áreas com espécies silvestres, dada que a importância reforçada pelo caráter alimentício pode fortalecer a necessidade de preservação.

Até o próximo post...

Quando a tecnologia pode atrapalhar(*)

Imagine que você é professor de Redação e chega na sua sala de aula com a ideia de pedir aos seus estudantes que escrevam sobre um determinado tema. Imagine que cada estudante, de posse de notebook ou tablet se ponha a trabalhar no que pediu. E depois, cada estudante, envia os textos para você proceder correções. Esta poderia ser a cena comum, em um cenário de aprendizado sobre letramento, em uma escola com bons recursos tecnológicos disponíveis. Mas também pode ser um desastroso cenário de enganação!

A tecnologia tem avançado a passos largos no desenvolvimento de produtos e processos que possam ajudar muito a humanidade a resolver determinados problemas. Mas estas soluções podem ser danosas aos processos de aprendizagem também.

O departamento de Educação da cidade de Nova York bloqueou em dispositivos e redes escolares o uso do programa ChatGPT. Este programa é um tipo novo Chatterbot. Chatterbots são muito usados pelas empresas de telemarketing para substituir pessoas. São programas desenvolvidos com a habilidade de reproduzir diálogos com respostas factíveis e organizadas, simulando pessoas. Estes programas à base de Inteligência Artificial (AI), substituem pessoas em conversas corriqueiras como na apresentação de produtos ou em serviços de atendimento. São capazes de perceber o que o interlocutor humano fala e de formular respostas, sendo normalmente usados nos atendimentos mais genéricos.

O que o Departamento de Educação de Nova York notou é que ChatGPT consegue produzir respostas de redação perfeitas ou bem próximo disso. Reúne informações atualizadas sobre temas diversos e consegue organizar respostas, sobre quaisquer temas usando, inclusive, diferentes estilos de escrita. As autoridades educacionais entenderam que o recurso pode impactar negativamente no aprendizado dos estudantes e estimular trapaças e plágios.

O problema maior, na minha visão pessoal, é a destruição do processo de aprendizagem da escrita. Escrever já não é uma tarefa muito fácil. Temos visto, de modo deliberado, a turba de estudantes que chegam ao ensino superior com déficits nos fundamentos básicos de escrita e de matemática. Imagine o efeito deste software em uma escola de educação básica, onde o processo de escrita está sendo gestado? Seria catastrófico.

Já tinha lido sobre Chatterbots e suas aplicações em nível empresarial, o que me deixou preocupado com a possibilidade de eliminação de muitos empregos em países do Terceiro Mundo, nos quais a baixa escolarização permite proliferar postos de empregos para serviços de teleatendimento. A tecnologia pode substituir ou até eliminar a possibilidade de várias pessoas terem seu primeiro emprego neste tipo de empreendimento. Trazer a tecnologia para escola pode ser extremamente danoso, não somente nos processos de aprendizado básico, como também nas etapas finais do processo de formação, como na escrita de uma Dissertação ou Tese. A terceirização destes processos de escrita já causam um dano considerável, pela formação deficiente de profissionais, de diferentes áreas, que terceirizam, por exemplo, a escrita dos seus Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC). Conheço pelos menos uma meia dúzia de profissionais que tiram um sustento extra escrevendo TCCs para estudantes incautos.

Isto pode virar um grande problema para educação, em nível mundial.

Até o próximo post...

 

(*) Gratidão ao Prof. José Machado Moita Neto por ter compartilhado a matéria “NYC education department blocks ChatGPT on school devices, networks

Alvíssaras para 2023

O ano de 2023 promete algumas boas notícias, especialmente para situações que afligiram a humanidade nos últimos anos. Para começar o ano, separei alguns excertos da revista Science que compartilho aqui com todos.

A ciência se esforça para acompanhar evolução do coronavírus

A pandemia do COVID-19 entrou em seu quarto ano como uma emergência de saúde global. Entretanto, os pesquisadores continuarão buscando soluções para ajudar a tornar a doença administrável e comum. Estão previstos os rastreamentos de centenas de subvariantes da Omicron, a cepa altamente transmissível, mas aparentemente menos letal, do SARS-CoV-2 que dominou em 2022. Os virologistas observarão a evolução do vírus este ano para ver se ele finalmente desacelerou ou uma variante mais perigosa aparece para cima, fugindo de grande parte da imunidade que a humanidade construiu para as variantes anteriores. Os pesquisadores de vacinas esperam desenvolver novas vacinas que forneçam ampla proteção contra variedades de coronavírus. Outra prioridade é introduzir vacinas nasais que estimulem respostas imunes nas mucosas do corpo. Em comparação com injeções no braço, elas devem provocar uma defesa mais forte e mais rápida contra a infecção inicial. Mas os especialistas em saúde pública temem que a hesitação generalizada da vacina possa persistir, com consequências duradouras para as batalhas contra o COVID-19 e outras doenças. A busca por tratamentos eficazes para o COVID-19 será reiniciada porque a evolução do vírus tornou ineficazes vários medicamentos baseados em anticorpos existentes. Ensaios randomizados de possíveis medicamentos para tratar o Long Covid podem produzir seus primeiros resultados, beneficiando milhões de pessoas que sofrem de fadiga e outros sintomas debilitantes.

 

Doenças genéticas tratadas pela edição dos genes

O novo ano pode trazer um marco para a medicina: o primeiro tratamento médico aprovado baseado na edição de genes. Pessoas com doença falciforme e beta-talassemia carregam defeitos no gene da hemoglobina, a proteína transportadora de oxigênio no sangue. As empresas de biotecnologia Vertex Pharmaceuticals e CRISPR Therapeutics realizaram testes clínicos nos quais removem as células-tronco do sangue de um paciente, usam a ferramenta de edição de genes CRISPR para ativar um gene saudável para a hemoglobina fetal, cujas células são desligadas após o nascimento, e reinfundem o gene modificado células. O tratamento único acabou com os episódios de dor intensa da maioria dos pacientes e a necessidade de transfusões de sangue. As empresas estão buscando a aprovação dos reguladores dos EUA e da Europa, e uma decisão em pelo menos um lado do Atlântico pode sair até o final do ano. A próxima preocupação será o custo. Terapia de genes,

 

Uma tentativa de acabar com a Varíola dos Macacos

As autoridades de saúde se esforçarão este ano para eliminar a transmissão de humano para humano do vírus mpox (anteriormente conhecida como monkeypox, causador da Varíola dos Macacos), que em 2022 explodiu em todo o mundo pela primeira vez. Mais de 80.000 pessoas ficaram doentes, levando a Organização Mundial da Saúde a declarar uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional. No final do ano, o número de novos casos havia diminuído acentuadamente, mas centenas de casos ainda eram relatados todas as semanas. Os especialistas esperam entender melhor quanto do declínio decorre da imunidade acumulada por meio de infecções e imunizações e quanto pode ser explicado pela mudança de comportamento no grupo mais afetado: homens gays e suas redes sexuais. Estudos em andamento podem revelar quão bem a vacina contra a varíola reaproveitada, protege contra a doença e comparar diferentes doses e formas de administrar as vacinas.

 

Vacina contra a dengue se aproxima da estreia

Uma nova vacina contra a dengue foi aprovada na Europa no mês passado e pode em breve se tornar amplamente disponível na Indonésia, protegendo muito mais pessoas do que um produto atualmente no mercado. Somente pessoas previamente infectadas pelo vírus podem tomar com segurança uma vacina contra a dengue comercializada desde 2015, a Dengvaxia, da Sanofi Pasteur. Agora, a empresa farmacêutica Takeda mostrou em estudos em vários países com mais de 28.000 pessoas que sua vacina, Qdenga, pode proteger com segurança pessoas nunca infectadas pela dengue. O vírus causa febre e outros sintomas debilitantes em cerca de 100 milhões de pessoas por ano e, em casos raros, pode ser fatal. Alguns cientistas querem ver mais dados sobre a segurança de Qdenga. Sua cautela vem da experiência com Dengvaxia: crianças que nunca foram infectadas pelo vírus e receberam a vacina tiveram maior risco de sintomas graves.

Vamos torcer para que estas boas notícias se tornem realidade. Que venha 2023!!!

Até o próximo post...

*Com informações da Revista Science.

Corra atrás de ser feliz!

Costumo a dizer para os que professo que, na caminhada pela vida, o mais importante é buscar a felicidade. Ser feliz é o alvo que precisamos almejar. Mas de repente surge uma dúvida bem cruel: como saberei se sou feliz?

Esta pergunta se encaixa muito bem na contra retórica dos que, por um lapso de algo que os torne infelizes, pronunciam: eu era feliz e não sabia! E isso é relativamente comum, tanto no plano individual, quanto no plano da coletividade. Quando uma regra muda, quando uma norma se torna mais rígida, quando há um controle mais efetivo sobre um bem, produto ou serviço, surge a conhecida: éramos felizes e não sabíamos! Mas tem como saber que estou sendo feliz?

A felicidade é um estado de espírito. Me refiro a felicidade de verdade, e não aquela que a sociedade atual percebe pelas redes sociais. Às vezes me espanto com o que as pessoas postam como algo que as torna ou as fazem felizes e de imediato percebo que nem sempre é a felicidade vivida, mas a que precisa ser demonstrada. E aí vem um problema meio sério: podemos basear a nossa felicidade nos modelos dos outros? Isto aqui tem resposta sem muito arrodeio: claro que não!

Creio que para um controle maior do seu momento, algumas coisas devem ser levadas em conta:

1) As pessoas que você mais ama estão bem de saúde? As que estão doentes ou adoentadas, estão sendo tratadas e confortáveis?

2) Você está vivendo uma vida equilibrada? Sua saúde está em dia? Há saúde financeira? Suas contas estão pagas e o que você recebe tá sendo suficiente?

3) Você está com suas metas de vida em dia? Alcançou o que desejava? Já tem outras coisas planejadas?

Se conseguiu dizer sim para pelo menos 70% destas perguntas creio que esteja em um momento muito bom da sua vida, e que, resumidamente, pode dizer que é feliz. Em resumo, na minha opinião, a felicidade passa pela conservação da vida no presente e pelo planejamento do que vem pelo futuro. Não dá para medir a felicidade apenas porque você conseguiu adquirir algo que te interessava e saber que sua tia está muito doente e não está tendo assistência à saúde, por exemplo. Que alguém com quem você convive perdeu o emprego e está sem dinheiro para comprar o mínimo de alimentação. Não dá para dizer que é feliz vendo os mais próximos mostrarem-se infelizes. Você não tem responsabilidade pela felicidade de todos. Nem os de perto e nem os de longe. Mas a sua felicidade é formada também pela felicidade das pessoas com as quais se relaciona.

Outro ponto que considero importante é que consiga dar atenção plena ao seu núcleo familiar. Seu companheiro ou companheira, seus filhos e filhas e seus pais. O tempo é inimigo da nossa felicidade, neste caso. Quando vemos nossos filhos estão crescidos, nossos pais envelhecidos e a nossa sensação de perda é muito grande, evocando a tristeza. A sensação de que muita coisa não é mais quando antes, sensações que vivemos pela primeira vez, dão lugar a um vazio difícil de preencher.

A felicidade já virou até disciplina nos cursos superiores. Descobri que estas disciplinas trabalham a educação socioemocional dos estudantes, para que consigam superar de forma mais suave o percurso da academia aliado a um ingresso mais seguro no mundo profissional.

Com este texto, gostaria de desejar a todos os que dedicam parte do seu tempo lendo o que escrevo no Ciência Viva, uma felicidade plena. Não a felicidade das redes sociais. Nem a felicidade do Natal (para mim uma época muito triste devido a maior expressão das desigualdades). A felicidade de verdade. A que se busca no cotidiano. Aquela das pequenas vitórias, e das pequenas derrotas sobrepujadas pela resiliência em seguir tentando. Em levantar a cabeça, bater a poeira e correr atrás. Precisamos urgentemente ser felizes. Aliás: é só disso que precisamos!

Até o próximo post e Feliz 2023!

Breve recesso!

Retorno assim que conseguir me restabelecer.

Literatura piauiense: um dia para ficar na memória

No último dia 10 de dezembro fui convidado para receber, da Academia Piauiense de Letras (APL), um título de Honra ao Mérito, durante uma das sessões públicas, na qual aconteceu também o lançamento de dois livros da Coleção Bicentenário da Independência: Piauí Colonial: População, economia e Sociedade do antropólogo Luiz Mott e Os Índios do Piauí, organizado pelo acadêmico Nelson Nery Costa.

A Honra ao Mérito veio como um agradecimento da APL ao Conselho Estadual de Educação do Piauí (CEE-PI). Desde 1989, a Constituição Estadual do Piauí estabelece como obrigatório o Ensino de Literatura Piauiense nas escolas da Educação Básica. Só que, desde esta época, pouco tinha sido feito para efetivação do cumprimento desta lei.

Um pouco antes da pandemia, eu estava na Presidência do CEE-PI, juntamente com a Professora Margareth Santos, Vice-Presidente à época, quando recebemos uma missão da APL formada pelos acadêmicos Zózimo Tavares (Presidente), Magno Pires (Vice-Presidente), Elmar Carvalho e Dilson Lages. O grupo veio conversar com o CEE-PI para delinear estratégias sobre a efetivação da Constituição Estadual, no que tange à questão do ensino de Literatura Piauiense. A visita foi bem oportuna, pois à época tínhamos agendado uma audiência pública para tratar de temas atinentes à implantação do Currículo do Piauí, o estabelecimento de uma Currículo de referência para as escolas e redes do estado.

A audiência aconteceu e o Presidente Zózimo Tavares marcou lugar nas discussões fazendo uma defesa formidável, totalmente respaldada pela legislação. Depois da audiência tivemos o início da pandemia, que marcou uma longa parada em todos os processos. Mais a frente, com o retorno das reuniões da APL no formato on-line, tive a oportunidade de delinear o espaço para Literatura Piauiense, mesmo com a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na oportunidade, por iniciativa do Dr. Elmar Carvalho, fui indicado para receber esta homenagem.

Com minha saída da Presidência do CEE-PI, a Professora Margareth Santos encampou a causa e seguiu com as negociações junto à Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) para inclusão da Literatura Piauiense dentro do Currículo do Piauí, após a aprovação, no CEE-PI, do Parecer da Conselheira Norma Suely Ramos, com uma defesa segura do pleito.

Ao incluir-se a Literatura Piauiense no processo de formação de crianças, jovens e adolescentes, estar-se por garantir que as gerações futuras tenham o acesso pleno a um conjunto rico de obras de autores das mais diferentes épocas. Expõe-se para um público que vem chegando obras de diferentes épocas literárias, nos mais diversos contextos, que podem subsidiar estes novos adeptos da cultura literária produzida aqui no Piauí.

Homenageados e o Presidente da APL (Da esq. para dir: Wellington Dias, Francisco Soares, Margareth Santos, Zózimo Tavares, Wilson Brandão e Henrique Pires). Foto: Ana Flávia Soares.

A homenagem contemplou a mim e à Professora Margareth, aos acadêmicos Wilson Brandão e Wellington Dias e ao Deputado Henrique Pires. Não sei exatamente qual foi a contribuição dos demais agraciados. Sei que a contribuição que eu e a Professora Margareth fizemos foi tentar dar cumprimento às leis que são aprovadas pelos políticos e que ficam em um limbo entre um direito estabelecido e uma letra morta. Tão importante quanto criar uma lei é cuidar para que seja implementada, especialmente no caso em epígrafe onde só há vantagens e ganhos para todos: estudantes, escolas, escritores e acadêmicos.

CEE-PI representado: Francisco Soares e Margareth Santos. Foto: Ana Flávia Soares

Foi um dia memorável para mim, especialmente pelo momento turbulento que enfrento, na minha vida pessoal. Foi uma acolhida especial de um trabalho que fiz como todos os que faço: sem medir as consequências positivas que advirão. E partindo-se desta premissa, teve seu reconhecimento pelas partes envolvidas. Gratidão à APL, especialmente em nome do seu Presidente, Acadêmico Zózimo Tavares.

Recebendo das mãos de dois dos escritores que mais admiro. Foto: Ana Flávia Soares.

Até o próximo post...

Pesquisador brasileiro cria teste que diagnostica mais de 50 doenças

Todo pai e toda mãe já ouviram falar do teste do pezinho, um exame feito em bebês recém-nascidos que permite diagnosticar uma série de doenças, algumas que seriam fatais para o desenvolvimento pleno da criança coletando uma pequena amostra de sangue do pezinho do neném. Algumas doenças, como erros inatos do metabolismo quando diagnosticados na época certa, permitem a condução da criação do bebê com algumas restrições alimentares, por exemplo, que dar-lhe-ão uma vida praticamente normal, como é o caso da fenilcetonúria.

O médico brasileiro Antonio Condino-Neto, professor sênior do Instituto de Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) aperfeiçoou o teste do pezinho. O teste desenvolvido pelo professor Antonio abrange agora mais de 50 doenças do sistema imunológico do recém-nascido. Pelo feito, o pesquisador venceu o prêmio Dasa de Inovação Médica na categoria Inovação em Genômica, que reconheceu a importância do Projeto capitaneado pelo Professor Condino-Neto chamado Rastreio de Doenças da Imunidade pelo Teste do Pezinho, aplicado em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), que substitui o Teste do Pezinho tradicional que diagnosticava apenas seis doenças.

O Teste do Pezinho ampliado utiliza dois biomarcadores com fragmentos de DNA TREC e KREC, subprodutos de receptores das células T e B do Sistema Imunológico. Com isso doenças mais raras, porém letais para os recém-nascidos não testados, como a Anemia de Fanconi, entram agora no rol de diagnósticos.

A contribuição do Dr. Antonio Condino-Neto vai salvar muitos crianças que, ao serem diagnosticada logo na infância, conseguirão chegar a fase adulta com menos percalços, caso não fossem diagnosticadas precocemente.

Parabéns à Ciência Brasileira!

Até o próximo post...

 

Redução de vagas

Depois que publiquei o texto falando sobre a Cota de Endereço (veja aqui), fui contatado por outras mães falando sobre a redução de vagas na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), afinal de contas, duas importantes universidades públicas do nosso Estado, estabeleceram medidas que mexeram na quantidade de vagas para acesso ao Ensino Superior.

No caso específico da UFDPAR, ficou estabelecida uma pontuação melhorada para quem realizou e concluiu estudos em um conjunto de cidades do Piauí, Maranhão e Ceará. No caso da UESPI, o problema foi o cancelamento de um período, como consequência da falta de planejamento e da ausência de medidas, por parte da universidade, no início da pandemia de COVID-19.

A UESPI demorou muito para reagir no início da pandemia. Os semestres letivos de 2020 só iniciaram em 2021. A mídia não toca no assunto, mas na minha opinião foi uma mistura de inépcia com a eterna falta de investimentos na universidade. Lembro que na época fiquei bem incomodado com a falta de ação. Enquanto a pandemia rolava e as faculdades privadas iniciaram suas atividades de modo híbrido, na UESPI houve um “ano sabático coletivo”. Na educação básica, as secretarias de educação davam seu jeito. A UESPI, parada. O primeiro período de 2020, mesmo remoto, começou somente em janeiro de 2021.

Esta letargia teve consequências: um ano dentro do seguinte, de forma permanente. A medida de eliminar um período poderia ter sido mais bem planejada. O que aconteceu? Eliminou-se o período do calendário e, com ele, grande parte das vagas da Universidade.

A gestão universitária não é simples. Já estive na gestão e ganhei uma porção de desafetos que nem cheguei a conhecer pessoalmente. A universidade tem uma autonomia legal que não é exatamente a real. Na sua autonomia didática, a Universidade poderia suscitar alternativas que não implicassem em perdas tão grandes para comunidade. Para isso exige-se competência e coragem. Sinceramente, espero que a gestão atual consiga por os pés no chão e entender melhor sobre a importância da educação pública e correr atrás de qualidade. Se hoje existe uma reclamação pela supressão de vagas é porque a comunidade ainda valoriza a universidade pública. A Universidade deve clamar por novos estudantes. Há toda uma geração para ser formada e descoberta.

A gestão precisa valorizar mais o que a Universidade tem de melhor dentro do seu corpo técnico e docente. Me chamou atenção que a Universidade não deu qualquer importância para duas professoras brilhantes que se destacaram por estes dias. A Dra. Liana Chaib, professora do curso de Direito do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA-UESPI) foi nomeada Ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e a Dra. Iraneide Soares da Silva, professora do curso de História do Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL-UESPI) foi nomeada para Comissão de Transição do Governo Lula.

A UESPI precisa valorizar mais suas mentes brilhantes e menos suas testas brilhosas. Esta é minha opinião.

Até o próximo post...

 

Cota de endereço

Na semana que passou recebi de uma professora uma indagação sobre a decisão da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPAR) de criar cotas regionais. Ela me perguntava até que ponto a autonomia universitária permitia este tipo de atitude. Fui atrás da Resolução CONSEPE nº 102 de 01 de novembro de 2022 que “implementa o argumento da inclusão regional aos cursos de graduação da UFDPAR para os candidatos que tiverem concluído o ensino fundamental e cursado todo o ensino médio em instituições de ensino situadas no entorno da área de influência dos cursos”.

Pelo que trata a resolução, os estudantes de 21 municípios maranhenses, 36 municípios piauienses e 21 municípios cearenses teriam uma bonificação de 20% na nota do SiSU, simplesmente por terem concluído seus estudos nestes municípios conforme dispõe a ementa da Resolução que citei no parágrafo anterior. Seria justa uma medida destas?

Não sei exatamente qual o percentual de estudantes atuais da UFDPAR que pertencem a estes municípios. Se a medida foi tomada, muito provavelmente um considerável número de estudantes deve pertencer a outros municípios. Me baseio nesta afirmação respaldado nas justificativas do preâmbulo da norma, especialmente evocando o Art. 3º, Inciso III da Constituição Federal, que versa sobre a erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais e premissas da lei que criou a Universidade e do decreto que instituiu o REUNI.

Na minha humilde opinião, o conselho que aprovou tal medida cometeu um atentado contra as pessoas que não se enquadram na regra. Atropelou-se logo de cara a própria Constituição Federal que no seu Art. 5º diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)” [GRIFOS MEUS].

Li a matéria no site da UFDPAR que fala em cotas. Apesar de parecido, não é a mesma coisa. As cotas sociais e raciais foram criadas para corrigir ou pelo menos tentar corrigir, a grande dívida que nosso país tem com o povo negro. Temos 300 anos de escravidão, explorando a força laboral dos negros e dando-lhes menos oportunidades. A criação destas cotas, que completaram recentemente 10 anos de adoção no país, permitiu que estas pessoas também tivessem acesso. Sou completamente favorável a esta política de ações afirmativas. Inclusive, durante todo o período que orientei iniciação científica, sempre fiz questão de receber estudantes cotistas. Nunca perdi um projeto. Pelo contrário. Formei vários estudantes como pesquisadores que hoje andam completando suas formações em cursos de Mestrado e Doutorado pelo país e muitos já no mercado de trabalho.

Acho que esta medida precisa ser melhor pensada pela UFDPAR. Trata-se de uma medida excludente e que inclusive prejudica estudantes cotistas. Esta é minha opinião.

Até o próximo post...

BQ.1: por que devemos nos preocupar com a COVID-19?

Muitas vezes pessoas que sabem que sou professor de Biologia me interpelam sobre a COVID-19 e algumas das medidas que foram ou ainda seguem em vigor como forma de prevenção da doença. Apesar de não ser a minha especialidade (estudo mais sobre Ecologia de Plantas e Ciências Ambientais) leio e procuro facilitar a vida de quem me pergunta. Esta é a principal missão do Ciência Viva. Então vamos esclarecer alguns pontos.

A BQ.1 é uma subvariante da ômicron. A variante Ômicron, sem qualquer dúvida, foi a mais virulenta das formas da COVID-19, pois conseguiu infectar muitas pessoas que tinham escapado das variantes anteriores. Felizmente, embora muito contagiosa, a ômicron se mostrou menos agressiva em termos de sintomas. Aliado a esta sintomatologia mais branda somou-se o fato de que muitas pessoas, pelo menos aqui no Brasil, já estavam devidamente imunizadas, com pelo menos duas doses (1ª dose e o reforço) quando ela começou a circular. Apesar de menos mortal, de qualquer forma, estamos falando de um agente patogênico que elege um sistema para atuar, o que de certa forma, remete para uma imprevisibilidade assustadora.

No seu processo evolutivo, o vírus vai produzindo novas variantes e subvariantes a partir de mutações em seu material genético. A cada nova infecção, o vírus pode sofrer mutações e o sucesso destas mutações permite que o vírus prolifere. As mutações podem ser bem-sucedidas ou não, sob o ponto de vista evolutivo. Para nós, a grande vantagem, é quando uma mutação destas reduz a capacidade do vírus se espalhar. E assim caminha o vírus no seu processo evolutivo. Como sua reprodução é rápida, rapidamente percebemos esta evolução em tempo real.

A natureza biológica do vírus nos permite interferir neste mecanismo de evolução. É quando nós interrompemos o ciclo reprodutivo dele. Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, só conseguem se reproduzir se estiverem dentro de uma célula, pois usam os recursos das células para gerarem suas estruturas.

Deste modo, só conseguiremos estancar esta evolução dele, interrompendo o seu ciclo reprodutivo. E como fazemos isso? Nos protegendo, evitando aglomerações e nos imunizando, através do uso de vacinas.

Pense nisso, caso esta nova leva de SARS-CoV2 venha a bater novamente em nossas portas.

Até o próximo post...

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