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Enfim uma boa notícia

Esta semana a ciência brasileira assistiu o cumprimento de uma promessa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que aumentaria os recursos para o pagamento das Bolsas de Pós-Graduação no País. A notícia repercutiu muito bem no seio das instituições que cuidam da pesquisa brasileira, especialmente as universidades.

É importante esclarecer para o leitor que as Universidades, especialmente as públicas, através dos seus programas de Pós-Graduação são responsáveis por 95% de tudo o que se produz de conhecimento novo no país. Este conhecimento é desenvolvido como trabalho final ou parcial dos cursos de Mestrado e Doutorado. Estudantes destes níveis, até o mês de Fevereiro deste ano ganharam R$ 1.500,00 (valor da Bolsa de Mestrado) e R$ 2.200,00 (valor da Bolsa de Doutorado). Com o aumento, a partir do mês de Março, os mestrandos passarão a receber R$ 2.100,00 e os doutorandos, R$ 3.100,00.

É válido ressaltar que este valor não é acrescido de nenhuma vantagem, como 13º salário ou férias, por exemplo, e o estudante usa para se manter e, muitas vezes, até para custear parte da pesquisa que desenvolve.

O aumento também abrangeu outras categorias, como a Iniciação Científica, cuja bolsa é de R$ 400,00 e passou a custar R$ 1.000,00. Foram aumentadas também as bolsas de Produtividade e de Pós-Doutorado.

Este incremento é muito importante e dá outra dimensão para os programas de pós-graduação no país. O sonho de galgar posições acadêmicas ainda é muito comum nos estudantes brasileiros. Isso porque nosso país não tem uma indústria forte e nem funções remuneradas o suficiente, fora do escopo daquelas cuja remuneração baseia-se no quanto o profissional acumulou de experiência escolar, ao longo dos cursos de graduação e pós-graduação.

A produção acadêmica brasileira, representada por produtos como artigos científicos e patentes ainda é considerada incipiente. No ranking dos países que mais publicam artigos científicos (frutos diretos das pesquisas científicas) o Brasil ocupa o 13º lugar em levantamento feito entre os anos de 2015 e 2020. Considerando as dimensões e o tamanho da população, considera-se um valor aquém do potencial das instituições de pesquisa e dos pesquisadores.

Este foi um passo muito importante do Governo Federal no fomento à pesquisa. Esta ação não deve parar por aí, para que novos hiatos de 10 anos sem qualquer aumento nos investimentos não se repitam. Um ação destas puxa os estados para realização de investimentos neste campo também.

Até o próximo post...

Você já viu a IA que escreve como um humano?

Esta semana que passou assistimos pelas nossas redes sociais as páginas das escolas anunciando os resultados dos seus melhores estudantes e suas notas nas redações do ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio). Pelos resultados que vi, não foram muitos estudantes que lograram a almejada nota 1000, perseguida por 10 em cada 10 estudantes e anunciadas por 11 em cada 10 professores como capazes de formar estudantes com um perfil capaz de alcançar a nota máxima na prova de Redação do Exame.

Além das boas novas das escolas anunciando os resultados obtidos pelos seus pupilos, em geral para atrair novos estudantes para suas fileiras, andei lendo mais outras fontes sobre o ChatGPT, a inteligência artificial que consegue produzir textos com um rigor quase humano. Já falei disso há algumas semanas, e recebi poucos feedbacks dos leitores do Ciência Viva que interagem comigo (reveja o texto).

De tanto ler me surgiram algumas dúvidas e procurei um professor que entende de Redação. Na conversa que tive com o Prof. Digenário Pessoa, coordenador de Redação do Instituto Dom Barreto, e um dos mentores da nota 1000 obtida por uma estudante do Piauí, confirmei a pertinência das minhas dúvidas sobre o efeito destruidor do aplicativo no que tange ao ensino de Redação. Ele, juntamente com outros professores, sugeriu temas e a IA (Inteligência Artificial) pôs-se a montar textos bem objetivos. “Quanto mais detalhados os comandos dados, melhor os resultados” esclareceu Digenário.

A exemplo do que Digenário fez, propus ao aplicativo alguns comandos simples, que reproduzo na forma de prints ao longo deste texto. O resultado é absolutamente espantoso e mais: embora não tenha cronometrado, o aplicativo leva poucos segundos para sugerir os resultados.

Primeiro teste feito com o aplicativo. Fonte: F.S.Santos-Filho.

No primeiro teste, pedi que a IA montasse um texto sobre o Blog Ciência Viva. Como não dei muitos detalhes, houve o enviesamento: a IA misturou algumas coisas que fazemos aqui (divulgação em Ciências) com a página do Projeto Ciência Viva da Câmara de Lisboa, Portugal.

Um carta de amor escrita pela IA. Fonte: F.S.Santos-Filho.

Depois, num segundo teste, pedi a IA que escrevesse por mim uma carta de amor para minha esposa. O resultado foi uma carta sem muitos toques glamourosos, mas que atendia premissa básica do comando dado. A Ana se sentiu contemplada (risos).

Num terceiro exemplo, pedi que a IA escrevesse uma carta de despejo. E o resultado foi bem convincente: ou o inquilino paga ou vai embora.

Depois de receber esta o inquilino correu atrás de um dinheiro para quitar sua dívida. Fonte; F.S. Santos-Filho.

Pelo sim, pelo não, é muito bom que os pais se engajem mais nas atividades escolares de seus filhos. Para compreenderem os limites impostos ao uso deste tipo de aplicativo. Visitei a loja de aplicativos e encontrei vários tipos de IA com as mesmas propriedades.

Pelo que a IA escreveu fiquei bem convencido que, em alguns aspectos, precisamos nos preocupar muito com este tipo de evolução tecnológica.

Até o próximo post...

Grupão de Neanderthais

Uma descoberta publicada no último número da Revista Science aponta que os homens de Neanderthal não viviam em grupos tão pequenos quanto se imaginava. A ideia original é de que este grupo de hominíneos (Homo sapiens neanderthalensis) parentes próximos da nossa espécie (Homo sapiens sapiens) viviam em grupos pequenos espalhados pela Europa. Pensava-se que sempre estavam reunidos em grupos nômades de no máximo 20 indivíduos que perambulavam sempre caçando, pescando e coletando víveres para sobrevivência.

O achado de uma espécie de cemitério com presas equivalente a 70 elefantes veio mudar um pouco esta história. Descobertas na década de 1980 em uma mina de carvão na região de Neumark-Nord na Alemanha, um conjunto de ossos e presas de 70 elefantes da espécie Palaeoxodon antiquus, um táxon extinto de um elefante gigante (media cerca de 4 metros de altura), bem maior do que as espécies atuais de elefantes africanos, revelou que os exemplares foram abatidos. Na maior parte dos mais de 3400 ossos encontrados, foram descobertas marcas de ferramentas líticas usadas para descarnar os animais.

Com base na quantidade de elefantes abatidos e na projeção da quantidade de carne retirada, os pesquisadores projetam um grupo entre 100 e 350 indivíduos. Isso porque os ossos não apresentavam marcas de que teriam sido aproveitados por animais que se utilizam das carcaças, como lobos e hienas. A projeção se baseia no fato de que a carne poderia alimentar até 100 pessoas em um mês e até 350 pessoas em uma semana.

À medida que avançam as pesquisas, a ciência vai elucidando as marcas deixadas pelas espécies no passado. A pesquisa vem sendo conduzida pela Universidade de Leiden, na Alemanha.

Boa semana, para todos e todas.

 

 

Escola para o mundo atual

A educação é um movimento humano dinâmico. Há algumas semanas atrás participei de entrevistas nas quais os jornalistas se revezaram em me instigar a comparar a educação que se faz hoje com a educação que se fez na época em que fui aluno e nas épocas que participei como professor, e hoje divido uma reflexão com os leitores do Ciência Viva.

A educação sempre foi um movimento de propósitos. Lembro que quando fazia a educação básica, havia um conjunto de disciplinas que exaltavam preceitos da moral e do civismo, que contavam sobre a organização social e política do Brasil, com um viés praticamente integrado às forças que administravam o Brasil, desde meados do anos 1960. Duas décadas antes, o governo precisava formar contingente para ocupar fábricas e nosso país era uma grande nação rural. Cito estes dois exemplos para mostrar que as reformas educacionais sempre se pautaram por interesses políticos e econômicos. E o momento que vivemos não é muito diferente.

Vivemos a época da Quarta Revolução Industrial. A época na qual as pessoas precisam saber mais do que os processos de automação, mas lidar, inclusive, com a Inteligência Artificial (dias atrás publiquei falando do software que consegue escrever redações e que pode causar uma verdadeira revolução negativa na educação, por substituir aqueles estudantes que se acham mais espertos, em atividades que requerem uma autonomia de pensamento). Veja aqui.

A quarta revolução industrial trabalha com a robótica como elemento central (para muito além dos processos de automação que caracterizaram a terceira revolução industrial), a internet das coisas (já bem representada pelas sucessivas gerações da Alexa que, com comandos de voz, já consegue fazer algumas coisas importantes na sua casa), computação em nuvem (uma realidade que vem fazendo desaparecer a necessidade das mídias físicas para guardar arquivos e documentos importantes e tudo o mais que conseguimos produzir) e, principalmente, a Inteligência Artificial que pode terminar atropelando a humanidade. E a pergunta é: qual a educação que precisamos para formar pessoas para esta realidade?

O estudante que a escola forma hoje precisa ser bem além de um assimilador de conteúdos. Precisa ser alguém que seja capaz de tomar decisões. Alguém que, diante de uma situação, consiga analisar e produzir uma saída eficaz. Que em termos de arranjos produtivos, consiga gerar produtos que saltem do limiar competitivo e se destaque para uma sociedade cada vez mais exigente em termos de consumo. Que consiga ter uma perspicácia tecnológica, sem abandonar o lado humano. Que analise dados numéricos, mas que os retire da frieza algébrica, partindo para resolver situações como o abandono ou o esmagamento provocado pelo Capital. Que combata a violência com a força da inteligência e com foco nas causas e não nas consequências.

Estamos diante de um novo momento para reformas. As reformas propostas até aqui não respondem às demandas impostas pela sociedade de hoje. Analisar questões do passado, como as falhas dos processos de reforma educacional são um bom mote para o presente, visando respaldar os atores educacionais do futuro. A sociedade clama por uma reforma diferente.

Até o próximo post...

O focinho e a temperatura

Organismos que habitam regiões extremas necessitam de um conjunto de estratégias para suportar a vida nestes locais, o que culmina com adaptações incríveis, resultado do processo evolutivo e da seleção natural agindo sobre seu conjunto de genes, responsáveis pelas características que possuem. Cada organismo procura a estratégia que melhor lhes convém.

O Equidna é um animal da fauna australiana que habita desertos. O equidna faz parte de uma ordem muito restrita de mamíferos que são ovíparos, denominada Ordem Monotremada. Faz parte desta ordem o Ornitorrinco, também nativo da Oceania. Trata-se, pois, de um animal bastante exótico de tamanho pequeno e que possui o corpo repleto de espinhos duros que servem para sua proteção. Como vive em regiões desérticas, o Equidna precisa equilibrar sua temperatura corpórea. A presença de uma com espinhos rígidos interfere neste processo, já que o animal não consegue liberar água na forma de suor.

A cientista Elizabeth Cooper da Universidade de Curtin, Austrália, descobriu que o Equidna realiza uma estratégia inusitada: o animal possui uma janela evaporativa no seu pico que funciona como um termômetro. Ao perceber modificações na temperatura corpórea o animal elimina água na forma de vapor pelo seu bico. A pesquisa foi feita usando técnicas de termografia infravermelha. As medições de temperatura foram testadas estatisticamente verificando-se o efeito evaporativo desta janela.

Impressionante como este organismo usa esta estratégia para sobreviver em temperaturas altíssimas do deserto australiano. Se quiser ver o vídeo da pesquisa clique aqui.

Até o próximo post...

 

Plantas Alimentícias Silvestres: uma discussão necessária

Você já parou para pensar sobre as plantas que come? Nossa diversificação alimentícia é muito pequena, quando comparada a diversidade de plantas na natureza. As plantas superiores (que produzem flor, fruto e semente) são o terceiro maior grupo de seres vivos (perde apenas para Moluscos e Insetos), possuindo entre 250 e 300 mil espécies. Entretanto, se for parar para refletir, usamos cerca de 200 espécies de plantas na nossa alimentação, o que representa, aproximadamente 0,06% das espécies encontradas. E por que tão pouco?

Um leitor incauto diria que não as comemos porque são tóxicas, não tem sabor agradável ou porque não está dentro dos nossos hábitos culturais aproveitá-las. Há um pouco de verdade em cada tópico, mas existe muito mais por trás deste fato. Sabemos todos que algumas das plantas que comemos e que são cultivadas, já estão conosco há alguns milhares de anos. A agricultura foi “inventada” há cerca de 10 mil anos, quando o homem que era coletor-caçador, enterrou algumas sementes e estas deram lugar a plantas, porque germinaram. O nomadismo que era a prática que incentivava o hábito de coletar-caçar, deu lugar ao sedentarismo, que optou pelo cultivo das plantas e a criação de animais para abate.

Há de comum em todas as espécies amplamente difundidas, o aprendizado sobre as técnicas de cultivo, seleção de progênies melhores e mais produtivas, combate de pragas que foram aprendidos e aperfeiçoados ao longo dos anos. Este aprendizado acomodou o homem a selecionar estas poucas variedades que utiliza e as relações de escambo e comércio, passaram a incentivar as monoculturas, tornando os cultivadores especialistas na produção destas espécies mais comuns. O fato de serem tóxicas, por exemplo, não é uma boa justificativa, já que ao longo do tempo aprendemos até extrair produtos alimentícios de plantas bem venenosas, sem maiores problemas. É o caso da nossa farinha de mandioca, de cuja extração forma-se o Ácido Cianídrico, que é extremamente tóxico.

Mas a natureza provê coisas muito melhores das que utilizamos normalmente. Nas regiões mais inóspitas, nas quais o cultivo das plantas mais conhecidas é mais complicado, existem alternativas que foram experimentadas por povos tradicionais, mas que, com a facilidade de cultivo e disseminação, acabou por ser substituída pelas espécies mais comuns. Neste particular, chamamos atenção para as Plantas Alimentícias Silvestres (PAS). O desconhecimento do potencial das PAS leva ao desperdício e até à desnutrição de populações que não dominam o conhecimento das potencialidades de algumas plantas, cujo conhecimento tradicional até se perdeu, por falta de conexão entre as gerações de determinadas comunidades.

Dra. Mirna Andrade em coleta no interior do Ceará. Fonte: Arquivo Pessoal.

Pensando nisso, a pesquisadora Mirna Andrade Bezerra, desenvolveu sua tese de Doutorado, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Piauí, na qual elencou algumas plantas alimentícias silvestres em comunidades do interior do Ceará e passou a verificar o modo de transmissão dos conhecimentos tradicionais destas plantas nas escolas das comunidades, por processos de transposição didática.

A pesquisadora encontrou uma lista de plantas pouco usuais no mercado comum, mas bem tradicionais na região, que suplementam a dieta das comunidades encontradas. A pesquisa teve minha orientação e das Doutoras Edna Chaves (IFPI) e Josiane Araújo (UESPI). Embora muito da cultura tradicional tenha desaparecido, foi possível resgatar a memória de professores oriundos da região e do seu entorno, no município de Viçosa do Ceará (CE).

A pesquisa resultou na publicação de dois artigos e mais quatro artigos foram produzidos contando as estratégias para o mundo científico. O uso de Plantas Alimentícias Silvestres enseja mais discussões sobre o tema. Estas discussões podem minimizar os efeitos da fome em regiões mais isoladas e ajudar na preservação de áreas com espécies silvestres, dada que a importância reforçada pelo caráter alimentício pode fortalecer a necessidade de preservação.

Até o próximo post...

Quando a tecnologia pode atrapalhar(*)

Imagine que você é professor de Redação e chega na sua sala de aula com a ideia de pedir aos seus estudantes que escrevam sobre um determinado tema. Imagine que cada estudante, de posse de notebook ou tablet se ponha a trabalhar no que pediu. E depois, cada estudante, envia os textos para você proceder correções. Esta poderia ser a cena comum, em um cenário de aprendizado sobre letramento, em uma escola com bons recursos tecnológicos disponíveis. Mas também pode ser um desastroso cenário de enganação!

A tecnologia tem avançado a passos largos no desenvolvimento de produtos e processos que possam ajudar muito a humanidade a resolver determinados problemas. Mas estas soluções podem ser danosas aos processos de aprendizagem também.

O departamento de Educação da cidade de Nova York bloqueou em dispositivos e redes escolares o uso do programa ChatGPT. Este programa é um tipo novo Chatterbot. Chatterbots são muito usados pelas empresas de telemarketing para substituir pessoas. São programas desenvolvidos com a habilidade de reproduzir diálogos com respostas factíveis e organizadas, simulando pessoas. Estes programas à base de Inteligência Artificial (AI), substituem pessoas em conversas corriqueiras como na apresentação de produtos ou em serviços de atendimento. São capazes de perceber o que o interlocutor humano fala e de formular respostas, sendo normalmente usados nos atendimentos mais genéricos.

O que o Departamento de Educação de Nova York notou é que ChatGPT consegue produzir respostas de redação perfeitas ou bem próximo disso. Reúne informações atualizadas sobre temas diversos e consegue organizar respostas, sobre quaisquer temas usando, inclusive, diferentes estilos de escrita. As autoridades educacionais entenderam que o recurso pode impactar negativamente no aprendizado dos estudantes e estimular trapaças e plágios.

O problema maior, na minha visão pessoal, é a destruição do processo de aprendizagem da escrita. Escrever já não é uma tarefa muito fácil. Temos visto, de modo deliberado, a turba de estudantes que chegam ao ensino superior com déficits nos fundamentos básicos de escrita e de matemática. Imagine o efeito deste software em uma escola de educação básica, onde o processo de escrita está sendo gestado? Seria catastrófico.

Já tinha lido sobre Chatterbots e suas aplicações em nível empresarial, o que me deixou preocupado com a possibilidade de eliminação de muitos empregos em países do Terceiro Mundo, nos quais a baixa escolarização permite proliferar postos de empregos para serviços de teleatendimento. A tecnologia pode substituir ou até eliminar a possibilidade de várias pessoas terem seu primeiro emprego neste tipo de empreendimento. Trazer a tecnologia para escola pode ser extremamente danoso, não somente nos processos de aprendizado básico, como também nas etapas finais do processo de formação, como na escrita de uma Dissertação ou Tese. A terceirização destes processos de escrita já causam um dano considerável, pela formação deficiente de profissionais, de diferentes áreas, que terceirizam, por exemplo, a escrita dos seus Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC). Conheço pelos menos uma meia dúzia de profissionais que tiram um sustento extra escrevendo TCCs para estudantes incautos.

Isto pode virar um grande problema para educação, em nível mundial.

Até o próximo post...

 

(*) Gratidão ao Prof. José Machado Moita Neto por ter compartilhado a matéria “NYC education department blocks ChatGPT on school devices, networks

Alvíssaras para 2023

O ano de 2023 promete algumas boas notícias, especialmente para situações que afligiram a humanidade nos últimos anos. Para começar o ano, separei alguns excertos da revista Science que compartilho aqui com todos.

A ciência se esforça para acompanhar evolução do coronavírus

A pandemia do COVID-19 entrou em seu quarto ano como uma emergência de saúde global. Entretanto, os pesquisadores continuarão buscando soluções para ajudar a tornar a doença administrável e comum. Estão previstos os rastreamentos de centenas de subvariantes da Omicron, a cepa altamente transmissível, mas aparentemente menos letal, do SARS-CoV-2 que dominou em 2022. Os virologistas observarão a evolução do vírus este ano para ver se ele finalmente desacelerou ou uma variante mais perigosa aparece para cima, fugindo de grande parte da imunidade que a humanidade construiu para as variantes anteriores. Os pesquisadores de vacinas esperam desenvolver novas vacinas que forneçam ampla proteção contra variedades de coronavírus. Outra prioridade é introduzir vacinas nasais que estimulem respostas imunes nas mucosas do corpo. Em comparação com injeções no braço, elas devem provocar uma defesa mais forte e mais rápida contra a infecção inicial. Mas os especialistas em saúde pública temem que a hesitação generalizada da vacina possa persistir, com consequências duradouras para as batalhas contra o COVID-19 e outras doenças. A busca por tratamentos eficazes para o COVID-19 será reiniciada porque a evolução do vírus tornou ineficazes vários medicamentos baseados em anticorpos existentes. Ensaios randomizados de possíveis medicamentos para tratar o Long Covid podem produzir seus primeiros resultados, beneficiando milhões de pessoas que sofrem de fadiga e outros sintomas debilitantes.

 

Doenças genéticas tratadas pela edição dos genes

O novo ano pode trazer um marco para a medicina: o primeiro tratamento médico aprovado baseado na edição de genes. Pessoas com doença falciforme e beta-talassemia carregam defeitos no gene da hemoglobina, a proteína transportadora de oxigênio no sangue. As empresas de biotecnologia Vertex Pharmaceuticals e CRISPR Therapeutics realizaram testes clínicos nos quais removem as células-tronco do sangue de um paciente, usam a ferramenta de edição de genes CRISPR para ativar um gene saudável para a hemoglobina fetal, cujas células são desligadas após o nascimento, e reinfundem o gene modificado células. O tratamento único acabou com os episódios de dor intensa da maioria dos pacientes e a necessidade de transfusões de sangue. As empresas estão buscando a aprovação dos reguladores dos EUA e da Europa, e uma decisão em pelo menos um lado do Atlântico pode sair até o final do ano. A próxima preocupação será o custo. Terapia de genes,

 

Uma tentativa de acabar com a Varíola dos Macacos

As autoridades de saúde se esforçarão este ano para eliminar a transmissão de humano para humano do vírus mpox (anteriormente conhecida como monkeypox, causador da Varíola dos Macacos), que em 2022 explodiu em todo o mundo pela primeira vez. Mais de 80.000 pessoas ficaram doentes, levando a Organização Mundial da Saúde a declarar uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional. No final do ano, o número de novos casos havia diminuído acentuadamente, mas centenas de casos ainda eram relatados todas as semanas. Os especialistas esperam entender melhor quanto do declínio decorre da imunidade acumulada por meio de infecções e imunizações e quanto pode ser explicado pela mudança de comportamento no grupo mais afetado: homens gays e suas redes sexuais. Estudos em andamento podem revelar quão bem a vacina contra a varíola reaproveitada, protege contra a doença e comparar diferentes doses e formas de administrar as vacinas.

 

Vacina contra a dengue se aproxima da estreia

Uma nova vacina contra a dengue foi aprovada na Europa no mês passado e pode em breve se tornar amplamente disponível na Indonésia, protegendo muito mais pessoas do que um produto atualmente no mercado. Somente pessoas previamente infectadas pelo vírus podem tomar com segurança uma vacina contra a dengue comercializada desde 2015, a Dengvaxia, da Sanofi Pasteur. Agora, a empresa farmacêutica Takeda mostrou em estudos em vários países com mais de 28.000 pessoas que sua vacina, Qdenga, pode proteger com segurança pessoas nunca infectadas pela dengue. O vírus causa febre e outros sintomas debilitantes em cerca de 100 milhões de pessoas por ano e, em casos raros, pode ser fatal. Alguns cientistas querem ver mais dados sobre a segurança de Qdenga. Sua cautela vem da experiência com Dengvaxia: crianças que nunca foram infectadas pelo vírus e receberam a vacina tiveram maior risco de sintomas graves.

Vamos torcer para que estas boas notícias se tornem realidade. Que venha 2023!!!

Até o próximo post...

*Com informações da Revista Science.

Corra atrás de ser feliz!

Costumo a dizer para os que professo que, na caminhada pela vida, o mais importante é buscar a felicidade. Ser feliz é o alvo que precisamos almejar. Mas de repente surge uma dúvida bem cruel: como saberei se sou feliz?

Esta pergunta se encaixa muito bem na contra retórica dos que, por um lapso de algo que os torne infelizes, pronunciam: eu era feliz e não sabia! E isso é relativamente comum, tanto no plano individual, quanto no plano da coletividade. Quando uma regra muda, quando uma norma se torna mais rígida, quando há um controle mais efetivo sobre um bem, produto ou serviço, surge a conhecida: éramos felizes e não sabíamos! Mas tem como saber que estou sendo feliz?

A felicidade é um estado de espírito. Me refiro a felicidade de verdade, e não aquela que a sociedade atual percebe pelas redes sociais. Às vezes me espanto com o que as pessoas postam como algo que as torna ou as fazem felizes e de imediato percebo que nem sempre é a felicidade vivida, mas a que precisa ser demonstrada. E aí vem um problema meio sério: podemos basear a nossa felicidade nos modelos dos outros? Isto aqui tem resposta sem muito arrodeio: claro que não!

Creio que para um controle maior do seu momento, algumas coisas devem ser levadas em conta:

1) As pessoas que você mais ama estão bem de saúde? As que estão doentes ou adoentadas, estão sendo tratadas e confortáveis?

2) Você está vivendo uma vida equilibrada? Sua saúde está em dia? Há saúde financeira? Suas contas estão pagas e o que você recebe tá sendo suficiente?

3) Você está com suas metas de vida em dia? Alcançou o que desejava? Já tem outras coisas planejadas?

Se conseguiu dizer sim para pelo menos 70% destas perguntas creio que esteja em um momento muito bom da sua vida, e que, resumidamente, pode dizer que é feliz. Em resumo, na minha opinião, a felicidade passa pela conservação da vida no presente e pelo planejamento do que vem pelo futuro. Não dá para medir a felicidade apenas porque você conseguiu adquirir algo que te interessava e saber que sua tia está muito doente e não está tendo assistência à saúde, por exemplo. Que alguém com quem você convive perdeu o emprego e está sem dinheiro para comprar o mínimo de alimentação. Não dá para dizer que é feliz vendo os mais próximos mostrarem-se infelizes. Você não tem responsabilidade pela felicidade de todos. Nem os de perto e nem os de longe. Mas a sua felicidade é formada também pela felicidade das pessoas com as quais se relaciona.

Outro ponto que considero importante é que consiga dar atenção plena ao seu núcleo familiar. Seu companheiro ou companheira, seus filhos e filhas e seus pais. O tempo é inimigo da nossa felicidade, neste caso. Quando vemos nossos filhos estão crescidos, nossos pais envelhecidos e a nossa sensação de perda é muito grande, evocando a tristeza. A sensação de que muita coisa não é mais quando antes, sensações que vivemos pela primeira vez, dão lugar a um vazio difícil de preencher.

A felicidade já virou até disciplina nos cursos superiores. Descobri que estas disciplinas trabalham a educação socioemocional dos estudantes, para que consigam superar de forma mais suave o percurso da academia aliado a um ingresso mais seguro no mundo profissional.

Com este texto, gostaria de desejar a todos os que dedicam parte do seu tempo lendo o que escrevo no Ciência Viva, uma felicidade plena. Não a felicidade das redes sociais. Nem a felicidade do Natal (para mim uma época muito triste devido a maior expressão das desigualdades). A felicidade de verdade. A que se busca no cotidiano. Aquela das pequenas vitórias, e das pequenas derrotas sobrepujadas pela resiliência em seguir tentando. Em levantar a cabeça, bater a poeira e correr atrás. Precisamos urgentemente ser felizes. Aliás: é só disso que precisamos!

Até o próximo post e Feliz 2023!

Breve recesso!

Retorno assim que conseguir me restabelecer.

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