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COVID-19: impactos sobre a educação

No início desta quarentena assisti a uma entrevista do biólogo Átila Iamarino no Programa Roda Viva e algumas de suas palavras me marcaram muito. Dentre elas o diálogo que, segundo ele, estabeleceu com a esposa, de que o mundo que conheceram havia mudado a partir do momento em que se caracterizasse a pandemia provocada pelo SARS-Cov2: a COVID-19.

Aquelas palavras me fizeram iniciar uma reflexão que trago comigo de muitas coisas no mundo, que de fato, sofreu uma deflexão no seu percurso natural. Começando pelos hábitos de higiene que precisamos mudar para não espalhar ainda mais a doença, passando pela nossa própria saúde mental, afetada pelo isolamento que, para nosso alento, é minimizada pelo uso de tecnologias de comunicação, o que tem nos permitido conversar com parentes, fazer reuniões de trabalho, dar aulas etc.

Como sou do meio educacional, vejo que um dos desafios tem sido ensinar crianças e jovens por meio de plataformas e usando recursos de comunicação para tentar mitigar o pior no combate à doença que é a falta de contato interpessoal. As escolas estão tentando, usando os recursos de vídeo aulas, lives e outras atividades remotas, manterem as crianças na “sala de aula”. Especialistas do mundo inteiro tem debatido as melhores formas de fazer isso, mas enfrentando as críticas dos pais e de alguns educadores que não perceberam ainda que, para uma situação como essa, quanto mais conseguirmos preencher a lacuna deixada pela necessidade de isolamento, melhor.

Alguns educadores têm colocado que as diferenças entre condição financeira de estudantes oriundos de famílias com poder aquisitivo e aqueles sem as mesmas condições, neste período, agravarão as desigualdades de acesso, reduzindo a equidade para se atingir os mesmos objetivos educacionais, no que estão completamente certos.

Os pais, agora envoltos com a conciliação entre suas atividades na lida com os filhos e mais a tarefa de administrar o ensino de suas crianças, possivelmente agora percebam a importância das escolas e principalmente do professor, em cuidar de uma geração organicamente mais ativa e mais dotada de energia. O homeschooling (educação domiciliar) que estava entrando na pauta de discussão de alguns pais mais modernos, nunca esteve tão em alta. Seus conceitos recrudescem na opinião dos pais mais engajados com a educação dos filhos e, definitivamente não está nos planos daqueles que agora observam o quanto a atividade educativa vai muito além do que se imagina, e dá um trabalho sem precedentes.

O período de pandemia, que atinge ou atingiu a suspensão de aulas em 191 países, tem reforçado algumas opiniões sobre a Educação a Distância, a EaD. Especialistas acham que depois que a pandemia passar um número maior de pessoas aderirá a esta antiga forma de se ensinar que depende muito mais de planejamento e disciplina pessoais do que de qualquer outro fator.

Um grupo particular de estudantes ficou mais suscetível ao isolamento: as crianças da educação infantil. Mesmo pertencentes a uma geração que já nasceu imersa na tecnologia, cujos dedinhos já são bastante habilidosos nas telas touchscreen, o que seria considerada uma grande vantagem neste período de aulas remotas com o uso de tecnologias, o contato interpessoal e as interações sociais se mostram como elementos imprescindíveis no aprendizado deste grupo. Algumas escolas têm passado por uma avalanche de pedidos de cancelamento de matrículas, o que pode levar a uma crise no setor, especialmente com a demissão de professores e auxiliares. Todavia, é preciso que os pais reavaliem esta situação, pois somente na escola os campos de aprendizagem são praticados com planejamento e a visão de especialistas, podendo esta lacuna gerar o acúmulo de prejuízos que reflitam as fases futuras do processo educacional.

Outro grupo que sofre, ora preocupado em tentar acompanhar as aulas e atividades remotas, ora sem saber o que vai ser para o futuro, é o que se prepara para ingressar nos cursos superiores. Há no país uma preocupação sobre a necessidade de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. O Ministério de Educação, num misto de cautela, dúvida e terrorismo barato, dá assertivas de que nada mudará, mas as indefinições causam uma intranquilidade imensa em quem, pela própria idade e vivência do momento, já estaria imerso numa plêiade de ansiedades. Na minha opinião, o MEC fará, mais a frente um ajuste no calendário. Mesmo sendo prematuro alterar agora, deveria deixar claro que fará as mudanças caso haja um comprometimento no cronograma, o que na minha opinião, já aconteceu.

Para o momento, sobram incertezas sobre quando isso tudo irá acabar e revelam-se certezas de que o mundo definitivamente mudou.

Boa semana para todos (as) e até o próximo post.

PS: Pelo Dia Internacional da Educação (28/04)

COVID-19: pesquisador piauiense mapeia casos em tempo real

A luta contra a COVID-19 tem várias trincheiras. Se não podemos ter uma vacina ou medicamentos que ajam diretamente contra o vírus, trabalhar informações é muito importante para minimizar os efeitos das contaminações e reforçarmos os cuidados para proteção contra a possibilidade de adoecermos todos ao mesmo tempo, o que é o principal motivo para manutenção do isolamento social na nossa cidade e no nosso Estado.

Uma destas trincheiras de informação foi assumida pelo Engenheiro Cartográfico Vicente de Paula Sousa Jr. Vicente juntou as informações do painel de casos da COVID-19 publicado diariamente pela Fundação Municipal de Saúde de Teresina e dados cartográficos com os bairros de Teresina e atualiza diariamente, através de suas redes sociais (Facebook – https://www.facebook.com/vicentepsjr; Twitter – https://twitter.com/vicentepsj).

Com os dados atualizados ele construiu e atualiza diariamente três mapas. O primeiro é o Mapa do Número de Casos. Neste existe uma escala de cores que transmite a informação do número de casos com base na cor. Neste caso ele fez uma adaptação colocando por categorias, para que não passasse uma ideia errônea do número de doentes por localidade.

Mapa de Número de Casos. Fonte: Vicente de Paula Sousa Jr.

O segundo é o Mapa de Densidade Kernel que, com base nos pacientes que foram testados de cada bairro e que sinalizaram positivo para doença faz uma estimativa traçando por onde o vírus pode está contaminando, pois o método de construção deste mapa trabalha com um raio que pode representar o espectro de ação de transmissão do vírus.

Mapa de Densidade de Kernel. Fonte: Vicente de Paula Sousa Jr.

E o terceiro é o Mapa do Espelhamento de Moran, que se baseia no Índice de Moran, cuja interpretação é que regiões com casos semelhantes sofrem influência entre si, demonstrando, por exemplo, que bairros com casos que possuem bairros vizinhos também com casos confirmados se agrupariam na correlação espacial, confirmando a ideia expressada pelo Mapa de Densidade Kernel e expressando uma série de correlações par a par (por exemplo: correlação alta-alta ou alta-baixa ou baixa-baixa e assim por diante).

Mapa do Espelhamento de Moran. Fonte: Vicente de Paula Sousa Jr.

A ideia é fabulosa e permite subsidiar as autoridades com informações sobre a dinâmica do isolamento. Na minha opinião pessoal (lembrando que não sou epidemiologista, apenas me interessei pela questão que estamos vivenciando) iniciativas como esta, somada a amostragem já em execução pela Fundação Municipal de Saúde, somada a uma maior testagem na população, coordenadas pelas autoridades em saúde pública, podem embasar melhor as decisões de interrupção do isolamento social horizontal em vigência.

Neste aspecto em particular parabenizo a iniciativa do Eng. Vicente Sousa Jr., com quem tive oportunidade de discutir aspectos da sua pesquisa na área de energias renováveis, com dissertação recentemente defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFPI), orientada pelos competentes Prof. Dr. Francisco Francielle Pinheiro e Dra. Giovana Mira de Espindola. Durante sua graduação Vicente teve a oportunidade de fazer um período no Gottfried Wilhelm Leibniz Universität Hannover, na Alemanha, entre 2013 e 2015, financiado pelo Programa Ciência Sem Fronteiras do Governo Federal.

Eng. Cart. Vicente de Paula Sousa Jr. Fonte: Arquivo Pessoal.

Quem quiser acompanhar esta dinâmica e saber como está a situação do seu bairro, basta acompanhar a publicação das atualizações da pesquisa seguindo-o através das redes sociais.

Boa semana para todos (as) e se puder, fique em casa!

COVID-19: a impaciência pelo fim do isolamento social

Já é público e notório que o caso da infecção causada pela COVID-19 já foi politizado e já produziu extremos. Desde que os “cientistas” das redes sociais começaram a espalhar boatos sobre o uso de determinados medicamentos (que já falamos aqui) até os episódios envolvendo questões políticas, exacerbando o clima desde 2018 que, inclusive, culminaram com mudanças no Ministério da Saúde.

À parte de todas estas questões rolam discussões em diversos fóruns falando sobre os trechos discordantes das falas de autoridades de saúde e autoridades políticas acerca de quando ocorrerá o pico da doença no Brasil, e trazendo para uma situação nossa, mais particular, aqui no Piauí. Mas vamos entender um pouco sobre este pico e porque as datas às vezes não se verificam.

Em um outro texto falei sobre a necessidade de mantermos isolamento com a finalidade de achatar a curva. Esta curva indica o processo de avaliação matemática da quantidade de infectados e que necessitem de assistência médica, o que não pode acontecer de uma vez só porque nosso sistema de saúde não daria conta. Esta situação já se verifica em algumas capitais brasileiras como Manaus e Fortaleza, neste exato momento. O que quer dizer que nestes locais não houve tempo para achatar a curva e o pico de doentes extrapolou a capacidade das casas de saúde.

Estas previsões são feitas com base nas equações de regressão montadas a partir das principais variáveis, que levam em conta dados de outros locais. Isso porque o principal conjunto de dados para construção destas predições vem das informações sobre os testes feitos na população. Esta principal variável não temos com exatidão por aqui. Agora foi que vimos a imprensa noticiar que a Prefeitura de Teresina fará uma testagem amostral. Li que serão testadas 900 pessoas colhidas por critérios de amostragem em diferentes regiões da nossa Capital. Quando estes dados estiverem coletados teremos a primeira predição segura sobre a incidência da doença aqui em Teresina. A partir destes dados são feitas extrapolações que não são 100% seguras, mas dão um norte importante nas medidas a serem tomadas.

O pico da doença depende de muitas variáveis. Algumas destas variáveis já são as preconizadas pelos cientistas como o rigor do isolamento social, por exemplo. Os lugares que demoraram mais a impor medidas mais duras de isolamento atingiram o pico da doença primeiro. A demora em se verificar o pico nas cidades que precocemente suspenderam suas atividades poderia ser um bom sinal, se os dados sobre testes apontassem para um processo gradativo de contaminação. Entretanto, torna-se muito complicado até de estimar quando vamos chegar a este pico se a quantidade de pessoas testadas não avança, especialmente por termos pessoas que se contaminam e são completamente assintomáticas, outras que se contaminam e apresentam todos os sinais de uma gripe, como a causada pelo vírus Influenza, que embora também mate, mas tem uma letalidade menor.

Mesmo incomodado pela quarentena, tendo que trabalhar muito, só que usando outras ferramentas, ainda prefiro e recomendo que aguardemos as coisas melhorarem para tentarmos retornar à vida pré-isolamento. Nestes dias, em casa, minhas reflexões se ampliaram na valorização de coisas simples, como um passeio ao ar livre ou a uma simples visita de cortesia – medidas proibidas neste período. Entre uma leitura e outra percebo que pelo menos duas coisas sofrerão o impacto positivo depois que tudo passar: a ciência e a educação. Em outro texto ampliarei esta reflexão.

Boa semana para todos (as).

 

COVID19: o que diz o estudo com a Hidroxicloroquina?

A crise provocada pela COVID19 fez piorar um clima de disputa eleitoral ideológica que contamina o Brasil desde 2018, onde direitistas e esquerdistas se digladiam por motivos inimagináveis e, agora, por métodos para evitar que haja a proliferação de uma gripe que pode evoluir para um quadro agudo de pneumonia.

À parte a disputa irracional por espaços em um campo dominado por memes e alimentado pela democracia das redes sociais, onde imperam o facebook, whatsapp e outros meios, a disputa agora é saber se “é melhor morrer pelo vírus ou morrer de fome”, como disse um amigo, num tom inquisitório. Fui atrás para saber o que há de concreto quanto ao uso de Cloroquina e o correspondente Hidroxicloroquina, como alternativa de tratamento, ante a este isolamento horizontal sem data para acabar e que está mexendo com a saúde mental de todo mundo.

A corrente que defende a quarentena baseia-se em modelos matemáticos que explicam os efeitos devastadores provocados pela falta de isolamento social, já comprovado com um experimento real que ceifou milhares de vidas como na Itália e na Espanha, que demoraram a adotar alternativas capazes de impedir o avanço da contaminação. Este experimento está se repetindo nos EUA que em poucos dias ultrapassou o somatório do número de infectados na China, Itália e Espanha. Em países que enfrentaram crises parecidas como no caso da Coreia do Sul, e estabeleceram regras rígidas, a doença não avançou na mesma intensidade. Assim, o estabelecimento do isolamento social e com o consequente achatamento da curva de infecção (nós já falamos disso aqui) é uma estratégia que funciona.

Do outro lado há uma corrente que defende cegamente o uso maciço da droga cloroquina ou hidroxicloroquina. Esta droga é usada há décadas para combater a malária e para ajudar no tratamento a doenças autoimunes como o lúpus. Mas o que há de concreto em relação a COVID19?

Aproveitei a quarentena e fui buscar estudos e outras evidências científicas sobre o uso da cloroquina para o tratamento da COVID19. Num primeiro momento fiquei assustado e até animado com a quantidade de estudos e ensaios que já estão publicados de março para cá, tratando da COVID19 e suas consequências. Encontrei o estudo-chave que algumas pessoas estão usando como referência, com o título “Hidroxicloroquina e azitromicina como tratamento de COVID19, resultados de um ensaio clínico não randomizado de rótulo aberto” (tradução livre) publicado na Revista Antimicrobial Agents por 18 autores, a maioria de nacionalidade francesa, tendo como primeiro autor Philippe Gautret, em março de 2020.

Este estudo seguiu o método científico para ensaios clínicos e usou 36 pacientes: seis pacientes assintomáticos, 22 pacientes com infecção no trato respiratório superior e oito pacientes com infecção no trato respiratório inferior. Os pacientes foram divididos em dois blocos. O grupo controle formado por 16 pacientes com idade média de 37,3 anos, que não recebeu o medicamento. E o grupo experimental formado por 20 pacientes que receberam 600 mg de hidroxicloroquina por dia, durante 10 dias. Em alguns casos, os pacientes receberam também o antibiótico Azitromicina. Este grupo tinha uma média de idade superior, com 51,2 anos e o ensaio durou 14 dias no total.

Os resultados foram bastante animadores. Os pacientes eram avaliados diariamente e frequentemente submetidos ao teste de verificação da presença do vírus. Na maioria dos tratados com os medicamentos no sexto dia de tratamento já não apresentavam sinais da presença do vírus nas amostras para os exames nasofaríngeos.

Todos os pacientes que foram tratados com a combinação Hidroxicloroquina + Azitromicina testaram negativo para presença do vírus no sexto dia. O grupo que recebeu apenas Hidroxicloroquina, 57,1% dos pacientes testaram negativo para presença do vírus. Já os pacientes que não receberam os medicamentos (o grupo controle), apenas 12,5% dos pacientes testaram negativo para presença do vírus no sexto dia. Estatisticamente, o experimento demonstrou eficiência das drogas, combinadas ou não, na redução da carga viral nos pacientes, com significância nos resultados. Todavia é importante que fique bem claro que o ensaio foi feito apenas com 36 pacientes, uma amostra realmente muito pequena. O próprio artigo revela que avaliações estatísticas demonstraram que um incremento do número de pacientes, ainda que pequeno, de 36 para 48, sendo 24 pacientes em cada grupo (controle e experimental) forneceria um resultado mais seguro. Mas e agora?

A Hidroxicloroquina é um medicamento que não pode ser tomado sem critérios e sem orientação médica. O próprio artigo dos pesquisadores franceses já aponta contraindicação para o uso da droga em casos de retinopatia (doença na retina, podendo levar pacientes a cegueira), deficiência em G6PD (uma enzima que atua no metabolismo celular) e prolongamento do intervalo QT (intervalo medido através de Eletrocardiograma, o que indica que a droga provoca arritmias cardíacas). O uso indiscriminado é altamente temeroso, inclusive porque não há evidências que a droga previna o paciente de ter contato com a doença. O simples boato de que a droga poderia ter alguma eficácia levou a uma corrida até as farmácias aqui no Brasil, provocando baixas no estoque do medicamento e trazendo dificuldades para os usuários da droga de forma contínua e com indicação médica no caso de portadores de artrite e de doenças autoimunes como o lúpus.

O que me deixou mais animado quando estava lendo para produzir este post é que já existem grupos do mundo inteiro pesquisando saídas para o tratamento da COVID19. Na minha opinião a solução é igual nossa paciência frente a esta quarentena: uma questão de tempo!

Se você quiser ler mais sobre o coronavírus que já publicamos clique aqui, aqui, aqui ou aqui.

Se você não quiser ler mais nada sobre a coronavírus, publiquei textos durante a quarentena que passam longe desse assunto. Clique aqui, aqui, aqui ou aqui.

Boa semana para todos (as).

Recursos para pesquisa de enfrentamento a COVID-19

Ação entre Ministério da Saúde e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação investirá 50 milhões em pesquisa

Publicada a chamada pública para o desenvolvimento de pesquisas científicas e/ou tecnológicas relacionadas à COVID-19 e outras síndromes respiratórias agudas graves. O Ministério da Saúde e o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações investem 50 milhões de reais, sendo R$ 20 milhões da pasta da Saúde, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). O edital possui onze linhas temáticas, que incluem prevenção e controle, diagnóstico, tratamento, vacinas, atenção à saúde e carga de doença, entre outros.

Apenas pesquisadores que tenham o título de doutor ou livre docência e que sejam vinculados a Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT), públicas ou privadas sem fins lucrativos, podem participar. As propostas podem ser submetidas até o dia 27/04/20.

Devido à emergência de saúde pública, as pesquisas contratadas por essa chamada pública devem informar seus resultados parciais e finais ao longo do desenvolvimento, posto que suas evidências serão relevantes para a tomada de decisão e também para a gestão em saúde. O banco de dados dos estudos também deverá ser disponibilizado ao Ministério da Saúde, quando solicitado.

"Além da busca de soluções para a pandemia mundial, a chamada pública contribui com o fortalecimento da ciência do Brasil. Oportuna o avanço do conhecimento, a formação de recursos humanos, a geração de produtos nacionais e a formulação, implementação e avaliação de ações públicas voltadas para a melhoria das condições de saúde da população brasileira", afirmou Camile Giaretta, diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde do Ministério da Saúde.

Os critérios que definirão a contratação dos estudos, além do mérito científico, baseiam-se na aplicabilidade para o SUS, potencial impacto e relevância do projeto para o aprimoramento da atenção à saúde e vigilância da COVID-19, perspectiva de impacto positivo nas condições de saúde da população e participação em rede ou em estudos multicêntricos ou com abrangência nacional.

Confira mais detalhes na plataforma do CNPQ

(Com informações do Ministério da Saúde)

 

COVID19: vacina à vista

A revista Science desta semana trouxe matéria assinada pelo jornalista Jon Coen com o título “Com velocidade recorde, os fabricantes de vacinas dão seus primeiros tiros no novo coronavírus” em que descreve a trajetória de duas empresas de Biotecnologia – Moderna dos EUA e CanSino da China. Em síntese o artigo traz a informação de que em 16 de março Jennifer Haller, gerente de operações de uma empresa de tecnologia da cidade, tornou-se a primeira pessoa fora da China a receber uma vacina experimental contra o vírus da pandemia. “Todos nós nos sentimos tão impotentes, certo? Essa foi uma das poucas coisas que as pessoas puderam entender e dizer: 'OK, temos uma vacina chegando'. Desconsidere que levará pelo menos 18 meses, mas é apenas uma luz brilhante em algumas notícias realmente devastadoras em todo o mundo”, disse Haller.

A vacina que Haller se ofereceu para testar é feita pela Moderna, uma biotecnologia bem financiada que ainda não lançou um produto no mercado. A Moderna e a chinesa CanSino Biologics são as primeiras a lançar pequenos ensaios clínicos de vacinas contra a doença de coronavírus 2019 (COVID-19) para verificar se são seguros e podem desencadear respostas imunes. O teste de vacina CanSino também começou em 16 de março, de acordo com pesquisadores do Instituto de Biotecnologia das Forças Armadas chinesas, que está colaborando com ele. Uma tabela cada vez maior, organizada pela Organização Mundial da Saúde, agora lista 52 outros candidatos a vacinas que em breve serão testados. "Esta é uma resposta maravilhosa da comunidade biomédica para uma epidemia", diz Lawrence Corey, virologista do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, que realizou testes de vacina contra uma dúzia de doenças, mas não está envolvido no esforço COVID-19.

De um modo geral, essas vacinas agrupam-se em oito "plataformas" diferentes - entre as antigas esperanças, como vírus inteiros inativados ou enfraquecidos, proteínas geneticamente modificadas e a tecnologia mais recente de RNA mensageiro (mRNA), que é a espinha dorsal da vacina da Moderna.

Muitos vírus, incluindo HIV e hepatite C, frustraram os desenvolvedores de vacinas, mas o novo coronavírus, síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2), não parece ser um alvo particularmente formidável. Ele muda lentamente, o que significa que não é muito bom para evitar o sistema imunológico, e as vacinas contra os coronavírus relacionados que causam a SARS e a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) têm funcionado em modelos animais.

Uma preocupação é se as pessoas desenvolvem imunidade durável ao SARS-CoV-2, o que é crucial, pois as vacinas tentam imitar uma infecção natural. Infecções com os quatro coronavírus humanos que geralmente causam resfriados menores não desencadeiam imunidade duradoura. Por outro lado, os pesquisadores descobriram respostas imunes duradouras aos vírus que causam a SARS e a MERS e, geneticamente, são muito mais parecidas com a SARS-CoV-2. E, diferentemente dos vírus causadores do resfriado, que permanecem no nariz e na garganta, o novo coronavírus tem como alvo o trato respiratório inferior, onde a resposta imune a um patógeno pode ser mais forte, diz Mark Slifka, imunologista que estuda vacinas na Oregon National Primate Research. "Quando você recebe uma infecção nos pulmões, na verdade obtém altos níveis de anticorpos e outras células imunes da corrente sanguínea naquele espaço".

Mesmo com esse esforço, Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID), prevê que a aplicação de uma vacina ao público “levará um ano, um ano e meio, pelo menos. "E Fauci acrescenta "pelo menos" porque efeitos colaterais, problemas de dosagem e problemas de fabricação podem causar atrasos. Alguns já pedem um atalho eticamente carregado para acelerar os ensaios clínicos: dar vacinas candidatas às pessoas e tentar intencionalmente infectá-las para verificar se estão protegidas.

Uma nova vacina também pode ser disponibilizada para os profissionais de saúde e outras pessoas de alto risco, mesmo antes da conclusão dos estudos de eficácia da fase III. Stanley Perlman, pesquisador veterano de coronavírus da Universidade de Iowa, sugere que uma vacina que ofereça apenas proteção e durabilidade limitadas poderia ser boa o suficiente - a princípio. "Nesse tipo de cenário epidêmico, desde que você tenha algo que nos ajude e evite muitas mortes, pode ser adequado", diz ele.

Em 13 de janeiro, três dias após os pesquisadores chineses tornarem pública a sequência completa de RNA do SARS-CoV-2, o imunologista do NIAID Barney Graham enviou a Moderna uma versão otimizada de um gene que se tornaria a espinha dorsal de sua vacina. Sessenta e três dias depois, a primeira dose da vacina foi para Haller e outros voluntários participantes do pequeno estudo no Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente Washington. Em 2016, Graham havia feito uma vacina contra o vírus zika que foi da bancada do laboratório para o primeiro voluntário no que ele pensava serem 190 dias extremamente rápidos. "Batemos esse recorde em quase 130 dias", diz ele.

O esforço se beneficiou das lições que Graham aprendeu com seus esforços anteriores com vacinas, incluindo seu trabalho sobre o vírus sincicial respiratório (RSV). A busca por uma vacina contra o VSR tem um passado controverso: em 1966, um julgamento de uma vacina candidata foi vinculado à morte de duas crianças. Estudos posteriores identificaram o problema como anticorpos desencadeados por vacinas que se ligavam à proteína de superfície do vírus, mas não neutralizavam sua capacidade de infectar células. Este complexo anticorpo-viral, por sua vez, às vezes leva a respostas imunológicas complicadas.

A experiência foi útil em 2015, quando um membro do laboratório de Graham fez uma peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, e voltou doente. Preocupada com a possibilidade de ser o MERS, que é endêmico nos camelos da Arábia Saudita e salta repetidamente para os seres humanos lá, a equipe de Graham verificou o vírus e, em vez disso, retirou um coronavírus comum. Foi relativamente fácil determinar a estrutura de seu pico, o que permitiu à equipe criar formas estáveis para os vírus SARS e MERS e, em janeiro, para os SARS-CoV-2. Essa é a base da vacina Moderna COVID-19, que contém mRNA que direciona as células de uma pessoa para produzir essa proteína de pico otimizada.

Ainda uma nova estratégia, nenhuma vacina de mRNA chegou a um ensaio clínico de fase III, e muito menos foi aprovada para uso. Mas, produzir um grande número de doses de vacina pode ser mais fácil para as vacinas de mRNA do que para as tradicionais, diz Mariola Fotin-Mleczek, da empresa alemã CureVac, que também está trabalhando na vacina de mRNA para o novo coronavírus. A vacina experimental contra a raiva do CureVac mostrou uma forte resposta imune com um único micrograma de mRNA. Isso significa que 1 grama pode ser usado para vacinar 1 milhão de pessoas. “Idealmente, o que você precisa fazer é produzir talvez centenas de gramas. E isso seria suficiente”, diz Fotin-Mleczek.

Muitas empresas contam com técnicas testadas pelo tempo. A Sinovac Biotech está produzindo uma vacina contra SARS-CoV-2 inativando quimicamente partículas virais inteiras e adicionando um reforço imunológico chamado alume. O Sinovac usou a mesma estratégia para uma vacina contra a SARS desenvolvida e testada em um ensaio clínico de fase I há 16 anos, diz Meng Weining, vice-presidente da Sinovac. "Acabamos de reiniciar imediatamente a abordagem que já conhecemos." A vacina SARS da empresa funcionou em macacos e, embora houvesse preocupações de que uma vacina inativada contra o coronavírus pudesse desencadear o tipo de doença de aumento de anticorpos que ocorreu com a vacina RSV, Meng enfatiza que esses problemas não surgiram em seus estudos com animais.

Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina de Icahn no Monte Sinai, diz que as vacinas inativadas contra vírus têm a vantagem de ser uma tecnologia comprovada que pode ser ampliada em muitos países. “Essas fábricas estão lá fora e podem ser usadas”, diz Krammer, co-autor de um relatório de status sobre as vacinas COVID-19 que aparece on-line no Immunity.

O CanSino agora está testando outra abordagem. Sua vacina usa uma versão não replicante do adenovírus-5 (Ad5), que também causa o resfriado comum, como um "vetor" para transportar o gene da proteína de pico de coronavírus. Outros pesquisadores de vacinas temem que, porque muitas pessoas tenham imunidade ao Ad5, possam montar uma resposta imune contra o vetor, impedindo que ele entregue o gene da proteína spike nas células humanas - ou pode até causar danos, como parecia acontecer em um teste de uma vacina contra o HIV baseada no Ad5, fabricada pela Merck, que foi interrompida no início de 2007. Mas a mesma colaboração chinesa produziu uma vacina contra o Ebola, aprovada pelos reguladores chineses em 2017, e um comunicado de imprensa da empresa afirmou que seu novo candidato gerou “fortes respostas imunes em modelos animais” e tem “um bom perfil de segurança”.

Outras plataformas de vacinas COVID-19 incluem uma versão enfraquecida em laboratório do SARS-CoV-2, um vírus de vacina replicável, mas inofensivo, que serve como vetor para o gene spike, subunidades proteicas do vírus geneticamente modificadas, um loop de DNA conhecido como um plasmídeo que carrega um gene do vírus e proteínas SARS-CoV-2 que se auto agrupam em "partículas semelhantes a vírus". A J&J está usando outro adenovírus, o Ad26, que geralmente não infecta humanos, como seu vetor. Essas diferentes abordagens podem estimular diferentes braços do sistema imunológico, e os pesquisadores já estão "desafiando" os animais vacinados com SARS-CoV-2 para ver quais respostas melhor se correlacionam com a proteção.

Muitos dos esforços no campo COVID-19 nascente têm sido a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), uma organização sem fins lucrativos criada para coordenar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas contra doenças infecciosas emergentes. Até agora, o CEPI investiu quase US$ 30 milhões no desenvolvimento de vacinas na Moderna, Inovio e em outros seis grupos. “Passamos por um processo seletivo para escolher aqueles que achamos que têm maior probabilidade de atingir nossos objetivos - que achamos que deveriam ser os objetivos mundiais - de velocidade, escala e acesso”, diz Richard Hatchett, CEO do CEPI. Mas ele também está torcendo por outros candidatos. "Não queremos estar em uma situação em que temos [uma] vacina bem-sucedida e temos um evento de contaminação [durante a fabricação] e, de repente, não temos nenhum suprimento de vacina".

O CEPI investe em instalações de fabricação ao mesmo tempo em que gasta dinheiro na realização de ensaios clínicos. "Ao fazer as coisas em paralelo, e não em série, esperamos comprimir os prazos gerais", diz Hatchett. Depois de revisar os dados da fase I e os dados dos modelos animais, o CEPI planeja mover seis dos oito produtos para estudos de segurança maiores, para chegar a três que são dignos de testes de eficácia em larga escala que talvez incluam 5000 participantes.

Enquanto a vacina não vem precisamos achatar a curva de contaminação para permitir que nosso sistema de saúde dê conta dos infectados graves (já escrevi sobre isso aqui, veja)Para auxiliarmos nesta questão precisamos nos manter em isolamento social, torcer para que nossos políticos reconheçam agora o valor da ciência e dos cientistas e fazer a nossa parte com os cuidados que não nos cansamos de repetir.

(Com informações de Jon Cohen, Science Magazine)

 

Ciência Viva na Quarentena: você já ouviu falar em um organismo chamado Gaia?

A teoria já tem mais de 50 anos, mas se fizermos uma pesquisa rápida poucos terão ouvido falar em Gaia. Desde a década de 1950 o mundo travou uma corrida para conquista do espaço. Na década de 1960 os EUA ganharam a dianteira promovendo uma série de lançamentos que culminaram com o pouso do homem na superfície lunar em 1969. Mas sempre houve a intenção de buscar vida extraterrestre. Ao ponto que a Nasa chegou a contratar pesquisadores com a finalidade de definirem-se parâmetros para buscar vida em outros planetas, os chamados Exobiólogos. Um destes pesquisadores instados pela Nasa a buscar vida, principalmente em Marte foi o britânico James Lovelock.

James Lovelock listou uma série de características que seriam necessárias para vida, como a dependência de água líquida, uma temperatura média da superfície entre 10-16°C e um tempo de permanência destas condições de pelo menos 3,5 milhões de anos. Ao levantar estes e outros fatores juntamente com outros cientistas como norteamericana Lynn Margulis, Lovelock sugeriu que as condições necessárias impõem que o planeta Terra (que reúne estas condições) funcione como uma entidade viva e autorreguladora, levantando que a própria presença de vida ajuda a regular a temperatura da superfície, a concentração de oxigênio na atmosfera e a composição química dos oceanos em fatores que se completam e interagem com as diferentes formas de vida da Terra. Surgiu então a Hipótese Gaia, de que a Terra funciona como um grande ser vivo em equilíbrio, pautando-se também a ideia de que a existência e a ação do ser humano na exploração dos recursos existentes gera uma modificação neste equilíbrio.

James Lovelock. Fonte: Wikipedia.

Segundo Lovelock “a evolução é uma dança bem engendrada, com a vida e o ambiente material como parceiros. Dessa dança emerge a entidade Gaia”.

Cronologia

1805 – Alexander von Humboldt declara que a natureza pode ser representada como um todo.

1859 – Charles Darwin argumenta que as formas de vida são moldadas por seus ambientes.

1866 – O naturalista alemão Ernst Haeckel cunha o termo ecologia.

1935 – O botânico britânico Arthur Tansley descreve as formas de vida da terra, as paisagens e o clima como um ecossistema gigante.

Anos 1970 – Lynn Margulis descreve o relacionamento simbiótico de micróbios e a atmosfera da Terra; ela posteriormente define Gaia como uma série de ecossistemas interagindo.

1997 – O Protocolo de Kyoto estabelece alvos para a redução de gases de efeito estufa.

(Com informações do Livro da Ciência)

Ciência Viva na Quarentena: você já ouviu falar em Computador Quântico?

A pergunta do título já deixa muita gente de cabelo em pé. Mas vejamos se consigo explicar. O computador convencional trabalha com suas informações baseadas no sistema binário. Este é um sistema da matemática que usa apenas dois valores na sua base: 0 e 1, um sistema bem mais simples do que o que usamos para contagens que é o sistema decimal (assume dez valores que vão do zero ao 9). Assim quando falamos em bits, estamos falando em um sinal elétrico que pode estar ligado (1) ou desligado (0). Toda a lógica de um computador comum baseia-se neste sistema com dois valores.

No computador quântico utiliza-se o campo da mecânica quântica que se baseia também em dois estados (como o zero e o 1), mas com a possibilidade de que estes estados se sobreponham, aumentando muito as possibilidades, quando comparado ao bit. A unidade da computação quântica é qubit, que por definição é formado por partículas subatômicas. Na prática um qubit é muito mais versátil que um bit por ser capaz de suportar inclusive um embaralhamento, gerando uma ampliação exponencial de dados processados. Em tese um computador quântico seria muito mais rápido para execução de cálculos matemáticos complexos.

O modelo de computação quântica foi criado pelo matemático Yuri Manin. Divulgados pela primeira vez na década de 1980 os computadores quânticos pareciam que jamais sairiam da teoria. Atualmente a Google e a IBM disputam a elaboração de máquinas, mas apenas uma empresa canadense comercializa com até 2000 qubit a um custo na casa 15 milhões de dólares. As gigantes como IBM preferem alugar tempo de processamento nestas máquinas, especialmente com fins de pesquisas científicas. Estes computadores são usados atualmente em pesquisas nas áreas de Astrofísica, física, matemática e biotecnologia.

Yuri Manin, o pai da Computação Quântica. Fonte: Wikipedia.

Cronologia

1935 – Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen desenvolvem o paradoxo EPR, provendo a primeira descrição do embaralhamento quântico.

1994 – O matemático americano Peter Schor desenvolve um algoritmo que consegue alcançar a fatorização dos números usando um computador quântico.

1998 – Usando a interpretação de Hugh Everett, de muitos mundos, para a mecânica quântica, teóricos imaginam um estado de superposição no qual um computador quântico pode estar ligado ou desligado.

2011 – Uma equipe de pesquisa da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hefei, China, corretamente encontra os fatores primordiais de 143, usando um conjunto de quatro qubits.

(Com informações do Livro da Ciência)

Ciência Viva na Quarentena: É possível inserir genes em humanos para curar doenças de causa genética?

A lógica parece bem simples: algumas doenças são resultado da herança de genes defeituosos. Estes mesmos genes defeituosos possuem versões perfeitas. Logo para curar uma doença causada por gene defeituoso basta substituir este gene por um perfeito nas células onde o seu efeito pode provocar a doença! Mas vem a pergunta: isso é possível?

O genoma humano (que reúne a totalidade das informações genéticas humanas) possui entre 20 e 30 mil genes. Um gene é uma unidade molecular com informação química de controle e fabricação de uma proteína, que dependendo de quem seja pode ser responsável por muitas funções no organismo. Ou apenas uma função só, mas de grande importância para o metabolismo do corpo. O gene pode se tornar defeituoso quando ocorre um erro na sua cópia que é passada dos pais para os filhos. Um gene defeituoso pode causar uma doença genética.

As doenças genéticas não podem ser curadas por drogas e tratamentos convencionais. Em muitos casos a medicina atua apenas para minimizar ou retardar o efeito da doença genética. Mas desde a década de 1970 os cientistas passaram a considerar a ideia de tratar doenças genéticas através da Terapia Gênica. A ideia seria substituir genes defeituosos por genes saudáveis.

A execução deste tratamento foi realizada pela primeira vez na década de 1980, quando cientistas americanos liderado por Willian French Anderson[1] obtiveram o êxito de usar um vírus modificado, “contaminado” com um gene corrigido de uma doença imunológica, usando animais, alterando o conteúdo de células do tecido medular das cobaias. Na década de 1990, Anderson conseguiu tratar duas meninas que sofriam da doença imunológica conhecida como “doença da bolha”, conseguindo sua cura parcial.

William French Anderson. Fonte: Wikipedia.

Ainda há muito o que avançar. O que parece bem sucedido em termos de tratamento para doenças provocadas por efeito de um só gene, como no caso da fibrose cística, apresenta resultados otimistas. Mas as doenças causadas por efeitos da ação conjunta de vários genes, como Diabetes ou o Mal de Alzheimer, ainda indicam um longo caminho a percorrer.

Cronologia

1984 – O pesquisador americano Richard Mulligan usou um vírus como ferramenta para inserir genes em células tiradas de ratos.

1985 – William French Anderson e Michael Blaese mostraram que esta técnica pode ser usada para corrigir células defeituosas.

1989 – Anderson realiza o primeiro teste seguro na terapia humana de genes, injetando um marcador inofensivo, em um homem de 52 anos. Ele realiza a primeira experiência clínica, três anos depois.

1993 – Pesquisadores do Reino Unido descrevem os resultados de experimentos bem sucedidos com animais, propiciando o tratamento da fibrose cística.

2012 – Começa a primeira experiência de multidoses da terapia gênica de fibrose cística em humanos.

(Com informações do Livro da Ciência)

 

 

[1] O Cientista William French Anderson, considerado o pai da Terapia Gênica, cumpre atualmente uma pena de 14 anos de prisão por molestar sexualmente uma adolescente.

Ciência Viva na Quarentena: Existem planetas fora do Sistema Solar?

Já tem um tempo longo que os cientistas analisam a existência de planetas gravitando em torno de outras estrelas, assim como acontece com nosso Sistema Solar. Entretanto, mesmo com toda a tecnologia só muito recentemente a ciência foi capaz de detectar outros astros como o que vivemos, em órbita em torno de outros “sóis”.

Somente em 1995 os astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz descobriram o 51 Pegasi b, um planeta bem grande (do tamanho do nosso Júpiter), orbitando uma estrela como o Sol, a cerca de 51 anos-luz de distância da Terra (lembrando que um ano luz, que é a medida espaço que percorre a luz em um ano e equivale a 9,46 trilhões de km). De 1995 para cá mais de 1000 planetas externos em relação ao Sistema Solar foram descobertos, os chamados Exoplanetas. Clique aqui e veja a lista de estrelas que possuem Exoplanetas. 

O astrônomo Geoffrey Marcy da Universidade da California, em Berkeley, detém com sua equipe o recorde de mais exoplanetas descobertos, incluindo 70 entre os 100 primeiros descobertos. A descoberta de muitos destes planetas não foi feita por observação direta, dado que a distância impossibilita a existência de imagens nítidas. A descobertas, em geral, dá-se por meio indireto, a partir das variações da velocidade radial da estrela, alterando a frequência de luz que chega até a Terra.

Geoffrey Marcy. Fonte: Wikipedia.

Cronologia

Anos 1960 – Astrônomos esperam detectar novos planetas através da medição das “oscilações” no caminho das estrelas, mas tais movimentos permanecem além do alcance até dos mais potentes telescópios de hoje.

1992 – O astrônomo polonês Aleksander Wolszczan descobre os primeiros planetas confirmados além do Sistema Solar, ao redor de um pulsar (Pulsar é uma estrela de nêutrons que transforma sua energia rotacional em energia eletromagnética, devido ao intenso campo magnético que formam).

2009 – 2013 – O satélite Kepler, da NASA, descobre mais de 3000 candidatos exoplanetas, ao procurar por gotas de radiação das estrelas, quando os planetas passam diante delas. Baseados nos dados do Kepler, os astrônomos preveem que pode haver até 11 bilhões de mundos semelhantes à Terra orbitando astros semelhantes ao Sol na Via Láctea, nossa galáxia.

(Com informações do Livro da Ciência)

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