Cidadeverde.com

O Papel da Ciência

Nos últimos meses vimos constatando o quanto é importante o papel desempenhado pela Ciência e seus protagonistas, os cientistas. O tema tem chegado à maioria especialmente pela dependência que passamos a ter deste segmento da vida profissional que tem mostrado até para os mais alheios e desavisados que a ciência tem sido um divisor de águas depois que o SARS-CoV2 iniciou sua trajetória de contaminação em massa nas populações de países ricos e pobres.

O salto principal veio com o desenvolvimento em tempo recorde de imunizantes - as famosas vacinas, todas com bom grau de proteção aos usuários, produzidas por diferentes métodos e potencial de reduzir drasticamente os efeitos desta que já é a maior de todas as calamidades em saúde pública de proporções globais. Até métodos de desenvolvimento inovadores foram utilizados como a vacina de RNA da Pfizer, um método completamente novo e que tem demonstrado uma eficácia elevada na imunização dos pacientes.

O maior problema que consigo ver, em relação ao papel da ciência, tem sido as posições negacionistas adotadas em alguns países, dentre eles o nosso, e com o aval de autoridades importantes que deveriam, do alto da sua importante liderança, mas da sua incapacidade de entender determinadas coisas, permanecer pelo menos calados. O desejável seria que tivéssemos governantes com o grau de conhecimento de uma Ângela Merkel, doutora em Química Quântica pela Universidade de Leipzig e ocupando pela quarta vez a posição de Chanceler de um dos países mais desenvolvidos do Planeta que é a Alemanha. O que estou questionando não seria a formação do Governante, mas a sua capacidade de ouvir pessoas com algum conhecimento de mundo.

Assiste-se a todo momento um teatro de estupidez. O Governo Federal, depois de patrocinar a compra acintosa de medicamentos sem qualquer efeito contra a doença; depois, ao custo de muitas pressões, iniciar tratativas para compra de vacinas, atrasando o processo de vacinação em todo o país, agora encomenda ao Ministério da Saúde a possibilidade de suspensão de um dos poucos itens que se mostrou funcional contra a disseminação do vírus que é a máscara. Não há como compreender o limite de tanta insensatez.

A ciência tem se mostrado mais do que necessária para nos posicionar em relação a essa e a outras mazelas que virão no futuro. Enquanto não conscientizarmos que precisamos proteger o meio ambiente, não vamos ter garantias de que outras situações como essa ainda poderão ser vividas dentro desta geração em que estamos.

Precisamos discernimento para fazer nossas escolhas. Escolhas erradas podem ajudar na promoção do caos. Temos exemplos cruéis dessa realidade.

Boa semana para todos (as).

Reflexões sobre a vida pós-pandemia

Dia desses conversávamos sobre alguns hábitos que adquirimos depois que a pandemia começou. E hoje resolvi falar um pouco de algumas mudanças que vieram para ficar por um tempo longo. Vejamos:

Proteção contra contaminação

Basicamente o que tem nos ajudado são os cuidados que temos com o uso de máscaras e álcool gel, além do distanciamento social. Creio que a máscara ainda usaremos por algum tempo e o cuidado em estar sempre higienizando as mãos também. Querendo ou não nos conferem algum tipo de proteção. Estava observando que, anualmente, contraía a gripe comum (Influenza) e desde 2019 não sei o que é isso. Na verdade, os cuidados que nos previnem da COVID-19 também nos protegem da H1N1 e de outras síndromes respiratórias provocadas por vírus. Mesmo depois de vacinados não nos custará continuarmos a ideia de proteção.

Procura pela vacina

A vacina contra COVID-19 e suas variantes deve persistir por muitos anos, até a doença arrefecer. Falo da doença porque o agente etiológico – o SARS-CoV2, vai mudar muitas vezes. Toda vez o que vírus chega a um organismo está passivo de sofrer mutações. Claro que a grande maioria das “novas versões” não serão sempre para pior. Todavia, as variantes bem-sucedidas serão mais infectantes e podem ser ou não mais letais. Por isso, daqui pra frente, vamos precisar nos vacinar anualmente. É claro que a oferta de vacinas não será minguada como esta. Tivemos problemas com um governo negacionista subestimando o vírus e desacreditando na vacina. Creio que não serão gastos mais recursos com drogas que são inócuas para COVID19, embora sejam importantes para as doenças para as quais foram preconizadas.

Medicamentos antivirais

A ciência despertou para buscar alternativas medicamentosas contra o SARS-CoV2. Aposto que logo teremos medicamentos que podem influenciar na interrupção do ciclo viral. Não será um remédio para verme nem um antimalárico, como alguns médicos têm indicado. Acredito que muitos laboratórios correm para descobrir algo que seja de fato efetivo, na interrupção, ou pelo menos na atenuação do mecanismo infeccioso do SARS-CoV2.

Polarização política

Considero um dos piores momentos da história do Brasil, este que vivemos. Torço diuturnamente para que esta briga entre adoradores dê uma trégua e possamos ter alguma alternativa melhor, fora de qualquer um dos dois quadrados. É uma das poucas crenças que não nutro, de que neste sentido, dias melhores virão, infelizmente.

Boa semana para todos (as).

PiN-21: a mais nova arma contra COVID-19

Enquanto nos debatemos com a chegada de uma nova variante do SARS-CoV2 vinda da Índia e já detectada no Brasil, o desenrolar de uma CPI que vai concluir pelo óbvio sem pegar todos os culpados por esta situação que já levou quase meio milhão de brasileiros à morte provocada pela COVID-19 e só agora, passados seis meses da chegada da vacina, que o Governo do Piauí, cujo Governador fala todo dia que é “apaixonado pela Educação”, resolveu iniciar a vacinação de professores, enquanto as escolas da educação básica continuam fechadas ou funcionando muito precariamente, cientistas da Universidade de Pittsburgh nos Estados Unidos publicaram na semana passada na Revista Science Advances (Avanços da Ciência, em tradução livre) sobre o promissor PiN-21. Mas o que é o PiN-21?

PiN-21 é um nanocorpo inalável desenvolvido por pesquisadores ligados a várias unidades da Universidade de Pittsburgh que testaram em Hamsters Sírios e descobriram que o medicamento é bastante eficaz no tratamento e na prevenção da COVID-19. Já pensou usar um medicamento inalável e reduzir tanto a carga viral que a doença não se transmite e nem se agrava no seu organismo? É no que resultou o uso da medicação, em testes in vivo, realizados em Hamsters.

O experimento foi estruturado da seguinte forma: 12 hamsters sírios foram usados. Metade dos animais funcionaram como grupo controle e a outra metade recebeu doses do PiN-21 colocado nas narinas, recebendo ainda pequenas doses (0,6 mg/kg) por nebulização. Todos tiveram seus pesos monitorados e depois foram sacrificados para avaliação das cargas virais em tecidos do trato nasal, traqueal e pulmonar, seguindo um protocolo rígido. Usando um sistema de escores para avaliar a histopatologia dos animais, os que receberam o PIN-21 apresentaram um resultado bastante animador no que se refere à redução da carga viral, quando comparados aos animais que não receberam a droga.

De acordo com o estudo, publicado nesta sexta-feira que passou (28/05/2021) e que pode ser acessado aqui, o tratamento é de custo muito baixo porque utiliza um volume muito pequeno do nanocorpo inalável.

Acreditamos que a ciência vai conseguir alternativas que possam neutralizar o vírus SARS-CoV2 e todas as suas variantes. Isto vai ocorrer antes dos nossos políticos entenderem que educação precisa ser prioridade no país. Enquanto educação não for prioridade o povo continuará escolhendo mal seus representantes nos planos federal, estadual e municipal.

A cegueira política é bem pior que a COVID-19.

Boa semana para todos (as).

Botânica discutida no Piauí

A Diretoria Nordeste da Sociedade Botânica do Brasil, formada por quatro pesquisadores radicados no Piauí, está as voltas na organização da 37ª Reunião Nordestina de Botânica que ocorrerá de forma on-line transmitida a partir do Campus Heróis do Jenipapo, na Universidade Estadual do Piauí, na cidade de Campo Maior (PI).

A Reunião Nordestina de Botânica (RNB) é um dos eventos mais longevos organizado pela Sociedade Botânica do Brasil, considerada uma das mais antigas sociedades científicas do país fundada em 09 de janeiro de 1950, tendo completado recentemente 71 anos de existência. A RNB foi iniciada em 1977 e reúne trabalhos de pesquisa realizados por botânicos da região Nordeste.

O evento sempre conta com palestras, mesas redondas, apresentação de trabalhos, concursos e uma boa oportunidade para troca de experiência entre botânicos experientes e botânicos iniciantes. O evento deste ano, embora transmitido de forma on-line, proporcionará aos participantes o contato com pesquisadores de renome, tanto nacionais quanto internacionais.

Com o tema “Botânica em tempos de crise: do ensino remoto à produção de fármacos” o evento ocorrerá no período de 08 a 11 de novembro de 2021 e já se encontra com suas inscrições abertas. Na abertura, os participantes ouvirão a conferência de abertura ministrada pelo Dr. Simon Joseph Mayo, pesquisador associado do Royal Botanic Garden – Kew, o maior e um dos mais antigos Jardins Botânicos do mundo, situado na Inglaterra. A palestra do Dr. Simon Mayo terá como título “Ciência, Sociedade e a noção de espécies: comunicando conhecimento sobre a natureza”.

O evento contará ainda com cinco mesas redondas nas áreas de Botânica Estrutural, Sistemática, Farmacologia, Ensino de Botânica e Criptógamas, com especialistas de diversas instituições nacionais e internacionais. Na mesa sobre Fármacos obtidos a partir de plantas, por exemplo, teremos pesquisadores radicados no Piauí, mas com grande destaque na produção acadêmica como os Doutores Daniel Arcanjo Rufino (UFPI) e Francisco das Chagas Alves Lima (UESPI), reconhecidos por pesquisas promissoras usando plantas nossas como bacuri, buriti e o jaborandi. Estas duas últimas já comentamos aqui no Ciência Viva. Reveja aqui e aqui.

Para participar basta procurar o site para inscrição, aproveitando que neste primeiro lote de inscrições os valores estão bem atrativos, a preços de fato, promocionais. Confira em www.even3.com.br/37rnb.

A organização da 37ª Reunião Nordestina de Botânica servirá também para movimentar o cenário acadêmico da região Nordeste, especialmente trazendo a discussão temas que foram impactados pela crise provocada pela pandemia de COVID-19. Falar no título sobre a produção de fármacos, uteis inclusive no tratamento da COVID-19, quanto no Ensino de Botânica (não somente, mas que também sofre impacto) é uma forma de provar que as instituições que lidam com ciência estão resilientes e se virando como podem para ajudar não somente o país, mas a humanidade, diante de tão devastadora crise.

Vamos prestigiar!

Boa semana para todos (as).

E vai passando a boiada...

Está em discussão no Congresso Nacional o processo de simplificação do Licenciamento Ambiental no Brasil. Boa parte do arcabouço legal do país na área ambiental que, diga-se de passagem, é um dos melhores do mundo, vem da década de 1980 quando a questão ambiental começou a suscitar preocupações na sociedade de uma forma geral. Mas desde 2004 o Congresso se debate com propostas de simplificação do processo.

Para dar uma ideia de como é o processo, faço uma contextualização. A princípio qualquer tipo de obra ou forma de exploração de recursos causa impacto sobre o meio ambiente, desde coisas bem simples como a construção de uma casa, por exemplo. As obras licenciáveis (vamos dizer assim para que se entenda que toda obra por menor que seja causa impacto, mas nem todas elas são passíveis de licenciamento) passam por licenciamento em três fases, existindo a Licença Prévia (LP), a Licença de Instalação (LI) e a Licença de Operação (LO). A LP é uma licença que o órgão ambiental emite quando recebe os estudos relativos ao empreendimento. Estes estudos variam de acordo com o tipo e os impactos que o empreendimento venha a causar. Existe um grande conjunto de documentos ambientais que vão de um Relatório Ambiental Simplificado (RAS) até um Estudo de Impacto Ambiental / Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA).

Ao analisar os estudos e se eles tiverem em consonância com o aceitável, o órgão licenciador emite a Licença de Instalação (LI). Tem-se início assim as obras do empreendimento. Ao finalizarem o órgão ambiental libera a Licença de Operação (LO), que é renovada periodicamente. Dependendo do tipo de empreendimento e da extensão dos seus impactos, o órgão ambiental responsável pelo licenciamento pode ser da esfera Municipal, Estadual ou Federal.

A grande preocupação dos ambientalistas e das pessoas com algum bom senso é que, mesmo com o rigor atual, a situação vire um caos sob o ponto de vista de quem menos tem como reclamar que é a própria natureza. Mesmo com estes cuidados, em função da fragilidade do sistema de licenciamento e fiscalização, ocorrem problemas gravíssimos como foi o acidente com a Barragem de rejeitos de Brumadinho (MG) que ceifou dezenas de vidas e causou o derramamento de um volume enorme de rejeitos de mineração, por exemplo. Na esfera local, o dano ambiental causado pelo rompimento da Barragem de Algodões na região norte do Piauí que, certamente, tinha sua Licença de Operação válida, e mesmo assim, por falhas na fiscalização, não pode ser evitado. Ou mesmo coisas menos prejudiciais, mas não menos importantes do que as voltas do empreendedor interessado em demolir o prédio histórico do antigo Sanatório Meduna, quando a licença que autorizou a construção do shopping e dos prédios comerciais e residenciais no entorno incluía como compensação ambiental entregar o prédio reformado para nele funcionar um instrumento para o incentivo e desenvolvimento da cultura no município, como um local para exposições ou para sediar uma pinacoteca municipal (isto está no EIA/RIMA do conjunto de empreendimentos a serem edificados no local, muito embora, pessoalmente, acho que o atual grupo que governa a cidade parece que não se interessa muito por cultura... Mas isso é um outro problema!).

Pelo sim, pelo não, a ideia de “passar a boiada” deixada pelo Ministro do Meio Ambiente em uma reunião na qual muitas das intenções dos que governam o pais vieram à tona, parece que começou a ser executada. A questão ambiental precisa ser levada a sério pelos governantes do nosso país, nas três esferas. A natureza não tem como reclamar, mas tem como reagir, e este troco é sistêmico: altera o clima, altera o ciclo da água e deixará o mundo com as calças na mão, como se diz dos desprevenidos. Quem viver, verá!

Boa semana para todos (as).

 

Mulheres e mães na Ciência

Dia destes, conversando com uma amiga, ela me indicou dois livros infanto juvenis que tinha adquirido para seu filho. Os títulos me chamaram a atenção pela fabulosa proposta de mostrar para crianças o valor que determinadas pessoas tiveram ao longo de suas vidas, em diferentes segmentos sociais, e na forma como os autores discorreram sobre estas “biografias” reduzidas. “20 garotas extraordinárias que mudaram o mundo” e o correspondente “20 garotos extraordinários que mudaram o mundo”. Como sou um bibliófilo inveterado busquei adquirir.

Fonte: www.amazon.com.br.

O livro das garotas traz a história de 20 meninas que se transformaram em mulheres que marcaram fortemente as áreas que trabalharam. Seja como artistas, atletas, exploradoras, cientistas ou escritoras, a obra traz em um texto bastante acessível detalhes sobre estas importantes mulheres, desde a infância até o atingimento do ápice em suas carreiras. Isso me estimulou a falar hoje, Dia das Mães, sobre mulheres pesquisadoras.

O Netflix exibe desde algumas semanas atrás o filme Radioactive, que conta um pouco da história da física polonesa, naturalizada francesa, Marie Sklodowska-Curie. Marie Curie, que foi casada com o cientista francês Pierre Curie foi a responsável por desvendar a Teoria sobre a Radioatividade e a descoberta de elementos como Rádio e o Polônio. Marie foi a primeira mulher a ganhar dois prêmios Nobel e a única pessoa na face da Terra a ter ganho o prêmio em duas áreas diferentes. Formou-se em Física e fez estudos em Química e Matemática. Veja o trailer do filme disponível em canais de Streaming como Netflix e Prime Vídeo.

Marie foi mãe de duas meninas: Irene e Eve. Irene seguiu os passos da mãe se tornando uma importante pesquisadora na área de física. Foi ganhadora, juntamente com o marido do Prêmio Nobel de Física de 1935. Eve, a filha caçula de Marie e Pierre Curie se tornou uma importante escritora e foi a responsável por escrever a primeira biografia da mãe. Apesar de ser uma cientista muito ocupada, Marie cuidou pessoalmente da educação das filhas, mesmo depois da trágica morte do marido Pierre, atropelado por uma carruagem.

Marie Curie é o melhor estereótipo de representatividade da força das mulheres para ciência. Apesar de viverem em um meio onde existem muitos homens com perfil de machistas e misóginos, as mulheres têm conquistado importantes espaços em instituições de pesquisa como institutos e universidades.

A ciência cobra um custo muito alto para os que resolvem seguir carreira, principalmente para as mulheres que, muitas vezes, optam por uma vida solitária e sem filhos em razão da carreira. Quando constituem família precisam vencer verdadeiras batalhas para impor suas necessidades e afirmação profissional. Acompanhar a vida de um pesquisador também não é fácil. São guerreiras cheias de méritos as mulheres que escolhem se casar com pesquisadores e tomam de conta da família e dos seus próprios afazeres profissionais em nome de uma parceria que nem sempre é reconhecida.

A Jorn. Ana Flávia Soares foi uma formidável assistente de pesquisa, durante meu Doutorado. Fonte: Arquivo Pessoal.

O que seria da ciência sem a força feminina?

Bom domingo e feliz Dia das Mães!!!

 

Por que a Sputinik V foi vetada pela ANVISA?

A tentativa de aquisição da Vacina Sputinik V produzida pelo Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya por parte de um considerável grupo de Governadores de alguns estados brasileiros esbarrou no veto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão do Governo Federal responsável pela autorização da distribuição das diferentes vacinas no Brasil.

A ANVISA argumentou no seu relatório a falta de dados suficientes para atestar a segurança e a eficácia da vacina que, de acordo com os fabricantes apresenta 91,6% de eficiência, entre pessoas que não contraem ou contraem apenas uma forma leve da doença. Emissários da ANVISA não foram autorizados a visitar algumas das instalações russas de produção da vacina, o que aumentou as suspeitas sobre o que de fato se tinha para esconder sobre a eficácia e segurança do imunizante.

Desde quando começou esta pandemia, o país encontra-se imerso em uma campanha negacionista, por parte dos defensores e seguidores do Presidente da República, com eventos que vão desde a reprovação das medidas de isolamento social, passando pelo uso de máscaras e adoção de um protocolo com medicamentos inócuos para o combate a doença (seja fruto de automedicação até a indicação por médicos que esquecem que remédio para verme não destrói vírus, mas insistem em recomendar o uso “profilático”, o que na minha opinião é um absurdo). Do outro lado, um considerável número de Governadores e Prefeitos, muitos desorientados, outros com boas intenções, mas muitos sob suspeita de um comportamento nada republicano de aquisição de equipamentos, desvio de recursos públicos para construção de hospitais de campanha, dispensas de licitação suspeitas e outras oportunidades de desrespeito aos recursos públicos. Esta confusão de dois lados – direita e esquerda – piora bastante a situação dos brasileiros que estão apavorados com a doença e se sentem prejudicados pelos tomadores de decisão, tanto de um lado quanto do outro, ao tempo que o país ultrapassa a marca de 400 mil mortos.

As justificativas da ANVISA fazem todo sentido, especialmente pela estratégia usada pelos cientistas russos que utilizam Adenovírus no processo de fabricação do imunizante. A favor dos russos destaca-se um ensaio publicado pela revista científica The Lancet, no qual um estudo realizado com 20 mil pessoas, atestou, de certa forma a idoneidade da vacina Sputinik V.

Pelo sim, pelo não, como pesquisador, achei coerente o barramento do uso desta vacina aqui no Brasil, até que o Gamaleya consiga apresentar todos os dados para ANVISA. Já temos problemas demais para que a possibilidade de uso de um imunizante que não tem eficácia e segurança garantidos venha a nos causar mais problemas. A revista Science da semana passada traz detalhes sobre a possibilidade dos Adenovírus usados no imunizante e modificados, induzirem células do corpo a reproduzirem, podendo inclusive gerar a doença a partir da vacina, o que seria temerário.

Sou favorável ao uso de qualquer tipo de imunizante, mas o aval das agências reguladoras como a ANVISA do Brasil ou a FDA dos EUA, por exemplo, é essencial. A COVID-19, por si só, é uma doença excessivamente traiçoeira e não precisamos de mais nada para torná-la ainda pior. O Brasil, neste momento, desenvolve a Butanvac, cujos resultados têm sido bem promissores. Acho que esta vacina será a mais aplicada nos próximos anos por não depender de recursos externos. A campanha de vacinação de COVID-19 vai entrar definitivamente no calendário de vacinas do mundo inteiro, requerendo ministração anual.

Boa semana para todos (as).

Volta às aulas presenciais

No último dia 20 de abril foi aprovado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) nº 5.595/2020 que torna a Educação Básica e a Educação Superior como serviços essenciais no Brasil, frente à pandemia de COVID-19. Na prática, ao tornar essenciais os serviços relacionados à educação básica e superior no Brasil, as redes e escolas ficam instadas a criarem as condições para que as aulas e demais atividades voltem a ser presenciais. Mas isso é bom ou ruim?

Como professor avalio como positivo o retorno à sala de aula para quem quiser e quem puder voltar. Explico: para crianças pequenas – Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental – o desafio das aulas remotas tem se mostrado mais do que um “desafio”, mas uma verdadeira maratona. As crianças mais novas (já falamos isso algumas vezes) tem sérias dificuldades para se ligarem em telas para assistir aulas remotas. Fazem parte das estratégias de aprendizagem nesta faixa etária o contato com outras crianças e com professores, sem qualquer dúvida, além de atividades e brincadeiras que estimulam o aprendizado e o convívio social.

O custo da volta às aulas presenciais, desta vez como atividade essencial, obrigará governos a vacinarem os trabalhadores em educação de forma prioritária, dado que foi um grupo que se mostrou bastante vulnerável com o início do ano letivo de 2021, com a perda de alguns profissionais que adoeceram e não conseguiram se recuperar. A educação deveria ter sido prioridade desde o início, como fizeram países do primeiro mundo como Dinamarca, Noruega e Coreia do Sul, por exemplo.

A estagnação do setor educacional pode trazer danos irreparáveis para muitos estudantes. Aqui no Piauí já são computados prejuízos para estudantes da rede estadual e das redes municipais, além de prejuízos imensuráveis para estudantes de ensino superior da Universidade Estadual que passaram o ano de 2020 praticamente parados devido a inércia da gestão. Talvez a inércia ajude a explicar por que deputados ligados ao setor educacional no Piauí tenham votado contrariamente à aprovação da PL que agora segue para o Senado para votação.

A volta às aulas que se exige, em caso de se tornar de fato um serviço essencial, é de forma segura para os estudantes e para os profissionais da educação. No formato remoto, os professores ainda sofrem com a pecha de que não estão trabalhando ou não querem trabalhar. Nunca se trabalhou tanto neste segmento.

Não é de estranhar que autoridades políticas das três esferas (federal, estadual e municipal) prefira que as escolas estejam paradas. Como dizia Nelson Mandela: a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. Assim, com muita gente educada, gestões ruins e políticos ruins podem ficar arruinados.

Boa semana para todos (as).

 

Variantes do Coronavírus: você sabe como surgem e atuam?

A pandemia de COVID-19 vai ganhando contornos preocupantes quando passamos a conhecer a realidade sobre a biologia do SARS-CoV2. A imprensa anuncia o surgimento das variantes e aí resolvi falar um pouco sobre isso, para trazer informações e ajudar na compreensão do público em geral. Vou fazer isso em forma de perguntas e respostas, porque assim já notei que a compreensão melhora sobre o assunto. Vamos lá!

O que são as novas variantes do Coronavírus?

As variantes, como o próprio nome sugere, são novas formas virais. Elas resultam de mutações no material genético do vírus. De uma forma geral, o material genético é o responsável pelas características dos seres vivos. Se temos os olhos verdes, por exemplo, é porque nosso material genético conferiu esta característica. Se o material sofre mudanças, as características mudam. Assim, pegando nosso exemplo da cor dos olhos, o material genético de quem tem olhos castanhos é ligeiramente diferente de quem tem olhos verdes.

Como as novas variantes se formam?

Os vírus são parasitas celulares. Assim, para sofrer mudança em seu material genético, o vírus precisa sair contaminando mais e mais células dos seus hospedeiros, no caso aqui dos humanos. Todas as vezes que seu material genético “contamina” uma célula, está passivo de sofrer mudanças. Estas mudanças podem ser de toda a natureza, pois elas ocorrem por mecanismos aleatórios, ou seja, “na sorte”. Pode gerar mudanças que transformam os vírus em “piores” ou “melhores”. Piores seriam aqueles que ficariam defeituosos e perdessem a capacidade de se reproduzir ou de gerar problemas nos hospedeiros, o que seria muito bom para nós. Melhores se ganhassem mais poder na hora de contaminar e de se espalhar, gerando mais hospedeiros doentes, que seria ruim para nós.

As novas variantes são perigosas do que os primeiros vírus – os originais?

Não necessariamente. Como vimos na pergunta anterior pode ser que se tornem “melhores”, ou seja mais eficientes no processo de contaminação e espalhamento da doença ou não, se tornando “piores”, ou seja, mais fáceis de serem debelados por nossas defesas.

Quantas e quais variantes já foram encontradas?

Eis uma pergunta difícil de responder. Estimam-se que, atualmente, circulam cerca de 90 variantes só no Brasil. Os cientistas dividem as variantes em dois grupos: VOC (Variant of Concern, em tradução aproximada: Variante de Preocupação) e VOI (Variant of Interest, em tradução aproximada: Variante de Interesse). As mais conhecidas são as cepas: B.1.1.28; B.1.1.29 e B.1.1.33. Isso mesmo que você está entendendo: os nomes delas são formadas por combinações entre letras e números. Destas principais surgiram as que a imprensa costuma chamar com base na geografia. Por exemplo: a B.1.1.7 seria a variante da Inglaterra e a B.1.351 seria a variante da África do Sul. As duas já são consideradas VOCs. Aqui no Brasil tem a P1 que é derivada da B.1.1.28 chamada popularmente de Variante de Manaus e a P2, também derivada B.1.1.28, chamada de Variante do Rio de Janeiro. A P1 já é considerada uma VOC, enquanto a P2 ainda é considerada uma VOI. No começo de abril os cientistas identificaram a N9 que é derivada da B.1.1.33, chamada popularmente de Variante de São Paulo, e que ainda é uma VOI.

Em artigo publicado recentemente, foi revelada a existência da B.1.177, chamada de Variante da Espanha, que seria uma derivada da B.1.1.7 (Variante da Inglaterra), mas que, aparentemente deixou de circular. Artigo recente da Revista Virology identificou a existência de 17 mutações na B.1.1.7, o que pode culminar em novas variações. Nos EUA circulam as variantes B.1.427 e B.1.429, ainda com status de VOI.

Até que ponto estas variantes podem tornar as vacinas ineficazes?

Trata-se de outra pergunta bastante difícil de responder. Um dado importante é que, apesar desta “sopa de letras e números” ser complexa e imprevisível, muitas destas mutações e variações incidem sobre a mesma característica. Assim, embora com pequenas variações no agente viral, os anticorpos agiriam com a mesma eficácia. Por exemplo: das 17 mutações da Variante da Inglaterra, oito atuam sobre as espículas virais. Assim, os anticorpos para qualquer um destes oito tipos, agiriam exatamente da mesma forma, não acarretando tantos prejuízos na imunização de pacientes que estivessem sendo atacados por qualquer uma destas variações.

No fim das contas o que seria mais importante neste momento? Não relaxarmos nas medidas de isolamento social, continuarmos com cuidados usando máscaras e higienizando as mãos com álcool gel e torcendo para que cada vez mais pessoas sejam imunizadas. Quanto mais pessoas atingirem o estágio de imunização, menos os vírus circularão. Quanto menos pessoas pegarem o vírus, menos eles sofrerão mutações e, consequentemente, menos variantes surgirão.

Boa semana para todos (as).

 

O quanto perdemos

A semana que passou foi marcada por uma sobreposição de recordes de mortes em razão do descontrolado avanço da COVID-19 sobre a população brasileira, levando nosso país ao primeiro lugar em média de casos e média de mortes, num ranking absolutamente macabro, fruto de um vírus de rápida transmissão e que não perdoa a incompetência política e técnica em prover situações para combatê-lo.

Tão ruim quanto os milhares de perdas que tivemos pela COVID-19 ou por outras causas, na maioria das vezes, advinda das consequências da pandemia (muitos pacientes descontinuaram o tratamento de outras doenças que continuam fazendo estrago em muitas vidas) foi a perda lamentável do ex-prefeito Firmino Filho.

De forma prematura, este político que fez carreira na nossa cidade de Teresina, nos deixou enternecidos com sua partida. Na minha opinião, perdemos o político de maior expressão do nosso lugar. Firmino fez em quatro mandatos uma gestão administrativa calcada em uma fórmula simples, sem arrojos ou irresponsabilidades administrativas, cultivando o equilíbrio nas contas públicas sempre frágeis e provendo o que a população precisava, especialmente nos pilares de educação e saúde.

Nas suas gestões sempre optou pelo lado mais técnico, especialmente nas áreas consideradas cruciais como saúde, educação, planejamento, finanças, administração. Manteve quinhões de gestores políticos em áreas sempre menos prioritárias, para não perder a verve bem comum das gestões pós-1988, especialmente por estas bandas de cá.

Por que estou destacando a perda de Firmino? Porque em tempo de pandemia, uma crise exagerada como essa que passamos, quanto mais políticos inteligentes perdermos, pior será para todos. No fim das contas são eles que mandam, com o nosso aval. Depois de campanhas suas vitoriosas e das que apoiou, Firmino terminou sucumbindo eleitoralmente, muito provavelmente, em razão das decisões que de certa forma frearam os efeitos da pandemia na nossa cidade. Ele fez a opção pela vida, mesmo com toda a pressão dos setores que ficaram mais prejudicados. Trocou o prestígio das urnas pelo que acreditava ser mais coerente nesta experiência nova para todos: frear uma pandemia.

Fica para todos o exemplo do político que trabalhou fortemente nas áreas que discutimos aqui no Ciência Viva. Na educação soube trabalhar com técnicos capacitados e criar estratégias para demonstrar resultados claros na educação básica do município. Incentivou a ciência e tecnologia através de programas de capacitação e de incentivo aos talentos mais jovens como no Programa Lagoas Digitais, cujo nascedouro surgiu da concepção do megaprojeto das Lagoas do Norte, aproveitando alguns dos melhores pesquisadores da Ciência da Computação da UESPI como o Dr. José Bringel e o Dr. Thiago Carvalho. Na área de Meio Ambiente foi na sua gestão que muitos dos parques urbanos foram revitalizados e foi concebido o projeto do Lagoas do Norte, executado pelas gestões que o sucederam.

É impossível ficar alheio à tragédia de perda tão significativa para esta cidade e seus cidadãos. Só mesmo a politicagem mais chinfrim para não se condoer com tal perda, e ainda gastar energia ofendendo a família. Deviam reverter esta energia para trabalhar mais pela cidade que experimenta um colapso no sistema de saúde e de transporte.

Uma semana melhor do que a que passou para todos (as).

Posts anteriores