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Biodiversidade do Meio Norte: mais uma chance de falarmos sobre o tema

Será lançado no próximo dia 11 de março no Auditório do TROPEN, às 17h, Universidade Federal do Piauí (UFPI), o terceiro volume do livro Biodiversidade do Meio Norte do Brasil: conhecimentos ecológicos e aplicações, resultado do esforço de publicação de 46 pesquisadores radicados nos Estados do Piauí e do Maranhão. O livro fecha uma série de três volumes iniciada em 2016 com continuidade em 2018 e fechando o ciclo agora em 2020.

Este volume traz 12 artigos que investigam a diversidade das plantas, com estudos inéditos na área das plantas de restingas do Maranhão, Caatinga do Piauí e Cerrados em áreas do Piauí e do Maranhão. Os estudos abordam ainda propriedades medicinais de algumas plantas e estudos sobre a anatomia e aspectos da mutagenicidade de algumas espécies. Fecham o livro dois artigos abordando animais: diversidade de mamíferos do Cerrado e sobre a conservação de aves nativas em zoológico. Todos os trabalhos são resultado de pesquisas inéditas desenvolvidas em diferentes níveis: fruto de iniciação científica ou realizada em pós-graduações Lato Sensu (cursos de Especialização) ou Stricto Sensu (Mestrados ou Doutorados) organizado por universidades de um dos dois estados.

A publicação de estudos científicos é um importante aspecto dos investimentos feitos em pesquisa, pois boa parte da população desconhece o que é feito nas universidades. Sem conhecer o que se desenvolve em laboratórios ou campos de experimentação pouco se valoriza aspectos de grande relevância. As publicações abrem espaço para discussão do conhecimento acumulado e geram perspectivas de novos estudos nas diferentes áreas abordadas. Os livros se revestem de um meio importante de divulgação, muito embora alguns pesquisadores prefiram a publicação em revistas e outros tipos de veículo, especialmente em razão dos custos. É importante explicar que os custos desta publicação são da responsabilidade dos próprios autores, pois nenhuma agência que fomente este tipo publicação reservou recursos para apoiá-la.

No ano passado publicamos aqui no Ciência Viva um convite para o lançamento do Volume 2 desta série. Desde 2011 atuo na organização de obras da relevância desta, popularizando estudos que poderiam ter permanecido sem a devida divulgação e que se mostraram relevantes para o desenvolvimento da pesquisa local. Alguns periódicos, tanto nacionais quanto internacionais apresentam, por vezes, restrições para aceitar manuscritos que versam sobre temas mais locais. Entendemos que, com o avanço do processo de degradação ambiental, estas obras terminam preenchendo esta importante lacuna deixada pelos periódicos, ajudando a informar descobertas sobre biodiversidade da região Meio Norte, um importante mosaico de ecossistemas que se encontram ameaçados, especialmente pelo desenvolvimento da agricultura e da pecuária. Entendemos que o desenvolvimento de uma região deve acontecer por vias absolutamente sustentáveis. A própria preservação da natureza prescinde de informações científicas confiáveis.

A obra já está a venda no site da editora (www.editoracrv.com.br). No dia do lançamento será vendido por valor promocional, diretamente com os organizadores.

Você é nosso convidado (a). Até lá!

O coronavírus está entre nós: o que fazer?

A epidemia do novo coronavírus, que recebeu a denominação científica de covid-19, chegou ao que a ciência chama de Pandemia. Como o vírus é de fácil veiculação, pois se transmite através de gotículas de saliva e contamina pessoas através das mucosas (bucal, nasal etc), sua transmissão já deixou a região de endemismo em Wuhan, na China e atingiu praticamente todos os continentes, alcançando o status de Pandemia.

A culpa deste fenômeno tem a ver com a globalização. As pessoas, em um vai e vem constante, terminam por veicular estas e outras doenças. E neste caso, o que mais assustam são as notificações quase em tempo real da expansão de doentes, de suspeitos e os poucos casos (ainda) de morte que, juntamente com uma ampla rede de mentiras, levam o terror para diferentes segmentos. Hoje assusta muito mais a disseminação das mentiras, via rede sociais – as fakes News - do que o vírus propriamente dito e a doença que ele causa. Mas temos motivos para entrar em pânico?

O medo de contrair a doença deve, na verdade, se revestir em cuidados dobrados com a higiene. Elegi uns pontos para abordar neste post que considero importante:

1) Trata-se de uma virose como a da gripe comum – Influenza – só que mais grave porque pode evoluir para uma síndrome respiratória;

2) Assim como a gripe comum, ela pode matar. Mas a morte decorreria muito mais de um estado de debilidade do sistema imunológico do que da ação do vírus propriamente dita;

3) Como a grande maioria das viroses, não existe medicamento para combater o covid-19. Os medicamentos servem para minimizar parte dos sintomas. Quem o combate é o próprio organismo. Por isso a alimentação adequada é condição essencial para que a contaminação não passe de uma gripe comum;

4) O segredo, então, é redobrar os cuidados com higiene. O vírus é formado por um duplo envelope constituído de lipídios (gorduras), por isso, água e sabão podem dissolver totalmente esta estrutura viral, eliminando-o;

5) Sabões e detergentes são mais eficientes na limpeza para evitar a contaminação do que o álcool gel. Mas na falta de uma pia com água corrente e algum saponáceo, passar o álcool ajuda a minimizar muito a contaminação;

6) Ao tocar objetos o ideal é lavar as mãos, para evitar que estas sejam levadas para boca, nariz, olhos etc. O vírus consegue permanecer sobre uma superfície até por sete horas (maçanetas, corrimões, paredes e objetos em geral);

7) O uso de máscaras é indicado para evitar a contaminação. Mas nem toda máscara cirúrgica serve para evitar, pois as partículas virais são muito pequenas e não seriam evitadas por qualquer tipo de máscara;

8) As autoridades brasileiras estão muito cautelosas e seguras do que fazem. Mas se cada pessoa não fizer sua própria parte, estas providências de caráter coletivo não surtirão efeito. Por isso lave bem as mãos com água e sabão e se alimente bem. Se você se contaminar use máscaras para evitar a contaminação de outras pessoas.

A pandemia está sendo acompanhada no mundo inteiro. Se você quiser saber mais clique no link a seguir. Ele atualiza os casos de contaminação no mundo inteiro em tempo real, além das mortes provocadas pela doença.

No Brasil já estamos com dois casos. Mas já tem gente trabalhando para combater o agente infeccioso: cientistas brasileiros em conjunto com cientistas ingleses decifraram o genoma do vírus 48 horas após a coleta do primeiro paciente brasileiro confirmado. A descoberta do genoma abre numerosas possibilidades para auxiliar no combate e no desenvolvimento de vacinas.

Não podemos descuidar para criar barreiras de contaminação do vírus. Devemos redobrar os cuidados com idosos. As chances de morte aumentam substancialmente com a idade.

A dica da semana é lavar bem as mãos com água e sabão.

Boa semana para todos(as).

Você já ouviu falar do Prêmio Darwin?

O Prêmio Darwin ou Darwin Awards surgiu a partir de um grupo de usuários da internet que foi colecionando situações inusitadas a partir de dados pesquisados na imprensa, em 1985. Por volta de 1991 a cientista britânica Wendy Northcutt, que vez por outra costumava a mandar para os amigos estas situações institucionalizou o Prêmio. Em 1993 ela organizou um site onde publica todas as situações com base no que foi publicado na imprensa. Mas que situações são essas?

Charles Darwin estabeleceu as bases da Evolução Moderna. Darwin criou a Teoria da Seleção Natural, segundo a qual a vida, que apresenta grande diversidade (cores, formas, modelos, tamanhos, comportamentos, estágios, estratégias, formas de nutrição, modos de acasalamento etc.) é selecionada pela própria natureza. Ou seja: a natureza seleciona os mais aptos. O que os criadores do Prêmio Darwin fizeram foi passar a selecionar situações de pessoas que cometeram atos tão estúpidos que terminaram sendo vítima de sua própria burrice. São situações bizarras e que muitas pessoas até duvidam que a estupidez chegue a alcançar níveis tão alarmantes. Desde situações simples, como a história de um homem que subiu para podar uma árvore e serrou o galho em que se apoiava, caindo e perdendo a vida (que inclusive ilustra a capa da edição brasileira do livro “O prêmio Darwin – a evolução em ação”, publicado em 2001).

Há um pitada de humor negro nas histórias, mas para nós, o mais interessante é a reflexão que precisa ser feita antes de tomarmos determinadas atitudes como: dirigir bêbado (aliás tomar qualquer decisão bêbado), manusear uma arma sem conhecer seu funcionamento, soltar fogos de artifícios, pilotar uma moto sem conhecimento da máquina, dirigir e tentar atropelar um grupo de pessoas com uma retroescavadeira etc.

Vamos encontrar dezenas de milhares de situações que nos empurram fatalmente a candidatos ao Prêmio Darwin. Na minha opinião, um forte candidato para o Prêmio Darwin 2020 é o americano Michael Hughes. Michael Hughes, conhecido como “Mad Mike” (Mike Louco, em tradução livre) queria provar que a Terra era plana. Construiu um foguete, amarrou-se nele e disparou. A ideia era conseguir atingir 5000 pés de altura, o equivalente a mais ou menos 1500 metros para ver que a Terra não tinha qualquer curvatura. Por algum motivo o paraquedas não funcionou. Veja o vídeo:

[Apesar de duvidar que algum leitor do Ciência Viva possa acreditar que a Terra é plana os pesquisadores brasileiros Gustavo Rojas (UFSCar) e Bruno Carneiro (UFPE) ajudaram a escrever um texto mostrando cinco maneiras mais seguras de provar que a Terra NÃO É PLANA. Para ver estas dicas clique aqui.]

O caso de Hughes ilustra bem a natureza do Prêmio Darwin, que é bem definido pela frase de Einstein: “Somente duas coisas são infinitas – o universo e a estupidez humana, e não estou certo quanto ao Universo”.

Boa semana para todos (as).

Bacanal ancestral

O começo da humanidade tem sido um desafio para a Ciência. Talvez que seja por isso que muitas pessoas não gostem de quebrar a cabeça pensando e já vão logo acreditando de cara nas saídas mais simplistas como o Paraíso de Adão e Eva e até que Terra é plana, para não ter que pensar muito!

De uns anos para cá descobriu-se muito sobre o nosso passado recente e algumas destas descobertas tem sido surpreendente. Há bem pouco tempo, cerca de 30 mil anos antes do presente (quando falamos em tempo geológico, 30 mil anos é uma fração bem pequena do tempo), a Terra era habitada por pelo menos seis espécies bem similares ao homem atual. Além de nossa espécie (Homo sapiens sapiens) viveram: Homem de Neanderthal, Homem da Ilha de Flores, Homem de Denisova, Homo luzonensis e o Homo erectus. Nós temos falado vez por outra sobre estas descobertas, porque elas atraem muito a atenção da comunidade de cientistas e também curiosos de outras categorias. Veja o que falamos sobre o mais recente descoberto das Filipinas e veja também aqui e aqui.

A descoberta da vez agora é que alguns destes hominíneos se intercruzaram. Já se desconfiava que Neanderthais e a nossa espécie já teriam tido esta experiência, a partir de descobertas feitas de fósseis da mesma idade em cavernas da França e da Espanha. Mas um artigo publicado na semana passada revista Science conta outras relações entre alguns destes hominíneos.

Genes de fósseis mostraram que os ancestrais de muitas pessoas vivas acasalavam com os neandertais e com os denisovanos, um misterioso grupo de humanos extintos que viveu na Ásia. Agora, uma enxurrada de artigos sugere que os ancestrais dos três grupos se misturaram pelo menos duas vezes com linhagens "fantasmas" ainda mais antigas de hominíneos extintos desconhecidos. Um candidato: o Homo erectus, um humano primitivo que deixou a África há 1,8 milhão de anos, se espalhou pelo mundo e poderia ter se acasalado com as ondas posteriores de ancestrais humanos.

Os novos estudos genômicos se baseiam em modelos complexos de herança e mistura populacional, e eles têm muitas incertezas, inclusive as identidades precisas dos estranhos companheiros de nossos ancestrais e quando e onde os encontros ocorreram. Mas, juntos, eles constroem um forte argumento de que mesmo antes que os humanos modernos deixassem a África, não era incomum que diferentes ancestrais humanos se encontrassem e se acasalassem.

A técnica ideal para detectar cruzamentos com seres humanos arcaicos é sequenciar o DNA antigo de fósseis do grupo arcaico e, em seguida, procurar traços dele nos genomas modernos. Os pesquisadores fizeram exatamente isso com os genomas neandertal e denisovano de até 200.000 anos da Eurásia. Mas ninguém foi capaz de extrair genomas completos de ancestrais humanos mais antigos. Assim, os geneticistas populacionais desenvolveram ferramentas estatísticas para encontrar DNA incomumente antigo nos genomas de pessoas vivas. Após quase uma década de avistamentos tentadores, mas não comprovados, várias equipes agora parecem estar convergindo em pelo menos dois episódios distintos de cruzamentos muito antigos.

Na Science Advances desta semana, Alan Rogers, geneticista da população da Universidade de Utah, Salt Lake City, e sua equipe identificaram variações em locais correspondentes nos genomas de diferentes populações humanas, incluindo europeus, asiáticos, neandertais e denisovanos. A equipe testou oito cenários de como os genes são distribuídos antes e depois da mistura com outro grupo, para ver qual cenário melhor simulava os padrões observados. Eles concluem que os ancestrais dos neandertais e denisovanos - a quem chamam de neandersovanos - cruzaram com uma população "super-arcaica" que se separou de outros seres humanos cerca de 2 milhões de anos atrás. Os candidatos prováveis incluem os primeiros membros de nosso gênero, como H. erectus ou um de seus contemporâneos. A mistura provavelmente aconteceu fora da África, porque foi aí que surgiram os neandertais e os denisovanos, e poderia ter ocorrido pelo menos 600.000 anos atrás.

A pesquisa entra agora num novo patamar, para detectar até onde esta mistura genética se deu. Pelo sim, pelo não é como se estas populações tivessem passado por um verdadeiro “bacanal” genético para chegarmos até onde estamos. Tem-se muito para descobrir ainda.

Bom carnaval para todos (as)!!!

(Com informações da Revista Science)

 

 

O desabafo de um professor

Passei minha vida toda ouvindo que professor é uma categoria sem prestígio, desvalorizada, não reconhecida etc., etc. etc. Mesmo ouvindo esta cantilena em todas as oportunidades que tive, fiz da minha carreira profissional a arte de professar. Talvez nem tanto por não ouvir estes contraconselhos, mas por achar fascinante a possibilidade de ensinar algo para alguém. De fato, é uma profissão fascinante. E também sem prestígio, desvalorizada, não reconhecida etc., etc. etc.

Sigo uma carreira que tão presente na minha família já nem sei se é carreira. Parece mais uma sina. Contabilizo cinco gerações consecutivas com professores na família: tanto na ascendência quanto na descendência. Uma tia-bisavó materna, dois tios-avós paternos, pai, mãe, tios, primos, irmã, esposa e filhos: muita gente sem prestígio, desvalorizada e não reconhecida na mesma família. Mas o que penso de fato sobre esta escolha e as escolhas de quem opta pela profissão?

Professar é um luxo, é uma arte, um prazer! Há em tudo um encanto. O encanto de falar em público, em se fazer ouvir. O encanto de fazer olhos brilharem. Não tem preço! O retrucado. A pergunta. A feição de quem acabou de entender algo. Em nenhuma outra profissão se vê isso. Mas fui repreendido porque fiz a escolha. Há quase 40 anos, quando optei por estudar uma licenciatura. Mas argumentei: as melhores árvores vêm das melhores sementes! Aproveitando a deixa dos meus professores de Biologia. Entrei fácil na universidade, mas tive dificuldades, porque no meio do caminho existiam muitas pedras, como recitaram meus professores de Literatura. Muitas pedras que às vezes colocam empecilhos desfigurantes e desafiadores. Mas como ensinaram meus professores de História: Veni, vidi e vici! [Das palavras do Romano Júlio César, depois da Batalha de Zela].

O principal problema da educação, na minha opinião, é a desvalorização profissional. A desvalorização afasta novos e potenciais valores que poderiam enfrentar a sala de aula e formar outros valores ainda melhores. Discípulos desafiando e superando mestres é só o que se vê. Neste desabafo peço licença da minha autoridade de professor universitário, pesquisador e atual Presidente do Conselho Estadual de Educação, para expor um sentimento de total decepção pelo desprezo que sinto na pele, ante ao tratamento que a minha classe vem sofrendo. Não se trata dos que governam hoje, apenas. Isso parece que foi ensinado e muito bem aprendido por todos os que sentam na cadeira de gestores. Em campanha são só promessas. Plano este, plano aquele... “Educação é prioridade no meu governo”. Muito verbo mal conjugado, muito adjetivo desconexo da realidade, como diriam os mestres que me ensinaram língua portuguesa – “a última flor do lácio, inculta e bela”. Como acreditar que é prioridade se o mínimo que se pode fazer é construir uma carreira que pudesse valorizar a categoria? Como acreditar que a prioridade é prioritária, se não se dá condições de trabalho, como as que não temos na universidade em que trabalho? Se o reajuste do piso dos professores todos os anos enseja a necessidade de parar as atividades, para conseguir direitos?

No conjunto dos acidentes geográficos, a prioridade é uma montanha falaciosa e a realidade é um vale de lágrimas, aproveitando a comparação com os conceitos que aprendi na Geografia. Guardo para mim a tristeza de perceber que, apesar de nossa profissão ser a pedra angular de todas as outras, não se vê o mínimo de zelo por tentar fazer diferente, por parte dos gestores, com uma ou outra exceção.

Estou prestes a encerrar minha carreira. O tempo de parar está se aproximando. Já esteve mais perto, mas uma reforma empurrou para mais distante, num movimento retilíneo uniforme, como diriam os mestres da Física. Os sentimentos postos são o de uma mistura heterogênea, onde ora se percebe a diferença entre as fases, ora ocorre um movimento que mistura as partes como se homogênea fosse a misturada como explicariam os mestres da Química. E a equação não fecha. Lembra mais uma inequação onde o produto por um ente negativo muda o sinal de maior para menor, e a vontade que se tem é de jogar tudo para o alto e querer começar tudo de novo: conta sobre conta, número sobre número, como ensinam os professores de matemática.

Quando os governos colocarem como política de estado a valorização dos professores, talvez a coisa mude de figura. Minha geração não vai se beneficiar desta mudança. Até porque a mudança tem que ser na base, especialmente quando conseguirmos escolher dirigentes com base no plano de governo e não no proselitismo barato, no discurso fácil e acompanhado de sorrisos debochados e tapinhas nas costas.

Tenho muito medo das próximas gerações de estudantes, porque estou vendo ser formada a nova geração de professores.

Desculpem pelo desabafo, mas estava precisando...

 

Pesquisador piauiense descobre nova espécie de planta

Mais uma nova espécie foi descoberta pela ciência. Desta vez a espécie Calea diamantinensis, encontrada nos campos rupestres do Cerrado de Minas Gerais. A descoberta foi feita pelo pesquisador piauiense Genilson Alves dos Reis e Silva, Doutor em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em Minas Gerais.

Prof. Dr. Genilson Alves Reis e Silva. Fonte: Arquivo Pessoal.

A planta é um arbusto perene que cresce em áreas da Cadeia do Espinhaço na região central do Estado de Minas Gerais, mais precisamente no município de Diamantina (MG). A descoberta da planta foi fruto do desenvolvimento da tese do Prof. Genilson, orientada pelo Dr. Jimi Naoki Nakajima, um dos maiores especialistas mundiais nas plantas da família botânica das Asteráceas. Esta família é uma das maiores do Reino Vegetal e compreende muitas espécies bem conhecidas, como as margaridas e girassóis.

Calea diamantinensis. Fonte: Arquivo Pessoal.

A descoberta de uma nova espécie é precedida por coletas e muitas horas de estudos com as plantas. Em geral as plantas são coletadas, devidamente processadas e fazem parte da coleção de um herbário. O herbário é uma espécie de “biblioteca” de plantas desidratadas para serem estudadas e que servem de testemunhos para estudos que envolvem plantas, como por exemplo estudos farmacológicos. Para chegar à conclusão de que se tratava de uma nova espécie o Prof. Genilson chegou a examinar plantas de 19 herbários espalhados pelo Brasil, dentre eles o Herbário do Museu Nacional, Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Herbário do Jardim Botânico de São Paulo.

A descoberta de uma nova espécie abre uma nova lacuna de estudos a serem desenvolvidos com aquela planta. Um ponto importante é a necessidade de se proteger a nova espécie uma vez que ela foi encontrada em uma população restrita em área de campos rupestres da Cadeia do Espinhaço em uma altitude que varia entre 1060 e 1430 metros acima do nível do mar. A espécie, mesmo sendo nova, já é classificada como criticamente ameaça de extinção.

Cadeia do Espinhaço. Fonte: Arquivo Pessoal.

Sobre o pesquisador

Genilson Alves dos Reis e Silva é natural da cidade de Valença do Piauí e professor do Instituto Federal do Piauí, campus Valença. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí, com mestrado em Botânica pela Universidade Federal Rural da Amazônia e doutorado em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa. Já participou de vários programas. No Brasil, como pesquisador, participou do programa PPBIO (Programa de Pesquisa em Biodiversidade), e no exterior participou de curso na Faculdade de Agronomia de Montevideu (Uruguai) e realizando atividades de pesquisa no Herbário da Universidade Autônoma do México (Cidade do México). Atualmente, é o coordenador do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFPI, campus Valença e desenvolve pesquisas acerca da diversidade vegetal na região valenciana.

 

Darwin day

12 de fevereiro é uma data comemorada no mundo todo como Darwin Day. A data comemora o nascimento do naturalista inglês Charles Darwin. Mas quem foi Charles Darwin e qual a sua contribuição?

Charles Robert Darwin nasceu em Shrewsbury, Inglaterra em 12 de fevereiro de 1809 e faleceu em Downe, Kent, Inglaterra em 19 de abril de 1882. Foi um naturalista, geólogo e biólogo britânico que ficou conhecido por seus trabalhos que resultaram nos avanços e progressos sobre Evolução dos Seres Vivos. A sua Teoria da Evolução por meio da Seleção Natural foi resultado dos seus estudos e dos estudos desenvolvidos de modo independente pelo também naturalista britânico, Alfred Russell Wallace. Darwin estabeleceu a ideia que todos os seres vivos descendem de um ancestral em comum, argumento com boa aceitação e considerado um conceito fundamental no meio científico. No corpo de sua teoria propôs que os ramos evolutivos são resultados de seleção natural e sexual, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências similares às da seleção artificial.

Sua obra mais importante é o livro “A Origem das Espécies”, cujo a primeira edição esgotou no mesmo dia em que chegou às livrarias, causando espanto na sociedade e comunidade científica da época, e conseguindo grande aceitação nas décadas seguintes, superando a rejeição que os cientistas tinham pela ideia da transmutação de espécies. Já em 1870, a evolução por seleção natural tinha apoio da maioria dos intelectuais. Sua aceitação quase universal, entretanto, não foi atingida até à emergência da síntese evolutiva moderna entre as décadas de 1930 e 1950 quando um grande consenso consolidou a seleção natural como o mecanismo básico da evolução. A teoria de Darwin é considerada o mecanismo unificador para explicar a vida e a diversidade na Terra.

Um resumo sobre a vida de Charles Darwin retirado da Wikipédia:

Nome completo

Charles Robert Darwin

Nascimento

12 de fevereiro de 1809 em Shrewsbury, Shropshire, Reino Unido

Morte

19 de abril de 1882 (73 anos), Downe, Kent, Reino Unido

Residência

Down House, Downe, Kent, Reino Unido

Progenitores

Mãe: Susannah Darwin; Pai: Robert Darwin

Cônjuge

Emma Wedgwood

Ocupação

  • Cientista natural
  • Geólogo

Principais trabalhos

A Origem das Espécies (1859); A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo (1871)

Prêmios

Membro da Royal Society (1839); Medalha Real (1853); Medalha Wollaston (1859); Medalha Copley (1864); Legum Docto (Honorário), Cambridge (1877)

Religião

Agnóstico (anteriormente anglicanismo)

Já escrevemos em outras ocasiões sobre Charles Darwin aqui no Ciência Viva. Reveja.

Feliz Darwin Day!!!

(Com informações da Wikipédia)

Efeitos das mudanças climáticas

Estudo publicado na revista Science Advances confirma previsões um tanto quanto catastróficas sobre o aumento da aceleração as correntes oceânicas. De acordo com a oceanógrafa Susan Wijffels, do Wood Hole Oceanographic Institution, a energia das correntes oceânicas aumentou cerca de 15% por década. O estudo utilizou dados coletados entre 1990 e 2013.

Segundo o oceanógrafo Hu Shijian do Instituto de Oceanologia da Academia Chinesa de Ciências, suspeita-se que este incremento energético nas correntes oceânicas seja atribuído às mudanças climáticas que adicionaram energia às correntes. Enquanto algumas correntes aceleram como a Corrente Agulhas, que corre ao longo da costa leste da África, outras reduziram seu potencial, como a Corrente do Golfo no Atlântico. O derretimento das geleiras no Ártico gera o afundamento de água salgada no Atlântico Norte provocando a aceleração das correntes no Oceano Pacífico.

De acordo com Hu, o estudo precisa ter este enfoque global, exatamente para que se perceba a extensão do fenômeno, além da percepção de que eventos em locais bastante distantes se integrem provocando efeitos variados, às vezes até antagônicos, em regiões completamente distintas.

Hu e sua equipe escolheram modelos de reanálise de dados das medições de correntes realizadas por robôs flutuantes que capturaram dados de variação da temperatura da água e da salinidade por cerca de 2.000 metros de profundidade, de diferentes pontos dos oceanos. A oceanógrafa Alison Gray da Universidade de Washington, em Seattle, diz-se surpresa com a magnitude da aceleração.

Recentemente tratamos dos efeitos das mudanças climáticas aqui no Ciência Viva. Estas modificações estão ocorrendo de fato e existem vários indícios de que podem trazer dissabores, como por exemplo esta descompensação pluviométrica recente observada em Minas Gerais e no Espírito Santo, além das chuvas que tem assolado os estados da região Nordeste. As mudanças estão acontecendo de fato. O que se discute, muitas vezes são as causas. A defesa dos ecologistas recai sobre a forte influência humana no processo. Entretanto, alguns cientistas, apesar de aceitarem que as mudanças estão se processando, minimizam os efeitos provocados pelo homem, usando outros períodos de mudanças climáticas intensas, mesmo em épocas que o homem não teria o mesmo poder que tem hoje em poluir a Terra ao ponto de provocar os aumentos de temperatura (com suas respectivas consequências), tão propaladas por segmentos importante como o Painel Internacional de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, sigla em inglês).

Na minha opinião como cientista, as mudanças climáticas são claramente perceptíveis. Não acredito que o homem seja o único culpado. Penso que este fenômeno seja cíclico e tem por influência diferenças de posição da Terra em relação ao Sol e até mesmo o potencial de liberar energia de modo diferenciado da nossa estrela principal.

Seguimos observando estas variações e que os cientistas sigam ampliando seu acervo de conhecimento sobre o tema, para favorecer a proteção dos demais seres vivos e para nossa própria preservação enquanto espécie dominante da Terra.

Boa semana para todos (as).

Atlas das serpentes brasileiras

Com extensão territorial de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o Brasil abriga zonas biogeográficas, biomas, fauna e flora distintos. Integrando o grupo dos 17 países megadiversos, a variedade e a singularidade demonstra a riqueza e a importância nacional na manutenção da vida no planeta. Conhecer, catalogar e definir áreas endêmicas de espécies é um desafio constante. Com esse propósito, 32 pesquisadores da América Latina se reuniram para mapear as áreas de ocorrência de serpentes no Brasil. O trabalho pioneiro é o maior já feito nesse sentido, mapeando 412 espécies de serpentes.

O mapeamento da biodiversidade é fundamental para a delimitação de áreas de proteção, para o estabelecimento de políticas públicas e a evolução conhecimento científico. A pesquisa resultou no Atlas das Serpentes Brasileiras, publicado na South American Journal of Herpetology, revista científica da Sociedade Brasileira de Herpetologia, dedicada ao estudo de répteis e anfíbios. Para a determinação prática do trabalho, o grupo consultou 160 mil exemplares de serpentes preservadas desde o século XVIII, recorrendo a 140 coleções biológicas de universidades e museus de história natural do país e do mundo. A identificação de cada cobra foi verificada por pelo menos um especialista da equipe e por pesquisas anteriores. Além disso, demonstrou a distribuição e ocorrência de cada espécie nas paisagens naturais e as serpentes exclusivas do Brasil.

Segundo Costa, os dados coletados apontam que em muitas áreas da Amazônia não há registros de nenhum exemplar de serpentes em coleções biológicas. Esse fator está ligado à proximidade dos centros de pesquisas a grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Belém e Brasília, onde cientistas já investigam há décadas a ocorrência das serpentes.

Nacionalidade brasileira

Do total de 412 espécies analisadas, 163 são exclusivamente brasileiras. Em avaliação percentual, esse dado corresponde a 39% das serpentes catalogadas. Outra característica apontada é o fato de em geral cada espécie de serpente brasileira viver em uma ou poucas regiões – conceito que os cientistas definem como ‘endemismo’ –, evidenciando a adaptação de cada espécie a condições ambientais particulares, como o tipo de vegetação, temperatura, volume de chuvas e relevo. Esses fatores implicam diretamente na sua distribuição geográfica.

As regiões brasileiras com maior concentração de serpentes endêmicas estão no sul da Mata Atlântica (na região das matas de Araucárias), os pampas, a Serra do Mar (no litoral do sudeste), e a Serra do Espinhaço (que cruza Minas Gerais e Bahia). O sudeste baiano, as áreas altas do Ceará, as dunas do rio São Francisco (na Bahia), a bacia do rio Tocantins, o oeste do Cerrado e o norte da Amazônia também compõem esse cenário. Os pesquisadores ponderam que isso reflete o quanto o país é rico, com diferentes zonas que abrigam grupos variados de espécies de serpentes – mas que, ao mesmo tempo, vêm sofrendo grande pressão de ações humanas, especialmente da agropecuária e do setor energético.

Contribuições

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), hoje, cerca de 30 espécies de serpentes do Brasil correm o risco de extinção. Os mapas produzidos no Atlas já estão sendo utilizados, de forma preliminar, para as discussões sobre o estado de conservação das serpentes, por meio da colaboração com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A publicação também influencia em ações de preservação, uma vez que auxilia na estimativa das áreas de ocorrência que foram alteradas pela ação humana, permitindo verificar o nível de ameaça.

Bibliotecas da vida

O mapeamento, que tem por base as coleções biológicas de todo país, demonstrou que muitas das áreas naturais de coletas dos animais não existem mais: foram transformadas em grandes cidades, plantações, pastagens, rodovias e hidrelétricas. As coleções biológicas têm cumprido a função documental de resgate à memória da biodiversidade nacional. As informações dos acervos, que estão abrigados em universidades, centros de pesquisa e museus de história natural, proporcionam o desenvolvimento científico em áreas tão distintas como a ecologia, a indústria farmacológica e a inteligência artificial, funcionando como uma grande biblioteca da vida.

(Com informações do Jornal da Ciência)

 

Pâncreas artificial

A vida de quem tem Diabetes pode melhorar a partir da novidade aprovada no final de 2019 pelo FDA (US Food and Drug Administration, a agência norteamericana que autoriza o uso de novos alimentos e medicamentos para a população do EUA). A ideia foi juntar dois recursos que já existiam em um só gerando um pâncreas artificial. Antes vou falar um pouco sobre o Diabetes e o Pâncreas.

No sistema digestivo temos uma glândula chamada Pâncreas que faz dois papeis muito importantes. Ela produz uma secreção chamada Suco Pancreático que atua em processos digestivos no intestino delgado. Esta secreção contém enzimas importantes como lipases (que quebram gorduras), proteases como a tripsina e a quimiotripsina (que quebram proteínas) e a amilase pancreática que ajuda na degradação do amido. Esta é sua função no Sistema Digestivo. Além disso, o pâncreas produz hormônios que atuam no controle da quantidade de açúcar circulando na corrente sanguínea: a insulina auxilia na retirada do excedente de açúcares repassando-o para o fígado e para células musculares e do tecido adiposo. Já o glucagon tem função antagônica: ele atua na quebra do glicogênio (que é um açúcar de reserva) que se transforma em glicose disponível na corrente sanguínea. Esta é função do Pâncreas no Sistema Endócrino.

O Diabetes se caracteriza exatamente pelo excedente de glicose no sangue, ou pelo mau funcionamento do pâncreas na produção de insulina (o que caracteriza a Diabetes tipo 1) ou por desenvolver resistência à insulina (o que caracteriza a Diabetes tipo 2). Mas como eu dizia, a vida do diabético tipo 1 pode melhorar bastante, pois o FDA autorizou a produção de um pâncreas artificial.

Um conjunto de sensores é capaz de perceber quando a quantidade de glicose aumenta, a partir de um contato subcutâneo com a corrente sanguínea. Este conjunto se liga a uma pequena bomba de insulina que, induzida por um software de inteligência artificial, libera a quantidade de insulina necessária para suprir a deficiência de insulina no paciente. Uma combinação perfeita!

Conversei com o Dr. Wallace Miranda, que tem doutorado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) e estudou exatamente particularidades da Diabetes tipo 2, se o Pâncreas Artificial poderia ser usado por todos os tipos de diabéticos. Ele afirmou que os pacientes com Diabetes Tipo 1 são os mais indicados para uso do novo recurso, mas pacientes com Diabetes tipo 2 com quadro de falência pancreática também podem se beneficiar da novidade. Acompanhe uma explicação detalhada sobre o pâncreas artificial do Dr. Wallace Miranda.

A ciência tem contribuído dia após dia com a melhoria das condições de vida dos pacientes. Vamos aguardar mais novidades.

Boa semana para todos (as).

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