Cidadeverde.com

O que a COVID-19 está nos ensinando?

O ano de 2020 fecha a segunda década do século XXI com algo que não passava nem perto da nossa imaginação. Nem nos nossos piores pesadelos imaginávamos uma doença que desafiou a medicina, colocou a intelligentsia mundial para trabalhar diuturnamente por uma solução e expôs o que existe de pior dos nossos governantes: a incapacidade de reagir de forma racional.

Andando pelos espaços comuns vemos marcações espalhadas pelo chão para marcar o distanciamento social, pessoas com um novo petrecho necessário – a máscara, barreiras de acrílico, dispensadores de álcool em gel e toda a sorte de novos comportamentos balizados pelas autoridades sanitárias como meios de minimizar o contato e, consequentemente, a transmissão do SARS-CoV2.

Vê-se, vez por outra, a intolerância de alguns às novas regras, a insana queda de braço entre políticos que insistem em pegar uma onda e ganhar algum dinheiro com compras superfaturadas de insumos e equipamentos, como respiradores e outros itens, e uma sociedade com medo, porque a imprensa, de modo às vezes aterrorizante, tornou o que já é grave, algo apavorante. Os políticos do executivo suspenderam as aulas, fecharam as portas do comércio, suspenderam muitos serviços importantes, suspenderam o transporte público, abalaram a economia de todos os lugares. A justiça mandou soltar presos, suspendeu a análise de muitos processos, estabeleceu audiências remotas que muitas vezes não funcionaram.

Durante todos estes meses, aqui no Ciência Viva, procuramos sempre por novidades, evitando todo o tipo de notícia ruim que se originasse da tal COVID-19. Mostramos como evitar a doença, a verdade sobre a necessidade de achatar a curva de contágio, sobre o uso da máscara, sobre as descobertas de drogas de inibição, sobre o passo a passo das vacinas, sobre tratamento com anticorpos, sobre imunização cruzada, sobre as experiências e pesquisas com produtos naturais e tudo que poderia ser um bom presságio, ou uma nesga de esperança.

Neste período, sentimos a dor dos amigos que perderam parentes, com a dor adicional de não poder velá-los, de enterrá-los sem poder dar o último adeus. Padecemos com o isolamento, especialmente dos idosos, por dias, semanas, meses sem poder abraçar nossos pais, avós, amigos dos grupos de risco. O isolamento mexeu com a saúde mental de muita gente. Mexeu com o bolso de muitas pessoas, suspendeu formas de ganho que dependem da dinâmica das cidades, do movimento. Despertou nas pessoas ruins os sentimentos mais avassaladores, como o recebimento do auxílio do governo para quem não tinha outra alternativa de sobrevivência.

A COVID-19 vai deixando lacunas nas nossas vidas. Como já disseram muitos estudiosos: o mundo jamais voltará ao que era antes da pandemia. Como as pessoas que perdemos. Jamais voltarão. Não podemos perder a esperança e devemos lutar com as armas que temos. Saudemos os que se sacrificaram, vítimas da COVID-19 e de outras doenças, que continuaram matando da mesma forma. Os que não aguentaram esperar cirurgias canceladas. Os que interromperam seus tratamentos e abreviaram a vida. Jamais devemos nos descuidar, pois apesar de tudo, vamos superar isso. Com a ciência, consciência!

Ontem perdemos um colega da Universidade Estadual do Piauí. Um professor que fazia a diferença, reconhecido por todos os seus colegas. Uma unanimidade. Teve COVID-19 em junho, não ficou curado totalmente, voltou para o hospital e ontem perdeu para uma pneumonia. Um grande abraço Prof. Josafá Ribeiro. Meus sinceros sentimentos para a família, colegas, amigos e alunos.

Prof. Dr. Josafá Ribeiro. Fonte: Arquivo Pessoal.

O que a COVID-19 está nos ensinando? Está nos mostrando que precisamos nos proteger, nos reciclar e ressignificar a própria vida.

Até o próximo post...

Novembro Azul: por que o homem deve cuidar da saúde?

Prevenir é sempre melhor do que remediar. Isso todo mundo já sabe. Mas porque se investe maciçamente em campanhas como esta que estamos passando agora no mês de novembro, chamada de Novembro Azul?

A campanha Novembro Azul surgiu em Melbourne na Austrália em 2003 como um movimento para chamar a atenção para que os homens cuidem de sua saúde. Como o câncer que mais mata os homens é o câncer de próstata e, em 17 de novembro é o dia dedicado para se falar sobre este tipo de câncer, os movimentos foram associados, dado que, historicamente os homens não tem o hábito de visitar regularmente médicos, em especial na área de urologia, por mero tabu.

Diferente da mulher, a grande maioria dos homens só procuram o serviço médico quando já sentem efeitos da doença. No caso específico da próstata quando o homem vai várias vezes ao banheiro, não consegue esvaziar totalmente a bexiga ou o jato de urina é fraco. Estes são sinais de próstata aumentada que pode ser um crescimento benigno ou a presença de tumor prostático. Todavia, só é possível ter certeza com o acompanhamento médico.

O diagnóstico do câncer de próstata é feito a partir de uma combinação de exames como as taxas do Antígeno Prostático Específico (PSA), uma proteína produzida pela próstata que é detectável no sangue e o toque retal, no qual o urologista examina o tamanho e a superfície da próstata, além de outros exames recomendáveis quando estes dois estão alterados a partir de uma determinada idade do paciente. A polêmica maior gira em torno exatamente do toque retal. Questões que fogem à racionalidade são impeditivos para que alguns homens passem por este procedimento.

Na semana que passou estive acompanhando meu pai na ida ao urologista. Em conversa com o Dr. Rodrigo Beserra, um ex-aluno para quem tive o prazer de ensinar Biologia, ele nos explicou que a próstata precisa ser examinada vez por outra por prejudicar fortemente o cotidiano do homem. E a prevenção é muito importante, dado que a necessidade de intervenção pode levar a quadros de incontinência urinária (o paciente não consegue segurar a urina o que o obriga a usar fraldas geriátricas) ou a impotência sexual. Impedir todas estas situações é possível, dado que o aumento da próstata pode ser evitado logo no início do processo.

Prevenir é sempre melhor do que remediar, especialmente no caso da saúde da próstata. Aproveite que estamos em novembro e procure seu urologista.

Boa semana para todos (as).

O Stress e o Assobio

Ia ser só mais um domingo de pandemia: trancados em casa, liga o computador e se põe a trabalhar em pareceres, artigos, pesquisas, leituras de trabalhos científicos etc. até a hora do almoço. Depois de um tempinho, volta-se à rotina que entra pela noite. Como em todos os finais de semana, desde que a COVID-19 limitou os rumos de tudo, seguimos fazendo assim.

Coloco uma música da playlist e tento assobiar... nada do fiu-fiu de sempre... só um sopro descoordenado de quem nunca conseguiu assobiar na vida. Minha Ana se desespera: vamos ao hospital!!! Tá parecendo algo mais grave do que uma simples inabilidade. Sorriso meio assimétrico, olho lacrimejando... Vou ao banheiro e não consigo segurar a água na boca. Escorre um fio pelo cantinho. Perda temporária do domínio sobre alguns músculos da face.

Onde tem uma fitinha tinha um músculo paradinho. Fonte: Arquivo Pessoal.

Não dá para se desligar de um susto destes. No hospital, espera pouca, atendimento preciso. “Não é um acidente vascular cerebral”. Ufa! Alívio! “Mas vamos eliminar as chances: Tomografia!”. Ufa! Outro alívio! Diagnóstico: paralisia facial de Bell!

Até o atendimento do médico, fomos ao Google: doença caracterizada pela inflamação de nervos faciais. Motivo: infecção ou reinfecção de um vírus como o da Herpes ou o Herpes Zoster, que causa a catapora e depois fica voltando para dizer: estou aqui! Tratamento proposto pelo médico: fisioterapia e corticoidoterapia. E o mais importante: diminua sua carga de trabalho! O stress do excesso de trabalho impõe rebaixamentos no sistema imunológico. O vírus já está no corpo. Aí cai a sopa no mel! Defesas frágeis, guarda baixa, doença volta!

Tratamento complicado: corticoides ajudam a piorar a vida do diabético! Fisioterapia especializada, precisa! As coisas vão voltando devagar. Os amigos e colegas de trabalho compreenderam e apoiaram os afastamentos. Deixei para trás uma pilha de trabalhos para outras pessoas assumirem. É a necessidade de dar um tempo maior. De relaxar e assumir menos funções. A família deu apoio. Fisioterapeuta buco-maxilo, deu conta do recado!

O olho ainda lacrimeja, a boca ainda está meio tortinha e um zumbido no ouvido direito ainda persiste. Apesar de tudo: já consigo fazer fiu-fiu...

Fica também o exemplo de que a COVID-19 não faz das suas apenas na forma desta infecção que mexe com o trato respiratório e outros sistemas. Mexe, sobretudo, com nossa cabeça. O medo do desconhecido, o stress de ter que fazer tudo trancado de casa, as sobrecargas de quem atua em um segmento bastante prejudicado - a Educação. Tudo isso soma para explicar problemas como este.

Gratidão a minha família, aos amigos que foram mais do que solidários e a Dra. Julia Moita, fisioterapeuta... O povo que dizia todo dia: vai dar certo! Parece que tá dando certo!

Boa semana para todos (as)

Planta abundante no Piauí tem múltiplos efeitos no tratamento de várias doenças

A biodiversidade vegetal brasileira ainda guarda muitas novidades em favor da humanidade. É preciso apenas que o homem a trate com respeito, especialmente enquanto este potencial em favor da indústria farmacêutica ainda não é totalmente conhecido.

Veja artigo aqui

Em agosto passado foi publicado no Journal of Ethnopharmacology uma revisão sobre uma planta muito abundante na região da Caatinga e nas áreas de Restinga (litorânea) do Piauí. Trata-se da espécie popularmente conhecida como Catingueira, ou Poincianella pyramidalis, nos meios científicos. O estudo destacou as propriedades de vinte e cinco substâncias isoladas importantes para o tratamento de doenças respiratórias e gastrointestinais, diabetes, febre, cólicas e situações de inflamação em geral. Diversos preparos envolvendo diferentes partes da planta como raiz, cascas do caule, folhas, flores e frutos revelaram um grande número de propriedades biológicas como antibacteriana, antifúngica, anti-helmíntica, antiinflamatório, antinociceptivo (efeito neutralizante da dor), atividades neuroprotetoras e gastroprotetoras.

Poincianella pyramidalis (Catingueira). Fonte da Imagem: https://www.researchgate.net/profile/Elizanilda_Rego

O estudo foi conduzido pelas pesquisadoras Leide Maria Soares de Sousa do Programa de Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), conduzida sob orientação da Dra. Lina Clara Gayoso Moreno e Dr. Lívio Nunes com o suporte de mais cinco pesquisadores, dentre eles este botânico que vos escreve.

A revista é considerada uma das maiores referências para o segmento do uso farmacológico das plantas e de outros recursos decorrentes do conhecimento tradicional, sendo de alto impacto no meio científico (Qualis A1 para quase todas as áreas e com Fator de Impacto de 3,69).

A P. pyramidalis e a P. bracteosa são duas plantas bastante parecidas, ambas tratadas como Catingueira e com as quais já me relaciono, enquanto botânico, há muito tempo, pois auxilio grupos de pesquisadores na área de farmacologia, lideradas pela Dra. Lina Clara (minha ex-aluna e amiga) e Dr. Lívio Nunes (UFPI), e da área de genotoxidades e citotoxidade, lideradas pelo Dr. Pedro Almeida e pela Dra. Francielle Martins (UESPI).

Boa semana para todos (as)!

Alguns esclarecimentos do mundo acadêmico

Hoje resolvi tirar algumas dúvidas de alguns dos leitores do Ciência Viva que não pertencem ao meio acadêmico e que vivem a cair na lábia de quem, por algum motivo, quer se engrandecer por meio de falácias. Isso pode até ganhar um tom politizado, mas antecipo que polemizar não é minha intenção. Vou facilitar colocando algumas perguntas que já me fizeram, aí respondo esclarecendo.

Por que algumas pessoas mentem no Currículo Lattes?

Esta foi uma pergunta que me fizeram duas vezes: quando um ex-Ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, caiu em desgraça com algumas inverdades postas no currículo e, mais recentemente, um indicado para o STF também o fez. O Lattes é o espaço onde qualquer pessoa pode construir o Currículo. Um dia um ex-aluno disse que o Lattes era a “Rede Social dos Nerds”. Na verdade, o Lattes é uma referência na área de pesquisa. Um banco de dados de informações sobre pesquisadores. Mas as informações são de total responsabilidade dos seus autores. É como diz aquela passagem da música do Capital Inicial: “O que você faz quando / Ninguém te vê fazendo / Ou o que você queria fazer / Se ninguém pudesse te ver”. Então robustecer o Lattes é uma situação de status, pelo menos no meio acadêmico. É uma mentira fácil de pegar, mas que as pessoas não se preocupam muito em fazê-la, exceto se tiverem que provar o que colocaram ou ocupar cargos públicos como o ministro e o desembargador que caíram nesta tentação.

O que era melhor eu fazer: uma pós-graduação ou um mestrado?

Recebi esta pergunta de um ex-aluno recém-formado. Vamos por parte. Pós-Graduação é um curso que se faz depois da graduação. Assim o mestrado, o doutorado ou a especialização, são todos cursos de PÓS-Graduação, porque são cursos realizados DEPOIS da Graduação. Agora, existe a Pós-Graduação Lato Sensu (Lato quer dizer Largo, Amplo) que são as Especializações e Aperfeiçoamentos, e são cursos mais amplos, aproveitando concludentes de quaisquer áreas. Não preparam para o trabalho, por isso os concludentes recebem, apenas, Certificados. Mestrado e Doutorado são cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (Stricto quer dizer estreito, numa alusão às especificidades do curso). São cursos mais específicos e formam para o trabalho, por isso os concludentes recebem Diplomas.

Professor, quando o senhor vai fazer seu “PhD”?

Me perguntaram isso em um seminário depois que apresentei dados da minha tese de Doutorado. Devolvi a pergunta: o que você acha que é um PhD? O interlocutor falou: não seria o título de Pós-Doutorado? Muita gente não sabe de fato o que um pós-doutorado. Pós-Doutor não é um título acadêmico. O último título da carreira acadêmica é o Doutorado. Pessoas com doutorado podem ter feito um Philosophy Doctor ou Doutor em Filosofia (PhD) ou Doctor in Science ou Doutor em Ciência (DSc). O Pós-Doutorado ou Estágio Pós-Doutoral é um estágio que se faz depois do Doutorado. E porque alguns pesquisadores recorrem ao Pós-Doutorado? Em geral pesquisadores que querem se reciclar, aprender algo novo, ou mesmo voltar a produzir e publicar depois de passado o tempo de Doutorado. Mas muitas pessoas insistem que estão com um novo título, o que termina causando esta confusão na cabeça das pessoas que não pertencem ao meio acadêmico.

Assim, encerro este texto com algumas dicas importantes:

1) Preencha seu Lattes com as informações verdadeiras. Mentira tem “pernas curtas” e não demonstra nenhuma vantagem para um candidato a pesquisador.

2) Recomendo que, antes de entrar em um Mestrado, procure fazer um curso Lato Sensu. A experiência mais importante de um curso de pós-graduação é o seu trabalho final. Quem entra em um mestrado ou em um doutorado e não o completa, em geral é porque não conseguiu concluir a dissertação ou a tese, que são, sem qualquer sombra de dúvidas o maior de todos os desafios.

3) Se você concluir um doutorado e tiver ânimo, siga fazendo um ou mais estágios pós-doutorais. Procure experiências em centros mais desenvolvidos, de preferência em locais que disponibilizem equipamentos e técnicas mais sofisticadas para que você consiga crescer mais na sua área. A possibilidade de estágios pós-doutorais no exterior é uma opção muito interessante.

Boa semana para todos (as).

COVID-19: as máscaras faciais realmente protegem?

Na semana que passou a revista Nature publicou sobre a eficiência das máscaras na prevenção da contaminação pelo vírus SARS-CoV2. Mas será que esta proteção é de fato eficiente?

Christine Benn, pesquisadora dinamarquesa que atua na Guiné-Bissau, prepara um dos maiores experimentos controlados sobre o uso de máscaras feitas de tecido duplo. Sua equipe já constatou que este tipo de máscara tem um grau de eficiência variando entre 11-19% quando comparada com o modelo N95, responsável por filtrar até 95% de partículas com 0,3 micrômetros de tamanho. Sua equipe tem evidência muito fortes que, mesmo sendo menor o grau de proteção, o uso de máscaras pode evitar que mais pessoas se contaminem.

A discussão sobre o assunto é polêmica e, em diferentes partes do mundo questiona-se sua eficácia. Todavia, estudos feitos revelam que ruim com a máscara, pior sem sua adoção, pois além de maior proteção à COVID-19, as máscaras ajudam a prevenir também outras doenças.

As máscaras faciais são o símbolo onipresente de uma pandemia que deixou 35 milhões de pessoas infectadas e matou mais de 1 milhão. Em hospitais e outras instalações de saúde, o uso de máscaras de grau médico reduz claramente a transmissão do vírus SARS-CoV-2. Mas, para a variedade de máscaras em uso pelo público, os dados são confusos, díspares e muitas vezes montados às pressas. Acrescente-se a isso um discurso político divisório que incluiu um presidente dos EUA depreciando seu uso, poucos dias antes de ser diagnosticado com COVID-19. Para ser claro, a ciência apóia o uso de máscaras, com estudos recentes sugerindo que elas podem salvar vidas de diferentes maneiras: pesquisas mostram que elas reduzem as chances de transmitir e pegar o coronavírus, e alguns estudos sugerem que as máscaras podem reduzir a gravidade de infecção se as pessoas contraírem a doença.

No início da pandemia, os especialistas médicos não tinham boas evidências sobre como a SARS-CoV-2 se espalha e não sabiam o suficiente para fazer recomendações de saúde pública fortes sobre máscaras. A máscara padrão para uso em ambientes de saúde é o respirador N95, que é projetado para proteger o usuário, filtrando 95% das partículas transportadas pelo ar que medem 0,3 micrômetro (µm) e maiores. À medida que a pandemia aumentava, estas máscaras rapidamente diminuíram. O que levantou a questão agora controversa: os membros do público deveriam se preocupar em usar máscaras cirúrgicas básicas ou máscaras de pano? Se assim for, sob quais condições? “Essas são as coisas que normalmente [classificamos] em testes clínicos”, diz Kate Grabowski, epidemiologista de doenças infecciosas da Escola de Medicina Johns Hopkins em Baltimore, Maryland. “Mas simplesmente não tínhamos tempo para isso.” Portanto, os cientistas confiaram em estudos observacionais e de laboratório. Também há evidências indiretas de outras doenças infecciosas.

A confiança nas máscaras cresceu em junho com notícias sobre dois cabeleireiros no Missouri que tiveram resultado positivo para COVID-19. Ambos usavam uma cobertura facial de algodão de camada dupla ou máscara cirúrgica durante o trabalho. E embora tenham transmitido a infecção para membros de suas famílias, seus clientes parecem ter sido poupados. Outros indícios de eficácia surgiram de reuniões em massa. Nos protestos Black Lives Matter em cidades dos EUA, a maioria dos participantes usava máscaras. Os eventos não pareceram desencadear picos de infecções, mas o vírus se espalhou no final de junho em um acampamento de verão na Geórgia, no qual as crianças que compareciam não eram obrigadas a usar coberturas faciais. Abundam as advertências: os protestos foram ao ar livre, o que representa um risco menor de disseminação do COVID-19, enquanto os campistas dividiram cabines à noite, por exemplo. E como muitos não manifestantes permaneceram em suas casas durante as reuniões, isso pode ter reduzido a transmissão do vírus na comunidade.

Análises mais rigorosas adicionaram evidências diretas. Um estudo pré-impresso publicado no início de agosto (e ainda não revisado por pares), descobriu que os aumentos semanais na mortalidade per capita eram quatro vezes mais baixos em locais onde as máscaras eram a norma ou recomendadas pelo governo, em comparação com outras regiões. Os pesquisadores analisaram 200 países, incluindo a Mongólia, que adotou o uso de máscara em janeiro e, até maio, não havia registrado nenhuma morte relacionada ao COVID-19. Outro estudo analisou os efeitos das determinações do governo estadual dos EUA para o uso de máscaras em abril e maio. Os pesquisadores estimaram que isso reduziu o crescimento de casos COVID-19 em até 2 pontos percentuais por dia. Eles sugerem cautelosamente que os mandatos podem ter evitado até 450.000 casos, depois de controlar para outras medidas de mitigação, como o distanciamento físico.

“Você não precisa fazer muita matemática para dizer que isso é obviamente uma boa ideia”, diz Jeremy Howard, um cientista pesquisador da Universidade de San Francisco, na Califórnia, que faz parte de uma equipe que revisou as evidências do uso de máscaras faciais em um artigo pré-impresso que foi amplamente divulgado. Mas esses estudos baseiam-se em pressupostos de que os mandatos das máscaras estão sendo cumpridos e que as pessoas as usam corretamente, o que não se pode garantir. É comum pessoas usarem máscaras penduradas no pescoço e embaixo do queixo, o que, a rigor, demonstra um risco maior de contaminação. Além disso, o uso da máscara muitas vezes coincide com outras mudanças, como limites nas reuniões. À medida que as restrições aumentam, mais estudos observacionais podem começar a separar o impacto das máscaras daqueles de outras intervenções.

Embora os cientistas não possam controlar muitas variáveis de confusão nas populações humanas, eles podem nos estudos com animais. Pesquisadores liderados pelo microbiologista Kwok-Yung Yuen da Universidade de Hong Kong alojaram hamsters infectados e saudáveis em gaiolas adjacentes, com divisórias de máscara cirúrgica separando alguns dos animais. Sem uma barreira, cerca de dois terços dos animais não infectados contraíram a SARS-CoV-2, de acordo com o artigo publicado em maio. Mas apenas cerca de 25% dos animais protegidos por material de máscara foram infectados, e aqueles que o fizeram estavam menos doentes do que seus vizinhos sem máscara (conforme medido por pontuações clínicas e mudanças de tecido).

Pelo sim, pelo não, opto pelo uso da máscara. Embora seja algo trabalhoso, se existem evidências de que reduzem o contágio, deixar de usá-las passa a ser um negacionismo tão estúpido quanto acreditar que a Terra é plana.

No vídeo a seguir uma matéria sobre testes feitos com máscaras na Universidade de São Paulo.

Boa semana para todos (as)!

(Com informações da Revista Nature)

COVID-19: novos resultados com anticorpos monoclonais animam pesquisadores

 Uma boa notícia: outra empresa deu agora fortes indícios de que os anticorpos monoclonais (em versões sinteticamente produzidas de proteínas feitas pelo sistema imunológico) podem funcionar como tratamento em pessoas infectadas com o coronavírus pandêmico, que ainda não estão gravemente doentes.

A biotecnologia Regeneron Pharmaceuticals desenvolveu um coquetel de dois anticorpos monoclonais que se ligam à proteína de superfície do SARS-CoV-2, e tenta impedi-lo de infectar as células.

Na semana que passou, a empresa mostrou slides com dados detalhados de 275 pessoas infectadas em um ensaio controlado por placebo que, em última análise, planeja inscrever 2.100 indivíduos assintomáticos ou, na pior das hipóteses, moderadamente doentes. A análise divide os pacientes em dois grupos: aqueles que tinham anticorpos detectáveis contra SARS-CoV-2 no início do estudo e aqueles que não tinham, um grupo denominado soronegativo. O coquetel monoclonal mostrou pouco efeito em pessoas que já tinham anticorpos contra o vírus. Mas pareceu ajudar os pacientes soronegativos, reduzindo poderosamente a quantidade de vírus encontrada em swabs nasofaríngeos e aliviando os sintomas mais rapidamente. “Esses são resultados provocativos”, diz Myron Cohen, da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, que não esteve envolvido no estudo, mas está ajudando a Regeneron a testar seu coquetel monoclonal como preventivo.

Cohen observa que os dados do Regeneron parecem semelhantes aos de um comunicado à imprensa da Eli Lilly, sobre os primeiros resultados de um teste de seu único anticorpo monoclonal contra a SARS-CoV-2. “Ambos os relatórios vão na mesma direção”, diz Cohen. Mas ele alerta que nenhum dos dois foi publicado. Ambos os testes estão em andamento e mais dados são necessários para entender como - ou se - esses medicamentos experimentais podem ajudar melhor os pacientes. Lilly, estranhamente, não viu um impacto na dose mais alta de anticorpo testada, e o Regeneron não viu nenhuma diferença entre suas preparações de dose baixa e alta usadas no estudo.

James Crowe, um viroimunologista da Vanderbilt University que está trabalhando com a AstraZeneca para desenvolver anticorpos monoclonais COVID-19, deu as boas-vindas aos resultados preliminares detalhados do Regeneron. “Eu aplaudo Regeneron por liberar tantas informações”, diz Crowe. “Eles estão contribuindo para a saúde pública ao divulgar isso o mais rápido possível.” Mas ele observa que mesmo as pessoas que se deram bem com o coquetel monoclonal ainda tinham baixos níveis de vírus detectáveis após o tratamento, o que, em teoria, poderia causar problemas. “Fiquei surpreso com a existência de qualquer vírus, visto que esses anticorpos são tão potentes”, diz ele, acrescentando que o vírus residual detectado nos testes de swab pode não ser capaz de se copiar.

Esperamos que mais resultados como este apareçam e ajudem a minimizar os efeitos do vírus, agora em queda em muitos países, mas voltando em segunda onda em alguns lugares. Motivos para nos preocuparmos ainda temos muitos. Mas a Ciência nos dá motivos para termos esperança.

(Com informações da Revista Science)

Novidades para o Ensino de Biologia

Passei meus últimos 34 anos procurando maneiras de explicar de forma mais clara sobre a ciência que estuda a vida – a Biologia. É na verdade um grande desafio, mas até que me considero bem sucedido depois de formar gerações e gerações de estudantes que trilharam pelos caminhos mais diversos possíveis. Tive a feliz oportunidade de trabalhar em boas escolas e com isso, passaram por mim levas de estudantes dos mais variados tipos. Mas isso é papo para outro dia. Hoje vamos falar das últimas novidades publicadas para facilitar a vida dos professores de Biologia.

Foi publicado na semana passada pela Editora Atena, especializada em obras de produtos acadêmicos, o livro “Pesquisa e Desenvolvimento de Abordagens para o Ensino de Biologia”, organizado pelo Prof. Dr. Pedro Marcos de Almeida e pela Profª Drª Francielle Alline Martins, ambos da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).

O livro traz 14 capítulos distribuídos em 208 páginas com trabalhos em diferentes áreas da Biologia, mas todos convergindo para novas formas e estratégias de como ensinar determinados temas da Ciência da Vida. Áreas como Citologia (estudo das células), Genética, Botânica, Zoologia, Ecologia e Meio Ambiente estão entre os focos dos artigos publicados. As estratégias também são as mais diversas como uso de coleções de plantas desidratadas e plantas medicinais, até o uso de produção de vídeos, jogos de tabuleiro ou aplicativos para dispositivos móveis, tudo para favorecer o ensino de diferentes ciências, fugindo da mesmice dos recursos disponibilizados em livros didáticos, apenas.

Os capítulos são fruto da perspectiva dos concludentes da primeira turma do Mestrado Profissional em Ensino de Biologia (PROFBIO) e seus respectivos orientadores. Além dos Professores Pedro e Francielle, atuaram professores vinculados aos cursos de Ciências Biológicas de Teresina (Campus Poeta Torquato Neto), Campo Maior (Campus Heróis do Jenipapo) e Picos (Campus Prof. Barros Araújo), totalizando 14 docentes.

O PROFBIO é um curso em Rede oferecido pela UESPI em convênio com outras universidades do Brasil, capitaneados pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em outra oportunidade já comentei aqui sobre o sucesso deste curso e os bons resultados obtidos em nível nacional. Relembre aqui.

A pandemia, embora tenha paralisado as atividades de ensino de graduação da Universidade Estadual do Piauí, não prejudicou a força de vontade de seus pesquisadores que, mesmo com todas as dificuldades e a falta de apoio do Governo do Piauí, continuam trabalhando diuturnamente, para entregar à sociedade o melhor que podem.

O livro poder ser obtido gratuitamente. Solicite através do e-mail do Colunista ou clique neste Link.

Boa semana para todos (as).

COVID-19: médico piauiense é um dos coordenadores de Projeto RadVid19

A COVID-19 tem posto diferentes segmentos da pesquisa científica para atuar, seja na busca por medicamentos, ou na busca por vacinas ou no aperfeiçoamento de medidas de detecção da doença, visto que isso tem sido um dos calcanhares de Aquiles da pandemia.

No campo do diagnóstico, além dos testes que comumente ouvimos a mídia enfocar, estão diagnósticos mais sofisticados que pretendem fornecer pistas mais sólidas sobre a existência do vírus no paciente. Uma destas formas é através dos exames de imagens dos pulmões.

O paciente COVID-19, ao longo da infecção, vai perdendo capacidade pulmonar, o que pode ser detectado através dos exames de imagens como raio-X e tomografias computadorizadas. É comum, no diagnóstico, os médicos descreverem o percentual de acometimento pulmonar, em função da reação do organismo diante da presença do SARS-CoV2. Diante disso, a ciência descobriu um meio prático de fornecer uma graduação de gravidade.

Por iniciativa do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, InRad-HCFMUSP, e do Inova-HC, um centro de inovação tecnológica vinculado ao Hospital das Clínicas da FMUSP, foi criado o Projeto RadVid19, um projeto com a missão de desenvolver soluções inovadoras, eficazes e de rápida implementação para diagnóstico da COVID-19, para o Estado de São Paulo e para o Brasil, visando minimizar o impacto da epidemia na sociedade brasileira.

O principal foco do RadVid19 é disponibilizar ferramentas de inteligência artificial para hospitais e radiologistas brasileiros trazendo mais agilidade e precisão no combate à pandemia. Em paralelo a isto, está sendo montado um banco de exames de imagens enorme e plural representando os padrões de apresentação da doença no Brasil (atualmente está com 18 mil imagens cadastradas), que será usado para aperfeiçoamento e criação de soluções nacionais de inteligência artificial. Um dos coordenadores do RadVid19 é o médico piauiense Bruno Aragão, radiologista do Hospital Sírio-Libanês e do Grupo Fleury.

Bruno Aragão foi palestrante do Pint of Science em Teresina a nosso convite em maio/2017. Fonte: Arquivo do Pint of Science/Teresina.

O projeto é bem audacioso e já conta com 47 Centros de Diagnóstico de todo o país, cadastrados. Recebe também a parceria de grandes instituições como o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem - CBR, Banco Itaú, Petrobrás, GE Healthcare, Huawei, Siemens Healthineers, Instituto Tellus, Hospital Sírio-Libanês, Grupo Fleury, BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento dentre outros.

Quem é Bruno Aragão?

Bruno Aragão Rocha é graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo, com residência médica na área de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e Fellow em Radiologia Abdominal pelo Instituto de Radiologia da Faculdade de Medicina da USP. Bruno tem experiência em Inovação na área médica, com histórico de projetos inovadores como o uso da Impressão 3D para o planejamento cirúrgico e já desenvolveu pesquisa com o médico Aurus Dourado e o cientista da computação Alexandre Tolstenko, todos piauienses, que unem  tecnologia à área de saúde.

Bruno Aragão é mais um brasileiro do Piauí lutando contra a COVID-19. Boa semana para todos (as)

Flores para você

Amanhã é 21 de setembro. Aqui no Brasil se comemora como Dia da Árvore, para marcar o início da Estação da Primavera, marcado para o dia 23 de setembro, dada a posição da Terra em relação ao Sol.

Mas tenho uma pergunta intrigante: você sabia que aqui na nossa região, Nordeste e Norte do Brasil, as árvores são comemoradas em Março???

O Decreto Federal Nº 55.795, de 24 de Fevereiro de 1965, instituiu a Festa Anual das Árvores, a ser comemorada durante a última semana do mês de março (período chuvoso) nos Estados do Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Pelo sim, pelo não, como diz um dileto e sábio amigo meu: o que abunda não prejudica. É sempre válido comemorar a vida ao nosso entorno, e pelas árvores, vale a pena comemorar não somente em março pela abundância de chuvas como também em setembro, época em que muitas árvores estão em floração. Já escrevi neste Blog várias vezes sobre árvores: a floração de nossos ipês ou explicando o porquê do caneleiro ser a nossa árvore símbolo...

Atualmente estamos vivendo uma grande crise. Seja pela inércia das autoridades ou pela ideia de que as coisas podem ser feitas de qualquer jeito, grandes áreas da Amazônia, dos Cerrados e do Pantanal Matogrossense ardem em chamas, destruindo não somente as árvores, mas matando outras plantas e também muitos animais.

É preciso deixar, principalmente para as futuras gerações, que o respeito pelos seres vivos precisa ser o mote principal, pois o desequilíbrio imposto ao meio nos afeta diretamente.

Bom domingo a todos e todas e viva o dia da Árvore!!! E muitas flores para você...

 

 

Posts anteriores