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Direito de resposta

Recebi do Prof Leonardo Madeira o texto a seguir, tendo como ponto de partida meu último post sobre o Clima de Teresina. Segue na íntegra a mensagem enviada,

"Prezado Prof. Soares,

 
Li sua matéria, intitulada "Clima de Teresina em mudança acelerada: será???", publicada no dia 19/03/23, às 10:00 horas da manhã no Portal Cidade Verde. Infelizmente, só tive conhecimento dias depois, pois estive concentrado na organização do CLIMATHE 23 que ocorreu no Cine Teatro da UFPI, no último dia 20/03/2023. Por ele, gostaria de iniciar as minhas considerações.
 
O CLIMATHE 23 deu início a uma ampla agenda de debates e a construção colaborativa de uma política pública de enfrentamento às mudanças climáticas em Teresina. Na oportunidade, promovemos, em ordem cronológica:
 
1. Assinatura do Decreto que regulamenta a instituição de ambientes experimentais de inovação científica, tecnológica e urbanística no Município de Teresina. Isso permitirá a instalação de startups locais e externas visando o desenvolvimento das mais diversas soluções voltadas à sustentabilidade, inclusive em prol do combate às mudanças climáticas;
2. Palestra com o Secretário de Clima de Niterói, a primeira Secretaria de Clima do Brasil, apresentando os importantes resultados construídos ao longo de 2 anos desde a sua criação;
3. Apresentação do Centro de Eficiência em Sustentabilidade Urbana – CESU de Teresina, projeto piloto financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, em apoio à inovação como um instrumento de política pública para a solução de problemas urbanos;
4. Apresentação de soluções de tecnologias da informação, em favor da sustentabilidade, por empresa que liderou projetos no IBAMA e IPAAM;
5. Apresentação, pelo Centro de Tecnologia da UFPI, de projeto de produção de biocombustível para aviação a partir de resíduos de pescado;
6. Apresentação de soluções baseadas na natureza que serão implementadas pelo Programa Viver + Teresina, a partir da parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento. 
 7. Apresentação dos resultados preliminares do inventário de gases de efeito estufa e do estudo de análise de vulnerabilidade da capital frente às mudanças climáticas.
 
Sem dúvida, foi um momento rico onde, de forma colaborativa, foram colhidos os comentários de um público seleto em favor de uma importante política pública em construção. O evento foi gravado, podendo ser encontrado através do link https://www.youtube.com/live/p1hpDySIoko?feature=share
 
Quanto aos comentários do pesquisador José Machado Moita Neto da UFDPAR, precisamos assinalar que há um claro equívoco na escala temporal apresentada. Facilmente é possível encontrar no Banco de Dados Meteorológicos do INMET as Normais Climatológicas de 1961 a 2020, por exemplo. Assim, acredito que o desconhecimento da política pública que está sendo construída somado a uma análise descuidada dos dados existentes podem levar a conclusões distorcidas e o mais preocupante, à desinformação.
 
Mudanças climáticas é um tema transversal e deve ser discutido em todas as áreas de formação, pois seus efeitos são amplos e atingem todos indistintamente. Há fontes mais confiáveis de informação do que a Netflix, que mostram uma clara tendência de aquecimento em todo o globo. Estranho seria Teresina não variar a sua temperatura ou mesmo diminuí-la. Isso seria extraordinário! 
 
Quanto à aceleração da tendência de crescimento da temperatura especificamente em Teresina, convido-os a assistirem à apresentação, no link citado, e a fazerem o download dos documentos no site da SEMPLAN, disponíveis a partir do dia 21/03/2023 para consulta pública. Haverá um endereço de envio de comentários, sugestões e críticas.
 
Negar as mudanças climáticas e os seus efeitos é ir contra a ciência. Os resultados do negacionismo ainda são sentidos pela pandemia da COVID-19. Por isso, Teresina se junta às demais cidades do globo com o objetivo de construir ações de adaptação e mitigação a esses fenômenos. 
 
Com os melhores cumprimentos,
 
 
Observação: Esclarecimentos feitos pelo Prof. Leonardo Madeira, Seguimos nossa programação normal de divulgar ciência. Quando lidamos com a Divulgação, incluem-se as discussões entre cientistas. O Ciência Viva continua com sua função precípua de divulgar ciência, ainda que vez por outra existam discordâncias. O texto foi recebido às 22h do dia 21/03/2023. A publicação só foi possível agora em função de compromissos profissionais que tive ao longo do dia.

Clima de Teresina em mudança acelerada: será???

Para começar a falar sobre isso faço logo uma ponderação: não sou especialista em meteorologia. Sou biólogo, com Mestrado e Doutorado em Botânica (ou será em Biodiversidade??? Entendedores entenderão!). Então que fique claro: entendo de plantinhas e ainda bem pouquinho.

Esta semana fiquei bem atordoado com informações vistas na mídia, na qual o Dr. Leonardo Madeira foi entrevistado em nome de uma organização da Prefeitura de Teresina e falava sobre um evento que vai acontecer (ou já aconteceu) sobre o Clima em Teresina. As coisas da Prefeitura de Teresina eu já não levo muito a sério pela série de coisas que a cidade vem passando, numa gestão que dispensa qualquer comentário. Mas o Dr. Leonardo Madeira é uma pessoa de fato muito séria e pontuou em uma das entrevistas que vi que estamos vivendo aqui o que o mundo só irá viver daqui a alguns anos em termos de incremento de temperatura.

Hoje recebi um e-mail do Dr. José Machado Moita Neto, um pesquisador conceituadíssimo que hoje atua na Universidade do Delta do Parnaíba (UFDPAR), mas que também não é da área de Meteorologia que reproduzo a seguir, por ter feito uma análise mais acurada do que está acontecendo.

“1. Hoje li uma matéria na mídia que afirmava " Com aumento médio de 1º C em quatro décadas, Teresina desponta como uma das cidades com aquecimento mais acelerado no mundo. O alerta é do Centro de Eficiência em Sustentabilidade Urbana de Teresina (Cesu)". Título da matéria: Teresina é uma das cidades com aquecimento mais acelerado, diz estudo.

Fonte: https://www.cidadesemfoco.com/teresina-e-uma-das-cidades-com-aquecimento-mais-acelerado-diz-estudo/

2. Também assisti uma entrevista com o Leonardo Madeira e soube que o CESU é situado na UFPI, presumo que no CT

Título: ENTREVISTA - LEONARDO MADEIRA - COORDENADOR DO CLIMA THE 2023 E DA AGENDA 2030

Fonte: https://youtu.be/Cf-fZn14hDA

3. Fiquei preocupado com a informação em destaque e fui até o INMET baixar os dados da estação meteorológico automática de Teresina (A312) e verifiquei que a mesma começou a fornecer informações apenas no final de 2004. Isto significa que dispomos de 18 anos completos com dados meteorológicos de Teresina. Até anexei aqui os dados. Para algum curioso que queira fazer as estatísticas para conferir as afirmações.

Fonte: https://portal.inmet.gov.br/dadoshistoricos

4. Recentemente tenho aumentado minhas preocupações sobre a proximidade do discurso científico com o discurso político. Inexoravelmente o discurso científico é apropriado pelo político e logo perde a higidez própria do discurso científico.

5. Infelizmente o discurso político não é apenas "conversa fiada" ou "blá-blá-blá" pois pode ter influência sobre gastos públicos e políticas públicas. Também pode se apropriar do tema para esconder deficiências de planejamento urbano, por exemplo, apontar as consequenciais da chuvas com mudanças climáticas

6. Todos estamos legitimados a produzir discursos de qualquer tipo, inclusive político. Nessa visão, o pesquisador também pode fazer um discurso político. Nesse ponto, a sua autoridade científica, aquela decorrente de seus conhecimentos, quando muda de campo de atuação, perde seu valor original da prudência e higidez do discurso científico. A análise do discurso crítica permite identificar essas situações. A entrevista do Leonardo é um exemplo de um discurso predominantemente político

7. O verniz científico das discussões ambientais é assustador. Os interesses econômicos e políticos escondem mais do que revelam. Nesse ponto, o pesquisador da área ambiental deve redobrar a guarda para não ser mero reprodutor de ideias alheias.

8. Nada entendo de metereologia. O que me move é a vontade de permanecer como educador ainda pelo resto da vida. Portanto, aprendendo e ensinando. Meu conhecimento em metereologia só chega  até a serie coreana no Netflix "Clima do amor" (https://www.netflix.com/br/title/81572781) que assisti e recomendo a aposentados!!!

José Machado Moita Neto”

Com as ponderações do Prof. Moita exponho as minhas escusas em tocar em um tema tão delicado e no qual não detenho tantas informações, mas que requer que nos atentemos com este fenômeno mundial de interferências políticas em questões científicas. Acabamos de passar por uma pandemia terrível e o viés político até hoje faz com que muita gente não tenha se vacinado, que muita gente venha se empanturrando de cloroquina e ivermectina, com a crença nos grupos de Whatsapp que ajudaram a ceifar uma série de vidas por aí.

Precisamos ficar atentos sobre as coisas que nos cercam e de como as informações podem ser usadas até contra nossa própria vida.

Um ponto para reflexão.

Boa semana para todos e todas e até o próximo post...

“Carandiru” caiu...

Uma coisa quase uníssona para as pessoas que conhecem o ambiente acadêmico do Piauí é a situação da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). A UESPI é a maior instituição pública de formação superior do Piauí. Por um tempo, teve um dos vestibulares mais concorridos do Brasil, e foi uma das instituições de maior capilaridade no Estado, inclusive, ultrapassando fronteiras, porque chegou a funcionar com cursos em cidades do Maranhão e da Bahia. Em uma época que contava com um corpo de professores efetivos diminuto e uma massa de professores substitutos gigantesca.

A partir de 2002, a UESPI começou a investir em contratação de professores efetivos, com abertura de concursos. Criou um plano de cargos, carreiras e salários, compatível com a realidade do ambiente universitário, e foi se estabelecendo melhor. Foram vários concursos. Mas ao tempo que contratava pesquisadores, de diferentes partes do Brasil e até professores estrangeiros, em termos estruturais a universidade continuou sua prática de “gambiarras”: prédios públicos como escolas, centros sociais urbanos e até mercado, eram usados e viravam UESPI, nos diferentes rincões do Estado.

O tempo passou, a universidade deu uma encolhida, muitos cursos finalizaram, algumas unidades no interior foram desativadas, ou passaram a funcionar apenas como polo de apoio presencial para cursos do Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), posteriormente para o Universidade Aberta do Piauí (UAPI), mas a estrutura sendo, gradativamente dilapidada pela combinação de tempo mais a falta de gestão.

Ontem tivemos a notícia de que parte do teto de um setor da UESPI caiu. Este setor é popularmente conhecido como “Carandiru”, numa alusão ao presídio que já serviu de inspiração para filmes retratando um massacre ocorrido no passado. Por muitos anos ministrei aulas neste conjunto de quatro salas, que serviam aos cursos de Biologia e Educação Física. Hoje as salas servem aos cursos do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA). Muitas vezes para turmas do curso de Direito, um dos mais concorridos pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU), cujo corpo docente e, principalmente o corpo discente, já conquistou, por diversas vezes, o selo de qualidade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo nível de estudantes que forma.

Se se fizer uma pesquisa rápida, é possível verificar que o Orçamento da UESPI é um dos que mais cresce, ano após ano. E por que a Universidade padece tanto na sua estrutura? Por que a Universidade está desde 2014 sem Biblioteca Central? Tem alguma coisa muito errada. O tempo das gambiarras já deveria ter acabado há muito tempo.

Tenho certeza de que a UESPI virou prioridade para a equipe do Governador Rafael Fonteles. Afinal, Rafael é um professor (já falei nisso aqui), transita bem tanto na Educação Básica quanto na Superior. Rafael quebrou um paradigma fortíssimo. A Universidade Federal do Piauí (UFPI) que diplomou Rafael Fonteles como professor de Matemática em apenas dois anos de curso, teve que modificar seu sistema de avaliação para lidar com um estudante de Altas Habilidades e Superdotação. A quebra de paradigma agora vem na possibilidade de tirar a UESPI de onde está. E de cobrar dos seus gestores uma postura de trabalho, por uma universidade. 

Chega de tanto meme nas redes sociais protagonizado por quem deveria estar se dedicando à gestão universitária.

Boa semana para todos e todas!

Afivelando as malas...

Em 2017, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA) lançou um edital para estimular trocas e experiências entre pesquisadores maranhenses e pesquisadores estrangeiros, financiando projetos com a finalidade de estreitar estes laços.

Prof. Eduardo Almeida Jr., professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e curador do Herbário MAR (Herbário do Maranhão) montou uma equipe de pesquisadores para concorrer a este edital, com o objetivo de sedimentar parceria com o Jardim Botânico de Nova York (NYBG), nos Estados Unidos. A ideia é trabalhar na identificação de plantas da coleção da Amazônia, coletadas em diferentes regiões da Amazônia Legal, o que compreende os estados da região Norte e mais o estado do Maranhão.

A ideia era que o grupo viajasse em 2020. Mas no meio do caminho apareceu uma pandemia que fechou as fronteiras do mundo e todo mundo sabe bem o que foi o período que vivenciamos por causa da COVID-19. O tempo passou e em 2022, o Prof. Almeida Jr. aprovou novo projeto, e casou a ideia da Cooperação Internacional com um Pós-Doutorado no NYBG. Este ano viajarão outros dois integrantes da missão, e com isso este que escreve aos domingos para o Ciência Viva, vai passar uns dias conhecendo plantas da coleção Amazônica, por fazer parte dos pesquisadores associados ao Herbário MAR da UFMA.

O Plano é passar cerca de três semanas no mês de abril trabalhando neste projeto de parceria e voltar com a bagagem de quem conheceu e passou uma temporada conhecendo plantas no segundo maior herbário do mundo. O Herbário do Jardim Botânico de Nova York é o segundo maior herbário do mundo com 7 milhões e oitocentas mil exsicatas. Para quem ainda não sabe os Herbários são entidades que armazenam coleções de plantas desidratadas na forma de exsicatas, que servem como testemunho de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento humano como a própria botânica, a ecologia, a farmácia, a genética e outras áreas. Para se ter uma ideia comparativa, o maior herbário brasileiro é o do Jardim Botânico do Rio de Janeiro que apresenta cerca de 650 mil exsicatas. O maior do planeta fica no Museu de História Natural da França, em Paris, com 9,5 milhões de exsicatas.

Enquanto organizamos a viagem, vencendo a burocracia de deixar o país em uma missão de estudos, fica a expectativa para este novo desafio da carreira de um pesquisador do Piauí. Até o próximo post...

 

Reforma do ensino médio: interromper?

No curto período que o Brasil esteve sob a Presidência de Michel Temer, após a defenestração de Dilma Roussef, o país começou a andar a passos largos com uma reforma educacional que vinha sendo remoída desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso. A ideia parecia ser uma revolucionária reforma de tudo, atropelando-se, inclusive, algumas etapas importantes.

A implementação de Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a reformulação do Ensino Médio e todas as consequências decorrentes destes processos passaram a ser priorizados numa velocidade que atropelou os diferentes agentes do contexto educacional do país impactando consideravelmente alguns destes segmentos e reverberando sempre sobre o lado mais frágil: os estudantes.

O Plano por trás do Novo Ensino Médio previa uma segmentação do currículo escolar facultando (pelo menos no discurso) que o estudante poderia escolher o que estudar. Numa conversa regada por muitas mídias veiculadas de forma intensa nos diferentes meios de comunicação, propalava-se a ideia de que o estudante poderia agora “escolher o que queria estudar”. O Novo Ensino Médio proporcionou às escolas a necessidade de criar um currículo de formação básica, com algumas coisas obrigatórias como Matemática, Língua Portuguesa e Língua Inglesa e um currículo mais específico compreendendo as demais áreas e os aprofundamentos , sob o título de Itinerários Formativos. Em tese a escola poderia montar os Itinerários que fossem mais interessantes e o estudante poderia, por critério próprio, escolher o que de fato estudaria.

Uma sugestão do MEC foi a possibilidade de construção de cinco tipos de Itinerário, obrigando as escolas a oferecerem um mínimo de dois Itinerários, balizados nas competências mapeada pelo Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM): Linguagens e suas tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Sociais e Aplicadas, além de um quinto Itinerário voltado para Educação Profissional.

Se imaginarmos que o ensino Médio no nosso país não cumpre seu papel, uma vez que nem forma para o trabalho e nem prepara para o estudante prosseguir na Educação Superior, o plano de reformar dando novas perspectivas aos estudantes é perfeito. Mas a execução precisava ser feita com uma série de ações antecessoras, colocando para os atores que tomam decisão sobre isso mais segurança no que fazem e incluindo os estudantes a opinar sobre a reforma.

Agora, o Ministério da Educação se depara com a possibilidade modificar, interromper e até anular o que foi feito até aqui. Muita calma nesta hora. Um recuo em um processo que precisa ser gradativo tem que ser mais pensado do que a própria reforma em si.

Até o próximo post...

 

Enfim uma boa notícia

Esta semana a ciência brasileira assistiu o cumprimento de uma promessa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que aumentaria os recursos para o pagamento das Bolsas de Pós-Graduação no País. A notícia repercutiu muito bem no seio das instituições que cuidam da pesquisa brasileira, especialmente as universidades.

É importante esclarecer para o leitor que as Universidades, especialmente as públicas, através dos seus programas de Pós-Graduação são responsáveis por 95% de tudo o que se produz de conhecimento novo no país. Este conhecimento é desenvolvido como trabalho final ou parcial dos cursos de Mestrado e Doutorado. Estudantes destes níveis, até o mês de Fevereiro deste ano ganharam R$ 1.500,00 (valor da Bolsa de Mestrado) e R$ 2.200,00 (valor da Bolsa de Doutorado). Com o aumento, a partir do mês de Março, os mestrandos passarão a receber R$ 2.100,00 e os doutorandos, R$ 3.100,00.

É válido ressaltar que este valor não é acrescido de nenhuma vantagem, como 13º salário ou férias, por exemplo, e o estudante usa para se manter e, muitas vezes, até para custear parte da pesquisa que desenvolve.

O aumento também abrangeu outras categorias, como a Iniciação Científica, cuja bolsa é de R$ 400,00 e passou a custar R$ 1.000,00. Foram aumentadas também as bolsas de Produtividade e de Pós-Doutorado.

Este incremento é muito importante e dá outra dimensão para os programas de pós-graduação no país. O sonho de galgar posições acadêmicas ainda é muito comum nos estudantes brasileiros. Isso porque nosso país não tem uma indústria forte e nem funções remuneradas o suficiente, fora do escopo daquelas cuja remuneração baseia-se no quanto o profissional acumulou de experiência escolar, ao longo dos cursos de graduação e pós-graduação.

A produção acadêmica brasileira, representada por produtos como artigos científicos e patentes ainda é considerada incipiente. No ranking dos países que mais publicam artigos científicos (frutos diretos das pesquisas científicas) o Brasil ocupa o 13º lugar em levantamento feito entre os anos de 2015 e 2020. Considerando as dimensões e o tamanho da população, considera-se um valor aquém do potencial das instituições de pesquisa e dos pesquisadores.

Este foi um passo muito importante do Governo Federal no fomento à pesquisa. Esta ação não deve parar por aí, para que novos hiatos de 10 anos sem qualquer aumento nos investimentos não se repitam. Um ação destas puxa os estados para realização de investimentos neste campo também.

Até o próximo post...

Você já viu a IA que escreve como um humano?

Esta semana que passou assistimos pelas nossas redes sociais as páginas das escolas anunciando os resultados dos seus melhores estudantes e suas notas nas redações do ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio). Pelos resultados que vi, não foram muitos estudantes que lograram a almejada nota 1000, perseguida por 10 em cada 10 estudantes e anunciadas por 11 em cada 10 professores como capazes de formar estudantes com um perfil capaz de alcançar a nota máxima na prova de Redação do Exame.

Além das boas novas das escolas anunciando os resultados obtidos pelos seus pupilos, em geral para atrair novos estudantes para suas fileiras, andei lendo mais outras fontes sobre o ChatGPT, a inteligência artificial que consegue produzir textos com um rigor quase humano. Já falei disso há algumas semanas, e recebi poucos feedbacks dos leitores do Ciência Viva que interagem comigo (reveja o texto).

De tanto ler me surgiram algumas dúvidas e procurei um professor que entende de Redação. Na conversa que tive com o Prof. Digenário Pessoa, coordenador de Redação do Instituto Dom Barreto, e um dos mentores da nota 1000 obtida por uma estudante do Piauí, confirmei a pertinência das minhas dúvidas sobre o efeito destruidor do aplicativo no que tange ao ensino de Redação. Ele, juntamente com outros professores, sugeriu temas e a IA (Inteligência Artificial) pôs-se a montar textos bem objetivos. “Quanto mais detalhados os comandos dados, melhor os resultados” esclareceu Digenário.

A exemplo do que Digenário fez, propus ao aplicativo alguns comandos simples, que reproduzo na forma de prints ao longo deste texto. O resultado é absolutamente espantoso e mais: embora não tenha cronometrado, o aplicativo leva poucos segundos para sugerir os resultados.

Primeiro teste feito com o aplicativo. Fonte: F.S.Santos-Filho.

No primeiro teste, pedi que a IA montasse um texto sobre o Blog Ciência Viva. Como não dei muitos detalhes, houve o enviesamento: a IA misturou algumas coisas que fazemos aqui (divulgação em Ciências) com a página do Projeto Ciência Viva da Câmara de Lisboa, Portugal.

Um carta de amor escrita pela IA. Fonte: F.S.Santos-Filho.

Depois, num segundo teste, pedi a IA que escrevesse por mim uma carta de amor para minha esposa. O resultado foi uma carta sem muitos toques glamourosos, mas que atendia premissa básica do comando dado. A Ana se sentiu contemplada (risos).

Num terceiro exemplo, pedi que a IA escrevesse uma carta de despejo. E o resultado foi bem convincente: ou o inquilino paga ou vai embora.

Depois de receber esta o inquilino correu atrás de um dinheiro para quitar sua dívida. Fonte; F.S. Santos-Filho.

Pelo sim, pelo não, é muito bom que os pais se engajem mais nas atividades escolares de seus filhos. Para compreenderem os limites impostos ao uso deste tipo de aplicativo. Visitei a loja de aplicativos e encontrei vários tipos de IA com as mesmas propriedades.

Pelo que a IA escreveu fiquei bem convencido que, em alguns aspectos, precisamos nos preocupar muito com este tipo de evolução tecnológica.

Até o próximo post...

Grupão de Neanderthais

Uma descoberta publicada no último número da Revista Science aponta que os homens de Neanderthal não viviam em grupos tão pequenos quanto se imaginava. A ideia original é de que este grupo de hominíneos (Homo sapiens neanderthalensis) parentes próximos da nossa espécie (Homo sapiens sapiens) viviam em grupos pequenos espalhados pela Europa. Pensava-se que sempre estavam reunidos em grupos nômades de no máximo 20 indivíduos que perambulavam sempre caçando, pescando e coletando víveres para sobrevivência.

O achado de uma espécie de cemitério com presas equivalente a 70 elefantes veio mudar um pouco esta história. Descobertas na década de 1980 em uma mina de carvão na região de Neumark-Nord na Alemanha, um conjunto de ossos e presas de 70 elefantes da espécie Palaeoxodon antiquus, um táxon extinto de um elefante gigante (media cerca de 4 metros de altura), bem maior do que as espécies atuais de elefantes africanos, revelou que os exemplares foram abatidos. Na maior parte dos mais de 3400 ossos encontrados, foram descobertas marcas de ferramentas líticas usadas para descarnar os animais.

Com base na quantidade de elefantes abatidos e na projeção da quantidade de carne retirada, os pesquisadores projetam um grupo entre 100 e 350 indivíduos. Isso porque os ossos não apresentavam marcas de que teriam sido aproveitados por animais que se utilizam das carcaças, como lobos e hienas. A projeção se baseia no fato de que a carne poderia alimentar até 100 pessoas em um mês e até 350 pessoas em uma semana.

À medida que avançam as pesquisas, a ciência vai elucidando as marcas deixadas pelas espécies no passado. A pesquisa vem sendo conduzida pela Universidade de Leiden, na Alemanha.

Boa semana, para todos e todas.

 

 

Escola para o mundo atual

A educação é um movimento humano dinâmico. Há algumas semanas atrás participei de entrevistas nas quais os jornalistas se revezaram em me instigar a comparar a educação que se faz hoje com a educação que se fez na época em que fui aluno e nas épocas que participei como professor, e hoje divido uma reflexão com os leitores do Ciência Viva.

A educação sempre foi um movimento de propósitos. Lembro que quando fazia a educação básica, havia um conjunto de disciplinas que exaltavam preceitos da moral e do civismo, que contavam sobre a organização social e política do Brasil, com um viés praticamente integrado às forças que administravam o Brasil, desde meados do anos 1960. Duas décadas antes, o governo precisava formar contingente para ocupar fábricas e nosso país era uma grande nação rural. Cito estes dois exemplos para mostrar que as reformas educacionais sempre se pautaram por interesses políticos e econômicos. E o momento que vivemos não é muito diferente.

Vivemos a época da Quarta Revolução Industrial. A época na qual as pessoas precisam saber mais do que os processos de automação, mas lidar, inclusive, com a Inteligência Artificial (dias atrás publiquei falando do software que consegue escrever redações e que pode causar uma verdadeira revolução negativa na educação, por substituir aqueles estudantes que se acham mais espertos, em atividades que requerem uma autonomia de pensamento). Veja aqui.

A quarta revolução industrial trabalha com a robótica como elemento central (para muito além dos processos de automação que caracterizaram a terceira revolução industrial), a internet das coisas (já bem representada pelas sucessivas gerações da Alexa que, com comandos de voz, já consegue fazer algumas coisas importantes na sua casa), computação em nuvem (uma realidade que vem fazendo desaparecer a necessidade das mídias físicas para guardar arquivos e documentos importantes e tudo o mais que conseguimos produzir) e, principalmente, a Inteligência Artificial que pode terminar atropelando a humanidade. E a pergunta é: qual a educação que precisamos para formar pessoas para esta realidade?

O estudante que a escola forma hoje precisa ser bem além de um assimilador de conteúdos. Precisa ser alguém que seja capaz de tomar decisões. Alguém que, diante de uma situação, consiga analisar e produzir uma saída eficaz. Que em termos de arranjos produtivos, consiga gerar produtos que saltem do limiar competitivo e se destaque para uma sociedade cada vez mais exigente em termos de consumo. Que consiga ter uma perspicácia tecnológica, sem abandonar o lado humano. Que analise dados numéricos, mas que os retire da frieza algébrica, partindo para resolver situações como o abandono ou o esmagamento provocado pelo Capital. Que combata a violência com a força da inteligência e com foco nas causas e não nas consequências.

Estamos diante de um novo momento para reformas. As reformas propostas até aqui não respondem às demandas impostas pela sociedade de hoje. Analisar questões do passado, como as falhas dos processos de reforma educacional são um bom mote para o presente, visando respaldar os atores educacionais do futuro. A sociedade clama por uma reforma diferente.

Até o próximo post...

O focinho e a temperatura

Organismos que habitam regiões extremas necessitam de um conjunto de estratégias para suportar a vida nestes locais, o que culmina com adaptações incríveis, resultado do processo evolutivo e da seleção natural agindo sobre seu conjunto de genes, responsáveis pelas características que possuem. Cada organismo procura a estratégia que melhor lhes convém.

O Equidna é um animal da fauna australiana que habita desertos. O equidna faz parte de uma ordem muito restrita de mamíferos que são ovíparos, denominada Ordem Monotremada. Faz parte desta ordem o Ornitorrinco, também nativo da Oceania. Trata-se, pois, de um animal bastante exótico de tamanho pequeno e que possui o corpo repleto de espinhos duros que servem para sua proteção. Como vive em regiões desérticas, o Equidna precisa equilibrar sua temperatura corpórea. A presença de uma com espinhos rígidos interfere neste processo, já que o animal não consegue liberar água na forma de suor.

A cientista Elizabeth Cooper da Universidade de Curtin, Austrália, descobriu que o Equidna realiza uma estratégia inusitada: o animal possui uma janela evaporativa no seu pico que funciona como um termômetro. Ao perceber modificações na temperatura corpórea o animal elimina água na forma de vapor pelo seu bico. A pesquisa foi feita usando técnicas de termografia infravermelha. As medições de temperatura foram testadas estatisticamente verificando-se o efeito evaporativo desta janela.

Impressionante como este organismo usa esta estratégia para sobreviver em temperaturas altíssimas do deserto australiano. Se quiser ver o vídeo da pesquisa clique aqui.

Até o próximo post...

 

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