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Reflexões sobre o mundo pós-pandemia: o Meio Ambiente

Ainda na esteira de fazer algumas reflexões com os leitores do Ciência Viva, hoje falaremos sobre o Meio Ambiente. Há um viés muito interessante para abordar. O Meio Ambiente, em muitos dos seus vários aspectos foi beneficiado durante o período da pandemia.

Antes de enumerarmos alguns pontos importantes resultantes deste break geral do planeta é muito bom reforçar que o próprio aparecimento do SARS-Cov2, o vírus causador da COVID19, foi associado ao uso na alimentação de animais silvestres nos mercados da província de Wuhan. Estudo publicado recentemente na revista Science comparou a sequência genética de 781 vírus da mesma família do vírus SARS-Cov2 (Família Coronaviridae) e apontou que há uma semelhança de 96,2% entre o SARS-Cov2 e o vírus encontrado no Morcego-ferradura (morcegos do gênero Rhinolophus), confirmando a possível origem apontada pelos primeiros estudos sobre a origem da doença e o hábito dos chineses fazerem uso de animais silvestres para alimentação. A análise filogenética e a projeção da distribuição geográfica da doença foi confirmada por Peter Daszak, cientista que liderou outros 14 pesquisadores, autores deste estudo recente, em entrevista à Science.

Então é importante que se diga que, contrariando a crença popular de que o vírus foi gerado em algum laboratório chinês, o SARS-Cov2 parece de fato ter sido gerado pelo melhor e mais eficiente de todos os laboratórios do mundo: o Meio Ambiente.

O mesmo Meio Ambiente que tem se esbaldado e sido bastante resiliente em melhorar seus indicadores com a parada geral feita pela humanidade. Que digam as águas dos canais de Veneza, Itália, que se mostraram mais límpidas e atrativas à vida selvagem marinha, como já retratamos aqui anteriormente.

A qualidade do ar já se mostra bem melhor em várias megacidades como Nova York (EUA) e São Paulo (Brasil). Mas na China, que voltou à carga máxima de sua atividade industrial, o “novo normal” já parece superar os índices de poluição anteriores. A indústria chinesa já bate recordes de produção acelerada. A recuperação econômica virá acompanhada da elevação dos índices de poluição industrial.

Outro componente importante dos impactos ambientais é o desmatamento. Apesar de muita gente ter ficado recolhida em casa, os agentes de desmatamento do Brasil continuaram em plena atividade. Parece que absorveram bem as lições do próprio Ministro do Meio Ambiente brasileiro que chamou a atenção para possibilidade de aprovar flexibilizações da legislação ambiental dado que o foco do momento era a pandemia: “vamos aproveitar para passar a boiada”, numa referência à desburocratização, como preferiu se explicar depois. Algo absolutamente vergonhoso, na minha opinião.

No ambiente urbano, ter muita gente ancorada em casa fez aumentar a produção de lixo, com agravante de termos objetos contaminantes como luvas e máscaras descartáveis jogadas de qualquer maneira. Fez aumentar a poluição hídrica, especialmente nas cidades com baixa cobertura de esgotamento sanitário e fez aumentar o consumo de energia elétrica, com um agravamento maior nas cidades onde a matriz energética não é nada sustentável.

No último dia 05 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. Na oportunidade pude falar juntamente com dois colegas professores sobre a relação entre Meio Ambiente e a pandemia da COVID-19 para cerca de 300 professores através de uma live no YouTube. Fiz uma rápida fala que depois foi abrilhantada pelos outros dois colegas. Se quiser ouvir o que apresentei segue o vídeo (minha fala ficou entre o minuto 12’ e o minuto 38’).

Uma boa semana para todos (as) e até a próxima.

Reflexões sobre o mundo pós-pandemia: a Tecnologia

Uma das coisas que mais se viu depois do início das atividades remotas, por ocasião da pandemia, foi o uso de ferramentas tecnológicas para o trabalho por home office. A grande maioria dos aplicativos para reuniões remotas, por exemplo, já eram conhecidos e usados (ocaso do Skype, por exemplo), mas alguns ganharam um uso mais frequente e novas versões foram surgindo para atendimento às demandas. Neste post vamos comentar sobre algumas ferramentas tecnológicas que vêm sendo usadas, especialmente para substituir atividades presenciais como reuniões corporativas e aulas.

O Google através do Programa Google for Education (em tradução livre, Google para Educação) popularizou o Google Classroom uma verdadeira sala de aula onde o professor pode postar aulas em vídeos ou podcasts, colocar atividades escritas e até avaliar suas turmas, com a opção de aulas gravadas ou aulas ao vivo, podendo ser acompanhado através do computador, tablet ou smartphones. Veja o vídeo institucional abaixo:

Outro exemplo que funciona muito bem é a plataforma Zoom Meetings. Trata-se de uma plataforma para videoconferências bem robusta que possui diversas funcionalidades, como compartilhamento de tela, gravação de webinars, acesso via telefone e upload de reuniões na nuvem. A Cisco também disponibilizou de modo gratuito o Webex Meet com funcionamento bem similar e que é acessado tanto pelo computador quanto por outras telas como tablets e smartphones. Nesta linha o próprio Google também lançou o Google Meet que ficou integrado para quem usa contas de e-mail do Gmail. Com o funcionamento bem simples, requer apenas que se coloque o e-mail dos participantes que, de forma automática recebem o link para reunião. Se a internet for rápida, para estes três exemplos citados qualquer palestra, aula ou reunião transcorrerá com tranquilidade.

A Rede Nacional de Pesquisa, RNP, também aperfeiçoou o seu sistema de webconferências que funciona muito bem. Este sistema está sendo adotado por várias universidades para continuidade das aulas e das defesas públicas de Mestrado e Doutorado. A sala virtual da RNP aceita até 75 pessoas para os professores e estudantes que pertencem a Comunidade Acadêmica Federada – CAFe. A sala virtual tem recursos interessantes como a possibilidade de constituir salas paralelas para reuniões fechadas (bastante necessária para as reuniões das bancas de pós-graduação) e a possibilidade de gravação da sessão pública ou da reunião.

Pelo sim pelo não, a pandemia nos obrigou a experimentar outras formas de trabalhar desta vez de modo remoto. Fica bem claro que, a partir do final deste período raramente um pesquisador deixará um estado para participação em bancas de Mestrado ou Doutorado em outro Estado, por exemplo. O uso destas alternativas pode selar um novo período em que as coisas podem melhorar inclusive em qualidade, dado que as fronteiras e dificuldades existentes podem ter ruído completamente.

Os governos, por exemplo, produziam reuniões com profissionais de entes federados distantes, deslocando muitas pessoas e lotando companhias aéreas e hotéis para realização de reuniões que às vezes duravam somente um dia. Todas estas despesas podem ser revistas, especialmente nestes casos e para países como o nosso, cuja extensão geográfica e a relação com a malha aérea seriam impeditivos e complicadores. Fiz muitas destas viagens de “bate e volta” que eram bastante cansativas, em situações que, pela necessidade do isolamento social, passaram a ser feitas de modo remoto, sem qualquer perda da qualidade e do objeto, como nos casos das bancas as quais me referi.

A tecnologia tem sido um meio de tentar amenizar os impactos promovidos por este caos gerado pela doença. O tédio de ficar isolado sem poder sair de casa encontrou algum abrigo nas possibilidades de viajar através da rede mundial de computadores, de ler, de assistir filmes, vídeos, shows etc. Pior seria se a tecnologia não preenchesse alguns destes espaços.

Boa semana!!!

Reflexões sobre o mundo pós-pandemia: a Educação

Manter a saúde mental trancafiado em casa tem sido um desafio para muitos. Especialmente professores como eu, com a vida “normal” bem corrida, com aulas, pesquisas, orientações, bancas, publicações, tudo mais ou menos afetado pela parada geral. Desafio grande, mas não maior desafio para aqueles profissionais que vivem dos seus negócios e ocupações que dependem de uma rotatividade maior para colocar comida na panela, quando a economia trava geral e as autoridades esbarram em medidas que ajudam significativamente, mas não resolve o problema que vem afetando o planeta Terra como um todo. É a pergunta que muitas pessoas estão fazendo: se não se arrisca morrer por ação de um vírus altamente infeccioso se morre por falta de recursos financeiros para manter as famílias com muitos grandes negócios razoavelmente ameaçados e muitos pequenos negócios completamente arruinados. De fato, uma situação bem paradoxal.

Muitos vem discutindo de forma veemente o efeito de mudança em algumas importantes relações provocadas pela ação do vírus SARS-Cov2, especialmente sobre segmentos que passavam por uma gradativa discussão, mas sem sair muito do lugar, como no caso da Educação, aqui no Brasil. Mas como ficará a educação após a passagem da pandemia?

A educação como conhecíamos antes já foi impactada fortemente pela COVID-19 e detalhe: nunca mais será a mesma! Como as escolas são um local de aglomeração natural, o sistema todo realmente se obrigou a parar atividades. Com as crianças em casa, as escolas viram que não estavam preparadas para substituir os meios “normais” de se ensinar. Os professores perceberam que ensinar é mais do que uma arte, especialmente quando passaram a depender de processos mais tecnológicos para levar a sala de aula para casa de cada um. Os pais passaram a conhecer um lado que ainda não conheciam dos seus filhos: o lado estudante de cada um. Os memes, apesar de exagerarem, mostrando pais e mães descabelados e desorientados, expuseram um lado que nós professores já conhecíamos: muitas famílias delegam funções básicas da educação para a escola.

Há países que já retornaram as atividades escolares com cuidados redobrados em relação a higiene, mantendo os recursos de proteção como máscaras, regras de distanciamento e até rodízios de aulas, numa espécie de educação mista: combinando atividades presenciais com atividades remotas. Mas algumas escolas não resistiram abertas por mais do que duas semanas, exatamente o tempo de incubação do vírus, pois explodiram novos casos.

Alguns segmentos ficaram mais prejudicados, como a educação infantil, onde a imaturidade das crianças determina métodos de acolhimento e atividades de mão na massa para fortalecer o reforço dos chamados campos de experiência, que norteiam a base curricular do segmento. Para crianças tão pequenas, as atividades remotas com uso de tecnologias, mesmo coloridas, com músicas e o desdobramento de cuidados dos professores não conseguem substituir o presencial.

Na outra ponta, a educação superior foi a que se ajustou mais rapidamente, especialmente no segmento das instituições privadas. Algumas estratégias adotadas na Educação à Distância (EaD) foram expandidas para os cursos presenciais. Dentre os fatores que mais pesaram está a falta de destreza de alguns professores que não mantinham intimidade com recursos tecnológicos e para os estudantes, especialmente aqueles com menor disponibilidade financeira, pesou muito a falta de acesso. As diferenças econômicas entre os estudantes se tornaram mais visíveis e a desigualdade social sublimou mostrando o lado mais severo dos efeitos destas diferenças. A maior parte das instituições superiores públicas permaneceu com seus cursos de graduação fechados. Mesmo com a boa intenção das IES e dos seus professores, uma parte significativa dos estudantes não conseguiria acompanhar aulas online, por carência financeira, principalmente.

A verdade é que agora a educação precisa ser melhor pensada pelas escolas e professores. No que estão chamando de “novo normal”, a era pós-pandemia vai deixar como legado a possibilidade de um ensino híbrido não somente na hora de mostrar os objetos de conhecimento, mas até a avaliação de aprendizagem que, neste momento de adaptação, passou a olhar mais qualitativamente para os estudantes. Na era do “novo normal”, valem muito as reflexões do historiador israelense Yuval Harari: a educação precisa formar cidadãos para uma sociedade com novos tipos de ocupação. Neste particular o vírus fez um aligeiramento. A ruptura entre o normal de antes e a era pós-pandemia poderia ter sido mais suave.

Boa semana e até o próximo post.

 

COVID-19: o novo epicentro

A pandemia da COVID-19 provocou um estrago grande no mundo inteiro, tanto pelo número de mortos e doentes quanto pelos prejuízos econômicos. Lamentáveis as cenas de cidades geralmente abarrotadas de turistas como Roma e Paris, atualmente com lugares históricos sem movimentação, dada necessidade de isolamento social.

Cientistas de áreas ligadas à qualidade ambiental, entretanto, comentam que a redução da pressão provocada pelo fluxo de visitantes em determinadas cidades turísticas, proporcionou a melhoria da qualidade do ar e da água. De fato, tem sido frequente o anúncio de que os canais da bela cidade italiana de Veneza, por exemplo, agora apresentam águas transparentes, com o retorno da vida marinha, a presença de alguns animais passeando pelos canais, em vídeos publicados nas redes sociais pelos venezianos.

O epicentro da pandemia se deslocou da Ásia para Europa, da Europa para os EUA e dos EUA agora, para o Brasil. Estamos no olho do furacão, e já somos o segundo país na lista dos que tem mais doentes (com base em números oficiais, porque particularmente guardo ressalvas sobre o número real de doentes na China, que levou muito tempo para sair da fase de negação do problema).

Poderíamos estar enfrentando muito bem o problema todo se não fosse a qualidade dos nossos políticos e o agravamento da situação que trazemos desde a eleição de 2018, onde o país ficou dividido. Depois de uma exposição visceral da corrupção no país, com desvios astronômicos e arrombamento de estatais, fundos de pensão e desvios de recursos de obras para a realização de uma Copa do Mundo e uma Olimpíada com intervalo de dois anos de um para o outro, a conta chegou mais claramente, mostrada por um organismo microscópico. Os desvios e os erros de planejamento atrapalharam a construção de uma rede de hospitais mais ampla, e que agora vem fazendo mais falta, dada a necessidade de combater uma doença nova que mata os pacientes afogados no seco, com perda da capacidade pulmonar provocada por coágulos.

No olho do furacão, a opinião de quem se baseia na ciência vem sendo rechaçada com veemência nas redes sociais, espaço onde os estúpidos, democraticamente, também têm voz. Os que acreditam que a Terra é plana e acreditam que as vacinas aumentaram os casos de autismo, agora defendem o uso de uma droga que aparentemente não tem qualquer efeito contra a virose. Cloroquina e hidroxicloroquina, até que se prove o contrário, não salvam e nem previnem a COVID-19, como foi bem argumentada pela Dra. Natália Pasternak em uma entrevista na rede CNN. Veja o vídeo:

O grande problema é que o séquito de seguidores do grupo que hoje ocupa o comando do país não compreende algumas coisas que são basais em Ciência, como a experimentação. Fazem até comparações esdrúxulas como a história do avião que está caindo e tem paraquedas não testados pelo INMETRO. Seria fantástico que tivéssemos uma nação onde os níveis de educação fossem como os dos países nórdicos. Bastava pedir para pessoas saírem com máscaras e tomarem alguns cuidados básicos de higiene. Por outro lado, pedir para as pessoas permanecerem em casa, quando não tem casa e nem o que comer, está insustentável.

A Universidade de Oxford convocou esta semana um grupo de 10 mil voluntários para realização dos primeiros testes de uma vacina contra a COVID-19. De olho na possibilidade de deixar esta quarentena, fico torcendo para que os pesquisadores de Oxford consigam sucesso nesta tentativa de imunização. Estamos precisando de algo palpável contra o SARS-Cov2, não de mais crise. A hidroxicloroquina mostrou-se um excelente meio de derrubar ministros da Saúde e de acelerar animosidades entre pessoas que ficaram de lados diferentes nas últimas eleições.

Boa semana para todos (as) e até o próximo post.

COVID-19: pesquisadores brasileiros desenvolvem novo tipo de teste rápido

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estão desenvolvendo dispositivos para a identificação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) em pacientes infectados, em ambientes contaminados e até mesmo nas redes de esgoto.

O projeto prevê a utilização de um sensor eletroquímico para a detecção, na saliva do paciente, de pelo menos três sequências do genoma do vírus. A pesquisa tem o apoio da FAPESP, no âmbito do edital Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19.

“Nosso objetivo é desenvolver uma metodologia simples e de baixo custo para o diagnóstico de COVID-19. A plataforma de testes descartável fará uso de materiais de fácil acesso e equipamentos simples e também permitirá a análise de diferentes amostras simultaneamente”, diz Ronaldo Censi Faria, pesquisador do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que lidera o projeto.

De acordo com Faria, o teste rápido consiste em um dispositivo com vários compartimentos (canais microfluídicos), no qual a saliva do paciente é inserida. Os compartimentos contarão com quatro regiões sensoras (chips) programadas para identificar pedaços do RNA do vírus. “A detecção se dá por eletroquimiluminescência, ou seja, a partir da reação eletroquímica entre o sensor e o RNA do vírus ocorre a emissão de luz. Com isso, se o sensor detectar pelo menos uma das sequências de RNA, um ponto de luz irá surgir, indicando que o paciente está infectado”, diz.

Em 2017, a equipe de Faria desenvolveu um dispositivo semelhante para a detecção de biomarcadores da doença de Alzheimer. “Normalmente, trabalhamos em conjunto com médicos e especialistas de outras áreas que nos apresentam um problema. No caso do dispositivo do Alzheimer, a professora Márcia Cominetti, do Departamento de Gerontologia da UFSCar, nos procurou após ter identificado que pacientes com Alzheimer apresentavam alteração em uma proteína [ADAM10] presente no sangue”, diz.

O grupo de pesquisadores desenvolveu então um sensor para detectar a presença dessa proteína em um dispositivo de baixo custo já patenteado, mas ainda sem previsão para ser comercializado.

Biomarcadores proteicos

De acordo com Faria, a metodologia usada no desenvolvimento dos testes para COVID-19 é uma adaptação de uma série de dispositivos que estão sendo desenvolvidos nos laboratórios para identificar a ocorrência de outras doenças, como câncer, leishmaniose, hanseníase, zika e Alzheimer.

“O nosso laboratório tem experiência no uso de biomarcadores proteicos para a identificação de doenças. Alguns deles já eram marcadores conhecidos que utilizamos em dispositivos, outros eram biomarcadores novos, como o caso do nosso dispositivo para detectar Alzheimer. Nesse novo projeto usaremos marcadores de RNA, partes da sequência de RNA que foram separadas pelo pesquisador Matias Melendez, que integra o nosso grupo”, diz.

No estudo para COVID-19, os pesquisadores vão testar a aplicação dos biomarcadores genéticos inicialmente em amostras com sequências sintéticas. Na segunda fase do projeto, haverá comprovação da técnica em amostras de pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 fornecidas pelo Hospital Universitário da UFSCar, por meio de uma colaboração do pesquisador com o professor do Departamento de Medicina Henrique Pott Junior.

 

Identificação do vírus em ambientes

A equipe multidisciplinar também está desenvolvendo outros tipos de testes com sensores para a identificação do vírus em ambientes, como casas, ruas e escritórios, e no sistema de esgoto. Esses dois outros projetos estão sendo apoiados por um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Como já temos uma metodologia, é do nosso interesse adaptá-la para diferentes usos, desde que seja possível identificar um biomarcador para a doença”, diz.

Além de trabalhar com a detecção de sequências de RNA do vírus, o grupo busca desenvolver ainda outra abordagem a partir do capsídeo do vírus (a membrana que envolve o vírus). “Se conseguirmos detectar o capsídeo, podemos desenvolver um teste mais abrangente e que precisaria de menos tratamento da amostra”, diz.

Faria explica que para atingir o RNA é preciso uma solução para “quebrar” o vírus e expor o material genético a ser detectado pelo sensor. “Ao identificar o capsídeo será possível detectar o vírus diretamente, o que abre um leque de possibilidades, como criar um dispositivo para identificação em sistema de esgoto ou no ar. Com isso, seria possível monitorar a distância o ambiente externo e mapear a contaminação de áreas pelo esgoto ou por coleta de material particulado na atmosfera”, diz.

(Com informações da Agência FAPESP)

COVID-19: pesquisadores piauienses mantêm monitoramento

As notícias sobre a pandemia de COVID-19 têm despertado nas pessoas diferentes sensações. Algumas por medo já nem acompanham mais os noticiários porque estão trancadas em casa e as notícias se direcionam para contar o que está acontecendo. Já ouvi de um amigo que quando termina o jornal está com metade dos sintomas, tudo fruto da ansiedade provocada pela situação.

Por outro lado, já vejo que a imprensa tem aplicado filtros mais cuidadosos, e hoje as notícias ruins já são intercaladas com boas notícias, falando de pessoas que foram curadas ou que as empresas e pessoas com posses estão fazendo doações importantes. Mas muita gente se informa usando as redes sociais e isto tem sido muito temeroso, dada guerra de memes e Fake News que passa pelas nossas timelines. Especialmente os mais idosos que não conseguem perceber montagens às vezes completamente esdrúxulas, mas que chegam como verdades, pois foram recebidas de “amigo”, que por vezes repassou sem nem observar um mínimo de coerência (é assim que as Fake News são repassadas). Às vezes há má fé. Às vezes, não.

Se você está interessado em tomar pé da situação da pandemia de COVID-19 através de dados seguros e de fontes confiáveis, pode conhecer o trabalho dos pesquisadores da Universidade Federal do Piauí que alimentam a Sala de Situação atualizado frequentemente com informações vindas direto dos banco de dados da Secretaria Estadual de Saúde do Piauí, da Fundação Municipal de Saúde de Teresina e do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus no Nordeste, denominado C4.

A equipe é formada por 13 pesquisadores das Universidades Federal do Piauí, do Delta do Parnaíba, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) e da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) no Piauí. Eu conversei com Prof. Dr. Bruno Guedes que me deu algumas indicações de como pesquisar na página do grupo e que mantêm uma atualização dos casos de contaminação, óbitos e até o nível de ocupação de leitos hospitalares e leitos de UTI bem real, alimentada pelos bancos de dados que citei acima.

Nos gráficos, é possível ver o andamento da contaminação no Brasil, no Piauí e em Teresina, comparados com outros estados da federação e com os EUA, para que se perceba a evolução da doença por aqui. Ao ver os dados fiquei preocupado com o avanço, ao mesmo tempo que senti confiança de que vamos superar esta situação, considerando as medidas que vêm sendo tomadas na nossa cidade, Teresina.

Vamos superar este momento. Depende muito de nós. Se puder, fique em casa!

Boa semana para todos (as).

COVID-19: reedição da Revolta da Vacina

Quando eu estava no Ensino Fundamental, lá na década de 1980, lembro de ter estudado sobre a Revolta da Vacina que aconteceu no Rio de Janeiro no começo do século XX. Na minha inocência infanto-juvenil achava algo tão absurdo que chegava a ser inacreditável. Na minha cabeça achava impossível que um considerável número de pessoas duvidasse dos efeitos de medidas sanitárias rígidas tomadas para prevenir doenças com altíssimo índice de letalidade como a varíola e medidas de saneamento e limpeza para reduzir infestação por ratos, visando diminuir os casos de peste bubônica, além de focos de febre amarela.

Revolta da Vacina - 1904. Fonte: Wikipédia.

A necessidade de quarentena em tempos de COVID-19 tem nos mostrado, via redes sociais e às vezes transmitidas por outros veículos, cenas absurdas e estarrecedoras. Cito o exemplo de um rapaz que chega a uma farmácia sem máscara, recebe da balconista (dada a proibição vigente) e, com uma ironia desatinada, coloca máscara sobre a cabeça, enquanto filma tudo e é interpelado por outros clientes. Ou a cena de uma moça que chega a um supermercado e dá um espetáculo, quando é retirada pelo segurança da loja.

Em casa, na quarentena, temos assistido a comportamentos como esses, na minha opinião, patéticos. Acompanho a preocupação de algumas autoridades em manter o isolamento social. Estes têm uma visão total do sistema de saúde -formado por unidades de saúde públicas e privadas - e sabem até onde este suportaria atender. Neste momento, os sistemas do Amazonas, Pará, Maranhão e Ceará estão estrangulados. No estrangulamento não há meio de salvar pessoas, nem que estas tenham recursos para pagar, por isso, nem as diferenças de poder econômico livrariam os mais ricos dos mais pobres.

A pandemia trouxe uma crise econômica difícil. Negócios serão afetados fortemente e muitos empregos serão perdidos. Esta semana li estudos que comparavam três cenários diferentes. O menos ruim para a economia ainda é o que está desenhado com o isolamento social e o fechamento dos negócios não essenciais, enquanto o pico de contaminação não é ultrapassado.

Assim como a Revolta da Vacina, não é somente a questão da saúde pública que está em jogo. Há uma disputa descabida em questão. Isto é absolutamente lamentável.

Boa semana para todos (as).

 

Mãe: a metade mais importante

Hoje, assim como em 2018, resolvi dedicar o post às mães. Em 2018, resolvi falar sobre a mãe do Dmitri Mendeleiv, o criador (ou aperfeiçoador) da Tabela Periódica, cuja mãe tem uma história fabulosa de luta pelo crescimento e desenvolvimento do filho (vale a pena ler novamente).

Inicialmente gostaria de justificar o título. No dia dos pais de 2018 escrevi um post com o título: Pai: a metade do todo (veja aqui),  numa referência à metade do DNA usado para compor cada filho. Ao me referir sobre a metade mais importante quero apenas lembrar que além da metade de todo o DNA de cada filho, as mães fornecem também o chamado DNA mitocondrial, visto que, durante a concepção, a célula gamética mais importante é o óvulo, que subsidia grande parte da transformação do zigoto em embrião, contendo inclusive esta porção de DNA (da mitocôndria) que é passada para todas as nossas células, sendo um material genético exclusivamente materno.

Na natureza encontramos diversos exemplos nos quais o papel da mãe vai além do que conhecemos. Existem espécies de anfíbios, cujas fêmeas carregam os filhotes na própria boca. Enquanto os filhotes não têm autonomia elas não se alimentam, tentando garantir a sobrevivência do maior número de rebentos. E fêmeas de algumas espécies de inseto que se adaptaram ao longo do processo evolutivo a ter uma única ninhada de filhotes, pois ao invés de fazer oviposição, permanecem com os ovos no próprio corpo, onde as larvas crescem e se alimentam do corpo da mãe, em um exemplo de altruísmo que supera qualquer outro exemplo, pois a mãe vira alimento para os próprios filhos, dadas as condições inóspitas do meio em que vivem.

A natureza dá exemplos diversos que explicam situações impensáveis, como a de uma mãe que pulou no viveiro de um zoológico para, literalmente, tirar seu filho da boca do crocodilo. A criança caiu e ela não pensou duas vezes, ao salvá-la. Este instinto maternal que grande parte das mães tem explica uma porção de situações que vemos nos noticiários mundo afora.

Assim, desejo a todos e todas um feliz dia das mães. Mesmo neste momento difícil, mesmo distantes, em razão da pandemia, o amor e o carinho traduzem este bem maior que temos.

Feliz Dia das Mães!!!

COVID19: a resposta da ciência brasileira

No final da semana que passou li a mensagem de um pesquisador parceiro meu bastante desanimado com a aprovação do achatamento salarial sofrida pelos professores das universidades federais e o congelamento das promoções a que fazem jus, relativo à produtividade acadêmica que todos precisamos ter para evoluir nas carreiras. A medida foi tomada pelo governo e endossada pelo Congresso em razão das baixas na economia, afetando a todos, embora no fundo ache que o fardo sempre tem vindo para os servidores públicos.

Retruquei com ele que isso é uma fase, que acredito, sinceramente, que o máximo que pode durar é enquanto durar a atual gestão, pois querendo ou não os servidores e professores, especialmente das universidades, foram escolhidos por membros do atual governo para alvo de achincalhes e escárnios, que inundam as redes sociais. Muito do que se propaga sobre o lado negativo das universidades é pura ilusão como “as extensivas plantações de maconha” e “a produção de metanfetamina” do ideário do atual ocupante do Ministério da Educação. O que se produz muito nas universidades é ciência, pois 95% da produção acadêmica nacional vem de lá.

O que a maioria das pessoas não sabe, e aí o senso comum reina, e que precisa ser mudado, especialmente por quem ajuda na divulgação científica, é que os laboratórios das universidades embora sucateados, com falta de insumos, cortes de bolsas etc. estão trabalhando intensamente. A maioria das pessoas não sabe que na atualidade uma bolsa de mestrado custa R$ 1.500 e a de Doutorado R$2.200,00, e o último aumento foi entre 2004 e 2005, na gestão do então Ministro Eduardo Campos, ou seja: algo em torno de 15 ou 16 anos sem reajuste.

Já é senso comum que doentes graves com COVID19 precisam de acesso a um respirador mecânico em Unidades de Terapia Intensiva. Também é senso comum (facilmente comprovável em uma pesquisa pela internet) que os respiradores mecânicos custam entre R$ 50 mil e 70 mil. Em nenhum momento, em nenhum noticiário viu-se, por exemplo, pesquisadores em diferentes países buscarem alternativas. Pelo contrário, o que se vê são países fazendo apreensão de aparelhos quando as cargas já compradas fazem escalas em seus aeroportos. Veja esta notícia aqui

Numa pesquisa rápida descobri que atualmente existem oito projetos de respiradores em desenvolvimento em diferentes universidades brasileiras. Desde universidades de ponta como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), passando por universidades menores como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Estadual do Amazonas (UEA), até universidades privadas (“até” porque as instituições privadas raramente investem em pesquisas) como as gaúchas Universidade de Passo Fundo (UPF) e Universidade de Caxias do Sul (UCS). Clique nas siglas e comprovará através do que já foi noticiado na imprensa.

E estamos falando de um item apenas: respiradores mecânicos. Neste momento existem pesquisadores estudando vacinas, medicamentos, ajuste de procedimentos, adaptações farmacológicas de outros medicamentos, levantamento de sintomas diagnósticos acessórios, desenvolvimento de testes seguros, desenvolvimento de técnicas alternativas mais rápidas, de novas condutas, desenvolvimento de novos tipos de equipamentos de proteção individual, adaptação de materiais para produção em larga escala de EPIs etc. Ou seja: a universidade, pesquisadores, a intelligentsia brasileira, está trabalhando forte. Enquanto tem “patriota” terraplanista fazendo carreata para baldear o isolamento social, ainda necessário em quase todas as cidades brasileiras.

A verdade vai prevalecer sempre! Meu amigo: não desanime! Se não fosse a ciência as coisas estariam bem piores. Charles Darwin publicou os fundamentos disso há 160 anos. A ciência não nos conforma, mas nos conforta.

Boa semana para todos (as).

COVID-19: alternativas educacionais em tempos de pandemia

Durante a quarentena cada um vai se virando como pode. Assisti na TV matérias falando das alternativas que vem surgindo para ocupar o tempo. Algumas pessoas estão se descobrindo artistas com pintura, trabalhos manuais, elaboração de receitas de comidas, aulas sobre hobbys através da gravação de vídeos, abertura de novos negócios, manutenção dos velhos negócios, lives de artistas famosos e não famosos, ou seja, tem de tudo e para todos os gostos.

Uma das alternativas para quem está em casa é mexer no jardim. A Profª Edna Chaves, professora do IFPI, bióloga e nutricionista, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, não se fez de rogada: abriu um canal no YouTube e tem compartilhado vídeos que trazem dicas de como cultivar plantas em casa. Uma iniciativa simples, que ocupa parte do tempo da professora, ensinando algo, presta um serviço para pessoas que também gostam das atividades de jardinagem e incentiva a produção de alimentos no quintal. Acompanhe um dos seus vídeos abaixo:

O maior gargalo do Brasil em meio à crise é a divulgação científica de qualidade. São tantas informações que nos atordoam. A filtragem é fundamental. Precisamos traduzir para uma linguagem acessível, sem deixar que o conhecimento científico se perca. Pensando nisso os professores Dr. Fabrício do Amaral (UESPI), Dr. Luciano da Silva Lopes (UFPI), Dr. Juan Gonçalves (UFPB), Dr. Maurício do Amaral (UFPI) e Dr. Guilherme Barroso Langoni de Freitas (UFPI), decidiram enfrentar este desafio: através do YouTube fundaram o canal FarmacoLógicos. Os professores se revezam com aulas sobre aspectos da ciência da Farmacologia, explicando temas relacionados ao combate a Pandemia da COVID-19. No vídeo mais recente há uma aula sobre a Hidroxicloroquina, esta droga que vem sendo falada como uma possibilidade ao tratamento da doença causada pelo novo Coronavírus. Nós já até falamos disso, alguns dias atrás (reveja aqui). Nesta explicação publicada no Canal Farmacológicos o Dr. Luciano Lopes explica detalhadamente sobre esta droga. Vale a pena conferir:

A mente humana é bastante diversificada. “Mas se ao invés de querer assistir aula sobre plantas ou sobre farmacologia eu quisesse aprender a bordar?” Pensou que não tinha alternativa? Tem sim! Luciana Morais, professora de Artesanato (@arte_e_artesania_em_teresina), criou grupos de WhatsApp onde passa, através de pequenos vídeos, aulas sobre diferentes tipos de pontos de bordado.

Luciana Morais (Fonte: Arquivo pessoal)

Como boa parte das suas aulas não podem ser presenciais em razão da pandemia, ela passou a gravar e mandar para suas alunas de trabalhos manuais.

Para você que é estudante e está preocupado com as dúvidas de algumas disciplinas fundamentais para ingresso em cursos da área de saúde, por exemplo, que são bem concorridos, existe a alternativa recente dos irmãos Chicão e Caio Soares. Eles criaram o canal BioBrothers. Através das redes sociais e do YouTube se aventuram em ensinar a mais bela de todas as ciências: a Biologia (tenho algumas suspeições nesta fala)! Eles prometem, no seu vídeo de abertura, oferecer dicas e explicações para quem quiser aproveitar e aprender coisas diferentes, sobre as diferentes ciências que compõem a Biologia.

O mais importante neste momento é usar o tempo livre com alguma coisa que ajude a manter o equilíbrio e a saúde mental. A estratégia de ficarmos em casa está dando certo aqui em Teresina. Saiba que isso tem a nossa participação, quando não nos expomos ao inimigo invisível. Se puder, fique em casa!

Boa semana para todos (as) e até o próximo post...

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