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COVID-19: pesquisadores piauienses mantêm monitoramento

As notícias sobre a pandemia de COVID-19 têm despertado nas pessoas diferentes sensações. Algumas por medo já nem acompanham mais os noticiários porque estão trancadas em casa e as notícias se direcionam para contar o que está acontecendo. Já ouvi de um amigo que quando termina o jornal está com metade dos sintomas, tudo fruto da ansiedade provocada pela situação.

Por outro lado, já vejo que a imprensa tem aplicado filtros mais cuidadosos, e hoje as notícias ruins já são intercaladas com boas notícias, falando de pessoas que foram curadas ou que as empresas e pessoas com posses estão fazendo doações importantes. Mas muita gente se informa usando as redes sociais e isto tem sido muito temeroso, dada guerra de memes e Fake News que passa pelas nossas timelines. Especialmente os mais idosos que não conseguem perceber montagens às vezes completamente esdrúxulas, mas que chegam como verdades, pois foram recebidas de “amigo”, que por vezes repassou sem nem observar um mínimo de coerência (é assim que as Fake News são repassadas). Às vezes há má fé. Às vezes, não.

Se você está interessado em tomar pé da situação da pandemia de COVID-19 através de dados seguros e de fontes confiáveis, pode conhecer o trabalho dos pesquisadores da Universidade Federal do Piauí que alimentam a Sala de Situação atualizado frequentemente com informações vindas direto dos banco de dados da Secretaria Estadual de Saúde do Piauí, da Fundação Municipal de Saúde de Teresina e do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus no Nordeste, denominado C4.

A equipe é formada por 13 pesquisadores das Universidades Federal do Piauí, do Delta do Parnaíba, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) e da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) no Piauí. Eu conversei com Prof. Dr. Bruno Guedes que me deu algumas indicações de como pesquisar na página do grupo e que mantêm uma atualização dos casos de contaminação, óbitos e até o nível de ocupação de leitos hospitalares e leitos de UTI bem real, alimentada pelos bancos de dados que citei acima.

Nos gráficos, é possível ver o andamento da contaminação no Brasil, no Piauí e em Teresina, comparados com outros estados da federação e com os EUA, para que se perceba a evolução da doença por aqui. Ao ver os dados fiquei preocupado com o avanço, ao mesmo tempo que senti confiança de que vamos superar esta situação, considerando as medidas que vêm sendo tomadas na nossa cidade, Teresina.

Vamos superar este momento. Depende muito de nós. Se puder, fique em casa!

Boa semana para todos (as).

COVID-19: reedição da Revolta da Vacina

Quando eu estava no Ensino Fundamental, lá na década de 1980, lembro de ter estudado sobre a Revolta da Vacina que aconteceu no Rio de Janeiro no começo do século XX. Na minha inocência infanto-juvenil achava algo tão absurdo que chegava a ser inacreditável. Na minha cabeça achava impossível que um considerável número de pessoas duvidasse dos efeitos de medidas sanitárias rígidas tomadas para prevenir doenças com altíssimo índice de letalidade como a varíola e medidas de saneamento e limpeza para reduzir infestação por ratos, visando diminuir os casos de peste bubônica, além de focos de febre amarela.

Revolta da Vacina - 1904. Fonte: Wikipédia.

A necessidade de quarentena em tempos de COVID-19 tem nos mostrado, via redes sociais e às vezes transmitidas por outros veículos, cenas absurdas e estarrecedoras. Cito o exemplo de um rapaz que chega a uma farmácia sem máscara, recebe da balconista (dada a proibição vigente) e, com uma ironia desatinada, coloca máscara sobre a cabeça, enquanto filma tudo e é interpelado por outros clientes. Ou a cena de uma moça que chega a um supermercado e dá um espetáculo, quando é retirada pelo segurança da loja.

Em casa, na quarentena, temos assistido a comportamentos como esses, na minha opinião, patéticos. Acompanho a preocupação de algumas autoridades em manter o isolamento social. Estes têm uma visão total do sistema de saúde -formado por unidades de saúde públicas e privadas - e sabem até onde este suportaria atender. Neste momento, os sistemas do Amazonas, Pará, Maranhão e Ceará estão estrangulados. No estrangulamento não há meio de salvar pessoas, nem que estas tenham recursos para pagar, por isso, nem as diferenças de poder econômico livrariam os mais ricos dos mais pobres.

A pandemia trouxe uma crise econômica difícil. Negócios serão afetados fortemente e muitos empregos serão perdidos. Esta semana li estudos que comparavam três cenários diferentes. O menos ruim para a economia ainda é o que está desenhado com o isolamento social e o fechamento dos negócios não essenciais, enquanto o pico de contaminação não é ultrapassado.

Assim como a Revolta da Vacina, não é somente a questão da saúde pública que está em jogo. Há uma disputa descabida em questão. Isto é absolutamente lamentável.

Boa semana para todos (as).

 

Mãe: a metade mais importante

Hoje, assim como em 2018, resolvi dedicar o post às mães. Em 2018, resolvi falar sobre a mãe do Dmitri Mendeleiv, o criador (ou aperfeiçoador) da Tabela Periódica, cuja mãe tem uma história fabulosa de luta pelo crescimento e desenvolvimento do filho (vale a pena ler novamente).

Inicialmente gostaria de justificar o título. No dia dos pais de 2018 escrevi um post com o título: Pai: a metade do todo (veja aqui),  numa referência à metade do DNA usado para compor cada filho. Ao me referir sobre a metade mais importante quero apenas lembrar que além da metade de todo o DNA de cada filho, as mães fornecem também o chamado DNA mitocondrial, visto que, durante a concepção, a célula gamética mais importante é o óvulo, que subsidia grande parte da transformação do zigoto em embrião, contendo inclusive esta porção de DNA (da mitocôndria) que é passada para todas as nossas células, sendo um material genético exclusivamente materno.

Na natureza encontramos diversos exemplos nos quais o papel da mãe vai além do que conhecemos. Existem espécies de anfíbios, cujas fêmeas carregam os filhotes na própria boca. Enquanto os filhotes não têm autonomia elas não se alimentam, tentando garantir a sobrevivência do maior número de rebentos. E fêmeas de algumas espécies de inseto que se adaptaram ao longo do processo evolutivo a ter uma única ninhada de filhotes, pois ao invés de fazer oviposição, permanecem com os ovos no próprio corpo, onde as larvas crescem e se alimentam do corpo da mãe, em um exemplo de altruísmo que supera qualquer outro exemplo, pois a mãe vira alimento para os próprios filhos, dadas as condições inóspitas do meio em que vivem.

A natureza dá exemplos diversos que explicam situações impensáveis, como a de uma mãe que pulou no viveiro de um zoológico para, literalmente, tirar seu filho da boca do crocodilo. A criança caiu e ela não pensou duas vezes, ao salvá-la. Este instinto maternal que grande parte das mães tem explica uma porção de situações que vemos nos noticiários mundo afora.

Assim, desejo a todos e todas um feliz dia das mães. Mesmo neste momento difícil, mesmo distantes, em razão da pandemia, o amor e o carinho traduzem este bem maior que temos.

Feliz Dia das Mães!!!

COVID19: a resposta da ciência brasileira

No final da semana que passou li a mensagem de um pesquisador parceiro meu bastante desanimado com a aprovação do achatamento salarial sofrida pelos professores das universidades federais e o congelamento das promoções a que fazem jus, relativo à produtividade acadêmica que todos precisamos ter para evoluir nas carreiras. A medida foi tomada pelo governo e endossada pelo Congresso em razão das baixas na economia, afetando a todos, embora no fundo ache que o fardo sempre tem vindo para os servidores públicos.

Retruquei com ele que isso é uma fase, que acredito, sinceramente, que o máximo que pode durar é enquanto durar a atual gestão, pois querendo ou não os servidores e professores, especialmente das universidades, foram escolhidos por membros do atual governo para alvo de achincalhes e escárnios, que inundam as redes sociais. Muito do que se propaga sobre o lado negativo das universidades é pura ilusão como “as extensivas plantações de maconha” e “a produção de metanfetamina” do ideário do atual ocupante do Ministério da Educação. O que se produz muito nas universidades é ciência, pois 95% da produção acadêmica nacional vem de lá.

O que a maioria das pessoas não sabe, e aí o senso comum reina, e que precisa ser mudado, especialmente por quem ajuda na divulgação científica, é que os laboratórios das universidades embora sucateados, com falta de insumos, cortes de bolsas etc. estão trabalhando intensamente. A maioria das pessoas não sabe que na atualidade uma bolsa de mestrado custa R$ 1.500 e a de Doutorado R$2.200,00, e o último aumento foi entre 2004 e 2005, na gestão do então Ministro Eduardo Campos, ou seja: algo em torno de 15 ou 16 anos sem reajuste.

Já é senso comum que doentes graves com COVID19 precisam de acesso a um respirador mecânico em Unidades de Terapia Intensiva. Também é senso comum (facilmente comprovável em uma pesquisa pela internet) que os respiradores mecânicos custam entre R$ 50 mil e 70 mil. Em nenhum momento, em nenhum noticiário viu-se, por exemplo, pesquisadores em diferentes países buscarem alternativas. Pelo contrário, o que se vê são países fazendo apreensão de aparelhos quando as cargas já compradas fazem escalas em seus aeroportos. Veja esta notícia aqui

Numa pesquisa rápida descobri que atualmente existem oito projetos de respiradores em desenvolvimento em diferentes universidades brasileiras. Desde universidades de ponta como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), passando por universidades menores como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Estadual do Amazonas (UEA), até universidades privadas (“até” porque as instituições privadas raramente investem em pesquisas) como as gaúchas Universidade de Passo Fundo (UPF) e Universidade de Caxias do Sul (UCS). Clique nas siglas e comprovará através do que já foi noticiado na imprensa.

E estamos falando de um item apenas: respiradores mecânicos. Neste momento existem pesquisadores estudando vacinas, medicamentos, ajuste de procedimentos, adaptações farmacológicas de outros medicamentos, levantamento de sintomas diagnósticos acessórios, desenvolvimento de testes seguros, desenvolvimento de técnicas alternativas mais rápidas, de novas condutas, desenvolvimento de novos tipos de equipamentos de proteção individual, adaptação de materiais para produção em larga escala de EPIs etc. Ou seja: a universidade, pesquisadores, a intelligentsia brasileira, está trabalhando forte. Enquanto tem “patriota” terraplanista fazendo carreata para baldear o isolamento social, ainda necessário em quase todas as cidades brasileiras.

A verdade vai prevalecer sempre! Meu amigo: não desanime! Se não fosse a ciência as coisas estariam bem piores. Charles Darwin publicou os fundamentos disso há 160 anos. A ciência não nos conforma, mas nos conforta.

Boa semana para todos (as).

COVID-19: alternativas educacionais em tempos de pandemia

Durante a quarentena cada um vai se virando como pode. Assisti na TV matérias falando das alternativas que vem surgindo para ocupar o tempo. Algumas pessoas estão se descobrindo artistas com pintura, trabalhos manuais, elaboração de receitas de comidas, aulas sobre hobbys através da gravação de vídeos, abertura de novos negócios, manutenção dos velhos negócios, lives de artistas famosos e não famosos, ou seja, tem de tudo e para todos os gostos.

Uma das alternativas para quem está em casa é mexer no jardim. A Profª Edna Chaves, professora do IFPI, bióloga e nutricionista, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, não se fez de rogada: abriu um canal no YouTube e tem compartilhado vídeos que trazem dicas de como cultivar plantas em casa. Uma iniciativa simples, que ocupa parte do tempo da professora, ensinando algo, presta um serviço para pessoas que também gostam das atividades de jardinagem e incentiva a produção de alimentos no quintal. Acompanhe um dos seus vídeos abaixo:

O maior gargalo do Brasil em meio à crise é a divulgação científica de qualidade. São tantas informações que nos atordoam. A filtragem é fundamental. Precisamos traduzir para uma linguagem acessível, sem deixar que o conhecimento científico se perca. Pensando nisso os professores Dr. Fabrício do Amaral (UESPI), Dr. Luciano da Silva Lopes (UFPI), Dr. Juan Gonçalves (UFPB), Dr. Maurício do Amaral (UFPI) e Dr. Guilherme Barroso Langoni de Freitas (UFPI), decidiram enfrentar este desafio: através do YouTube fundaram o canal FarmacoLógicos. Os professores se revezam com aulas sobre aspectos da ciência da Farmacologia, explicando temas relacionados ao combate a Pandemia da COVID-19. No vídeo mais recente há uma aula sobre a Hidroxicloroquina, esta droga que vem sendo falada como uma possibilidade ao tratamento da doença causada pelo novo Coronavírus. Nós já até falamos disso, alguns dias atrás (reveja aqui). Nesta explicação publicada no Canal Farmacológicos o Dr. Luciano Lopes explica detalhadamente sobre esta droga. Vale a pena conferir:

A mente humana é bastante diversificada. “Mas se ao invés de querer assistir aula sobre plantas ou sobre farmacologia eu quisesse aprender a bordar?” Pensou que não tinha alternativa? Tem sim! Luciana Morais, professora de Artesanato (@arte_e_artesania_em_teresina), criou grupos de WhatsApp onde passa, através de pequenos vídeos, aulas sobre diferentes tipos de pontos de bordado.

Luciana Morais (Fonte: Arquivo pessoal)

Como boa parte das suas aulas não podem ser presenciais em razão da pandemia, ela passou a gravar e mandar para suas alunas de trabalhos manuais.

Para você que é estudante e está preocupado com as dúvidas de algumas disciplinas fundamentais para ingresso em cursos da área de saúde, por exemplo, que são bem concorridos, existe a alternativa recente dos irmãos Chicão e Caio Soares. Eles criaram o canal BioBrothers. Através das redes sociais e do YouTube se aventuram em ensinar a mais bela de todas as ciências: a Biologia (tenho algumas suspeições nesta fala)! Eles prometem, no seu vídeo de abertura, oferecer dicas e explicações para quem quiser aproveitar e aprender coisas diferentes, sobre as diferentes ciências que compõem a Biologia.

O mais importante neste momento é usar o tempo livre com alguma coisa que ajude a manter o equilíbrio e a saúde mental. A estratégia de ficarmos em casa está dando certo aqui em Teresina. Saiba que isso tem a nossa participação, quando não nos expomos ao inimigo invisível. Se puder, fique em casa!

Boa semana para todos (as) e até o próximo post...

COVID-19: impactos sobre a educação

No início desta quarentena assisti a uma entrevista do biólogo Átila Iamarino no Programa Roda Viva e algumas de suas palavras me marcaram muito. Dentre elas o diálogo que, segundo ele, estabeleceu com a esposa, de que o mundo que conheceram havia mudado a partir do momento em que se caracterizasse a pandemia provocada pelo SARS-Cov2: a COVID-19.

Aquelas palavras me fizeram iniciar uma reflexão que trago comigo de muitas coisas no mundo, que de fato, sofreu uma deflexão no seu percurso natural. Começando pelos hábitos de higiene que precisamos mudar para não espalhar ainda mais a doença, passando pela nossa própria saúde mental, afetada pelo isolamento que, para nosso alento, é minimizada pelo uso de tecnologias de comunicação, o que tem nos permitido conversar com parentes, fazer reuniões de trabalho, dar aulas etc.

Como sou do meio educacional, vejo que um dos desafios tem sido ensinar crianças e jovens por meio de plataformas e usando recursos de comunicação para tentar mitigar o pior no combate à doença que é a falta de contato interpessoal. As escolas estão tentando, usando os recursos de vídeo aulas, lives e outras atividades remotas, manterem as crianças na “sala de aula”. Especialistas do mundo inteiro tem debatido as melhores formas de fazer isso, mas enfrentando as críticas dos pais e de alguns educadores que não perceberam ainda que, para uma situação como essa, quanto mais conseguirmos preencher a lacuna deixada pela necessidade de isolamento, melhor.

Alguns educadores têm colocado que as diferenças entre condição financeira de estudantes oriundos de famílias com poder aquisitivo e aqueles sem as mesmas condições, neste período, agravarão as desigualdades de acesso, reduzindo a equidade para se atingir os mesmos objetivos educacionais, no que estão completamente certos.

Os pais, agora envoltos com a conciliação entre suas atividades na lida com os filhos e mais a tarefa de administrar o ensino de suas crianças, possivelmente agora percebam a importância das escolas e principalmente do professor, em cuidar de uma geração organicamente mais ativa e mais dotada de energia. O homeschooling (educação domiciliar) que estava entrando na pauta de discussão de alguns pais mais modernos, nunca esteve tão em alta. Seus conceitos recrudescem na opinião dos pais mais engajados com a educação dos filhos e, definitivamente não está nos planos daqueles que agora observam o quanto a atividade educativa vai muito além do que se imagina, e dá um trabalho sem precedentes.

O período de pandemia, que atinge ou atingiu a suspensão de aulas em 191 países, tem reforçado algumas opiniões sobre a Educação a Distância, a EaD. Especialistas acham que depois que a pandemia passar um número maior de pessoas aderirá a esta antiga forma de se ensinar que depende muito mais de planejamento e disciplina pessoais do que de qualquer outro fator.

Um grupo particular de estudantes ficou mais suscetível ao isolamento: as crianças da educação infantil. Mesmo pertencentes a uma geração que já nasceu imersa na tecnologia, cujos dedinhos já são bastante habilidosos nas telas touchscreen, o que seria considerada uma grande vantagem neste período de aulas remotas com o uso de tecnologias, o contato interpessoal e as interações sociais se mostram como elementos imprescindíveis no aprendizado deste grupo. Algumas escolas têm passado por uma avalanche de pedidos de cancelamento de matrículas, o que pode levar a uma crise no setor, especialmente com a demissão de professores e auxiliares. Todavia, é preciso que os pais reavaliem esta situação, pois somente na escola os campos de aprendizagem são praticados com planejamento e a visão de especialistas, podendo esta lacuna gerar o acúmulo de prejuízos que reflitam as fases futuras do processo educacional.

Outro grupo que sofre, ora preocupado em tentar acompanhar as aulas e atividades remotas, ora sem saber o que vai ser para o futuro, é o que se prepara para ingressar nos cursos superiores. Há no país uma preocupação sobre a necessidade de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. O Ministério de Educação, num misto de cautela, dúvida e terrorismo barato, dá assertivas de que nada mudará, mas as indefinições causam uma intranquilidade imensa em quem, pela própria idade e vivência do momento, já estaria imerso numa plêiade de ansiedades. Na minha opinião, o MEC fará, mais a frente um ajuste no calendário. Mesmo sendo prematuro alterar agora, deveria deixar claro que fará as mudanças caso haja um comprometimento no cronograma, o que na minha opinião, já aconteceu.

Para o momento, sobram incertezas sobre quando isso tudo irá acabar e revelam-se certezas de que o mundo definitivamente mudou.

Boa semana para todos (as) e até o próximo post.

PS: Pelo Dia Internacional da Educação (28/04)

COVID-19: pesquisador piauiense mapeia casos em tempo real

A luta contra a COVID-19 tem várias trincheiras. Se não podemos ter uma vacina ou medicamentos que ajam diretamente contra o vírus, trabalhar informações é muito importante para minimizar os efeitos das contaminações e reforçarmos os cuidados para proteção contra a possibilidade de adoecermos todos ao mesmo tempo, o que é o principal motivo para manutenção do isolamento social na nossa cidade e no nosso Estado.

Uma destas trincheiras de informação foi assumida pelo Engenheiro Cartográfico Vicente de Paula Sousa Jr. Vicente juntou as informações do painel de casos da COVID-19 publicado diariamente pela Fundação Municipal de Saúde de Teresina e dados cartográficos com os bairros de Teresina e atualiza diariamente, através de suas redes sociais (Facebook – https://www.facebook.com/vicentepsjr; Twitter – https://twitter.com/vicentepsj).

Com os dados atualizados ele construiu e atualiza diariamente três mapas. O primeiro é o Mapa do Número de Casos. Neste existe uma escala de cores que transmite a informação do número de casos com base na cor. Neste caso ele fez uma adaptação colocando por categorias, para que não passasse uma ideia errônea do número de doentes por localidade.

Mapa de Número de Casos. Fonte: Vicente de Paula Sousa Jr.

O segundo é o Mapa de Densidade Kernel que, com base nos pacientes que foram testados de cada bairro e que sinalizaram positivo para doença faz uma estimativa traçando por onde o vírus pode está contaminando, pois o método de construção deste mapa trabalha com um raio que pode representar o espectro de ação de transmissão do vírus.

Mapa de Densidade de Kernel. Fonte: Vicente de Paula Sousa Jr.

E o terceiro é o Mapa do Espelhamento de Moran, que se baseia no Índice de Moran, cuja interpretação é que regiões com casos semelhantes sofrem influência entre si, demonstrando, por exemplo, que bairros com casos que possuem bairros vizinhos também com casos confirmados se agrupariam na correlação espacial, confirmando a ideia expressada pelo Mapa de Densidade Kernel e expressando uma série de correlações par a par (por exemplo: correlação alta-alta ou alta-baixa ou baixa-baixa e assim por diante).

Mapa do Espelhamento de Moran. Fonte: Vicente de Paula Sousa Jr.

A ideia é fabulosa e permite subsidiar as autoridades com informações sobre a dinâmica do isolamento. Na minha opinião pessoal (lembrando que não sou epidemiologista, apenas me interessei pela questão que estamos vivenciando) iniciativas como esta, somada a amostragem já em execução pela Fundação Municipal de Saúde, somada a uma maior testagem na população, coordenadas pelas autoridades em saúde pública, podem embasar melhor as decisões de interrupção do isolamento social horizontal em vigência.

Neste aspecto em particular parabenizo a iniciativa do Eng. Vicente Sousa Jr., com quem tive oportunidade de discutir aspectos da sua pesquisa na área de energias renováveis, com dissertação recentemente defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFPI), orientada pelos competentes Prof. Dr. Francisco Francielle Pinheiro e Dra. Giovana Mira de Espindola. Durante sua graduação Vicente teve a oportunidade de fazer um período no Gottfried Wilhelm Leibniz Universität Hannover, na Alemanha, entre 2013 e 2015, financiado pelo Programa Ciência Sem Fronteiras do Governo Federal.

Eng. Cart. Vicente de Paula Sousa Jr. Fonte: Arquivo Pessoal.

Quem quiser acompanhar esta dinâmica e saber como está a situação do seu bairro, basta acompanhar a publicação das atualizações da pesquisa seguindo-o através das redes sociais.

Boa semana para todos (as) e se puder, fique em casa!

COVID-19: a impaciência pelo fim do isolamento social

Já é público e notório que o caso da infecção causada pela COVID-19 já foi politizado e já produziu extremos. Desde que os “cientistas” das redes sociais começaram a espalhar boatos sobre o uso de determinados medicamentos (que já falamos aqui) até os episódios envolvendo questões políticas, exacerbando o clima desde 2018 que, inclusive, culminaram com mudanças no Ministério da Saúde.

À parte de todas estas questões rolam discussões em diversos fóruns falando sobre os trechos discordantes das falas de autoridades de saúde e autoridades políticas acerca de quando ocorrerá o pico da doença no Brasil, e trazendo para uma situação nossa, mais particular, aqui no Piauí. Mas vamos entender um pouco sobre este pico e porque as datas às vezes não se verificam.

Em um outro texto falei sobre a necessidade de mantermos isolamento com a finalidade de achatar a curva. Esta curva indica o processo de avaliação matemática da quantidade de infectados e que necessitem de assistência médica, o que não pode acontecer de uma vez só porque nosso sistema de saúde não daria conta. Esta situação já se verifica em algumas capitais brasileiras como Manaus e Fortaleza, neste exato momento. O que quer dizer que nestes locais não houve tempo para achatar a curva e o pico de doentes extrapolou a capacidade das casas de saúde.

Estas previsões são feitas com base nas equações de regressão montadas a partir das principais variáveis, que levam em conta dados de outros locais. Isso porque o principal conjunto de dados para construção destas predições vem das informações sobre os testes feitos na população. Esta principal variável não temos com exatidão por aqui. Agora foi que vimos a imprensa noticiar que a Prefeitura de Teresina fará uma testagem amostral. Li que serão testadas 900 pessoas colhidas por critérios de amostragem em diferentes regiões da nossa Capital. Quando estes dados estiverem coletados teremos a primeira predição segura sobre a incidência da doença aqui em Teresina. A partir destes dados são feitas extrapolações que não são 100% seguras, mas dão um norte importante nas medidas a serem tomadas.

O pico da doença depende de muitas variáveis. Algumas destas variáveis já são as preconizadas pelos cientistas como o rigor do isolamento social, por exemplo. Os lugares que demoraram mais a impor medidas mais duras de isolamento atingiram o pico da doença primeiro. A demora em se verificar o pico nas cidades que precocemente suspenderam suas atividades poderia ser um bom sinal, se os dados sobre testes apontassem para um processo gradativo de contaminação. Entretanto, torna-se muito complicado até de estimar quando vamos chegar a este pico se a quantidade de pessoas testadas não avança, especialmente por termos pessoas que se contaminam e são completamente assintomáticas, outras que se contaminam e apresentam todos os sinais de uma gripe, como a causada pelo vírus Influenza, que embora também mate, mas tem uma letalidade menor.

Mesmo incomodado pela quarentena, tendo que trabalhar muito, só que usando outras ferramentas, ainda prefiro e recomendo que aguardemos as coisas melhorarem para tentarmos retornar à vida pré-isolamento. Nestes dias, em casa, minhas reflexões se ampliaram na valorização de coisas simples, como um passeio ao ar livre ou a uma simples visita de cortesia – medidas proibidas neste período. Entre uma leitura e outra percebo que pelo menos duas coisas sofrerão o impacto positivo depois que tudo passar: a ciência e a educação. Em outro texto ampliarei esta reflexão.

Boa semana para todos (as).

 

COVID19: o que diz o estudo com a Hidroxicloroquina?

A crise provocada pela COVID19 fez piorar um clima de disputa eleitoral ideológica que contamina o Brasil desde 2018, onde direitistas e esquerdistas se digladiam por motivos inimagináveis e, agora, por métodos para evitar que haja a proliferação de uma gripe que pode evoluir para um quadro agudo de pneumonia.

À parte a disputa irracional por espaços em um campo dominado por memes e alimentado pela democracia das redes sociais, onde imperam o facebook, whatsapp e outros meios, a disputa agora é saber se “é melhor morrer pelo vírus ou morrer de fome”, como disse um amigo, num tom inquisitório. Fui atrás para saber o que há de concreto quanto ao uso de Cloroquina e o correspondente Hidroxicloroquina, como alternativa de tratamento, ante a este isolamento horizontal sem data para acabar e que está mexendo com a saúde mental de todo mundo.

A corrente que defende a quarentena baseia-se em modelos matemáticos que explicam os efeitos devastadores provocados pela falta de isolamento social, já comprovado com um experimento real que ceifou milhares de vidas como na Itália e na Espanha, que demoraram a adotar alternativas capazes de impedir o avanço da contaminação. Este experimento está se repetindo nos EUA que em poucos dias ultrapassou o somatório do número de infectados na China, Itália e Espanha. Em países que enfrentaram crises parecidas como no caso da Coreia do Sul, e estabeleceram regras rígidas, a doença não avançou na mesma intensidade. Assim, o estabelecimento do isolamento social e com o consequente achatamento da curva de infecção (nós já falamos disso aqui) é uma estratégia que funciona.

Do outro lado há uma corrente que defende cegamente o uso maciço da droga cloroquina ou hidroxicloroquina. Esta droga é usada há décadas para combater a malária e para ajudar no tratamento a doenças autoimunes como o lúpus. Mas o que há de concreto em relação a COVID19?

Aproveitei a quarentena e fui buscar estudos e outras evidências científicas sobre o uso da cloroquina para o tratamento da COVID19. Num primeiro momento fiquei assustado e até animado com a quantidade de estudos e ensaios que já estão publicados de março para cá, tratando da COVID19 e suas consequências. Encontrei o estudo-chave que algumas pessoas estão usando como referência, com o título “Hidroxicloroquina e azitromicina como tratamento de COVID19, resultados de um ensaio clínico não randomizado de rótulo aberto” (tradução livre) publicado na Revista Antimicrobial Agents por 18 autores, a maioria de nacionalidade francesa, tendo como primeiro autor Philippe Gautret, em março de 2020.

Este estudo seguiu o método científico para ensaios clínicos e usou 36 pacientes: seis pacientes assintomáticos, 22 pacientes com infecção no trato respiratório superior e oito pacientes com infecção no trato respiratório inferior. Os pacientes foram divididos em dois blocos. O grupo controle formado por 16 pacientes com idade média de 37,3 anos, que não recebeu o medicamento. E o grupo experimental formado por 20 pacientes que receberam 600 mg de hidroxicloroquina por dia, durante 10 dias. Em alguns casos, os pacientes receberam também o antibiótico Azitromicina. Este grupo tinha uma média de idade superior, com 51,2 anos e o ensaio durou 14 dias no total.

Os resultados foram bastante animadores. Os pacientes eram avaliados diariamente e frequentemente submetidos ao teste de verificação da presença do vírus. Na maioria dos tratados com os medicamentos no sexto dia de tratamento já não apresentavam sinais da presença do vírus nas amostras para os exames nasofaríngeos.

Todos os pacientes que foram tratados com a combinação Hidroxicloroquina + Azitromicina testaram negativo para presença do vírus no sexto dia. O grupo que recebeu apenas Hidroxicloroquina, 57,1% dos pacientes testaram negativo para presença do vírus. Já os pacientes que não receberam os medicamentos (o grupo controle), apenas 12,5% dos pacientes testaram negativo para presença do vírus no sexto dia. Estatisticamente, o experimento demonstrou eficiência das drogas, combinadas ou não, na redução da carga viral nos pacientes, com significância nos resultados. Todavia é importante que fique bem claro que o ensaio foi feito apenas com 36 pacientes, uma amostra realmente muito pequena. O próprio artigo revela que avaliações estatísticas demonstraram que um incremento do número de pacientes, ainda que pequeno, de 36 para 48, sendo 24 pacientes em cada grupo (controle e experimental) forneceria um resultado mais seguro. Mas e agora?

A Hidroxicloroquina é um medicamento que não pode ser tomado sem critérios e sem orientação médica. O próprio artigo dos pesquisadores franceses já aponta contraindicação para o uso da droga em casos de retinopatia (doença na retina, podendo levar pacientes a cegueira), deficiência em G6PD (uma enzima que atua no metabolismo celular) e prolongamento do intervalo QT (intervalo medido através de Eletrocardiograma, o que indica que a droga provoca arritmias cardíacas). O uso indiscriminado é altamente temeroso, inclusive porque não há evidências que a droga previna o paciente de ter contato com a doença. O simples boato de que a droga poderia ter alguma eficácia levou a uma corrida até as farmácias aqui no Brasil, provocando baixas no estoque do medicamento e trazendo dificuldades para os usuários da droga de forma contínua e com indicação médica no caso de portadores de artrite e de doenças autoimunes como o lúpus.

O que me deixou mais animado quando estava lendo para produzir este post é que já existem grupos do mundo inteiro pesquisando saídas para o tratamento da COVID19. Na minha opinião a solução é igual nossa paciência frente a esta quarentena: uma questão de tempo!

Se você quiser ler mais sobre o coronavírus que já publicamos clique aqui, aqui, aqui ou aqui.

Se você não quiser ler mais nada sobre a coronavírus, publiquei textos durante a quarentena que passam longe desse assunto. Clique aqui, aqui, aqui ou aqui.

Boa semana para todos (as).

Recursos para pesquisa de enfrentamento a COVID-19

Ação entre Ministério da Saúde e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação investirá 50 milhões em pesquisa

Publicada a chamada pública para o desenvolvimento de pesquisas científicas e/ou tecnológicas relacionadas à COVID-19 e outras síndromes respiratórias agudas graves. O Ministério da Saúde e o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações investem 50 milhões de reais, sendo R$ 20 milhões da pasta da Saúde, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). O edital possui onze linhas temáticas, que incluem prevenção e controle, diagnóstico, tratamento, vacinas, atenção à saúde e carga de doença, entre outros.

Apenas pesquisadores que tenham o título de doutor ou livre docência e que sejam vinculados a Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT), públicas ou privadas sem fins lucrativos, podem participar. As propostas podem ser submetidas até o dia 27/04/20.

Devido à emergência de saúde pública, as pesquisas contratadas por essa chamada pública devem informar seus resultados parciais e finais ao longo do desenvolvimento, posto que suas evidências serão relevantes para a tomada de decisão e também para a gestão em saúde. O banco de dados dos estudos também deverá ser disponibilizado ao Ministério da Saúde, quando solicitado.

"Além da busca de soluções para a pandemia mundial, a chamada pública contribui com o fortalecimento da ciência do Brasil. Oportuna o avanço do conhecimento, a formação de recursos humanos, a geração de produtos nacionais e a formulação, implementação e avaliação de ações públicas voltadas para a melhoria das condições de saúde da população brasileira", afirmou Camile Giaretta, diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde do Ministério da Saúde.

Os critérios que definirão a contratação dos estudos, além do mérito científico, baseiam-se na aplicabilidade para o SUS, potencial impacto e relevância do projeto para o aprimoramento da atenção à saúde e vigilância da COVID-19, perspectiva de impacto positivo nas condições de saúde da população e participação em rede ou em estudos multicêntricos ou com abrangência nacional.

Confira mais detalhes na plataforma do CNPQ

(Com informações do Ministério da Saúde)

 

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