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Balaiada: quando a pesquisa vira um monumento

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Desde cedo, estudando sobre a História do Brasil, passamos por uma panorâmica visão das revoltas país afora, por motivos diversos, às vezes questões regionais, às vezes eventos relacionados às mudanças e lutas pelo poder ou contrariando regimes em curso, como no caso da Batalha do Jenipapo, que aqui no Piauí, caracterizou-se como uma luta em defesa da Independência do Brasil.

Estes momentos históricos merecem ser constantemente lembrados, não somente nos espaços acadêmicos, mas, sobretudo, nos diferentes segmentos educacionais, incluindo a possibilidade de se transformares em museus, monumentos, exposições permanentes ou outras formas de envolver a população como um todo, num processo de educação informal, inclusive. Os fatos históricos são um patrimônio de um povo, muitas vezes motivação para orgulho e recrudescimento da sua autoestima.

Ontem estive em Caxias (MA) e tive a oportunidade de conhecer o Memorial da Balaiada e o Mirante da Balaiada, situados em frente ao Campus da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). O Memorial reúne uma pequena coleção de objetos que remontam o período da Balaiada que iniciou em 1838 e foi um dos mais longos movimentos populares de revolta, fortemente reprimido pelas forças do Império. Embora muito simples, o Memorial apresenta o acervo organizado com base em pesquisa prévia, inclusive com peças resultantes de garimpo arqueológico, como é o caso de botões de roupas e insígnias militares e balas encontradas na região da fortificação construída no local e conservada dentro do sítio do Memorial.

O Memorial que foi inaugurado em 2004 recebeu uma estrutura no entorno inaugurada no ano passado pela Prefeitura de Caxias. Conhecida e visitada todos os dias da semana, o Mirante da Balaiada privilegia seus visitantes com uma bela visão da cidade de Caxias. Além do Mirante para visualização da paisagem e o Mirante dos Desejos, onde o visitante pode fazer uma fezinha e jogar uma moedinha (de acordo com a placa as moedas são recolhidas e destinadas a instituições de caridade) a área guarda um pequeno bosque, alguns viveiros com animais, lojas e lanchonetes e para os amantes da literatura pequenas placas com poesias e outros textos produzidos por poetas maranhenses espalhadas ao longo da trilha.

O Mirante e o Memorial da Balaiada são mais uma estratégia de popularização da ciência, levando aos visitantes uma experiência que só agrega aprendizado com prazer. De parabéns os pesquisadores que converteram pesquisa em informação transposta para os visitantes e a Prefeitura pela manutenção da área em excelente condição aos visitantes.

Se puder visite! Caxias está a cerca de 60 km de Teresina e é uma cidade bem agradável!

Boa semana a todos (as)...

 

 

Será que o homem já foi à Lua?

Em 20 de julho de 2019 completaram-se exatos 50 anos que o Homem pisou no solo da Lua. Uma aventura fantástica, considerando a tecnologia que existia para época. A missão Apollo 11 formada pelos Astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins, usou o foguete Saturno V SA-506, o módulo de comando Columbia, comandado por Collins e módulo lunar Eagle, que conduziu Aldrin e Armstrong até a superfície do nosso único satélite natural.

Eu tinha um ano e pouco de idade e por isso nem tenho como tentar lembrar de algo. Mas a história do pouso na Lua e as missões que a sucederam influenciaram não somente a minha infância, mas a de boa parte dos nascidos no período em que a Terra mandava visitantes lunares regularmente [um dos meus brinquedos favoritos era uma astronauta que andava numa espécie de triciclo (“veículo lunar”), cujas pilhas ficavam nas costas do astronauta. Uma espécie de Buzz lightyear da década de 1970].

Ao todo 12 homens tiveram o privilégio de pisar no solo lunar, coletar amostras e fazer pequenos experimentos, de um total de seis missões bem-sucedidas para o pouso na Lua: Apollo 11, 12, 14, 15, 16 e 17. A missão Apollo 17 encerrou em dezembro de 1972. Todas as missões à lua aconteceram na gestão de um único presidente dos EUA: Richard Nixon. O vídeo a seguir mostra as imagens de Neil Armstrong pondo os pés na lua pela primeira vez. Veja:

Sempre me perguntei porque o homem foi várias vezes à lua quando eu era um bebê e a tecnologia avançando cada vez mais e ninguém se aventurou em continuar com a façanha? Pelo que li a conquista à Lua foi muito mais para provar que os norte-americanos eram mais preparados tecnologicamente do que qualquer outra nação. Uma queda de braço, especialmente com os russos que em 1961 tinham conseguido mandar o cosmonauta Iuri Gagarin que passou 108 minutos em órbita em torno da Terra e se admirou com a beleza azul de nosso planeta.

As pessoas que escreviam sobre ficção científica já apostavam que no ano 2000 teríamos voos frequentes entre Terra e Lua, ou até mesmo outros planetas. E o que aconteceu? As dezenas de teorias da conspiração defendem que o homem nunca foi à lua.

É estranho que de fato apenas no Governo Nixon os programas espaciais norte americanos tenham se voltado para outras aventuras espaciais e tenham deixado de lado a lua. Na verdade, a lua parece não ter os atrativos imaginados, pelo menos é no que acredito. Mas os patronos das teorias da conspiração falam que existem várias evidências de que o homem nunca tenha pisado de fato na lua, e que Hollywood, através de Stanley Kubrick, o diretor de 2001, Uma odisseia no espaço, “dirigiu” os pousos lunares em alguma parte das regiões desérticas dos EUA.

Vejamos algumas destas “evidências”:

1) Existem estudos baseados nas imagens que foram fotografadas na lua. Segundo os defensores da ideia (e isto eu já vi em algumas imagens da NASA), as sombras dos astronautas e dos equipamentos apontam para diferentes direções, demonstrando a existência de fontes de iluminação diferentes. A princípio todas das sombras deveriam apontar para a mesma direção porque na lua a única fonte de luminosidade é o sol;

2) Há uma foto clássica da bandeira norte americana tremulando. Se na lua não tem atmosfera, lá também não tem vento. Por que a bandeira ficou tremulando?

3) Há uma foto clássica da pegada do astronauta registrada no solo lunar. Se na lua não tem água, como pode ter formado uma pegada em alto relevo, como a que fica quando pisamos na lama (se na lua não tem água, logo não tem lama)?

4) As fotografias que estão disponíveis tiradas na lua durante as missões também são outro ponto de concordância entre os céticos: como nos anos 1970 não existiam câmeras digitais todas as fotos foram registradas em filmes fotográficos. Ocorre que, de acordo com a fabricante dos filmes na época, não existiam filmes que suportassem a variação de temperaturas de saída e reentrada da atmosfera. Os filmes não teriam resistido e as imagens teriam sido danificadas.

Assista o vídeo a seguir e tire suas próprias conclusões:

 

Pelo sim, pelo não prefiro acreditar que a nossa engenhosidade vai um pouco além do ceticismo e da criatividade de alguns. Creio que a lua já foi objeto da nossa conquista. Talvez a falta de atributos rentáveis que pudessem custear novas missões tenha sido o principal fator que suspendeu as contínuas viagens espaciais. Torço para que tenha sido uma grande verdade com lacunas mal explicadas.

Boa semana para todos (as). E viva a Lua!!!

Estresse pode provocar mudanças sexuais

Foi publicado no último número da revista Science Advances, publicada dia 10 de julho um estudo de pesquisadores de universidades da Nova Zelândia e dos EUA que situações de interação social que envolvem estresse podem provocar reviravoltas na constituição sexual de alguns indivíduos.

Aprendemos desde cedo que as definições sexuais ocorrem ainda no desenvolvimento embrionário e que, ao nascermos, as expressões de determinados genes desenham tanto os aspectos morfológicos quanto comportamentais, regidos especialmente por cromossomos com atuação específica. Mas o que os pesquisadores liderados pela Dra Erica Todd, pesquisadora da Universidade de Otago, Nova Zelândia, e seus colegas descobriram é que alguns organismos podem mudar totalmente o sexo.

Dra. Todd trabalha com espécies de peixes com características hermafroditas e sua pesquisa tem como objetivo entender como este fenômeno ocorre com algumas destas espécies. Os cientistas reconhecem 27 famílias de peixes com a possibilidade de modificarem o sexo ao longo da vida. O grande desafio é entender o mecanismo fisiológico que norteia este processo e quais são os fenômenos que funcionam como gatilho para estas mudanças.

Os pesquisadores analisaram o peixe marinho que vive nos recifes de coral conhecido como Bluehead wrasses (Thalassoma bifasciatum), conhecido também como Gudião azul ou bodião-da-cabeça-azul (foto).

Fonte: poseidonscollections.com

Trata-se de uma pequena espécie que, em condições de estresse muda radicalmente de fêmea para macho. A equipe da Dra. Todd identificou a existência de um gatilho primário que modifica a expressão do gene responsável pela codificação da enzima conhecida como Aromatase, responsável pela conversão de androgênios em estrogênios. Fatores ambientais que estressam os peixinhos desencadeia um colapso em cascata da expressão gênica feminilizante e identifica a neofuncionalização de genes específicos do sexo.

A pesquisa utilizou informações de sequências de RNA dos peixes usados nos experimentos, constatando uma alteração na funcionalidade (neofuncionalização) das gônadas dos peixes, observando a conversão de ovários em testículos.

Estudos desta natureza são capazes de explicar os efeitos de fatores presentes na natureza e que podem influenciar em alterações drásticas nos seres vivos.

Até o próximo post...

Educação X Economia X Meio Ambiente: o que essa tríade tem em comum?

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Esta frase do líder sul-africano Nelson Mandela resume algo que a maioria das pessoas pensa, mas não pratica. Especialmente as pessoas que são tomadoras de decisão e que podiam, dentro de determinados limites, obviamente, mudar drasticamente o cenário educacional.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou há cerca de 20 anos atrás o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – o PISA (sigla em inglês) para tentar medir a evolução dos estudantes em uma comparação em nível mundial. O teste consiste em aplicar um instrumental para medir o conhecimento, especialmente a aplicação deste conhecimento nas atividades cotidianas, de adolescentes com 15 anos de idade. Os estudantes são avaliados em três frentes: Matemática, Ciências e Letramento (verificação no idioma pátrio de cada estudante). O resultado do Brasil chega a ser desastroso.

De 2000 para cá, o número de países que realizam o PISA vem crescendo, e os estudantes brasileiros sempre amargando as últimas posições. Quando se fala de estudantes não estamos nos referindo apenas aos que estão nas escolas públicas (a grande maioria). Citamos também estudantes de escolas privadas que, também, são submetidos a mesma prova. Enquanto nossos discentes amargam a posição 59, de um total de 70 (obtiveram a 58ª em letramento, 63ª em Ciências e 65ª em Matemática), estudantes da Finlândia, Coreia do Sul e Japão estão se peitando entre os primeiros da lista, de acordo com o resultado do PISA realizado em 2018. Mas vem a pergunta: como o país que se situa entre as 10 maiores economias do mundo está próximo da posição 60 no ranking da educação?

Se analisarmos a balança comercial brasileira, dos dez produtos que mais exportamos, nove estão muito mais relacionados às nossas riquezas naturais do que a qualquer outra coisa. O bem que mais exportamos e que tem maior valor agregado de conhecimento e desenvolvimento tecnológico são os aviões produzidos pela EMBRAER – que recentemente foi vendida para empresa estrangeira. Os nove produtos restantes ou são alimentos (com algum valor agregado graças às pesquisas relacionada com a produção das culturas em larga escala ou até ao melhoramento genético) ou fruto do extrativismo, principalmente mineral, já que petróleo e ferro estão entre as estrelas da balança comercial brasileira.

Para conseguir essa boa performance, especialmente na produção de alimentos como a soja, o Brasil tem pago um preço muito alto, no que se refere a perda de áreas nativas, consequentemente perda de biodiversidade animal e vegetal, para que estas áreas sejam substituídas por plantios de diferentes culturas. Assim, estamos mantendo a boa posição na balança comercial mundial porque estamos substituindo algumas riquezas ainda não descobertas (estimo que a perda de diversidade pode está jogando fora organismos desconhecidos e que poderiam ter potencial tanto alimentício quanto para produção de substâncias para composição de drogas para o tratamento de muitos dos nossos males) pelo plantio de monoculturas ou pela exploração de minérios para suprir o mundo, com produtos de baixo valor comercial, por ter baixo valor agregado. Com isso quem mais sofre é o meio ambiente.

Apenas para citar um caso mais próximo nosso. Dentre os produtos que o Estado do Piauí vende, de acordo com dados de pesquisa do Comércio Exterior, captado através do sítio eletrônico www.dataviva.info, estão em primeiro lugar a Soja (76%), as Ceras Vegetais (9,2%) e o farelo de soja (6,5%) (veja figura).

Produtos exportados do Piauí (2018). Fonte: DataViva.info

Um produto agrícola (soja) que para ser produzido exige um volume de desmatamento sem precedentes; um produto extraído das nossas matas (ceras vegetais leia-se especialmente o pó da cera de carnaúba) e um produto industrial advindo da maceração de um produto agrícola (farelo de soja), todos produtos de baixíssimo valor agregado.

O ponto mais importante a ser notado é se consequíssemos agregar algum valor para estes produtos conseguiríamos vendê-los por um preço bem melhor> Onde a educação influenciaria? Na formação de pessoas que pudessem pesquisar meios para melhorar o valor agregado para muitos dos nossos produtos. Se acontecesse veríamos as mudanças acontecerem.

Boa semana para todos (as)...

Descobertas sobre os hominíneos

Uma das grandes curiosidades da humanidade é entender um pouco mais sobre a origem da própria espécie humana. Inicialmente, antes do desenvolvimento da ciência, sempre fomos tratados como uma espécie “especial”, inclusive na perspectiva de sermos superiores aos demais organismos vivos. Talvez tudo porque nas escrituras sagradas avisa-se que somos feitos “à imagem e semelhança do Criador”.

De sorte que, com o desenvolvimento da ciência e o desenrolar da Evolução, vamos compreendendo que não somos a única “experiência” do Criador que lembra sua imagem. De acordo com o pesquisador brasileiro Walter Neves, um dos maiores estudiosos de hominíneos [animais parecidos com humanos que viveram no passado], há pouco mais de 50 mil anos éramos pelo menos seis espécies de “humanos” vivendo em regiões distintas do Planeta. Assista Walter Neves, o pesquisador responsável pela descoberta de Luzia, o mais antigo fóssil da espécie humana encontrado no Brasil, em Lagoa Santa, no interior de Minas Gerais, falando no USP talks:

 

 

Além de nós, Homo sapiens sapiens (sabido sabido), descendentes do Homem de Cro-Magnon, que viemos da África para dominar o planeta, existiram remanescentes do Homo erectus na Ilha de Java, na Indonésia, Homo sapiens neanderthalensis ou o Homem de Neanderthal, que habitou a Europa e boa parte do Oriente Médio, uma espécie muito parecida com o Neanderthal que foi encontrada em uma Caverna na Sibéria, Rússia, chamado de Homem de Denisova (que nem foi denominado cientificamente ainda, por mera falta de achados paleontológicos), e mais o Homo floresiensis, encontrado na Ilha de Flores na Indonésia e a mais recente descoberta, o Homo luzonensis, descoberto na Caverna de Callao, Ilha de Luzón nas Filipinas.

A pesquisa em busca de mais informações sobre nossas origens continua. No último exemplar publicado da Revista Science Advances, foi divulgado estudo de pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, que compararam sequências de DNA nuclear de fósseis de dois Neanderthais encontrados em locais diferentes: um na Caverna de Hohlenstein-Stadel na Alemanha e outro na Caverna de Scladina, na Bélgica. Estes dois fósseis já tinham sido comparados, mas utilizando DNA mitocondrial (DNAmt). Este estudo mais recente, jogou luz a respeito da origem mais próxima destes dois Neandethais, apontando para uma ancestralidade comum próxima entre eles. Se quiser ler o artigo completo, clique aqui.

Este tema vinculado à Evolução Humana já foi tratado algumas vezes aqui no Ciência Viva. Desde 2013 trabalho com o ensino de Evolução, o que me conduz a leituras frequentes sobre o tema. Reveja alguns posts aqui e aqui

Boa semana e até nosso próximo encontro...

 

O mar não está pra peixe

Tá todo mundo cansado de saber que a poluição afeta muito a vida no planeta Terra e nos mares, onde a maior parte dos seres vivos habita a situação não está diferente. É o excesso de plástico, é poluição dos combustíveis fósseis lançados pela atividade de petroleiros que, com pequenos vazamentos, conseguem poluir muito do ambiente marinho, é o aquecimento global, é a acidificação dos mares, enfim, não está fácil viver nos mares também.

E qual a novidade sobre isso? A novidade é que a situação está bem pior do possamos imaginar. Em 20 de junho passado Elizabeth Preston divulgou na Revista Science uma série de pesquisas em andamento que tentam entender os efeitos de diferentes formas de poluição nos órgãos sensoriais dos peixes, o que afeta diretamente sua sobrevivência e o estabelecimento de algumas espécies, impedindo-as de completar seus ciclos de vida dentro de ambientes completamente conturbados que são os mares.

Na Universidade de Delaware, por exemplo, a pesquisadora Danielle Dixson trabalha para entender os efeitos da acidificação na vida de um peixe-palhaço. O peixe-palhaço, que ficou mais conhecido com o desenho infantil Procurando Nemo, vive próximo de recifes de corais e outros cnidários (animais marinhos que congregam além dos corais as temidas caravelas) que têm como principal característica a liberação de substâncias ácidas. O peixinho, desde pequeno, percebe onde deve procurar abrigo com sensores para detectar acidez, mas com o mar ficando mais ácido, devido ao excedente de ácido carbônico, fruto da queima de combustíveis fósseis, como peixe-palhaço passará a orientar-se? Estará esta espécie correndo riscos? A pesquisa dirá. Abaixo, uma pequena amostra de um peixe-palhaço, fazendo performance nos aquários do Oceanário de Lisboa, em Portugal.

Fonte: F.S.Santos-Filho.

Outro projeto buscando a descoberta dos efeitos dos impactos humanos sobre a biota marinha é a desenvolvida pela bióloga Jenni Stanley do Centro Nordeste de Pesquisas Pesqueiras em Massachusetts que pesquisa sobre o efeito da poluição sonora nos mares, provocado pelo vai e vem de embarcações de motores possantes e barulhentos que atua competindo com os diferentes ruídos de espécies como o bacalhau. Algumas espécies de bacalhau soltam ruídos para orientar o deslocamento dos cardumes. O barulho emitido, segundo a Dra. Stanley atua na demarcação de territórios e na orientação do grupo, dentro de um barulhento ambiente que traz ruídos de muitas outras espécies, também incomodadas com a poluição humana na água.

Ulrika Candolin da Universidade de Helsinque na Finlândia estuda os efeitos das mudanças de coloração nas águas do Mar Báltico na comunicação de algumas espécies de peixe que atraem as fêmeas modificando sua coloração como um atributo de conquista sexual. Com as águas mais turvas a vida sexual de espécies como o Espadilho de três-espinhos que executa toda uma dança e com mudança de coloração para atrair a fêmea e agora se vê no prejuízo na hora de produzir descendentes. Efeito similar algumas espécies de ciclídeos que vivem no Lago Vitória na África também já foram detectados por pesquisas que constataram que a turbidez da água é um fator responsável, diretamente pela redução das populações destas espécies no lago.

As diferentes atividades humanas são verdadeiramente destrutivas. Nestes exemplos, pude mostrar indicadores da qualidade ambiental promovendo distúrbios nos sentidos da visão, audição e olfato ou percepção da acidez de algumas espécies de peixes. Com atividade maior ou menor em termos de impactos ambientais o homem tem corroborado muito com a destruição do planeta. O homem tem reforçado a premissa de que o mar não está nem para os peixes.

Boa semana e até a próxima...

Cientista piauiense descobre variações celulares nos pulmões asmáticos

Durante os 12 primeiros anos da minha vida sofri de bronquite asmática. É difícil tentar respirar e não conseguir encontrar o ar com facilidade. Foi um período terrível. A asma é a doença crônica mais comum do mundo. Além da dificuldade de respirar os asmáticos apresentam tosse, dor no peito e respiração ofegante. As vias aéreas ficam obstruídas e encharcadas de muco produzido nas células que as revestem.

Em artigo publicado esta semana na importante Revista Nature Medicine, com o título “A cellular census of human lungs identifies novel cell states in health and in asthma” (“Um censo celular de pulmões humanos identifica estados celulares na saúde e na asma”, em tradução livre) pesquisadores investigaram o perfil de células dos pulmões (parênquima pulmonar), das vias aéreas superiores e inferiores de pacientes asmáticos e de pacientes normais, para fins de comparação.

Locais de coleta das amostras celulares. Fonte: Vieira-Braga et al. (2019). Nature Medicine.

A experiência usou como amostra pacientes entre 40 e 65 anos, com histórico de uso de menos de 10 maços de cigarro/ano divididos em dois grupos: pacientes sem histórico de asma e pacientes com histórico de asma e uso de corticosteroides inalatórios. A coleta de material se deu a partir das paredes nasais e procedimentos de broncoscopias (retirada de amostras de tecido dos locais pesquisados mais profundos como vias aéreas inferiores e do parênquima pulmonar). As amostras de materiais foram submetidas a uma preparação para análise usando técnicas avançadas de citologia e sequenciamento do RNA em quase 37 mil células. O grupo de pesquisadores identificou o Transcriptoma das células das vias pulmonares. Transcriptoma é o estudo detalhado das sequências dos diferentes tipos de RNA (ribossômico, mensageiro, transportador e microRNAs). A pesquisa resultou num Atlas abordando aspectos morfológicos das células do sistema respiratório e detalhes em nível de RNA destas células.

Amostras de tecido pulmonar. Fonte: Vieira-Braga et al. (2019). Nature Medicine. 

A frente desta jornada está Dr. Felipe Augusto Vieira Braga, piauiense de Teresina, graduado em Farmácia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) com Mestrado pela Radboud University Nijmegen Medical Center e Doutorado pela Universidade de Amsterdan, ambas na Holanda. A publicação é fruto dos resultados de sua pesquisa durante o Pós-Doutorado na Universidade de Cambridge na Inglaterra.

Dr. Felipe Augusto Vieira- Braga. Fonte: Arquivo pessoal.

Eu conversei com o Felipe, através do aplicativo Whatsapp, que me explicou que este projeto é resultado de uma parceria entre as Universidades de Cambridge (Inglaterra) e Groningen (Holanda) e é financiado pela Indústria Farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) e que, com os resultados obtidos, torna-se possível a formulação de drogas mais eficazes para o tratamento da asma. Os resultados obtidos permitiram determinar um perfil que combina dados morfológicos das células e o perfil genético, com base na tipologia de RNA das células de quem apresenta problemas com a asma. A pesquisa também resultou na descoberta de um tipo de célula específico nos pulmões asmáticos responsável pela produção de muco. Trata-se do estado celular muco-ciliado, responsável por produzir o excesso de muco nos pulmões dos asmáticos.

Tipos celulares encontrados nos pulmões e vias aéreas. Fonte: Vieira-Braga et al. (2019). Nature Medicine.

A asma afeta cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. Somente no Brasil estima-se que existam mais de 6,4 milhões de pacientes asmáticos. Pesquisa publicada na revista da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, por pesquisadores da PUC-RS, em 2017, aponta que entre os anos de 2008 e 2013 quase 1,1 milhões de internações em todo o país foram motivadas pela asma, com uma despesa de quase 170 milhões de dólares com estes pacientes, o equivalente hoje a 646 milhões de reais. Esta mesma pesquisa encontrou um gasto médio de 160,48 dólares por paciente, porém com tendência ao crescimento. Vale lembrar que a pesquisa utilizou apenas dados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, não estão contabilizados recursos dispendidos por fontes privadas como planos de saúde e custeio direto com recursos particulares.

Já dá pra ver de cara que a pesquisa desenvolvida pelo Felipe Braga e outros colegas terá um impacto positivo muito grande no tratamento dos asmáticos. Os que acordam a noite procurando ar e uma bombinha para poder continuar respirando vão agradecer imensamente o trabalho de mais um piauiense que faz a diferença por onde passa...

Boa semana para todos (as)...

De volta ao passado

Já escrevi algumas vezes sobre algumas das riquezas paleontológicas encontradas aqui em Teresina, no Parque da Floresta Fóssil, aqui mesmo em Teresina. Se quiser rever clique aqui e aqui.

Já expliquei também como as árvores da floresta fóssil ficaram preservadas ao longo do tempo. Veja aqui.

Na floresta fóssil, além dos fósseis de árvores primitivas, de um grupo muito próximo das atuais samambaias, o local resguarda também sinais de que um dia tivemos uma praia aqui na região de Teresina. Aí fico pensando no que passa nas cabeças dos incrédulos: praia em Teresina???

Quando Alfred Wegener propôs a teoria da Tectônica de Placas... Oi?!? Explico: no passado todos os continentes formavam uma única placa continental chamada de Pangeia. Voltando: quando Wegener propôs que todos os continentes estariam encaixados formando um continente gigante, muitos desacreditaram, embora as evidências fossem muito fortes e recaíssem especialmente pela conformação da costa leste do Brasil e a costa oeste do Continente Africano, por exemplo. Aliás já tínhamos falado também que descobertas feitas no interior do Maranhão apontavam para as evidências de que a Pangeia realmente existiu. Reveja aqui.

Levando em consideração que a floresta fóssil existiu por volta de 240 milhões de anos e, nesta época, todos os continentes formavam a Pangeia por estarem unidos, muito provavelmente a cidade de Teresina, onde a floresta ficava, localizava-se em proximidade com alguma região africana, certo? Certíssimo!!!

A novidade é que não precisa ser nenhum grande cientista para saber sobre isso. Um site que reúne o maior conjunto de dados sobre dinossauros de diferentes espécies na internet resolveu criar um aplicativo que mostra uma terra interativa, em relação ao passado. Veja que o ambiente do site é bem simples:

Fonte: dinosaurpictures.org.

Quer testar? Clique aqui. Coloque o nome da cidade que quer saber onde ficava e, em seguida, escolha quanto tempo quer recuar.

Se escolher Teresina e recuar para 50 milhões de anos vai ver que faz todo sentido existirem fósseis de praia no sítio da Floresta Fóssil de Teresina [o pontinho cor de rosa é Teresina].

Fonte: dinosaurpictures.org

Boa semana e até o próximo post...

Pesquisadora piauiense promove saúde pública nas periferias

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Ultimamente as universidades brasileiras vêm sendo muito atacadas nas redes sociais, especialmente por pessoas que desconhecem a importância de uma Universidade no seio de uma comunidade. Sou professor universitário há 25 anos e sei de muitas histórias e por vezes uso o Blog Ciência Viva para tornar públicas algumas das coisas que tenho testemunhado de perto ou de longe.

Hoje vou contar a história do Projeto Parasitoses, criado pela Professora Doutora Simone Mousinho Freire. A Dra. Simone é minha colega na Universidade Estadual do Piauí. Como sua pós-graduação é na área de doenças parasitárias ministra na Graduação a disciplina Parasitologia.

Dra. Simone Mousinho. Foto: Acervo Pessoal.

A avalanche de notas baixas dos seus alunos motivou transformar parte da atividade de Ensino em um projeto de Extensão e de Pesquisa. Na prática, a professora introduziu a responsabilidade dos estudantes a buscarem crianças na faixa etária dos 3 aos 10 anos de comunidades carentes da periferia de Teresina como Vila Wall Ferraz, Vila Maria, Cerâmica CIL e Pedra Mole, coletando material biológico (fezes) para avaliar a presença de parasitas. Surgiu assim o projeto que tem como objetivo avaliar o Perfil Sócio Epidemiológico abordando o aspecto parasitológico de crianças. Ao todo foram feitas 483 investigações parasitárias na faixa etária estudada, mas mais de 500 atendimentos, compreendendo crianças fora da faixa pesquisada e com benefício direto para mais de 800 pessoas durante o período de realização do mesmo.

As atividades do projeto foram totalmente custeadas por doações. Além dos insumos para realização dos exames o projeto culminava com o dia “D”, no qual profissionais de diferentes áreas, todos voluntários, como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos se encontravam com a comunidade para realização de palestras, distribuição de medicamentos contra parasitoses, atividades lúdicas e atividades de educação, especialmente voltadas para orientações sobre como prevenir as doenças parasitárias e outros cuidados relativos à higiene. Em cada encerramento os beneficiados recebiam um kit formado por sabonete, pasta de dentes, escova de dentes, pente e chinelo, além do fornecimento de um filtro para a família atendida.

Como tudo que é bom dura pouco, este ano foi o último do projeto. Conversei com Simone que está satisfeita com os resultados, pois conseguiu a adesão de seus alunos que melhoraram seu desempenho na disciplina, mas cansou de correr atrás de doações, especialmente para esta finalização. Este ano, em razão da crise, não conseguiu nem o ônibus da Universidade para transportar os estudantes. Em razão da greve, com o esvaziamento do Campus, os estudantes foram à luta e pediram dinheiro nos sinais da cidade.

Participantes do projeto arrecadam recursos em um dos cruzamentos de Teresina. Foto: Projeto Parasitoses.

Esta é a realidade de muitos pesquisadores que trabalham, mas por vezes não conseguem ser reconhecidos nem pelos seus pares da academia, o que dirá da sociedade como um todo. Não é o caso da Simone. Tem o respeito dos seus colegas, alunos e ex-alunos e de crianças que podem ter tido sua vida salva com esta grandiosa ação.

Parabéns Dra. Simone Mousinho!

Boa semana para todos(as)...

Pesquisa detecta genoma do Pirarucu

Uma das coisas que mais me impressionou quando visitei a cidade de Belém (PA) foi conhecer o Pirarucu, dado o seu tamanho superlativo. O peixe é considerado o que tem uma das maiores taxas de crescimento entre as espécies que vivem na água doce.

Pesquisadores da UNESP associados com pesquisadores alemães realizaram estudos visando identificar o processo de sexagem do Pirarucu ainda na fase de alevinos. A pesquisa resultará na possibilidade de selecionar planteis para criação da espécie para fins de repovoamento e de criação com fins alimentares.

Fonte: Agência Brasil, EBC.

A pesquisa iniciou em 2015 com a parceria entre o geneticista alemão Manfred Schartl da Universidade de Würzburg e o geneticista brasileiro Rafael Nóbrega da UNESP de Botucatu (SP). A pesquisa resultou na descoberta de que o Pirarucu (Arapaima gigas) tem um sistema de determinação sexual parecido com o humano, que apresenta cromossomos sexuais distintos para o homem (XY) e semelhantes para mulher (XX).

A pesquisa foi além disso: com amostras de nadadeiras de 30 machos e 30 fêmeas coletados em uma fazenda no Acre, foi possível descobrir o genoma da espécie, em laboratórios de universidades francesas. O macho tem DNA com 666 milhões de bases e as fêmeas tem 664 milhões. O material foi comparado com outras 10 espécies de peixes com genoma conhecido e o seu parente mais próximo foi uma espécie de Aruanã encontrado na Ásia (espécies de Aruanãs também ocorrem nos rios Amazônicos). O pirarucu e o aruanã, de acordo com a pesquisa, dividem um ancestral comum que viveu há 200 milhões de anos atrás.

As pesquisas resultaram em publicação na Scientific Reports da Nature e revelou também a existência de 105 genes responsáveis pelo crescimento do animal, que pode atingir até três metros de comprimento e 220 kg de peso. As descobertas ajudarão a incrementar a criação em cativeiro, já que em razão dos parcos conhecimentos sobre o ciclo reprodutivo do animal a atividade não era muito explorada.

Até o próximo post...

(Com informações do Notícias UNESP)

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