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COVID19: vacina à vista

A revista Science desta semana trouxe matéria assinada pelo jornalista Jon Coen com o título “Com velocidade recorde, os fabricantes de vacinas dão seus primeiros tiros no novo coronavírus” em que descreve a trajetória de duas empresas de Biotecnologia – Moderna dos EUA e CanSino da China. Em síntese o artigo traz a informação de que em 16 de março Jennifer Haller, gerente de operações de uma empresa de tecnologia da cidade, tornou-se a primeira pessoa fora da China a receber uma vacina experimental contra o vírus da pandemia. “Todos nós nos sentimos tão impotentes, certo? Essa foi uma das poucas coisas que as pessoas puderam entender e dizer: 'OK, temos uma vacina chegando'. Desconsidere que levará pelo menos 18 meses, mas é apenas uma luz brilhante em algumas notícias realmente devastadoras em todo o mundo”, disse Haller.

A vacina que Haller se ofereceu para testar é feita pela Moderna, uma biotecnologia bem financiada que ainda não lançou um produto no mercado. A Moderna e a chinesa CanSino Biologics são as primeiras a lançar pequenos ensaios clínicos de vacinas contra a doença de coronavírus 2019 (COVID-19) para verificar se são seguros e podem desencadear respostas imunes. O teste de vacina CanSino também começou em 16 de março, de acordo com pesquisadores do Instituto de Biotecnologia das Forças Armadas chinesas, que está colaborando com ele. Uma tabela cada vez maior, organizada pela Organização Mundial da Saúde, agora lista 52 outros candidatos a vacinas que em breve serão testados. "Esta é uma resposta maravilhosa da comunidade biomédica para uma epidemia", diz Lawrence Corey, virologista do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, que realizou testes de vacina contra uma dúzia de doenças, mas não está envolvido no esforço COVID-19.

De um modo geral, essas vacinas agrupam-se em oito "plataformas" diferentes - entre as antigas esperanças, como vírus inteiros inativados ou enfraquecidos, proteínas geneticamente modificadas e a tecnologia mais recente de RNA mensageiro (mRNA), que é a espinha dorsal da vacina da Moderna.

Muitos vírus, incluindo HIV e hepatite C, frustraram os desenvolvedores de vacinas, mas o novo coronavírus, síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2), não parece ser um alvo particularmente formidável. Ele muda lentamente, o que significa que não é muito bom para evitar o sistema imunológico, e as vacinas contra os coronavírus relacionados que causam a SARS e a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) têm funcionado em modelos animais.

Uma preocupação é se as pessoas desenvolvem imunidade durável ao SARS-CoV-2, o que é crucial, pois as vacinas tentam imitar uma infecção natural. Infecções com os quatro coronavírus humanos que geralmente causam resfriados menores não desencadeiam imunidade duradoura. Por outro lado, os pesquisadores descobriram respostas imunes duradouras aos vírus que causam a SARS e a MERS e, geneticamente, são muito mais parecidas com a SARS-CoV-2. E, diferentemente dos vírus causadores do resfriado, que permanecem no nariz e na garganta, o novo coronavírus tem como alvo o trato respiratório inferior, onde a resposta imune a um patógeno pode ser mais forte, diz Mark Slifka, imunologista que estuda vacinas na Oregon National Primate Research. "Quando você recebe uma infecção nos pulmões, na verdade obtém altos níveis de anticorpos e outras células imunes da corrente sanguínea naquele espaço".

Mesmo com esse esforço, Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID), prevê que a aplicação de uma vacina ao público “levará um ano, um ano e meio, pelo menos. "E Fauci acrescenta "pelo menos" porque efeitos colaterais, problemas de dosagem e problemas de fabricação podem causar atrasos. Alguns já pedem um atalho eticamente carregado para acelerar os ensaios clínicos: dar vacinas candidatas às pessoas e tentar intencionalmente infectá-las para verificar se estão protegidas.

Uma nova vacina também pode ser disponibilizada para os profissionais de saúde e outras pessoas de alto risco, mesmo antes da conclusão dos estudos de eficácia da fase III. Stanley Perlman, pesquisador veterano de coronavírus da Universidade de Iowa, sugere que uma vacina que ofereça apenas proteção e durabilidade limitadas poderia ser boa o suficiente - a princípio. "Nesse tipo de cenário epidêmico, desde que você tenha algo que nos ajude e evite muitas mortes, pode ser adequado", diz ele.

Em 13 de janeiro, três dias após os pesquisadores chineses tornarem pública a sequência completa de RNA do SARS-CoV-2, o imunologista do NIAID Barney Graham enviou a Moderna uma versão otimizada de um gene que se tornaria a espinha dorsal de sua vacina. Sessenta e três dias depois, a primeira dose da vacina foi para Haller e outros voluntários participantes do pequeno estudo no Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente Washington. Em 2016, Graham havia feito uma vacina contra o vírus zika que foi da bancada do laboratório para o primeiro voluntário no que ele pensava serem 190 dias extremamente rápidos. "Batemos esse recorde em quase 130 dias", diz ele.

O esforço se beneficiou das lições que Graham aprendeu com seus esforços anteriores com vacinas, incluindo seu trabalho sobre o vírus sincicial respiratório (RSV). A busca por uma vacina contra o VSR tem um passado controverso: em 1966, um julgamento de uma vacina candidata foi vinculado à morte de duas crianças. Estudos posteriores identificaram o problema como anticorpos desencadeados por vacinas que se ligavam à proteína de superfície do vírus, mas não neutralizavam sua capacidade de infectar células. Este complexo anticorpo-viral, por sua vez, às vezes leva a respostas imunológicas complicadas.

A experiência foi útil em 2015, quando um membro do laboratório de Graham fez uma peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, e voltou doente. Preocupada com a possibilidade de ser o MERS, que é endêmico nos camelos da Arábia Saudita e salta repetidamente para os seres humanos lá, a equipe de Graham verificou o vírus e, em vez disso, retirou um coronavírus comum. Foi relativamente fácil determinar a estrutura de seu pico, o que permitiu à equipe criar formas estáveis para os vírus SARS e MERS e, em janeiro, para os SARS-CoV-2. Essa é a base da vacina Moderna COVID-19, que contém mRNA que direciona as células de uma pessoa para produzir essa proteína de pico otimizada.

Ainda uma nova estratégia, nenhuma vacina de mRNA chegou a um ensaio clínico de fase III, e muito menos foi aprovada para uso. Mas, produzir um grande número de doses de vacina pode ser mais fácil para as vacinas de mRNA do que para as tradicionais, diz Mariola Fotin-Mleczek, da empresa alemã CureVac, que também está trabalhando na vacina de mRNA para o novo coronavírus. A vacina experimental contra a raiva do CureVac mostrou uma forte resposta imune com um único micrograma de mRNA. Isso significa que 1 grama pode ser usado para vacinar 1 milhão de pessoas. “Idealmente, o que você precisa fazer é produzir talvez centenas de gramas. E isso seria suficiente”, diz Fotin-Mleczek.

Muitas empresas contam com técnicas testadas pelo tempo. A Sinovac Biotech está produzindo uma vacina contra SARS-CoV-2 inativando quimicamente partículas virais inteiras e adicionando um reforço imunológico chamado alume. O Sinovac usou a mesma estratégia para uma vacina contra a SARS desenvolvida e testada em um ensaio clínico de fase I há 16 anos, diz Meng Weining, vice-presidente da Sinovac. "Acabamos de reiniciar imediatamente a abordagem que já conhecemos." A vacina SARS da empresa funcionou em macacos e, embora houvesse preocupações de que uma vacina inativada contra o coronavírus pudesse desencadear o tipo de doença de aumento de anticorpos que ocorreu com a vacina RSV, Meng enfatiza que esses problemas não surgiram em seus estudos com animais.

Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina de Icahn no Monte Sinai, diz que as vacinas inativadas contra vírus têm a vantagem de ser uma tecnologia comprovada que pode ser ampliada em muitos países. “Essas fábricas estão lá fora e podem ser usadas”, diz Krammer, co-autor de um relatório de status sobre as vacinas COVID-19 que aparece on-line no Immunity.

O CanSino agora está testando outra abordagem. Sua vacina usa uma versão não replicante do adenovírus-5 (Ad5), que também causa o resfriado comum, como um "vetor" para transportar o gene da proteína de pico de coronavírus. Outros pesquisadores de vacinas temem que, porque muitas pessoas tenham imunidade ao Ad5, possam montar uma resposta imune contra o vetor, impedindo que ele entregue o gene da proteína spike nas células humanas - ou pode até causar danos, como parecia acontecer em um teste de uma vacina contra o HIV baseada no Ad5, fabricada pela Merck, que foi interrompida no início de 2007. Mas a mesma colaboração chinesa produziu uma vacina contra o Ebola, aprovada pelos reguladores chineses em 2017, e um comunicado de imprensa da empresa afirmou que seu novo candidato gerou “fortes respostas imunes em modelos animais” e tem “um bom perfil de segurança”.

Outras plataformas de vacinas COVID-19 incluem uma versão enfraquecida em laboratório do SARS-CoV-2, um vírus de vacina replicável, mas inofensivo, que serve como vetor para o gene spike, subunidades proteicas do vírus geneticamente modificadas, um loop de DNA conhecido como um plasmídeo que carrega um gene do vírus e proteínas SARS-CoV-2 que se auto agrupam em "partículas semelhantes a vírus". A J&J está usando outro adenovírus, o Ad26, que geralmente não infecta humanos, como seu vetor. Essas diferentes abordagens podem estimular diferentes braços do sistema imunológico, e os pesquisadores já estão "desafiando" os animais vacinados com SARS-CoV-2 para ver quais respostas melhor se correlacionam com a proteção.

Muitos dos esforços no campo COVID-19 nascente têm sido a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), uma organização sem fins lucrativos criada para coordenar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas contra doenças infecciosas emergentes. Até agora, o CEPI investiu quase US$ 30 milhões no desenvolvimento de vacinas na Moderna, Inovio e em outros seis grupos. “Passamos por um processo seletivo para escolher aqueles que achamos que têm maior probabilidade de atingir nossos objetivos - que achamos que deveriam ser os objetivos mundiais - de velocidade, escala e acesso”, diz Richard Hatchett, CEO do CEPI. Mas ele também está torcendo por outros candidatos. "Não queremos estar em uma situação em que temos [uma] vacina bem-sucedida e temos um evento de contaminação [durante a fabricação] e, de repente, não temos nenhum suprimento de vacina".

O CEPI investe em instalações de fabricação ao mesmo tempo em que gasta dinheiro na realização de ensaios clínicos. "Ao fazer as coisas em paralelo, e não em série, esperamos comprimir os prazos gerais", diz Hatchett. Depois de revisar os dados da fase I e os dados dos modelos animais, o CEPI planeja mover seis dos oito produtos para estudos de segurança maiores, para chegar a três que são dignos de testes de eficácia em larga escala que talvez incluam 5000 participantes.

Enquanto a vacina não vem precisamos achatar a curva de contaminação para permitir que nosso sistema de saúde dê conta dos infectados graves (já escrevi sobre isso aqui, veja)Para auxiliarmos nesta questão precisamos nos manter em isolamento social, torcer para que nossos políticos reconheçam agora o valor da ciência e dos cientistas e fazer a nossa parte com os cuidados que não nos cansamos de repetir.

(Com informações de Jon Cohen, Science Magazine)

 

Ciência Viva na Quarentena: você já ouviu falar em um organismo chamado Gaia?

A teoria já tem mais de 50 anos, mas se fizermos uma pesquisa rápida poucos terão ouvido falar em Gaia. Desde a década de 1950 o mundo travou uma corrida para conquista do espaço. Na década de 1960 os EUA ganharam a dianteira promovendo uma série de lançamentos que culminaram com o pouso do homem na superfície lunar em 1969. Mas sempre houve a intenção de buscar vida extraterrestre. Ao ponto que a Nasa chegou a contratar pesquisadores com a finalidade de definirem-se parâmetros para buscar vida em outros planetas, os chamados Exobiólogos. Um destes pesquisadores instados pela Nasa a buscar vida, principalmente em Marte foi o britânico James Lovelock.

James Lovelock listou uma série de características que seriam necessárias para vida, como a dependência de água líquida, uma temperatura média da superfície entre 10-16°C e um tempo de permanência destas condições de pelo menos 3,5 milhões de anos. Ao levantar estes e outros fatores juntamente com outros cientistas como norteamericana Lynn Margulis, Lovelock sugeriu que as condições necessárias impõem que o planeta Terra (que reúne estas condições) funcione como uma entidade viva e autorreguladora, levantando que a própria presença de vida ajuda a regular a temperatura da superfície, a concentração de oxigênio na atmosfera e a composição química dos oceanos em fatores que se completam e interagem com as diferentes formas de vida da Terra. Surgiu então a Hipótese Gaia, de que a Terra funciona como um grande ser vivo em equilíbrio, pautando-se também a ideia de que a existência e a ação do ser humano na exploração dos recursos existentes gera uma modificação neste equilíbrio.

James Lovelock. Fonte: Wikipedia.

Segundo Lovelock “a evolução é uma dança bem engendrada, com a vida e o ambiente material como parceiros. Dessa dança emerge a entidade Gaia”.

Cronologia

1805 – Alexander von Humboldt declara que a natureza pode ser representada como um todo.

1859 – Charles Darwin argumenta que as formas de vida são moldadas por seus ambientes.

1866 – O naturalista alemão Ernst Haeckel cunha o termo ecologia.

1935 – O botânico britânico Arthur Tansley descreve as formas de vida da terra, as paisagens e o clima como um ecossistema gigante.

Anos 1970 – Lynn Margulis descreve o relacionamento simbiótico de micróbios e a atmosfera da Terra; ela posteriormente define Gaia como uma série de ecossistemas interagindo.

1997 – O Protocolo de Kyoto estabelece alvos para a redução de gases de efeito estufa.

(Com informações do Livro da Ciência)

Ciência Viva na Quarentena: você já ouviu falar em Computador Quântico?

A pergunta do título já deixa muita gente de cabelo em pé. Mas vejamos se consigo explicar. O computador convencional trabalha com suas informações baseadas no sistema binário. Este é um sistema da matemática que usa apenas dois valores na sua base: 0 e 1, um sistema bem mais simples do que o que usamos para contagens que é o sistema decimal (assume dez valores que vão do zero ao 9). Assim quando falamos em bits, estamos falando em um sinal elétrico que pode estar ligado (1) ou desligado (0). Toda a lógica de um computador comum baseia-se neste sistema com dois valores.

No computador quântico utiliza-se o campo da mecânica quântica que se baseia também em dois estados (como o zero e o 1), mas com a possibilidade de que estes estados se sobreponham, aumentando muito as possibilidades, quando comparado ao bit. A unidade da computação quântica é qubit, que por definição é formado por partículas subatômicas. Na prática um qubit é muito mais versátil que um bit por ser capaz de suportar inclusive um embaralhamento, gerando uma ampliação exponencial de dados processados. Em tese um computador quântico seria muito mais rápido para execução de cálculos matemáticos complexos.

O modelo de computação quântica foi criado pelo matemático Yuri Manin. Divulgados pela primeira vez na década de 1980 os computadores quânticos pareciam que jamais sairiam da teoria. Atualmente a Google e a IBM disputam a elaboração de máquinas, mas apenas uma empresa canadense comercializa com até 2000 qubit a um custo na casa 15 milhões de dólares. As gigantes como IBM preferem alugar tempo de processamento nestas máquinas, especialmente com fins de pesquisas científicas. Estes computadores são usados atualmente em pesquisas nas áreas de Astrofísica, física, matemática e biotecnologia.

Yuri Manin, o pai da Computação Quântica. Fonte: Wikipedia.

Cronologia

1935 – Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen desenvolvem o paradoxo EPR, provendo a primeira descrição do embaralhamento quântico.

1994 – O matemático americano Peter Schor desenvolve um algoritmo que consegue alcançar a fatorização dos números usando um computador quântico.

1998 – Usando a interpretação de Hugh Everett, de muitos mundos, para a mecânica quântica, teóricos imaginam um estado de superposição no qual um computador quântico pode estar ligado ou desligado.

2011 – Uma equipe de pesquisa da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hefei, China, corretamente encontra os fatores primordiais de 143, usando um conjunto de quatro qubits.

(Com informações do Livro da Ciência)

Ciência Viva na Quarentena: É possível inserir genes em humanos para curar doenças de causa genética?

A lógica parece bem simples: algumas doenças são resultado da herança de genes defeituosos. Estes mesmos genes defeituosos possuem versões perfeitas. Logo para curar uma doença causada por gene defeituoso basta substituir este gene por um perfeito nas células onde o seu efeito pode provocar a doença! Mas vem a pergunta: isso é possível?

O genoma humano (que reúne a totalidade das informações genéticas humanas) possui entre 20 e 30 mil genes. Um gene é uma unidade molecular com informação química de controle e fabricação de uma proteína, que dependendo de quem seja pode ser responsável por muitas funções no organismo. Ou apenas uma função só, mas de grande importância para o metabolismo do corpo. O gene pode se tornar defeituoso quando ocorre um erro na sua cópia que é passada dos pais para os filhos. Um gene defeituoso pode causar uma doença genética.

As doenças genéticas não podem ser curadas por drogas e tratamentos convencionais. Em muitos casos a medicina atua apenas para minimizar ou retardar o efeito da doença genética. Mas desde a década de 1970 os cientistas passaram a considerar a ideia de tratar doenças genéticas através da Terapia Gênica. A ideia seria substituir genes defeituosos por genes saudáveis.

A execução deste tratamento foi realizada pela primeira vez na década de 1980, quando cientistas americanos liderado por Willian French Anderson[1] obtiveram o êxito de usar um vírus modificado, “contaminado” com um gene corrigido de uma doença imunológica, usando animais, alterando o conteúdo de células do tecido medular das cobaias. Na década de 1990, Anderson conseguiu tratar duas meninas que sofriam da doença imunológica conhecida como “doença da bolha”, conseguindo sua cura parcial.

William French Anderson. Fonte: Wikipedia.

Ainda há muito o que avançar. O que parece bem sucedido em termos de tratamento para doenças provocadas por efeito de um só gene, como no caso da fibrose cística, apresenta resultados otimistas. Mas as doenças causadas por efeitos da ação conjunta de vários genes, como Diabetes ou o Mal de Alzheimer, ainda indicam um longo caminho a percorrer.

Cronologia

1984 – O pesquisador americano Richard Mulligan usou um vírus como ferramenta para inserir genes em células tiradas de ratos.

1985 – William French Anderson e Michael Blaese mostraram que esta técnica pode ser usada para corrigir células defeituosas.

1989 – Anderson realiza o primeiro teste seguro na terapia humana de genes, injetando um marcador inofensivo, em um homem de 52 anos. Ele realiza a primeira experiência clínica, três anos depois.

1993 – Pesquisadores do Reino Unido descrevem os resultados de experimentos bem sucedidos com animais, propiciando o tratamento da fibrose cística.

2012 – Começa a primeira experiência de multidoses da terapia gênica de fibrose cística em humanos.

(Com informações do Livro da Ciência)

 

 

[1] O Cientista William French Anderson, considerado o pai da Terapia Gênica, cumpre atualmente uma pena de 14 anos de prisão por molestar sexualmente uma adolescente.

Ciência Viva na Quarentena: Existem planetas fora do Sistema Solar?

Já tem um tempo longo que os cientistas analisam a existência de planetas gravitando em torno de outras estrelas, assim como acontece com nosso Sistema Solar. Entretanto, mesmo com toda a tecnologia só muito recentemente a ciência foi capaz de detectar outros astros como o que vivemos, em órbita em torno de outros “sóis”.

Somente em 1995 os astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz descobriram o 51 Pegasi b, um planeta bem grande (do tamanho do nosso Júpiter), orbitando uma estrela como o Sol, a cerca de 51 anos-luz de distância da Terra (lembrando que um ano luz, que é a medida espaço que percorre a luz em um ano e equivale a 9,46 trilhões de km). De 1995 para cá mais de 1000 planetas externos em relação ao Sistema Solar foram descobertos, os chamados Exoplanetas. Clique aqui e veja a lista de estrelas que possuem Exoplanetas. 

O astrônomo Geoffrey Marcy da Universidade da California, em Berkeley, detém com sua equipe o recorde de mais exoplanetas descobertos, incluindo 70 entre os 100 primeiros descobertos. A descoberta de muitos destes planetas não foi feita por observação direta, dado que a distância impossibilita a existência de imagens nítidas. A descobertas, em geral, dá-se por meio indireto, a partir das variações da velocidade radial da estrela, alterando a frequência de luz que chega até a Terra.

Geoffrey Marcy. Fonte: Wikipedia.

Cronologia

Anos 1960 – Astrônomos esperam detectar novos planetas através da medição das “oscilações” no caminho das estrelas, mas tais movimentos permanecem além do alcance até dos mais potentes telescópios de hoje.

1992 – O astrônomo polonês Aleksander Wolszczan descobre os primeiros planetas confirmados além do Sistema Solar, ao redor de um pulsar (Pulsar é uma estrela de nêutrons que transforma sua energia rotacional em energia eletromagnética, devido ao intenso campo magnético que formam).

2009 – 2013 – O satélite Kepler, da NASA, descobre mais de 3000 candidatos exoplanetas, ao procurar por gotas de radiação das estrelas, quando os planetas passam diante delas. Baseados nos dados do Kepler, os astrônomos preveem que pode haver até 11 bilhões de mundos semelhantes à Terra orbitando astros semelhantes ao Sol na Via Láctea, nossa galáxia.

(Com informações do Livro da Ciência)

Ciência Viva na Quarentena!

Olá,

A partir de amanhã, sempre de dois em dois dias,  vamos postar uma sequência de textos sobre diferentes áreas da Ciência, contando um pouco sobre fatos científicos relevantes que ocorreram nos últimos anos.

O objetivo principal é proporcionar ao leitor assuntos que fujam um pouco da COVID19 que tem deixado todos bastante preocupados, seja pela doença em si, ou pelos impactos econômicos ou mesmo pelo desentendimento entre os nossos líderes políticos. O que importa é que teremos conteúdos e curiosidades diversas na área de ciências.

Este projeto é fruto da própria Quarentena, que nos proporcionou colocar muitas coisas em dia e ter novas ideias para agradar nosso público leitor.

Boa leitura!

Um planeta de joelhos

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Hoje demorei um pouco para postar minha opinião no Ciência Viva, porque não queria falar do assunto do momento, que é a pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Achei inevitável e na verdade queria poder dar uma boa nova que ainda não temos. Estou confinado em casa com minha família, saindo apenas para o essencial do essencial, mas pensando o tempo todo de que avançamos em muitos aspectos tecnológicos, todavia ainda padecemos das mesmas crises que dizimaram a humanidade como a peste negra do século XIV (as estimativas mais otimistas de que ela eliminou cerca de 75 milhões de pessoas) ou a gripe espanhola de 1918 que pode ter dizimado mais de 100 milhões de pessoas em vários países do mundo, incluindo o Brasil. Com um agravante em favor da COVID19: vivemos em um mundo extremamente globalizado.

No final do ano passado fiz com minha esposa uma viagem dos sonhos. Saímos do Brasil, fizemos escala em Paris (França), uma estadia de três dias em Lisboa (Portugal) e mais quatro dias em Porto (Portugal) e sete dias em Roma (Itália). Na Itália visitamos os principais monumentos, cercado por turistas do mundo inteiro. Roma é uma cidade repleta de estrangeiros, sejam visitantes ou trabalhadores. Nos contatos de rua comprei água na mão de um rapaz de Malawi, souvenirs com indianos, etíopes, chineses. Recebemos indicações e informações de marroquino, paquistanês e brasileiros (Veja na galeria algumas imagens de pontos turísticos, sempre muito cheios de visitantes e transeuntes). Ver a Itália com seus quase 5 mil mortos é uma visão desoladora, pois os dias que tivemos em Roma e Assis vimos que há vida pulsando por toda a parte e de todas as partes do mundo.

Contra a epidemia o mundo todo corre, seja para estabelecer rápidos planos de contingenciamento das contaminações, seja atrás de curas ou do teste de vacinas ou até mesmo testes rápidos para confirmação da doença, que se confunde com quase uma dezena de infecções no trato respiratório que são muito parecidas. Nos EUA o Presidente Trump solicitou resultados rápidos aos pesquisadores. H. Holden Thorp renomado cientista e editor da Science retrucou que depois de cortar verbas para pesquisa solicitar rapidez é um desaforo. O próprio Trump anunciou o possível uso da cloroquina, medicamento usado para combate da malária e doenças autoimunes como lúpus, que supostamente poderia trazer benefícios para portadores da COVID19. O efeito deste anúncio irresponsável fez os menos informados, patronos da automedicação aqui no Brasil correrem para as farmácias e deixarem os portadores de doenças incapacitantes como lúpus desamparados e sem o medicamento. Circulam nas redes sociais o desabafo da pesquisadora espanhola Leda Beck que mandou procurarem a cura com jogadores de futebol que recebem 1 milhão de euros por mês contra 1800 euros pagos para um pesquisador. A verdade é que sem disparar nenhum tiro este vírus deixou nosso planeta de joelhos.

O certo é que para o momento precisamos nos acalmar e nos manter com a redução máxima do convívio social. Em post anterior expliquei sobre a importância e a necessidade de isolamento, como um meio de atenuar a curva de contaminação e espalhamento da doença.

Para o momento: fique em casa, lave bem as mãos, se alimente bem, se hidrate bem e parta para entretenimentos que substituam o seu contato com as pessoas como assistir um bom filme ou ler um bom livro. Sigamos aguardando nossos profissionais da saúde conseguirem dominar mais esta enfermidade.

Boa semana para todos (as).

 

Por que precisamos nos isolar?

Com a chegada do novo coronavírus no Brasil (SARS-Cov2) e a possibilidade de chegada no Piauí, algumas medidas são muito importantes para evitar e barrar o avanço da doença (CoViD19). Como pesquisador que trabalha com divulgação científica e professor fui procurado por amigos, conhecidos e meios de comunicação para fazer alguns esclarecimentos, falando principalmente sobre o que se sabe sobre a doença, os meios de se evitá-la e os cuidados necessários para coibir este contágio. Por isso, mais uma vez escrevo sobre o assunto, que embora não seja minha especialidade, nas funções que exerço – de professor e de divulgador de ciência – me obrigam a fazer esclarecimentos necessários.

Durante o processo de epidemia, de uma doença que não dá trégua para os sistemas de saúde, o que inclui os países de primeiro mundo, como a Itália e a Espanha, que hoje são as nações que mais veem seus cidadãos sucumbirem e até perecerem ante a infecção que se alastra fortemente, ceifando vidas de todas as idades, mas principalmente os idosos, algumas decisões, especialmente as que falavam sobre a necessidade de estancar o contato entre as pessoas, nestas nações, demoraram a ser consideradas, primeiro pelas autoridades e depois pela população. Mas os especialistas são unânimes em afirmar sobre a necessidade deste isolamento, com a finalidade de ACHATAR A CURVA. Mas que curva é essa?

A velocidade de infecção pelo novo coronavírus em países como a Itália, ocorreu de modo exponencial, como se diz na Matemática. Na figura acima, em vermelho, temos uma representação de como seria a infecção com muitos casos ocorrendo ao mesmo tempo. Com isso, o sistema de saúde, representado na figura pela linha tracejada não conseguiria atender a todos ao mesmo tempo. Quando falamos em “achatar a curva” seria exatamente fazer com que os casos acontecessem, mas de forma mais lenta, como representado na curva em verde, dando tempo os primeiros doentes melhorarem e desonerarem o serviço de saúde.

Ao nos mantermos recolhidos em casa, reduziríamos as oportunidades de contágio e, com isso, achataríamos a curva. Por isso, seguem algumas recomendações:

1) Lave bem as mãos com água e sabão – o vírus tem um capsídeo lipídico, que se dissolve em contato com água e sabão.

2) Mantenha-se em casa. Se alimente bem e se hidrate bem. Evite saídas desnecessárias. Evite aglomerações. A alimentação ajudará a compor o seu sistema imunológico.

3) Ao encontrar um conhecido evite aperto de mãos, abraços e beijos. A contaminação ocorre através de gotículas de saliva e não poupa ninguém.

4) Se apresentar sintomas de gripe e tiver que sair, use máscara. O principal objetivo é não passar para outras pessoas.

5) Adie qualquer tipo de necessidade de viagem ou deslocamento. Sua saúde e de seus parentes é mais importante do que qualquer compromisso. O compromisso primeiro é com sua saúde.

E por último: LAVE BEM AS MÃOS. VAMOS ACHATAR A CURVA E NOS LIVRAR DESTE AGENTE INFECCIOSO USANDO O QUE TEMOS DE MELHOR: NOSSA INTELIGÊNCIA!!!

Até a próxima...

Educação Superior X Mercado: a demissão do conhecimento

Todo mundo que resolve seguir uma carreira, em geral, procura mirar no topo. Ao entrar na faculdade e ao se afeiçoar com o curso a meta de cada um é conseguir dar o melhor de si para se chegar no lugar mais alto, com mais prestígio e respeito dos pares. Faz parte da ordem natural das coisas tentar este intento, tanto nas carreiras em geral quanto nas carreiras acadêmicas.

A carreira acadêmica é composta da graduação e de tudo o que se fizer, com uma determinada carga horária, depois da graduação que, genericamente chamamos de pós-graduação (“pós” significa “que vem depois”). Assim, depois da graduação o estudante, agora formado, pode tentar seguir seus estudos e trilhar numa pós. Existem duas categorias de pós-graduação: a lato sensu e stricto sensu. Lato significa largo e Stricto, estreito, ambos do latim, numa referência ao afunilamento proporcionado pelas pós-graduações. Os cursos “Lato” são mais amplos e são representados pelos aperfeiçoamentos (cursos de no mínimo 180 horas) e especializações (cursos com um mínimo de 360 horas). Os cursos “Stricto” são os mestrados e doutorados que duram um máximo de dois e quatro anos, respectivamente. Todos estes cursos são marcados pela elaboração e em muitos casos (especialmente os “Stricto”) defesa pública (ou fechada quando há um segredo industrial em jogo, portanto, de valor financeiro considerável) de um trabalho de conclusão de curso, o temido TCC.

O ápice da carreira acadêmica se dá através do curso de Doutorado, quando o estudante atinge um nível de excelência, tornando-se “dono” de parte ínfima do conhecimento. Muitas pessoas pensam que depois disso ainda tem o “pós-doc”, uma referência carinhosa aos estágios pós-doutorais que, em geral, são períodos em que pesquisadores, já doutores, buscam trabalhar com pesquisadores que possuem uma experiência profissional maior, ou procuram se aperfeiçoar em técnicas mais sofisticadas, aprender coisas novas dentro do seu escopo de conhecimento ou atuar em pesquisas a fim de melhorar o desempenho acadêmico tão cobrado no meio científico das diferentes áreas do conhecimento.

A tradição acadêmica brasileira coroa a excelência exatamente pela formação de pós-graduados e sua respectiva produção. As instituições de ensino superior (IES) mais respeitadas são as que tem o corpo melhor qualificado e mais produtivo. Nas IES, diferente do que acontece nas escolas em geral, o conhecimento é produzido, é gerado. IES de excelência são as que produzem mais conhecimento. São as que depositam o maior número de patentes, são as que tem os melhores cursos de pós-graduação, os professores que publicam mais. Este é o fundamento de tanta correria para publicar artigos, livros, ensaios, orientar estudantes, participar de bancas examinadoras etc., etc., etc...

No Brasil, cerca de 95% do conhecimento gerado vem das universidades e quase a totalidade disso, das instituições públicas. Isso acontece porque a grande maioria das IES privadas só pratica um eixo do tripé da universidade: o Ensino. A pesquisa e a extensão são, em geral, missões exercidas mais fortemente pelas IES públicas. O afrouxamento das regras para o crescimento do segmento privado de IES fez surgir algo completamente esdrúxulo: a demissão por excesso de conhecimento. Sim! Isso mesmo que você está lendo. Muitas faculdades tem enxugado suas folhas de pagamento demitindo professores pelo grau de titulação. Foi Doutor, rua! Foi Mestre, rua! Algo impensável neste milênio! Não é menosprezando trabalho dos professores menos titulados, pelo contrário, muitos são excelentes no que fazem, que é reproduzir o conhecimento, ensinar. Mas e os que produzem conhecimento? Os pesquisadores? Nas IES privadas tem sido a presa fácil de um sistema hoje formado por verdadeiros conglomerados econômicos que resolveram investir no ramo das faculdades e universidades e, sem se preocupar muito com qualidade, demitiram seus quadros de profissionais com maior qualificação. Uma pena!

Certo dia, em uma roda de amigos, me perguntaram: quanto você ganha para publicar um artigo? Fiquei incrédulo com a pergunta, mas depois cai na real, porque a maioria das pessoas sequer sabe o que se faz numa universidade. Depois ainda tem inescrupuloso que generaliza dizendo que a regra é plantar maconha... Mas isso não vem ao caso agora.

Com muita tristeza vejo o desenrolar da Educação Superior do meu país em uma situação tão desestimulante. Não consigo enxergar boas perspectivas para as carreiras acadêmicas. No setor público, um desmonte que começa com um discurso ideológico imbecilizado, replicado nas redes sociais de forma clonal. No segmento privado, um imediatismo por lucros tão desmedido que transforma instituições de ensino antes respeitadas pelos resultados em escolões de nível superior. Um descalabro...

Torço para que se mantenham as ilhas de excelência e que estas possam crescer e se tornar continentes de qualidade. Bom domingo a todos (as).

Modelos matemáticos e o combate ao coronavírus

Dentre as armas que os cientistas recorrem com o intuito de combater epidemias estão os modelos matemáticos, considerados como estratégicos. Mais do que estimar como será a disseminação da doença, o número de infectados e o percentual de mortes e hospitalizações, essas ferramentas permitem simular numerosos cenários e, assim, testar a eficácia de intervenções que podem ser adotadas pelas autoridades de saúde para reduzir o contágio, como o fechamento de escolas, o cancelamento de eventos públicos e a restrição de viagens.

Modelos já bem estabelecidos para o estudo da gripe e outras infecções respiratórias podem ser adaptados com relativa facilidade para prever a disseminação do novo coronavírus, auxiliando governos e gestores de saúde no planejamento de ações para conter a transmissão e atender os doentes. Faltam, no entanto, algumas informações-chave para tornar as estimativas minimamente precisas, como, por exemplo, o percentual de pessoas que se infectam e não manifestam sintomas.

“Indivíduos com febre, tosse e desconforto respiratório têm maior probabilidade de irem ao hospital e serem testados. Os assintomáticos, por outro lado, não vão ao médico e, mesmo sem saber, podem transmitir o vírus para familiares, amigos e colegas de trabalho. Para descobrir quantas pessoas estão nessa condição seria necessário testar todo mundo – algo impossível neste momento, pois é preciso poupar recursos para o atendimento de quem está realmente doente”, disse a matemática Sara Del Valle, especialista em modelagem de doenças infecciosas do Laboratório Nacional de Los Alamos, nos Estados Unidos.

Na avaliação de Marcelo Gomes, pesquisador do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além do percentual de assintomáticos também é crucial determinar a taxa de infectividade desses casos, ou seja, o quanto indivíduos sem sintomas são capazes de transmitir o vírus. “Isso pode alterar drasticamente a capacidade de controlar a propagação da Covid-19. Se a transmissão ocorrer majoritariamente a partir de pessoas com sintomas, o cenário é mais favorável. Porém, em uma situação inversa, seriam necessárias medidas para reduzir o contato entre as pessoas que alcancem toda a população, como o fechamento de escolas, por exemplo”, disse.

Outro fator importante e que ainda não está claro é por quanto tempo pacientes curados permanecem imunes ao vírus. “Há relatos de pessoas que tiveram alta e, após alguns dias, voltaram a manifestar sintomas, foram testadas e tiveram resultado positivo para Covid-19 novamente. Pode ter sido uma recaída como também pode ser uma nova infecção. Neste segundo caso, a dinâmica da epidemia muda completamente, pois a imunidade temporária – se de fato existir – é muito curta, o que impede a ocorrência de um fenômeno epidemiológico conhecido como imunidade de rebanho, uma espécie de barreira de transmissão formada por indivíduos previamente infectados”, disse Gomes.

Del Valle e Gomes participaram, no dia 3 de março, de uma sessão especial sobre Covid-19 realizada durante o Workshop on Modelling of Infectious Diseases Dynamics, organizado pelo Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR) – um centro de pesquisa apoiado pela FAPESP e sediado no Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Paulo. A mesa de discussão contou com a pesquisadora Carrie Manore, também de Los Alamos.

Durante o evento, a frase “estamos apenas no começo” foi repetida inúmeras vezes pelos especialistas quando se referiam ao número de casos confirmados de Covid-19 no mundo.

No Brasil, segundo Gomes, torna-se mais difícil conter a disseminação à medida que o vírus invade a Europa e os Estados Unidos, locais com o qual o país mantém maior intercâmbio de turistas e viajantes a trabalho. Invasão nesse caso, ressalta o pesquisador, significa a existência de transmissão interna da doença e não apenas o registro de casos importados.

Com base em dados de tráfego aéreo, Gomes avalia que São Paulo é a cidade com maior risco de apresentar novas infecções no curto prazo, pois é onde desembarca a maior parte dos passageiros internacionais. As cidades que mais recebem voos oriundos da capital paulista são, na ordem, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador e Recife.

“Ainda é cedo para afirmar com precisão qual é a taxa de letalidade da Covid-19 e se a doença representa um problema de saúde pública maior do que a gripe sazonal ou as enfermidades causadas pelos coronavírus que já circulavam entre os humanos”, disse Gomes.

Ele arrisca prever, contudo, que caso o surto atual não seja adequadamente controlado, o SARS-CoV-2 pode se tornar um patógeno endêmico no país, que reaparece sazonalmente como o H1N1, um dos causadores da gripe.

“Não conseguimos conter o surto de H1N1 em 2009 e, agora, todo ano ele volta com pequenas modificações”, disse. "Por outro lado, essa experiência trouxe muitos ensinamentos para os profissionais em saúde pública e a comunidade científica internacional. Hoje estamos melhor preparados para lidar com pandemias. No Brasil, o Ministério da Saúde implementou a rede de vigilância de casos de síndrome respiratória aguda grave [SRAG], que estabeleceu a notificação obrigatória dos casos em território nacional. O desenvolvimento do InfoGripe [ferramenta de análise e monitoramento de casos de SRAG no Brasil e gera alertas semanais] não seria possível sem a rede de vigilância estabelecida em 2009."

(Com informações da FAPESP e da UNESP)

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