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Médico piauiense lidera grupo que usa Inteligência Artificial no diagnóstico precoce de doenças

A Inteligência Artificial (IA ou AI, em inglês) já está no nosso cotidiano e a gente nem percebeu direito isso. Já observou a coincidência de quando você fala num assunto e assim que abre uma rede social aquele assunto aparece ali, na sua frente? Por exemplo: você está discutindo com amigos sobre o preço de passagens de avião. Aí você entra numa rede social e um ou dois cliques depois começam a surgir notícias ou ofertas sobre passagens de avião!

Na verdade, sensores do seu smartphone ouvem o que você diz ou o que pesquisa na internet. A integração de sua conta de e-mail e suas contas nas redes sociais conectam-se a uma Inteligência Artificial (IA) que junta as informações e as associa às suas necessidades e/ou desejos. As IAs são especialistas em detecção de padrões. Em associar imagens e compará-las. Agora existem hospitais e instituições médicas usando IAs para ajudar no diagnóstico precoce de doenças.

O médico piauiense Bruno Aragão, coordenador de Inovação do Grupo Fleury (SP), em entrevista para o Jornal Folha de São Paulo, mostrou os ganhos obtidos com o uso de IAs na rapidez para o diagnóstico de doenças ou quadros infecciosos usando imagens dos pacientes. A técnica foi desenvolvida em Israel e algumas entidades médicas já vinham testando como suporte ao diagnóstico feito por especialistas. A matéria foi publicada na Folha em 15 de abril e traz um apanhado das ações diagnósticas feitas na entidade com uso da IA.

Bruno Aragão Rocha (Esq.) quando esteve em palestra do Pint of Science em Teresina (2017) Fonte: F.S.Santos-Filho

Para Bruno Aragão, a IA nunca substituirá totalmente o diagnóstico feito por um médico, mas dada a quantidade de exames a serem laudados diariamente pelas equipes que trabalham no diagnóstico por imagens, seu suporte será sempre bem-vindo. Alguns exames chegam a ter sua análise concluída em até 15 minutos, o que já é considerado um grande avanço.

O médico Bruno Aragão já esteve em palestras em Teresina quando veio falar do uso de impressão 3D no planejamento de cirurgias. Atua na área de Radiologia e Inovação em instituições médicas em São Paulo.

 

Veja mais: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2022/04/inteligencia-artificial-ajuda-na-analise-de-exames-de-saude-em-ate-15-minutos.shtml

Pesca criminosa

As atividades criminosas ocorrem em praticamente todos os segmentos. Mas algumas áreas, por suas próprias características podem apresentar ações criminosas mais difíceis de serem combatidas. É o caso dos crimes envolvendo atividade pesqueira nos oceanos.

Recentemente foi publicado um estudo em nível mundial sobre as diferentes infrações cometidas no ramo da atividade pesqueira, tanto na pesca em pequena escala, quanto na pesca em escala industrial. O estudo foi conduzido por Dyhia Belhabib e Philippe Le Billon da Universidade de Columbia Britânica em Vancouver no Canadá. A pesquisa foi feita com base no maior repositório de notificações sobre crimes em pesca do mundo – o CRFV, no recorte temporal compreendido entre 2000 e 2020. O CRFV é um banco de dados global sobre infrações relacionadas a embarcações de pesca no mar, abrangendo todos os tipos de infrações que ocorrem a bordo de embarcações de pesca, por indivíduos e empresas, globalmente.

Foram analisadas 6.853 ocorrências em diferentes partes do mundo. O resultado é estarrecedor. Mais de 450 embarcações envolvidas de mais de 20 empresas da China e da União Europeia, principalmente. Os crimes foram tipificados em 3 grandes categorias (Crimes de Pesca, Crimes de Fraude e Desvio e Crimes de Natureza Pessoal e Patrimonial) e 18 subcategorias. Os gráficos a seguir dão uma ideia do tamanho do problema.

Fonte: Science Advances

Para se ter uma ideia estes crimes abrangem desde o uso de mão de obra escrava, até assassinados, uso de apetrechos e técnicas ilegais, até a invasão de áreas de santuários ou áreas legalmente protegidas.

O mar é considerado o mais rico de todos os ambientes que detêm vida. Ainda é muito desconhecido, sob o ponto de vista da diversidade de seres vivos. Além disso é uma fonte grande de recursos alimentares. Cuidar do mar é um dever de todas as nações. Com esta pesquisa deu para perceber o tamanho do problema que temos e que estamos deixando para as próximas gerações.

Até o próximo post...

 

Viva a Ciência!

Das coisas que a pandemia tem nos mostrado: pesquisa realizada por uma agência em vários países no mundo encontrou uma situação alentadora para quem faz ciência no Brasil. A Agência Edelman (Agência de Comunicação Global) encontrou que 81% dos brasileiros dizem acreditar na ciência e nos cientistas. Este valor é seis pontos percentuais acima da média global na mesma pesquisa (média de 75% da crença nos cientistas no apanhado geral de toda a população pesquisada).

A pesquisa atual rivaliza com resultados publicados em 2019 pela Wellcome Global Monitor 2018, que apontou que 35% dos brasileiros desconfiavam da ciência. Por essa pesquisa de 2018 o Brasil encontrava-se na posição 111 de um ranking formado por 144 países, estando, portanto, entre os últimos a acreditar no trabalho desenvolvido pelos cientistas. Duas conclusões podemos tirar: 1) os brasileiros, muito provavelmente, passaram a entender melhor a dependência da humanidade em relação à ciência (e isto pode ter uma forte relação com a pandemia e todas as suas consequências e soluções) e, 2) os brasileiros foram mais informados sobre os avanços científicos, especialmente em busca de alento no que se refere à própria pandemia.

Pelo sim, pelo não, já temos o que comemorar: mais gente acredita no que os cientistas fazem. Portanto, temos mais pessoas a valorizar sobre a necessidade de avançar com a obra científica, de uma forma mais geral.

A mesma agência (Edelman), na mesma pesquisa, encontrou que os brasileiros estão entre os que menos acreditam nos políticos (média de 26%), bem abaixo do que a média mundial (42%). Há de se observar quanta responsabilidade carregam os políticos em tentar melhorar sua imagem perante os brasileiros. É lamentável esta descrença, pois a política move tudo, inclusive a própria ciência, visto que são os políticos os principais responsáveis em determinar quanto dinheiro deve ser empregado em investimentos nas diferentes áreas, inclusive para ciência.

O desafio para a maioria agora é aprender a votar.

Até o próximo post...

Será o fim da pandemia?

A partir destes próximos dias vamos começar a entender se estamos realmente ou não chegando ao fim da pandemia. Com o fim da obrigatoriedade do uso das máscaras e o índice de vacinados passados de 80% vamos, mais uma vez, nos submetermos a uma experiência de ver exatamente como as coisas funcionam sob as hostes deste vírus, sua excelência, SARS-CoV2.

Segundo muitos especialistas em generalidades, as máscaras que a maioria das pessoas usa, sejam de tecido ou estas “quase” cirúrgicas que são vendidas em todo lugar, não farão muita diferença. Embora muitos destes céticos achem que a máscara não impede o vírus, mas atrapalha a respiração (o que seria um contrassenso visto que as moléculas que precisamos para respirar são bem menores do que as partículas virais!), de modo bem empírico, sou capaz de dizer, que pelos menos atrapalharam muito as contaminações usuais, pelo menos da gripe comum e, como dizem os muitos memes na internet, esconderam muita feiura e retiveram muito “bafo de onça” por aí...

Pelo sim, pelo não vamos saber em poucas semanas se tirar máscara vai ser bom ou ruim. Notícias da Ásia já dão conta que países como a Coreia do Sul e Vietnã que seguraram bem a pandemia nos dois primeiros anos, estão experimentando casos de COVID-19 pela variante ômicron com cifras de 300 mil e 200 mil casos diários, respectivamente. A China com sua política radical de COVID-19 Zero, trancafiou 37 milhões de chineses em lockdown na Província de Jilin, onde fica uma das maiores cidades chinesas – Shenzhen, com mais de 12 milhões de habitantes.

Torço todos os dias para que voltemos, o mais rápido possível, para mais perto do que chamávamos de normal, nas nossas vidas.

Até o próximo post...

Quanto um professor deve ganhar?

A classe de professores sempre foi bastante desvalorizada no Brasil. Isto não é novidade para ninguém. Ouço esta cantilena desde sempre, pois sou filho de professores e meus pais foram sindicalistas durante muitos anos. Na minha família já se contam cinco gerações de professores. Pertenço a quarta. Cheguei a enfrentar até protesto quando optei por cursar uma licenciatura. Não me arrependi, especialmente por ter, com toda a modéstia posta à parte, feito a diferença na vida de muitas pessoas. Ouço isso de muitos antigos alunos e alunas. Então deve ser verdade.

Há alguns dias venho acompanhando uma movimentação em torno do aumento a ser concedido para classe de professores no âmbito municipal (Teresina) e estadual (Piauí). A polêmica toda gira em torno da aplicação dos recursos do FUNDEB nos salários. Este fundo foi criado para suprir várias vertentes do custeio da educação, sendo uma delas, a valorização do trabalho docente. O fundo recebe aporte dos três entes: estados e municípios contribuem com 90% dos recursos e 10% vêm do Governo Federal. Destes recursos, de acordo com as regras, um mínimo de 60% deve ser aplicado no pagamento de salários. Então que a lei seja cumprida! Mesmo tratando professor com bala de borracha e gás de pimenta, dura lex sed lex, a lei é dura, mas é lei! E a bem da verdade: nem é tão dura assim.

Remunerar bem o professor nunca foi despesa. Professor bem remunerado, incentivado a estudar, a buscar estratégias para melhorar seu desempenho, engaja-se fortemente e produz resultados fantásticos. Agora estando o professor preocupado em fazer um bico aqui e outro ali para complementar renda, não consegue dar o melhor de si. Vi uma matéria com o título “Salário de professores da rede estadual pode chegar a R$ 7 mil após reajuste, diz governo”. A matéria traz informações sobre o reajuste e coloca uma tabela de como ficariam os salários. Mas é muito bom que se diga que o valor de mais de 7 mil reais só se alcançará quando o Professor fizer um Doutorado e já no fim da sua carreira. E, diga-se de passagem, não é o valor que vai para conta do professor, pois dele são descontados os valores da Previdência e o famigerado Imposto de Renda. Para alcançar este valor a caminhada é longa e árdua. São, no mínimo, 10 anos de estudos, tratando todos os percalços como bobagem!

Pior do que este cenário da Educação Básica, no qual existe um Fundo e uma lei dizendo como o gestor deve fazer, e ainda se vê cenas lamentáveis como as que foram vistas estes dias, está a Educação Superior. Desemparados pelo FUNDEB e sempre propensos a negociar com os Governos, professores da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) são sequer recebidos pelos gestores estaduais. O que se tem? Salários defasados, pois desde 2015, não se tem qualquer tipo de aumento. Mais de 50% de perdas acumuladas. Lamentável! Falar de valorização de professores passa por falar sobre formação de professores. A UESPI se notabilizou como a maior instituição de formação de professores do Piauí, desde a década de 1990. É possível dizer que o professor está sendo valorizado quando no seu nascedouro profissional as coisas vão do jeito que vão? Sinceramente: não acredito neste valor dado!

Respondendo a pergunta que abriu esta conversa: professor deve ganhar bem. O suficiente para desenvolver seu trabalho com dignidade. Para fazer a diferença na vida dos seus alunos. E deve ser cobrado por resultados. Bons salários precedem um bom trabalho e resultados positivos.

Desculpem pelo desabafo. Mas o spray de pimenta fez arder minha alma de professor.

Até o próximo post...

Cajueiro-Rei: cada vez mais próximo do Guinness

Que o nosso cajueiro-rei, em Cajueiro da Praia (PI) é maior do mundo, todo piauiense já sabe. Mas o mundo precisa saber, e as pessoas precisam vir ver de perto a exuberância deste maravilhoso bem que temos no litoral do Piauí.

Em dezembro passado estivemos, a convite da Prefeitura de Cajueiro da Praia, na solenidade que marcou o início dos trabalhos de medição para o Guinness. Eu até publiquei aqui a informação (veja) que repercutiu em vários órgãos de imprensa.

Agora, com a entrada de novos pesquisadores, o processo de medição oficial está concluído, e o Guinness está recebendo as informações necessárias para o registro ocorrer de fato. Além do trabalho que tive a honra de participar com o Dr. Fabrício Amaral e o Prof. Caio Soares, além de outros valorosos colegas, juntaram-se a nós os Professores Dr. Adeodato Ari e o Dr. Milcíades Gadelha, dois grandes próceres, aposentados da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e professores do IFPI, Daniel Veras, Adriano D’Carlos e Ronildo Brandão.

O processo já está correndo e, de acordo com Thiago Soares, secretário municipal de Turismo de Cajueiro da Praia (PI), já existem recursos alocados para construção de uma estrutura de recepção de turistas ao Cajueiro-Rei. Um mirante foi projetado para que o turista possa ter uma ideia das dimensões do Cajueiro e a paisagem na qual ele se insere.

Continuamos na torcida!!!

Até o próximo post...

Os novos botões de Putin

A guerra entre Rússia e Ucrânia ganha, dia após dia, contornos de uma estupidez sem limites como já pontuamos aqui. Há neste conflito um componente preocupante que é ter na gestão do Novo Império Russo um czar preparado pela KGB para ser um homem sem escrúpulos, sem sentimentos e com uma sanha incrível de reunir novamente as repúblicas soviéticas numa nova União Soviética, só que desta vez capitalista.

O conflito vai mostrando uma nova forma de guerrear visto que o Ocidente bloqueou a movimentação de recursos dos bancos russos e a sociedade ficou impedida de ter acesso ao básico e aos luxos típicos do Capitalismo como a saída das redes de fastfood, a suspensão de venda de cervejas importadas e até a retirada de bens de luxo como carros da Ferrari, agora indisponíveis para os cidadãos russos providos de riquezas usufruírem. Por outro lado, a Rússia detém fatia considerável do petróleo vendido ao mundo e muitos países que formam a União Europeia dependem visceralmente do gás natural russo.

Como retaliação, é muito provável que Putin interfira no fornecimento de gás para países para os quais fornece. Isso vai afetar a indústria e o dia a dia de muitos cidadãos que usam o gás para aquecer suas residências no período de inverno. Lembrei de um fato histórico inusitado.

No começo do século XIX, quando Napoleão invadiu a Rússia, com um exército bem mais equipado que o Exército Russo, as estratégias dos comandantes russos foram o bastante para expulsar o exército mais temido do século, comandado pelo Imperador francês Napoleão Bonaparte. Eles contavam que as roupas (casacos, sobretudos, jaquetas) dos soldados franceses tinham botões feitos de estanho. O estanho é um metal friável que nas baixas temperaturas se transforma em pó. Com as fardas sem botões e espremidos nos campos gélidos da Rússia, o exército de Napoleão teve que recuar do avanço que fazia sobre o então império russo. Os russos venceram pela associação entre o frio e um recurso estratégico que nenhum militar jamais imaginara: os botões das fardas.

A história vai nos reservando um novo capítulo desta epopeia chamada humanidade. Vamos torcer para uma solução saudável para o conflito que já vem tirando a paz de muita gente inocente. Que a guerra cesse com o aparecimento de um novo bom e simples motivo, tal qual um botão.

Boa semana para todos (as).

 

 

 

O que sobrou de nós?

Dois anos de pandemia

A pandemia de COVID-19 deixou muitas lições, sendo que a maioria delas não poderão ser esquecidas por esta geração que viveu intensamente o medo, as restrições e as consequências do momento. O medo do desconhecido, as restrições impostas aos diferentes setores e as consequências a curto, médio e longo prazos povoaram a realidade de boa parte das pessoas, especialmente os ávidos por informações. Outro aspecto inesquecível foi a quantidade de pessoas que revelaram sua verdadeira face com a politização da pandemia. A quantidade imensa de profissionais reconhecidos como bons profissionais que mostraram seus reais posicionamentos anticiência e antivacina, principalmente. Nomes dos quais não se restava a menor dúvida de que eram respeitados entre seus pares e que mostraram sua face real, confundindo pacientes e a sociedade em geral.

Eu jamais vou esquecer da semana do dia 16 de março de 2020. Nesta segunda-feira atípica, o Brasil inteiro fechou com o estabelecimento de regras novas. O fechamento da indústria, do comércio e do setor de serviços. O pavor criado pelos órgãos de imprensa que anunciavam sobre uma doença desconhecida e altamente infecciosa que havia surgido na China e simplesmente afogava o paciente, foi apavorando a população. O medo do desconhecido aliado à boataria, às teorias das conspirações e às Fake News foram tomando de conta das pessoas mais atentas e preocupadas com o desenrolar dos fatos. Na época eu estava na Presidência do Conselho Estadual de Educação do Piauí e o segmento da educação foi um dos primeiros a parar e a ficar praticamente sem perspectivas.

Com a obrigação de buscar meios para tentar amenizar o impacto sobre a educação das crianças, principalmente, procurei pesquisar o que estava acontecendo em vários países do mundo e em outros estados brasileiros. Montamos um grupo de conselheiros que se dispuseram a trabalhar mais fortemente e para rascunhar normas que tornassem válidos os estudos feitos de modo remoto, utilizando as vias que fossem possíveis para compensar a falta do presencial. Foram dias intensos, de muita troca de informações com os presidentes de outros conselhos estaduais e com muitas noites insones. Pesava sobre nós a responsabilidade de gerar caminhos para que a educação não fosse tão prejudicada.

O trabalho resultou em uma nota técnica inicial, orientativa, e logo em seguida as minutas de duas Resoluções. A segunda Resolução, que norteou o calendário escolar, diante das perspectivas do ensino remoto ou híbrido, fez do Piauí o segundo ou terceiro estado brasileiro a regulamentar a matéria. Nossa preocupação em regulamentar, em não deixar crianças e jovens desamparados nos fez de exemplo para os demais conselhos do país. Não sei se o que fizemos foi o melhor, mas sou consciente de que era o que verdadeiramente estava ao nosso alcance.

Passados dois anos, sei dizer que a pandemia nos deixou de legado muitos aprendizados. Continuo achando que os principais prejudicados foram os estudantes. Até hoje as instituições não retornaram às atividades normais. Nas universidades (pelo menos nas do Piauí), o ensino continua sendo remoto e o prejuízo por enquanto é imensurável. No primeiro ano, no qual minha instituição permaneceu sem funcionar, inclusive sem oferta de ensino remoto, as atividades de ensino e extensão pararam, praticamente. Um ou outro professor seguiu com suas pesquisas. Da minha parte fiz uma troca de atividades: usei meu tempo para publicar as pesquisas que estavam em andamento. Estabeleci muitas parcerias, mas tive o prejuízo de não participar de uma missão internacional que está prevista para este ano, se a pandemia deixar. Foi o ano mais produtivo da minha carreira acadêmica. Nunca publiquei tantos artigos e capítulos de livro. O Ciência Viva nunca foi tão lido: tive posts que passaram de 100 mil acessos! Um período muito louco e que jamais esperaria viver.

Passados dois anos entendo da preocupação de todos com a doença: a pandemia não acabou. Acabou a disposição de algumas pessoas seguirem regras e não acabou a sanha de tirar proveito político da situação: situação e oposição fazem isso sem o menor pudor. Passados dois anos, a educação superior pública do meu Estado ainda não retornou às atividades presenciais. A educação básica também está à deriva. Nunca vou esquecer aquele período em que buscamos regularizar a situação da educação no Estado até que as coisas normalizassem. Aguardávamos por uma vacina ou um medicamento. A vacina veio e provou que tem uma boa eficiência. Depois de idas e vindas de políticos negacionistas, o país tem conseguido, brilhantemente, diga-se de passagem, vacinar uma média de 1,2 milhões de pessoas/dia. Já passamos de 80% de imunizados, o que explica, nesta quarta onda, termos hospitais cheios e, proporcionalmente, poucos óbitos. Importante lembrar: 80% dos internados são pessoas que não completaram o esquema vacinal.

A pandemia não acabou. A COVID-19 está virando uma gripe, parecida com as que conhecíamos até aqui. Não é uma “gripezinha”. Matou muita gente. De todas as idades. Quebrou muita gente. De todos os setores. Expôs o pior lado de muita gente. Em todas as famílias. Ensinou muitas lições, mas muitos ainda não conseguiram assimilar muita coisa. Triste isso...

Desculpem pelo texto grande. Estou fazendo apenas um registro de como vi o problema. Perdi algumas pessoas queridas, de quem não pude me despedir. Ninguém do meu ciclo familiar estrito. Estamos sobrevivendo. Há dois meses tive COVID-19. Foi como uma “gripezona”. Já tive até piores. Tive medo. Passou um filme na minha cabeça. Fiquei com algumas sequelas, mas sobrevivi.

Vamos em frente!

Uma boa semana para todos e todas.

 

Com os pés acorrentados

Há alguns dias a sociedade ficou estarrecida com uma cena grotesca para os dias atuais. Uma menina de 11 anos, com autismo, acorrentada pelos tornozelos pela própria mãe numa cidade do interior do Piauí. A denúncia anônima feita para polícia, numa cidade com pequeno efetivo policial, que encaminhou a demanda para o comando mais próximo, que atestou a situação e resgatou a criança e prendeu a mãe. Na audiência de custódia, o juiz liberou a mãe e responsabilizou o sistema de assistência social do município e do Estado, chamando-os à responsabilidade pela situação. Fez correto o juiz?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um quadro bastante complexo, por vezes de diagnóstico igualmente complexo e de muita dificuldade de aceitação por parte dos pais. Não são muitos os pais que encaram isso como mais um desafio. O mais comum é tentar não enfrentar “de frente” como se diz. É desafiador cuidar e conduzir uma criança com autismo até que se torne um adulto. É desafiador incutir na mentalidade da maioria que a criança com TEA possui dificuldades, mas quando direcionada e educada de modo apropriado pode levar uma vida tranquila, sem maiores percalços. É um desafio grande estabelecer rotinas nas escolas para atendimento das crianças com necessidades especiais, notadamente quadros de autismo e suas variações.

Durante minha passagem no Conselho Estadual de Educação do Piauí tivemos grandes discussões sobre o assunto. As Professoras Margareth Santos e Viviane Farias foram duas conselheiras que nos parametrizavam sobre as questões legais que envolviam o estabelecimento de direitos das crianças com estes quadros. Foram longas discussões que terminaram sensibilizando todo o CEE-PI sobre o assunto. Fizemos até uma histórica Audiência Pública para definir parâmetros que balizassem o atendimento a estudantes com deficiência, incluindo os quadros de TEA. Tudo isso para evidenciar uma orientação tácita de estabelecimento de direitos para estas crianças e seus pais.

No caso da criança acorrentada observam-se várias vítimas: a criança em primeiro lugar, a mãe que sem o conhecimento mínimo sobre o assunto achou uma solução desastrosa. O julgador encontrou corretamente o “culpado”: os desvalidos têm que ser acolhidos pelo Poder Público. Cabe ao Estado / Município cuidar de seus cidadãos e cidadãs. Precisam provê o necessário. Não se trata de uma situação simples, mas à mãe sozinha coube o que parecia mais óbvio, ainda que numa situação absolutamente desumana. O acolhimento da criança e sua família é necessário, para conferir-lhes cidadania e acesso a condições melhores. Crianças com autismo nascem em famílias com todo tipo de condição social e econômica. Nem sempre ter condições financeiras implica em se fazer o adequado, mas para quem sequer alcançou a condição mínima de perceber sobre o assunto a situação parece ser bem pior.

No Piauí, o Ministério Público também se mostra bem atuante com relação à manutenção destes direitos. Tem muita gente tentando ajudar, mas ajuda mais se as redes de educação investirem em formação e alternativas para inserção destas crianças. Ajudaria na inclusão, e prepararia melhor a sociedade para esta convivência.

Boa semana para todos (as).

 

As armadilhas do poder

Trabalhos acadêmicos em geral ficam com sua leitura restrita aos acadêmicos. Muito provavelmente pelo fato de não conterem temas fictícios que atrairiam pessoas comuns ou porque não há o vislumbre, por parte dos editores de que, mesmo sendo fruto de trabalhos acadêmicos, podem render aos leitores o prazer de conhecer um pouco sobre aquele tema, especialmente quando o tema diz muito da nossa história.

Sim, pesquisas em História podem render boas leituras. Ali, no texto acadêmico, pode conter tramas que seriam comuns na ficção, mas que podem perfeitamente ter acontecido na realidade e personagens históricos de verdade, em carne e osso como se diz, podem ter passado por situações que os fazem humanos e reais, e mesmo assim, constituem boas histórias, dependendo muito mais de quem as narra do que propriamente da história em si.

Quem é de Teresina sabe que temos uma grande avenida, em posição perimetral, que corta a cidade passando de norte a sul, meio enviesada e que separa muitos bairros chamada Av. Miguel Rosa. Mas será que os piauienses sabem quem foi Miguel Rosa?

Numa consulta rápida à Wikipedia poucas informações surgem. Diz assim: Miguel de Paiva Rosa, nasceu dia tal e faleceu dia tal. Político brasileiro que governou o Piauí de 1912-1916. Foi antecedido por Antonino Freire e sucedido por Eurípides de Aguiar e Fim. Pouco se sabe sobre este político que governou o Piauí em um dos períodos de crise econômica mais graves no Brasil e enfrentou uma das maiores secas que assolou o Nordeste Brasileiro em 1915, além de estarmos vivendo o período da Primeira Guerra Mundial. Mas este ano Miguel Rosa e o período em que governou o Piauí saíram, literalmente do anonimato. Com informações de origem acadêmica, chega nas melhores livrarias do país o título “As armadilhas do poder”, escrito pelo Prof. Adail Monteiro Brandão.

Capa do livro "As Armadilhas do Poder". Fonte: Editora Cancioneiro.

A obra nasceu a partir da pesquisa do trabalho de conclusão de curso da Licenciatura em História do Prof. Adail Brandão, um dos melhores professores de História com quem tive o prazer de trabalhar nas duas escolas que foram minhas bases de desenvolvimento do magistério: Instituto Dom Barreto e Colégio das Irmãs. A pesquisa do Adail, coordenada pela Professora Doutora Teresinha Queiroz, coroou o seu curso de História e agora chega ao grande público na forma de livro publicado pela Editora Cancioneiro. Numa linguagem fácil e direta, é possível compreender as conquistas para o Piauí da gestão tocada por Miguel Rosa, candidato eleito sob os auspícios do Governador Antonino Freire e depois toda a trama que o sufocou  sob o ponto de vista político.

“As armadilhas do poder” chega aos leitores em um formato primoroso, com muitas ilustrações da época. A obra teve a ajuda financeira de Arthur Rosa Cunha, sobrinho-trineto de Miguel Rosa, nosso (meu e de Adail) antigo aluno, nos tempos de IDB.

Vale a pena ler e adquirir a obra [para aquisição basta entrar em contato com a Editora Cancioneiro: [email protected]]

Boa semana para todos (as).

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