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Ciência Viva na Quarentena!

Olá,

A partir de amanhã, sempre de dois em dois dias,  vamos postar uma sequência de textos sobre diferentes áreas da Ciência, contando um pouco sobre fatos científicos relevantes que ocorreram nos últimos anos.

O objetivo principal é proporcionar ao leitor assuntos que fujam um pouco da COVID19 que tem deixado todos bastante preocupados, seja pela doença em si, ou pelos impactos econômicos ou mesmo pelo desentendimento entre os nossos líderes políticos. O que importa é que teremos conteúdos e curiosidades diversas na área de ciências.

Este projeto é fruto da própria Quarentena, que nos proporcionou colocar muitas coisas em dia e ter novas ideias para agradar nosso público leitor.

Boa leitura!

Um planeta de joelhos

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Hoje demorei um pouco para postar minha opinião no Ciência Viva, porque não queria falar do assunto do momento, que é a pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Achei inevitável e na verdade queria poder dar uma boa nova que ainda não temos. Estou confinado em casa com minha família, saindo apenas para o essencial do essencial, mas pensando o tempo todo de que avançamos em muitos aspectos tecnológicos, todavia ainda padecemos das mesmas crises que dizimaram a humanidade como a peste negra do século XIV (as estimativas mais otimistas de que ela eliminou cerca de 75 milhões de pessoas) ou a gripe espanhola de 1918 que pode ter dizimado mais de 100 milhões de pessoas em vários países do mundo, incluindo o Brasil. Com um agravante em favor da COVID19: vivemos em um mundo extremamente globalizado.

No final do ano passado fiz com minha esposa uma viagem dos sonhos. Saímos do Brasil, fizemos escala em Paris (França), uma estadia de três dias em Lisboa (Portugal) e mais quatro dias em Porto (Portugal) e sete dias em Roma (Itália). Na Itália visitamos os principais monumentos, cercado por turistas do mundo inteiro. Roma é uma cidade repleta de estrangeiros, sejam visitantes ou trabalhadores. Nos contatos de rua comprei água na mão de um rapaz de Malawi, souvenirs com indianos, etíopes, chineses. Recebemos indicações e informações de marroquino, paquistanês e brasileiros (Veja na galeria algumas imagens de pontos turísticos, sempre muito cheios de visitantes e transeuntes). Ver a Itália com seus quase 5 mil mortos é uma visão desoladora, pois os dias que tivemos em Roma e Assis vimos que há vida pulsando por toda a parte e de todas as partes do mundo.

Contra a epidemia o mundo todo corre, seja para estabelecer rápidos planos de contingenciamento das contaminações, seja atrás de curas ou do teste de vacinas ou até mesmo testes rápidos para confirmação da doença, que se confunde com quase uma dezena de infecções no trato respiratório que são muito parecidas. Nos EUA o Presidente Trump solicitou resultados rápidos aos pesquisadores. H. Holden Thorp renomado cientista e editor da Science retrucou que depois de cortar verbas para pesquisa solicitar rapidez é um desaforo. O próprio Trump anunciou o possível uso da cloroquina, medicamento usado para combate da malária e doenças autoimunes como lúpus, que supostamente poderia trazer benefícios para portadores da COVID19. O efeito deste anúncio irresponsável fez os menos informados, patronos da automedicação aqui no Brasil correrem para as farmácias e deixarem os portadores de doenças incapacitantes como lúpus desamparados e sem o medicamento. Circulam nas redes sociais o desabafo da pesquisadora espanhola Leda Beck que mandou procurarem a cura com jogadores de futebol que recebem 1 milhão de euros por mês contra 1800 euros pagos para um pesquisador. A verdade é que sem disparar nenhum tiro este vírus deixou nosso planeta de joelhos.

O certo é que para o momento precisamos nos acalmar e nos manter com a redução máxima do convívio social. Em post anterior expliquei sobre a importância e a necessidade de isolamento, como um meio de atenuar a curva de contaminação e espalhamento da doença.

Para o momento: fique em casa, lave bem as mãos, se alimente bem, se hidrate bem e parta para entretenimentos que substituam o seu contato com as pessoas como assistir um bom filme ou ler um bom livro. Sigamos aguardando nossos profissionais da saúde conseguirem dominar mais esta enfermidade.

Boa semana para todos (as).

 

Por que precisamos nos isolar?

Com a chegada do novo coronavírus no Brasil (SARS-Cov2) e a possibilidade de chegada no Piauí, algumas medidas são muito importantes para evitar e barrar o avanço da doença (CoViD19). Como pesquisador que trabalha com divulgação científica e professor fui procurado por amigos, conhecidos e meios de comunicação para fazer alguns esclarecimentos, falando principalmente sobre o que se sabe sobre a doença, os meios de se evitá-la e os cuidados necessários para coibir este contágio. Por isso, mais uma vez escrevo sobre o assunto, que embora não seja minha especialidade, nas funções que exerço – de professor e de divulgador de ciência – me obrigam a fazer esclarecimentos necessários.

Durante o processo de epidemia, de uma doença que não dá trégua para os sistemas de saúde, o que inclui os países de primeiro mundo, como a Itália e a Espanha, que hoje são as nações que mais veem seus cidadãos sucumbirem e até perecerem ante a infecção que se alastra fortemente, ceifando vidas de todas as idades, mas principalmente os idosos, algumas decisões, especialmente as que falavam sobre a necessidade de estancar o contato entre as pessoas, nestas nações, demoraram a ser consideradas, primeiro pelas autoridades e depois pela população. Mas os especialistas são unânimes em afirmar sobre a necessidade deste isolamento, com a finalidade de ACHATAR A CURVA. Mas que curva é essa?

A velocidade de infecção pelo novo coronavírus em países como a Itália, ocorreu de modo exponencial, como se diz na Matemática. Na figura acima, em vermelho, temos uma representação de como seria a infecção com muitos casos ocorrendo ao mesmo tempo. Com isso, o sistema de saúde, representado na figura pela linha tracejada não conseguiria atender a todos ao mesmo tempo. Quando falamos em “achatar a curva” seria exatamente fazer com que os casos acontecessem, mas de forma mais lenta, como representado na curva em verde, dando tempo os primeiros doentes melhorarem e desonerarem o serviço de saúde.

Ao nos mantermos recolhidos em casa, reduziríamos as oportunidades de contágio e, com isso, achataríamos a curva. Por isso, seguem algumas recomendações:

1) Lave bem as mãos com água e sabão – o vírus tem um capsídeo lipídico, que se dissolve em contato com água e sabão.

2) Mantenha-se em casa. Se alimente bem e se hidrate bem. Evite saídas desnecessárias. Evite aglomerações. A alimentação ajudará a compor o seu sistema imunológico.

3) Ao encontrar um conhecido evite aperto de mãos, abraços e beijos. A contaminação ocorre através de gotículas de saliva e não poupa ninguém.

4) Se apresentar sintomas de gripe e tiver que sair, use máscara. O principal objetivo é não passar para outras pessoas.

5) Adie qualquer tipo de necessidade de viagem ou deslocamento. Sua saúde e de seus parentes é mais importante do que qualquer compromisso. O compromisso primeiro é com sua saúde.

E por último: LAVE BEM AS MÃOS. VAMOS ACHATAR A CURVA E NOS LIVRAR DESTE AGENTE INFECCIOSO USANDO O QUE TEMOS DE MELHOR: NOSSA INTELIGÊNCIA!!!

Até a próxima...

Educação Superior X Mercado: a demissão do conhecimento

Todo mundo que resolve seguir uma carreira, em geral, procura mirar no topo. Ao entrar na faculdade e ao se afeiçoar com o curso a meta de cada um é conseguir dar o melhor de si para se chegar no lugar mais alto, com mais prestígio e respeito dos pares. Faz parte da ordem natural das coisas tentar este intento, tanto nas carreiras em geral quanto nas carreiras acadêmicas.

A carreira acadêmica é composta da graduação e de tudo o que se fizer, com uma determinada carga horária, depois da graduação que, genericamente chamamos de pós-graduação (“pós” significa “que vem depois”). Assim, depois da graduação o estudante, agora formado, pode tentar seguir seus estudos e trilhar numa pós. Existem duas categorias de pós-graduação: a lato sensu e stricto sensu. Lato significa largo e Stricto, estreito, ambos do latim, numa referência ao afunilamento proporcionado pelas pós-graduações. Os cursos “Lato” são mais amplos e são representados pelos aperfeiçoamentos (cursos de no mínimo 180 horas) e especializações (cursos com um mínimo de 360 horas). Os cursos “Stricto” são os mestrados e doutorados que duram um máximo de dois e quatro anos, respectivamente. Todos estes cursos são marcados pela elaboração e em muitos casos (especialmente os “Stricto”) defesa pública (ou fechada quando há um segredo industrial em jogo, portanto, de valor financeiro considerável) de um trabalho de conclusão de curso, o temido TCC.

O ápice da carreira acadêmica se dá através do curso de Doutorado, quando o estudante atinge um nível de excelência, tornando-se “dono” de parte ínfima do conhecimento. Muitas pessoas pensam que depois disso ainda tem o “pós-doc”, uma referência carinhosa aos estágios pós-doutorais que, em geral, são períodos em que pesquisadores, já doutores, buscam trabalhar com pesquisadores que possuem uma experiência profissional maior, ou procuram se aperfeiçoar em técnicas mais sofisticadas, aprender coisas novas dentro do seu escopo de conhecimento ou atuar em pesquisas a fim de melhorar o desempenho acadêmico tão cobrado no meio científico das diferentes áreas do conhecimento.

A tradição acadêmica brasileira coroa a excelência exatamente pela formação de pós-graduados e sua respectiva produção. As instituições de ensino superior (IES) mais respeitadas são as que tem o corpo melhor qualificado e mais produtivo. Nas IES, diferente do que acontece nas escolas em geral, o conhecimento é produzido, é gerado. IES de excelência são as que produzem mais conhecimento. São as que depositam o maior número de patentes, são as que tem os melhores cursos de pós-graduação, os professores que publicam mais. Este é o fundamento de tanta correria para publicar artigos, livros, ensaios, orientar estudantes, participar de bancas examinadoras etc., etc., etc...

No Brasil, cerca de 95% do conhecimento gerado vem das universidades e quase a totalidade disso, das instituições públicas. Isso acontece porque a grande maioria das IES privadas só pratica um eixo do tripé da universidade: o Ensino. A pesquisa e a extensão são, em geral, missões exercidas mais fortemente pelas IES públicas. O afrouxamento das regras para o crescimento do segmento privado de IES fez surgir algo completamente esdrúxulo: a demissão por excesso de conhecimento. Sim! Isso mesmo que você está lendo. Muitas faculdades tem enxugado suas folhas de pagamento demitindo professores pelo grau de titulação. Foi Doutor, rua! Foi Mestre, rua! Algo impensável neste milênio! Não é menosprezando trabalho dos professores menos titulados, pelo contrário, muitos são excelentes no que fazem, que é reproduzir o conhecimento, ensinar. Mas e os que produzem conhecimento? Os pesquisadores? Nas IES privadas tem sido a presa fácil de um sistema hoje formado por verdadeiros conglomerados econômicos que resolveram investir no ramo das faculdades e universidades e, sem se preocupar muito com qualidade, demitiram seus quadros de profissionais com maior qualificação. Uma pena!

Certo dia, em uma roda de amigos, me perguntaram: quanto você ganha para publicar um artigo? Fiquei incrédulo com a pergunta, mas depois cai na real, porque a maioria das pessoas sequer sabe o que se faz numa universidade. Depois ainda tem inescrupuloso que generaliza dizendo que a regra é plantar maconha... Mas isso não vem ao caso agora.

Com muita tristeza vejo o desenrolar da Educação Superior do meu país em uma situação tão desestimulante. Não consigo enxergar boas perspectivas para as carreiras acadêmicas. No setor público, um desmonte que começa com um discurso ideológico imbecilizado, replicado nas redes sociais de forma clonal. No segmento privado, um imediatismo por lucros tão desmedido que transforma instituições de ensino antes respeitadas pelos resultados em escolões de nível superior. Um descalabro...

Torço para que se mantenham as ilhas de excelência e que estas possam crescer e se tornar continentes de qualidade. Bom domingo a todos (as).

Modelos matemáticos e o combate ao coronavírus

Dentre as armas que os cientistas recorrem com o intuito de combater epidemias estão os modelos matemáticos, considerados como estratégicos. Mais do que estimar como será a disseminação da doença, o número de infectados e o percentual de mortes e hospitalizações, essas ferramentas permitem simular numerosos cenários e, assim, testar a eficácia de intervenções que podem ser adotadas pelas autoridades de saúde para reduzir o contágio, como o fechamento de escolas, o cancelamento de eventos públicos e a restrição de viagens.

Modelos já bem estabelecidos para o estudo da gripe e outras infecções respiratórias podem ser adaptados com relativa facilidade para prever a disseminação do novo coronavírus, auxiliando governos e gestores de saúde no planejamento de ações para conter a transmissão e atender os doentes. Faltam, no entanto, algumas informações-chave para tornar as estimativas minimamente precisas, como, por exemplo, o percentual de pessoas que se infectam e não manifestam sintomas.

“Indivíduos com febre, tosse e desconforto respiratório têm maior probabilidade de irem ao hospital e serem testados. Os assintomáticos, por outro lado, não vão ao médico e, mesmo sem saber, podem transmitir o vírus para familiares, amigos e colegas de trabalho. Para descobrir quantas pessoas estão nessa condição seria necessário testar todo mundo – algo impossível neste momento, pois é preciso poupar recursos para o atendimento de quem está realmente doente”, disse a matemática Sara Del Valle, especialista em modelagem de doenças infecciosas do Laboratório Nacional de Los Alamos, nos Estados Unidos.

Na avaliação de Marcelo Gomes, pesquisador do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além do percentual de assintomáticos também é crucial determinar a taxa de infectividade desses casos, ou seja, o quanto indivíduos sem sintomas são capazes de transmitir o vírus. “Isso pode alterar drasticamente a capacidade de controlar a propagação da Covid-19. Se a transmissão ocorrer majoritariamente a partir de pessoas com sintomas, o cenário é mais favorável. Porém, em uma situação inversa, seriam necessárias medidas para reduzir o contato entre as pessoas que alcancem toda a população, como o fechamento de escolas, por exemplo”, disse.

Outro fator importante e que ainda não está claro é por quanto tempo pacientes curados permanecem imunes ao vírus. “Há relatos de pessoas que tiveram alta e, após alguns dias, voltaram a manifestar sintomas, foram testadas e tiveram resultado positivo para Covid-19 novamente. Pode ter sido uma recaída como também pode ser uma nova infecção. Neste segundo caso, a dinâmica da epidemia muda completamente, pois a imunidade temporária – se de fato existir – é muito curta, o que impede a ocorrência de um fenômeno epidemiológico conhecido como imunidade de rebanho, uma espécie de barreira de transmissão formada por indivíduos previamente infectados”, disse Gomes.

Del Valle e Gomes participaram, no dia 3 de março, de uma sessão especial sobre Covid-19 realizada durante o Workshop on Modelling of Infectious Diseases Dynamics, organizado pelo Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR) – um centro de pesquisa apoiado pela FAPESP e sediado no Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Paulo. A mesa de discussão contou com a pesquisadora Carrie Manore, também de Los Alamos.

Durante o evento, a frase “estamos apenas no começo” foi repetida inúmeras vezes pelos especialistas quando se referiam ao número de casos confirmados de Covid-19 no mundo.

No Brasil, segundo Gomes, torna-se mais difícil conter a disseminação à medida que o vírus invade a Europa e os Estados Unidos, locais com o qual o país mantém maior intercâmbio de turistas e viajantes a trabalho. Invasão nesse caso, ressalta o pesquisador, significa a existência de transmissão interna da doença e não apenas o registro de casos importados.

Com base em dados de tráfego aéreo, Gomes avalia que São Paulo é a cidade com maior risco de apresentar novas infecções no curto prazo, pois é onde desembarca a maior parte dos passageiros internacionais. As cidades que mais recebem voos oriundos da capital paulista são, na ordem, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador e Recife.

“Ainda é cedo para afirmar com precisão qual é a taxa de letalidade da Covid-19 e se a doença representa um problema de saúde pública maior do que a gripe sazonal ou as enfermidades causadas pelos coronavírus que já circulavam entre os humanos”, disse Gomes.

Ele arrisca prever, contudo, que caso o surto atual não seja adequadamente controlado, o SARS-CoV-2 pode se tornar um patógeno endêmico no país, que reaparece sazonalmente como o H1N1, um dos causadores da gripe.

“Não conseguimos conter o surto de H1N1 em 2009 e, agora, todo ano ele volta com pequenas modificações”, disse. "Por outro lado, essa experiência trouxe muitos ensinamentos para os profissionais em saúde pública e a comunidade científica internacional. Hoje estamos melhor preparados para lidar com pandemias. No Brasil, o Ministério da Saúde implementou a rede de vigilância de casos de síndrome respiratória aguda grave [SRAG], que estabeleceu a notificação obrigatória dos casos em território nacional. O desenvolvimento do InfoGripe [ferramenta de análise e monitoramento de casos de SRAG no Brasil e gera alertas semanais] não seria possível sem a rede de vigilância estabelecida em 2009."

(Com informações da FAPESP e da UNESP)

Biodiversidade do Meio Norte: mais uma chance de falarmos sobre o tema

Será lançado no próximo dia 11 de março no Auditório do TROPEN, às 17h, Universidade Federal do Piauí (UFPI), o terceiro volume do livro Biodiversidade do Meio Norte do Brasil: conhecimentos ecológicos e aplicações, resultado do esforço de publicação de 46 pesquisadores radicados nos Estados do Piauí e do Maranhão. O livro fecha uma série de três volumes iniciada em 2016 com continuidade em 2018 e fechando o ciclo agora em 2020.

Este volume traz 12 artigos que investigam a diversidade das plantas, com estudos inéditos na área das plantas de restingas do Maranhão, Caatinga do Piauí e Cerrados em áreas do Piauí e do Maranhão. Os estudos abordam ainda propriedades medicinais de algumas plantas e estudos sobre a anatomia e aspectos da mutagenicidade de algumas espécies. Fecham o livro dois artigos abordando animais: diversidade de mamíferos do Cerrado e sobre a conservação de aves nativas em zoológico. Todos os trabalhos são resultado de pesquisas inéditas desenvolvidas em diferentes níveis: fruto de iniciação científica ou realizada em pós-graduações Lato Sensu (cursos de Especialização) ou Stricto Sensu (Mestrados ou Doutorados) organizado por universidades de um dos dois estados.

A publicação de estudos científicos é um importante aspecto dos investimentos feitos em pesquisa, pois boa parte da população desconhece o que é feito nas universidades. Sem conhecer o que se desenvolve em laboratórios ou campos de experimentação pouco se valoriza aspectos de grande relevância. As publicações abrem espaço para discussão do conhecimento acumulado e geram perspectivas de novos estudos nas diferentes áreas abordadas. Os livros se revestem de um meio importante de divulgação, muito embora alguns pesquisadores prefiram a publicação em revistas e outros tipos de veículo, especialmente em razão dos custos. É importante explicar que os custos desta publicação são da responsabilidade dos próprios autores, pois nenhuma agência que fomente este tipo publicação reservou recursos para apoiá-la.

No ano passado publicamos aqui no Ciência Viva um convite para o lançamento do Volume 2 desta série. Desde 2011 atuo na organização de obras da relevância desta, popularizando estudos que poderiam ter permanecido sem a devida divulgação e que se mostraram relevantes para o desenvolvimento da pesquisa local. Alguns periódicos, tanto nacionais quanto internacionais apresentam, por vezes, restrições para aceitar manuscritos que versam sobre temas mais locais. Entendemos que, com o avanço do processo de degradação ambiental, estas obras terminam preenchendo esta importante lacuna deixada pelos periódicos, ajudando a informar descobertas sobre biodiversidade da região Meio Norte, um importante mosaico de ecossistemas que se encontram ameaçados, especialmente pelo desenvolvimento da agricultura e da pecuária. Entendemos que o desenvolvimento de uma região deve acontecer por vias absolutamente sustentáveis. A própria preservação da natureza prescinde de informações científicas confiáveis.

A obra já está a venda no site da editora (www.editoracrv.com.br). No dia do lançamento será vendido por valor promocional, diretamente com os organizadores.

Você é nosso convidado (a). Até lá!

O coronavírus está entre nós: o que fazer?

A epidemia do novo coronavírus, que recebeu a denominação científica de covid-19, chegou ao que a ciência chama de Pandemia. Como o vírus é de fácil veiculação, pois se transmite através de gotículas de saliva e contamina pessoas através das mucosas (bucal, nasal etc), sua transmissão já deixou a região de endemismo em Wuhan, na China e atingiu praticamente todos os continentes, alcançando o status de Pandemia.

A culpa deste fenômeno tem a ver com a globalização. As pessoas, em um vai e vem constante, terminam por veicular estas e outras doenças. E neste caso, o que mais assustam são as notificações quase em tempo real da expansão de doentes, de suspeitos e os poucos casos (ainda) de morte que, juntamente com uma ampla rede de mentiras, levam o terror para diferentes segmentos. Hoje assusta muito mais a disseminação das mentiras, via rede sociais – as fakes News - do que o vírus propriamente dito e a doença que ele causa. Mas temos motivos para entrar em pânico?

O medo de contrair a doença deve, na verdade, se revestir em cuidados dobrados com a higiene. Elegi uns pontos para abordar neste post que considero importante:

1) Trata-se de uma virose como a da gripe comum – Influenza – só que mais grave porque pode evoluir para uma síndrome respiratória;

2) Assim como a gripe comum, ela pode matar. Mas a morte decorreria muito mais de um estado de debilidade do sistema imunológico do que da ação do vírus propriamente dita;

3) Como a grande maioria das viroses, não existe medicamento para combater o covid-19. Os medicamentos servem para minimizar parte dos sintomas. Quem o combate é o próprio organismo. Por isso a alimentação adequada é condição essencial para que a contaminação não passe de uma gripe comum;

4) O segredo, então, é redobrar os cuidados com higiene. O vírus é formado por um duplo envelope constituído de lipídios (gorduras), por isso, água e sabão podem dissolver totalmente esta estrutura viral, eliminando-o;

5) Sabões e detergentes são mais eficientes na limpeza para evitar a contaminação do que o álcool gel. Mas na falta de uma pia com água corrente e algum saponáceo, passar o álcool ajuda a minimizar muito a contaminação;

6) Ao tocar objetos o ideal é lavar as mãos, para evitar que estas sejam levadas para boca, nariz, olhos etc. O vírus consegue permanecer sobre uma superfície até por sete horas (maçanetas, corrimões, paredes e objetos em geral);

7) O uso de máscaras é indicado para evitar a contaminação. Mas nem toda máscara cirúrgica serve para evitar, pois as partículas virais são muito pequenas e não seriam evitadas por qualquer tipo de máscara;

8) As autoridades brasileiras estão muito cautelosas e seguras do que fazem. Mas se cada pessoa não fizer sua própria parte, estas providências de caráter coletivo não surtirão efeito. Por isso lave bem as mãos com água e sabão e se alimente bem. Se você se contaminar use máscaras para evitar a contaminação de outras pessoas.

A pandemia está sendo acompanhada no mundo inteiro. Se você quiser saber mais clique no link a seguir. Ele atualiza os casos de contaminação no mundo inteiro em tempo real, além das mortes provocadas pela doença.

No Brasil já estamos com dois casos. Mas já tem gente trabalhando para combater o agente infeccioso: cientistas brasileiros em conjunto com cientistas ingleses decifraram o genoma do vírus 48 horas após a coleta do primeiro paciente brasileiro confirmado. A descoberta do genoma abre numerosas possibilidades para auxiliar no combate e no desenvolvimento de vacinas.

Não podemos descuidar para criar barreiras de contaminação do vírus. Devemos redobrar os cuidados com idosos. As chances de morte aumentam substancialmente com a idade.

A dica da semana é lavar bem as mãos com água e sabão.

Boa semana para todos(as).

Você já ouviu falar do Prêmio Darwin?

O Prêmio Darwin ou Darwin Awards surgiu a partir de um grupo de usuários da internet que foi colecionando situações inusitadas a partir de dados pesquisados na imprensa, em 1985. Por volta de 1991 a cientista britânica Wendy Northcutt, que vez por outra costumava a mandar para os amigos estas situações institucionalizou o Prêmio. Em 1993 ela organizou um site onde publica todas as situações com base no que foi publicado na imprensa. Mas que situações são essas?

Charles Darwin estabeleceu as bases da Evolução Moderna. Darwin criou a Teoria da Seleção Natural, segundo a qual a vida, que apresenta grande diversidade (cores, formas, modelos, tamanhos, comportamentos, estágios, estratégias, formas de nutrição, modos de acasalamento etc.) é selecionada pela própria natureza. Ou seja: a natureza seleciona os mais aptos. O que os criadores do Prêmio Darwin fizeram foi passar a selecionar situações de pessoas que cometeram atos tão estúpidos que terminaram sendo vítima de sua própria burrice. São situações bizarras e que muitas pessoas até duvidam que a estupidez chegue a alcançar níveis tão alarmantes. Desde situações simples, como a história de um homem que subiu para podar uma árvore e serrou o galho em que se apoiava, caindo e perdendo a vida (que inclusive ilustra a capa da edição brasileira do livro “O prêmio Darwin – a evolução em ação”, publicado em 2001).

Há um pitada de humor negro nas histórias, mas para nós, o mais interessante é a reflexão que precisa ser feita antes de tomarmos determinadas atitudes como: dirigir bêbado (aliás tomar qualquer decisão bêbado), manusear uma arma sem conhecer seu funcionamento, soltar fogos de artifícios, pilotar uma moto sem conhecimento da máquina, dirigir e tentar atropelar um grupo de pessoas com uma retroescavadeira etc.

Vamos encontrar dezenas de milhares de situações que nos empurram fatalmente a candidatos ao Prêmio Darwin. Na minha opinião, um forte candidato para o Prêmio Darwin 2020 é o americano Michael Hughes. Michael Hughes, conhecido como “Mad Mike” (Mike Louco, em tradução livre) queria provar que a Terra era plana. Construiu um foguete, amarrou-se nele e disparou. A ideia era conseguir atingir 5000 pés de altura, o equivalente a mais ou menos 1500 metros para ver que a Terra não tinha qualquer curvatura. Por algum motivo o paraquedas não funcionou. Veja o vídeo:

[Apesar de duvidar que algum leitor do Ciência Viva possa acreditar que a Terra é plana os pesquisadores brasileiros Gustavo Rojas (UFSCar) e Bruno Carneiro (UFPE) ajudaram a escrever um texto mostrando cinco maneiras mais seguras de provar que a Terra NÃO É PLANA. Para ver estas dicas clique aqui.]

O caso de Hughes ilustra bem a natureza do Prêmio Darwin, que é bem definido pela frase de Einstein: “Somente duas coisas são infinitas – o universo e a estupidez humana, e não estou certo quanto ao Universo”.

Boa semana para todos (as).

Bacanal ancestral

O começo da humanidade tem sido um desafio para a Ciência. Talvez que seja por isso que muitas pessoas não gostem de quebrar a cabeça pensando e já vão logo acreditando de cara nas saídas mais simplistas como o Paraíso de Adão e Eva e até que Terra é plana, para não ter que pensar muito!

De uns anos para cá descobriu-se muito sobre o nosso passado recente e algumas destas descobertas tem sido surpreendente. Há bem pouco tempo, cerca de 30 mil anos antes do presente (quando falamos em tempo geológico, 30 mil anos é uma fração bem pequena do tempo), a Terra era habitada por pelo menos seis espécies bem similares ao homem atual. Além de nossa espécie (Homo sapiens sapiens) viveram: Homem de Neanderthal, Homem da Ilha de Flores, Homem de Denisova, Homo luzonensis e o Homo erectus. Nós temos falado vez por outra sobre estas descobertas, porque elas atraem muito a atenção da comunidade de cientistas e também curiosos de outras categorias. Veja o que falamos sobre o mais recente descoberto das Filipinas e veja também aqui e aqui.

A descoberta da vez agora é que alguns destes hominíneos se intercruzaram. Já se desconfiava que Neanderthais e a nossa espécie já teriam tido esta experiência, a partir de descobertas feitas de fósseis da mesma idade em cavernas da França e da Espanha. Mas um artigo publicado na semana passada revista Science conta outras relações entre alguns destes hominíneos.

Genes de fósseis mostraram que os ancestrais de muitas pessoas vivas acasalavam com os neandertais e com os denisovanos, um misterioso grupo de humanos extintos que viveu na Ásia. Agora, uma enxurrada de artigos sugere que os ancestrais dos três grupos se misturaram pelo menos duas vezes com linhagens "fantasmas" ainda mais antigas de hominíneos extintos desconhecidos. Um candidato: o Homo erectus, um humano primitivo que deixou a África há 1,8 milhão de anos, se espalhou pelo mundo e poderia ter se acasalado com as ondas posteriores de ancestrais humanos.

Os novos estudos genômicos se baseiam em modelos complexos de herança e mistura populacional, e eles têm muitas incertezas, inclusive as identidades precisas dos estranhos companheiros de nossos ancestrais e quando e onde os encontros ocorreram. Mas, juntos, eles constroem um forte argumento de que mesmo antes que os humanos modernos deixassem a África, não era incomum que diferentes ancestrais humanos se encontrassem e se acasalassem.

A técnica ideal para detectar cruzamentos com seres humanos arcaicos é sequenciar o DNA antigo de fósseis do grupo arcaico e, em seguida, procurar traços dele nos genomas modernos. Os pesquisadores fizeram exatamente isso com os genomas neandertal e denisovano de até 200.000 anos da Eurásia. Mas ninguém foi capaz de extrair genomas completos de ancestrais humanos mais antigos. Assim, os geneticistas populacionais desenvolveram ferramentas estatísticas para encontrar DNA incomumente antigo nos genomas de pessoas vivas. Após quase uma década de avistamentos tentadores, mas não comprovados, várias equipes agora parecem estar convergindo em pelo menos dois episódios distintos de cruzamentos muito antigos.

Na Science Advances desta semana, Alan Rogers, geneticista da população da Universidade de Utah, Salt Lake City, e sua equipe identificaram variações em locais correspondentes nos genomas de diferentes populações humanas, incluindo europeus, asiáticos, neandertais e denisovanos. A equipe testou oito cenários de como os genes são distribuídos antes e depois da mistura com outro grupo, para ver qual cenário melhor simulava os padrões observados. Eles concluem que os ancestrais dos neandertais e denisovanos - a quem chamam de neandersovanos - cruzaram com uma população "super-arcaica" que se separou de outros seres humanos cerca de 2 milhões de anos atrás. Os candidatos prováveis incluem os primeiros membros de nosso gênero, como H. erectus ou um de seus contemporâneos. A mistura provavelmente aconteceu fora da África, porque foi aí que surgiram os neandertais e os denisovanos, e poderia ter ocorrido pelo menos 600.000 anos atrás.

A pesquisa entra agora num novo patamar, para detectar até onde esta mistura genética se deu. Pelo sim, pelo não é como se estas populações tivessem passado por um verdadeiro “bacanal” genético para chegarmos até onde estamos. Tem-se muito para descobrir ainda.

Bom carnaval para todos (as)!!!

(Com informações da Revista Science)

 

 

O desabafo de um professor

Passei minha vida toda ouvindo que professor é uma categoria sem prestígio, desvalorizada, não reconhecida etc., etc. etc. Mesmo ouvindo esta cantilena em todas as oportunidades que tive, fiz da minha carreira profissional a arte de professar. Talvez nem tanto por não ouvir estes contraconselhos, mas por achar fascinante a possibilidade de ensinar algo para alguém. De fato, é uma profissão fascinante. E também sem prestígio, desvalorizada, não reconhecida etc., etc. etc.

Sigo uma carreira que tão presente na minha família já nem sei se é carreira. Parece mais uma sina. Contabilizo cinco gerações consecutivas com professores na família: tanto na ascendência quanto na descendência. Uma tia-bisavó materna, dois tios-avós paternos, pai, mãe, tios, primos, irmã, esposa e filhos: muita gente sem prestígio, desvalorizada e não reconhecida na mesma família. Mas o que penso de fato sobre esta escolha e as escolhas de quem opta pela profissão?

Professar é um luxo, é uma arte, um prazer! Há em tudo um encanto. O encanto de falar em público, em se fazer ouvir. O encanto de fazer olhos brilharem. Não tem preço! O retrucado. A pergunta. A feição de quem acabou de entender algo. Em nenhuma outra profissão se vê isso. Mas fui repreendido porque fiz a escolha. Há quase 40 anos, quando optei por estudar uma licenciatura. Mas argumentei: as melhores árvores vêm das melhores sementes! Aproveitando a deixa dos meus professores de Biologia. Entrei fácil na universidade, mas tive dificuldades, porque no meio do caminho existiam muitas pedras, como recitaram meus professores de Literatura. Muitas pedras que às vezes colocam empecilhos desfigurantes e desafiadores. Mas como ensinaram meus professores de História: Veni, vidi e vici! [Das palavras do Romano Júlio César, depois da Batalha de Zela].

O principal problema da educação, na minha opinião, é a desvalorização profissional. A desvalorização afasta novos e potenciais valores que poderiam enfrentar a sala de aula e formar outros valores ainda melhores. Discípulos desafiando e superando mestres é só o que se vê. Neste desabafo peço licença da minha autoridade de professor universitário, pesquisador e atual Presidente do Conselho Estadual de Educação, para expor um sentimento de total decepção pelo desprezo que sinto na pele, ante ao tratamento que a minha classe vem sofrendo. Não se trata dos que governam hoje, apenas. Isso parece que foi ensinado e muito bem aprendido por todos os que sentam na cadeira de gestores. Em campanha são só promessas. Plano este, plano aquele... “Educação é prioridade no meu governo”. Muito verbo mal conjugado, muito adjetivo desconexo da realidade, como diriam os mestres que me ensinaram língua portuguesa – “a última flor do lácio, inculta e bela”. Como acreditar que é prioridade se o mínimo que se pode fazer é construir uma carreira que pudesse valorizar a categoria? Como acreditar que a prioridade é prioritária, se não se dá condições de trabalho, como as que não temos na universidade em que trabalho? Se o reajuste do piso dos professores todos os anos enseja a necessidade de parar as atividades, para conseguir direitos?

No conjunto dos acidentes geográficos, a prioridade é uma montanha falaciosa e a realidade é um vale de lágrimas, aproveitando a comparação com os conceitos que aprendi na Geografia. Guardo para mim a tristeza de perceber que, apesar de nossa profissão ser a pedra angular de todas as outras, não se vê o mínimo de zelo por tentar fazer diferente, por parte dos gestores, com uma ou outra exceção.

Estou prestes a encerrar minha carreira. O tempo de parar está se aproximando. Já esteve mais perto, mas uma reforma empurrou para mais distante, num movimento retilíneo uniforme, como diriam os mestres da Física. Os sentimentos postos são o de uma mistura heterogênea, onde ora se percebe a diferença entre as fases, ora ocorre um movimento que mistura as partes como se homogênea fosse a misturada como explicariam os mestres da Química. E a equação não fecha. Lembra mais uma inequação onde o produto por um ente negativo muda o sinal de maior para menor, e a vontade que se tem é de jogar tudo para o alto e querer começar tudo de novo: conta sobre conta, número sobre número, como ensinam os professores de matemática.

Quando os governos colocarem como política de estado a valorização dos professores, talvez a coisa mude de figura. Minha geração não vai se beneficiar desta mudança. Até porque a mudança tem que ser na base, especialmente quando conseguirmos escolher dirigentes com base no plano de governo e não no proselitismo barato, no discurso fácil e acompanhado de sorrisos debochados e tapinhas nas costas.

Tenho muito medo das próximas gerações de estudantes, porque estou vendo ser formada a nova geração de professores.

Desculpem pelo desabafo, mas estava precisando...

 

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