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Mudanças climáticas: uma pauta sempre atual

Vez por outra a imprensa anuncia os avanços ou regressões nos acordos internacionais sobre mudanças climáticas. Outro dia o presidente do Estados Unidos anunciou a saída do país do Acordo de Paris, criando uma confusão diplomática associada às questões ambientais. Atualmente os EUA e a China lideram a emissão de poluentes na atmosfera com 18% e 20%, respectivamente.

O Acordo de Paris foi um acordo assinado por representantes de 195 países em setembro de 2015. O Acordo entrou em vigor em novembro de 2016 com a ratificação de 55 países que, juntos, representam mais de 50% dos emissores de gases que, de acordo com os cientistas que fazem parte Painel Internacional das Mudanças Climáticas, são responsáveis pelas alterações climáticas mundo afora.

Na semana que passou, em viagem de férias, pude perceber a força do tema em países que sofrem na pele as consequências das alterações climáticas. Quando chegávamos em Lisboa a aeronave não conseguiu pousar e arremeteu, nos levando para um aeroporto no sul de Portugal. Ao chegarmos no hotel os noticiários mostravam os estragos causados pelos temporais que assolaram o país com um considerável número de desabrigados e quase meio milhão de pessoas sem energia elétrica em função das fortes chuvas e o transbordamento de rios e outros cursos d’água.

Especialistas entrevistados foram enfáticos em apontar a importância dos acordos internacionais para contornar questões climáticas que envolvem o desequilíbrio entre as estações do ano. O exemplo citado foi o próprio estado português que sofre com o excesso de chuvas nas regiões norte e central e uma escassez de chuvas no sul, chegando a comprometer até a disponibilidade de água para consumo em algumas propriedades.

As mudanças em curso levam ao desequilíbrio e por isso tem-se alterações tão drásticas como excesso de chuvas em uma região e carência de chuvas em outras. O Acordo de Paris prevê a redução de emissões para que, o conjunto dos países poluidores, consigam atingir a meta de poluir menos, impedindo que a média da temperatura global alcance valores bem abaixo dos 2°C.

A nossa geração precisa olhar com cuidado estas questões, especialmente com a possibilidade de produção de fontes alternativas de energia sem comprometer o futuro da Terra. Se não tivermos estes cuidados, as próximas gerações terão sua sobrevivência comprometida.

Boa semana para todos (as).

O misterioso adereço das múmias

A semana passada a Revista Science publicou sobre um adereço estranho que aparecia nas pinturas egípcias e que os arqueólogos nunca tinham conseguido decifrar exatamente o que era, pois não encontravam nada associado junto ao corpo da múmia.

As figuras traziam imagens de pessoas com um cone, proporcionalmente do tamanho de uma xícara, na cabeça das personagens presentes em pinturas de túmulos. As teorias para explicar o adereço eram várias, todas associadas à posição social.

Em uma descoberta recente dois exemplares do adereço foram resgatados. Trata-se de um suporte feito de cera de abelha que adornava os cabelos das pessoas. Muito provavelmente traziam na mistura bálsamos que ao longo do tempo iam derretendo e mantendo a pessoa cheirosa e purificada. Todavia, testes químicos não revelaram a presença de substâncias com estas características associadas à estrutura. As descobertas arqueológicas foram na cidade de Akhetaten, onde registra-se a existência efêmera de um reinado, mas com muitas descobertas peculiares. Estes adornos foram descobertos em um túmulo com cerca de 3.300 anos de idade.

De uma forma ou de outra, os egípcios ainda guardam muitos mistérios nos seus rituais e na sua forma de relacionamento social. Ainda há muito o que se descobrir sobre este povo milenar e misterioso. Se você quiser saber mais sobre esta pesquisa acesse aqui.

Bom domingo para todos (as)

O Brasil na “PISA”

Na semana que passou a OECD divulgou a versão sumarizada do relatório com o resultado do PISA (programa internacional de avaliação de estudantes) realizado em 2018, sob a responsabilidade de Andreas Schleicher, estatístico-chefe, responsável pela coordenação da compilação de dados das provas realizadas por estudantes de 78 países, membros da OCDE ou convidados.

Para os educadores brasileiros, nos quais me incluo como um dos preocupados com os resultados dos estudantes do Brasil nenhuma novidade em termos de melhoria para qualquer dos indicadores avaliados. O PISA avalia o desempenho em Leitura (ou Letramento), Matemática e Ciências, e a nossa posição continuar beirando as últimas.

O resultado fixa a existência de nove níveis ou subníveis: Abaixo do Nível 1, Nível 1 (que subdividido em “a”, “b” e “c”), nível 2, nível 3, nível 4, nível 5 e nível 6. No certame atual o maior nível atingido foi o 4, liderado pela China (BSJZ, que representa a sigla em inglês para quatro grandes cidades chinesas, onde estão inclusas Pequim e Xangai) e por outras regiões também pertencentes à China como Macao e Hong Kong. Além destas possessões chinesas Singapura também apareceu entre os primeiros.

Os estudantes brasileiros permaneceram se arrastando entre o Nível 2 (Letramento) e o Nível 1 em Matemática e Ciências. Comparando as médias obtidas agora em 2018 com relação a 2015 tivemos crescimentos ínfimos. Em Letramento aumentamos em 1,47% a média. Em Ciências conseguimos aumentar apenas 0,75% e em Matemática o aumento foi de 1,85%. Nos três casos diferenças pouco significativas que podem refletir, por exemplo, obra do acaso.

A novidade do momento são beócios da Direita culpando a Esquerda, e os beócios da Esquerda reafirmando que agora é que vai piorar, num estica e puxa pra lá de cansativo e sem qualquer avanço em termos de resultados melhores. Os mais brincalhões conseguem fazer piada de que o nosso resultado foi ruim, mas ficamos na frente da Argentina, isso porque em Letramento nossa média foi 413 enquanto a dos portenhos foi 402, em Matemática nossa média foi de 384, enquanto os argentinos amargaram 379 e em Ciências empatamos com 404. O que não significa nenhuma vantagem, pois somos a oitava economia do Mundo enquanto a Argentina é a 22ª. Vendo por este lado estamos muito atrasados, ou pelo menos tanto quanto nos Hermanos.

Em um mundo em evolução, arrastar-se entre os piores gera uma tremenda desesperança. Na minha opinião os gestores em educação deveriam colher os bons exemplos e tentar segui-los. Já que fica difícil se comparar aos países que estão no topo da avaliação que o façam pelo menos com países mais próximos como o Chile, cujo resultado não foi tão bom (se manteve nos níveis 2 para Letramento e Ciências e no nível 1 para Matemática), mas foi muito melhor do que o dos estudantes brasileiros, de qualquer forma. Saber o que eles vêm fazendo talvez já faça uma pequena diferença, já que esta escada não dá pra subir correndo.

Até a próxima!!!

 

Estudos de uma vida inteira

No último dia 29 de novembro, no Auditório Dárdano de Andrade Lima na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a Dra. Carmen Sílvia Zickel defendeu seu Memorial para obtenção do título de Professora Titular da UFRPE.

Esta defesa é o coroamento de uma vida inteira dedicada à pesquisa e a formação de recursos humanos, missão de muitos dos professores que fazem parte de um seleto grupo que atua nas universidades brasileiras, considerados os principais centros de produção de conhecimento e responsáveis por cerca de 95% de todo o conhecimento produzido no nosso país.

Embora massacrados pela falta de uma política de investimentos sólida e que garanta fluxo de recursos para manutenção de bolsas de cursos de formação como Mestrado e Doutorado e, ultimamente achincalhados pelo desorientado que ocupa o Ministério da Educação, são os professores que atuam nos programas de pós-graduação que retroalimentam a formação de pessoal para as universidades, num ciclo quase infinito de geração de conhecimento.

Mas quem é a Doutora Carmen Zickel?

Paulista de Campinas, torcedora da Ponte Preta e fã incondicional da Banda irlandesa U2, Carmen Zickel é bióloga com formação na área botânica formada pela UNICAMP e que desde o início dos anos 1990 se instalou na UFRPE. Começou estudando grupos de plantas, mas a sua paixão pelas praias despertou o desejo de conhecer as estratégias ecológicas das plantas no ambiente de Restinga (vegetação que ocorre na região litorânea), no qual fatores como a escassez de água, o excesso de sal no solo, os ventos, são preponderantes e limitadores da sobrevivência de muitas espécies. Carmen passou a orientar pesquisadores que atuaram em diferentes frentes de diferentes regiões do litoral nordestino.

Seus estudos e de seus discípulos registram informações dos litorais do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia. Conhecimento sobre a Flora e a estrutura da vegetação dos estratos lenhoso e herbáceo, além de estudos ecológicos mais específicos traduzem o conhecimento de plantas do maior litoral do Brasil: o litoral nordestino.

Zickel tem no currículo 22 orientações de iniciação científica, 9 orientações de trabalho de conclusão de curso, além da formação de 14 doutores, 23 mestres, e duas supervisões de pós-doutorado, abrangendo temas das áreas de botânica taxonômica, ecologia vegetal e mais recentemente filogenia de grupos de plantas, com foco principalmente na família Sapotaceae que apresenta muitas plantas na lista das espécies em risco de extinção.

Faço este importante registro para meus leitores do Ciência Viva porque fui o quarto Doutor formado pela Dra. Carmen Zickel. Conheci Dra. Carmen em 1998 quando tive a oportunidade de ser aluno da disciplina de Ecologia de Campo, durante o meu Mestrado em Botânica. Em 2005 prestei concurso para ser orientado por ela no Doutorado da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e defendi minha tese no início de 2009. De lá pra cá, quase 50% de tudo o que produzi academicamente foi em parceria com ela. Em 2008 fui indicado por ela para participar de uma mesa redonda durante o Congresso Nacional de Botânica, em Natal (RN), onde tive a grande honra de dividir mesa com os maiores especialistas em Restingas do Brasil, o que considero um dos maiores desprendimento de Carmen Zickel como pesquisadora: ao invés de aceitar o convite, indicou um discípulo, o que é extremamente incomum no meio acadêmico. Isto demonstra um pouco do jeito de ser desta pesquisadora.

A UFRPE ganhou mais uma brilhante professora titular e nós, os seus discípulos, nos enchemos de orgulho. A conquista dela também é a conquista de cada um de nós. E como canta o Bono Vox: “... It’s a beautiful day / Don’t let it get away…”

Boa semana para todos (as).

Educação: desafios para 2020

Em 2019 completei 33 anos que me dedico integralmente à educação. Na verdade, foi uma paixão que herdei dos meus pais e esse envolvimento com a educação já envolve cinco gerações da minha família. Mas essa paixão pela sala de aula me fez ocupar outros espaços, dentre eles o Conselho Estadual de Educação (CEE/PI).

O CEE é o órgão governamental responsável pela regulação do Sistema Estadual de Educação que compreende a Educação Básica (redes pública e privada) e o Ensino Superior, compreendendo os cursos de graduação da Universidade Estadual do Piauí. Compreende um universo de questões que vão muito além da autorização de funcionamento de escolas e diferentes modalidades de ensino, passando pela atividade de regulamentação de leis e a criação de normas específicas para orientar o funcionamento das escolas e demais componentes do Sistema.

Estou no conselho desde 2008 e este ano, 2019, assumi pela primeira vez, a Presidência do Colegiado para um mandato tampão que encerrará em meados de 2020. Mas o pouco tempo (cerca de 11 meses) será um período de muito trabalho, pois a educação brasileira encontra-se em um período de transição.

Dentre os desafios de 2020 encontra-se a regulamentação do Novo Ensino Médio, que virou lei, mas que deixou uma série de lacunas para serem regulamentadas pelos Conselhos Estaduais de Educação, especialmente porque é o principal foco da atribuição dos colegiados estaduais. Nestas mudanças o desafio de fazer um currículo que dê ao estudante a perspectiva de se preparar para entrar na universidade ou a perspectiva de preparar-se para o mercado de trabalho.

O Novo Ensino Médio promete que o currículo vai ter uma base comum que terá no máximo 1800 horas para serem trabalhadas nos três anos do Ensino Médio e mais itinerários formativos específicos focados na educação profissional ou em algum dos eixos que servem como base do atual Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). Mas a incoerência consiste exatamente em deixar as coisas muito soltas, fazendo com que cada escola possa escolher o seu modus operandi. É neste particular que o papel do CEE está bem delineado: criar uma orientação que leve as escolas a definirem os seus caminhos, mas de forma que não se alarguem muito as diferenças entre escolas. Este será o maior de todos os desafios que teremos para o ano que vem.

Boa semana para todos (as).

Chuvas apagam memória

A memória do brasileiro é muito curta, de uma forma geral. As coisas acontecem, às vezes se repetem, mas mesmo assim, ao perder o enlevo dado pela mídia coisas que nos afetam diretamente, sejam elas boas ou ruins, tendem a ser completamente esquecidas.

Nos últimos dias estamos sendo bombardeados em nível nacional pelo derramamento e contaminação de praias de todo o Nordeste e algumas do Sudeste com um volume considerável de petróleo, na condição de óleo cru. As praias adormecem limpas e amanhecem sujas com camadas de petróleo. Existem registros em todos os estados do Nordeste e mais em praias do litoral do Espirito Santo. A origem? Só Deus sabe e, como dizia minha avó: queira que Ele também saiba.

Do mesmo jeito é a já tradicional invasão de aguapés no rio Poty. Ano após ano, reiteradas vezes me revezo com o Professor Ribamar Rocha (UFPI) falando sobre esta esperada Eutrofização nas TVs, que começa sempre no segundo semestre, no auge do B-R-O-Bró (veja aqui a última vez que conversei sobre o assunto numa tentativa de mostrar os esgotos pluviais derramando esgoto in natura no Rio Poty).

Logo logo o problema do petróleo desaparece (fico torcendo!) e quando as férias chegarem todo mundo vai correr para praia e ninguém vai nem lembrar da quantidade de gente que trabalhou de forma incessante para proteger os manguezais, as tartarugas, os cavalos-marinhos e outras espécies que ficaram ameaçadas com este misterioso incidente que contaminou tantas paisagens.

Da mesma forma, quando as chuvas começarem a cair e o volume de águas do rio Poty aumentar, a concentração de poluentes ficará diluída e ninguém vai mais nem lembrar que o problema dos nossos rios continua.

O desperta para uma consciência dos problemas ambientais às vezes só ocorre quando problemas realmente sérios chegam a tona. Tem sido assim e vai continuar sendo. Estive lembrando estes dias de uma publicidade que sai na TV falando sobre os plásticos. Já é bastante perturbadora a imagem da quantidade de plástico que flutua nos mares. Já se formou até um continente flutuante de lixo plástico e isso tem impactado diretamente sobre os seres que habitam estes ambientes. Já falei nisso aqui umas duas vezes, mas especificamente sobre plásticos fiz questão de enfocar o prejuízo: veja!

É preciso despertamos esta consciência. De vez em quando ouço pessoas preocupadas em se criar na escola a disciplina de Educação Ambiental. Assusto as pessoas quando digo que sou contra. Sou contra porque na escola devemos aprender coisas para nos libertarmos da ignorância. Educação Ambiental não se deve aprender apenas na escola. É por uma questão de sobrevivência. E muitas vezes a culpa é nossa, porque não fazemos a nossa parte.

O plástico é considerado uma das maiores revoluções dentro do universo dos materiais. Hoje faz parte de tudo o que nos cerca. Inclusive do que não deveria. Um dos maiores absurdos é usarmos plástico para descartá-los imediatamente na natureza, como no caso dos canudinhos, por exemplo. Tomamos uma bebida e jogamos na natureza um lixo praticamente indestrutível.

Por isso, antes que você esqueça que em 2019 o rio Poty, mais uma vez se encheu de aguapés e de que as praias do Nordeste brasileiro se encheram de manchas de óleo de um possível vazamento de grandes dimensões, pare de usar plásticos sem necessidade. A natureza agradece.

Boa semana para todos (as).

Nobel de Medicina em 2019

Todos os anos no período de entrega do Prêmio Nobel fico atento para o que a Academia de Ciências da Suécia, combinada com o Instituto Karolinska vão apontar, especialmente nas áreas de Física, Química e Medicina e Fisiologia. As descobertas nestes três campos são as que mais afetam o desenvolvimento das ciências.

Em 2019 os vencedores do Nobel de Medicina e Fisiologia foram William Kaelin e Gregg Semenza, dos EUA, e Sir Peter Ratcliffe, do Reino Unido. O prêmio foi dado pelos estudos e descobertas sobre como as células do nosso corpo percebem e se adaptam aos níveis de oxigênio disponível no ambiente.

Os pesquisadores e suas equipes desenvolveram seus trabalhos independentemente desde os anos 1990. Juntas, suas pesquisas descrevem um importante mecanismo fisiológico – a resposta hipóxica das células – essencial para que indivíduos consigam sobreviver em lugares mais altos, onde há menor concentração de oxigênio, como cidades em que o ar é rarefeito, por exemplo (observamos muito isso no condicionamento de atletas que jogam em cidade de elevada altitude).

Além de desvendar como esse mecanismo funciona, os organizadores do Nobel ressaltaram a importância das descobertas para futuras aplicações médicas. De acordo com o comunicado oficial, “suas descobertas também abriram o caminho para novas estratégias promissoras para combater a anemia, o câncer e muitas outras doenças.”

Para entender o funcionamento do mecanismo de resposta hipóxica, é preciso relembrar como é o transporte de oxigênio no corpo humano. Ao entrar pelo sistema respiratório, o oxigênio se junta a uma proteína chamada hemoglobina, presente nas nossas hemácias. A corrente sanguínea é responsável por levá-lo para o restante dos nossos tecidos. O oxigênio é um dos principais combustíveis da respiração celular, processo que acontece no interior das células e fornece energia para as funções vitais do corpo (na verdade faz um superaproveitamento da energia contida nas ligações químicas das substâncias energéticas).

Dentro das células, quem se encarrega disso é a mitocôndria. Com a exceção de algumas bactérias e fungos, o oxigênio é indispensável para o metabolismo das células.

Quando se está em um ambiente com escassez de oxigênio (regiões montanhosas, por exemplo), o corpo logo começa a produzir mais hemoglobina – quanto mais células vermelhas trabalhando, maior será o aproveitamento do oxigênio disponível. Quando isso acontece, o corpo também regula a atividade metabólica das células para se adaptar ao novo cenário.

A ciência já sabia disso desde o século 20, mas os detalhes do funcionamento desse sistema em nível molecular só se tornaram conhecidos com o avanço das pesquisas dos três laureados.

Uma piauiense no time do Nobel

A bióloga piauiense Joanna Darck Carola Correia Lima desenvolve estudos sobre hipóxia no laboratório do pesquisador Peter Ratcliffe. Joanna, que estudou ciências biológicas na Universidade Federal do Piauí, faz um doutorado sanduíche no laboratório de Ratcliffe, na Inglaterra. Deu orgulho saber que uma conterrânea nossa tem contato permanente com pesquisador da elite mundial... Vai que pega por osmose...

Boa semana para todos (as).

(Com informações da Revista Superinteressante)

Aguapés no Rio Poti

Este ano está me parecendo que as pessoas estão mais preocupadas com o problema das macrófitas aquáticas do Rio Poti, onde a mais famosa é o aguapé, do que nos outros anos. Eu considero isso um avanço.

Na semana que passou fui convidado para uma participação ao vivo no Jornal do Piauí, da TV Cidade Verde. No pingo das 13h subi até a ponte estaiada com a equipe do repórter Thiago Melo para falar mais uma vez sobre o problema da poluição no Rio que, ano após ano, parece só piorar. De cima dá pra ver o volume de plantas ocupando a superfície de um dos rios que banham a cidade de Teresina. Veja o vídeo com a matéria:

Algumas coisas me chamaram atenção, especialmente depois que a matéria com a entrevista circulou pela cidade:

1) De fato, como bem disse o apresentador, jornalista Joelson Giordani, o teresinense não sabe lidar com o patrimônio hídrico que a cidade tem. Na média, parece que não ligamos a mínima para os dois rios imensos que banham nossa cidade;

2) De uma forma geral, as pessoas, especialmente muitos colegas biólogos, estão excessivamente preocupados com problemas ambientais distantes, mas parece que pouco se importam com os danos causados aos nossos rios;

3) A longo prazo, a limpeza dos rios depende da construção de sistemas de captação e tratamento de esgotos. Segundo a própria matéria, a companhia de águas informou que conseguiu elevar de 19% para 31% a captação e tratamento de esgotos. A julgar pelas obras que vejo na cidade (o que incluiu a minha rua), a companhia está instalando sistemas de captação, o que não significa que efetivamente esteja surtindo algum impacto positivo sobre os nossos rios, pois a exemplo da minha rua, a captação ainda não começou;

4) A culpa é de quem? Efetivamente nossa. Todos somos culpados. Primeiro porque não exigimos o básico dos nossos governantes, onde se inclui saneamento. Segundo, porque mesmo não fazendo exigências continuamos a votar. Terceiro porque pouca gente procura fazer sua parte.

5) Se você está achando que não tem como minimizar, faz a ligação da água servida da tua casa numa fossa séptica, assim como faz com os dejetos dos banheiros. Vais pagar uma ou duas vezes por ano para esvaziar, mas pelo menos a água da tua cozinha não vai in natura (sem tratamento) para os rios. Assim você está colaborando diretamente para a despoluição dos rios;

6) Aliás, a despoluição pode ocorrer de forma natural. O rio pode se autodepurar, desde que para isso pare de ser poluído;

7) Os órgãos ambientais continuam sem saber o que fazer, de fato. Li em umas postagens nas redes sociais que autoridades do setor estavam buscando meios de pagar para retirar os aguapés. Escrevi aqui a uns dias (veja aqui) que retirar as plantas, só por retirar, elimina o bioindicador da qualidade ambiental, mas não resolve o problema. Esperar que o próprio rio se resolva também não é legal porque enquanto os aguapés crescem as trocas gasosas entre a água e o ar reduzem muito, prejudicando os organismos ocupantes da biota aquática. Há uma forte redução de oxigênio dissolvido (OD), o que pode levar o ambiente a um quadro de hipóxia (baixa disponibilidade de oxigênio) ou até mesmo anoxia (redução máxima da quantidade de oxigênio dissolvido na água), podendo levar a uma mortandade de peixes.

As autoridades ambientais poderiam gastar seu tempo propondo soluções com mais eficácia. Desconheço existirem, por exemplo, formas do poder público lançar mão da expertise de cientistas das nossas universidades que estudam o problema de perto. Por que as Secretarias de Meio Ambiente, do município e do Estado, não investem parte dos recursos arrecadados em compensações ambientais abrindo editais para financiar pesquisas para tentar resolver alguns destes problemas? [DEIXEI ATÉ EM NEGRITO PARA VER SE FACILITA A VIDA DOS GESTORES].

Na minha modesta visão de pesquisador, ainda acho que tanto a iniciativa pública, quanto a privada, utilizam muito pouco a expertise dos nossos pesquisadores. Voltando para a questão dos rios, logo ali, na Universidade Federal do Piauí (UFPI), no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), tem pesquisadores com toda boa vontade em aplicar conhecimento para ajudar a resolver parte destes problemas. Não falta gente. Faltam recursos... Fica a dica!!!

Boa semana para todos (as).

Técnicas de DNA ajudam a decifrar origem de povos do passado

Foto: Pixabay

O avanço da tecnologia tem proporcionado investigações importantes sobre o passado. O registro histórico de povos da Roma antiga acaba de ser revelado por uma pesquisa que envolveu informações sobre o DNA de corpos encontrados em sítios arqueológicos.

O estudo, publicado na Science, traçou 12 mil anos de história usando genomas de 127 pessoas enterradas em 29 sítios arqueológicos na cidade de Roma e nos arredores.  A pesquisa foi conduzida pelo antropólogo físico Alfredo Coppa, da Universidade Sapienza de Roma, que buscou centenas de amostras em dezenas de locais previamente escavados. O pesquisador Ron Pinhasi, da Universidade de Viena, extraiu o DNA dos ossos do ouvido dos esqueletos, e Jonathan Pritchard, geneticista da população da Universidade de Stanford, sequenciou e analisou seu DNA.

Os genomas mais antigos vieram de três caçadores-coletores que viveram de 9.000 a 12.000 anos atrás e se pareciam geneticamente com outros caçadores-coletores na Europa na época. Os genomas posteriores mostraram que os romanos mudaram em sintonia com o resto da Europa, pois um influxo de fazendeiros ancestrais da Anatólia (hoje Turquia) reformulou a genética de toda a região há cerca de 9000 anos. Mas Roma seguiu seu próprio caminho de 900 aC a 200 aC. Foi quando ela cresceu de uma pequena cidade para uma cidade importante, pois durante seu crescimento, provavelmente estava acontecendo migração intensa, como confirmaram os genomas de 11 indivíduos desse período. Algumas pessoas tinham marcadores genéticos semelhantes aos dos italianos modernos, enquanto outros tinham marcadores que refletiam ascendência do Oriente Médio e do norte da África.

Muito provavelmente a diversidade aumentou ainda mais quando Roma se tornou um império. Entre 27 aC e 300 dC, a cidade era a capital de um império de 50 a 90 milhões de pessoas, que se estendia do norte da África à Grã-Bretanha e ao Oriente Médio. Sua população cresceu para mais de 1 milhão de pessoas com uma diversidade genética considerável. Muitas pessoas de certas partes do império eram muito mais propensas a se mudar para a capital. O estudo sugere que a grande maioria dos imigrantes de Roma veio do Oriente. Dos 48 indivíduos amostrados nesse período, apenas dois apresentaram fortes laços genéticos com a Europa. Outros dois tinham forte ascendência norte-africana. O resto tinha ascendência conectando-os à Grécia, Síria, Líbano e outros lugares no Mediterrâneo Oriental e no Oriente Médio.

A pesquisa genética pode colaborar na elucidação do passado de muitos povos. Aspectos importantes sobre a ocupação das américas, por exemplo, precisam ser melhor esclarecidas. Durante muito tempo a crença de que os povos das américas teriam atravessado o Estreito de Bering durante a Era Glacial retardaram pesquisas sobre a origem dos povos americanos. Aqui no Piauí, com a ajuda da missão franco-brasileira que há décadas tem buscado achados significativos dos sítios da Serra da Capivara, muito ainda há de ser descoberto. É esperar evidências mais seguras para explicar de onde veio os primeiros humanos a chegarem por aqui.

Boa semana para todos e todas.

(Com informações da Revista Science)

CNPq entrega prêmios para estudos sobre Indústria 4.0

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entregou na última quinta-feira (31/10) o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia 2018 para estudantes e pesquisadores dos países-membros ou associados ao bloco (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela). Esta edição recebeu 175 trabalhos de candidatos de noves países, e os vencedores foram do Brasil, do Uruguai e da Argentina, com estudos ligados à Indústria 4.0.

Um dos premiados foi o brasileiro Marcelo Zuffo, para quem o país precisa “sair da torre de marfim” e desenvolver ideias que “conversem” com as necessidades da sociedade.

“A ciência só tem valor se ela impacta a sociedade, em qualquer nível. Queremos revelar a possibilidade de fazer tecnologia localmente, gerando emprego, renda e riqueza”, disse Zuffo. Junto com uma equipe de pesquisadores na Universidade de São Paulo (USP), ele tem desenvolvido computadores de placa única utilizando software e hardware livres. Ou seja, tecnologias abertas à reprodução e distribuição.

“Se o Produto Interno Bruto da Internet das Coisas, este ano, é US$ 1 trilhão, a América Latina tem que ter um quinhão nessa parte. Como não temos no Brasil grandes empresas de tecnologia nesse setor, a única estratégia são tecnologias abertas e livres. É o que estamos fazendo”, afirmou o pesquisador.

O programa de Zuffo e sua equipe, batizado de Caninos Loucos, trabalha com a criação de três computadores, e o maior é um supercomputador. “É uma plataforma com 512 núcleos de processamento, 512 gigabytes de disco e 2 terabytes de disco rígido para aplicações em inteligência artificial. E tudo com tecnologias abertas”, explicou.

Segundo Zuffo, a meta é fabricar esses computadores, distribui-los e permitir a reprodução da tecnologia. O projeto teve apoio de empresas e também arrecadou verba por meio de campanhas de financiamento coletivo. O prêmio de US$ 10 mil recebido hoje será usado para financiar a produção de mais computadores.

“Muitos celulares usam software livre. Usam Android, e a Android tem o Kernel Linux. Foi assim que a indústria viabilizou esse tipo de plataforma. Se a gente quer viabilizar Internet das Coisas, a Indústria 4.0 nessa região do mundo, nós temos que apostar em tecnologias abertas”, enfatizou.

Integração com empresas

Outro premiado foi Thiago Ramires, que apresentou um projeto de aplicabilidade imediata. Ele desenvolveu um modelo de análise de plantações de cana-de-açúcar para identificar onde há ervas daninhas e, com isso, evitar a aplicação de herbicidas em cima da lavoura. O modelo desenvolvido por Ramires é baseado no mapeamento da plantação com o uso de um drone, que tira várias fotos. Com o uso de inteligência artificial, foi possível identificar os pontos exatos onde há erva daninha.

“Assim, conseguimos adaptar o drone para fazer pulverização local. Em vez de pulverizar o campo inteiro, [o drone] vai localmente, onde existe a invasão de erva daninha. E erva daninha você não consome. Então, o resto fica limpo, além de reduzir muito o custo”, explicou o ganhador do Prêmio Jovem Pesquisador.

A pesquisa de Ramires teve apoio da Raízen, uma gigante da produção de etanol, açúcar, combustíveis e bioenergia. A empresa já está aplicando em suas plantações o modelo desenvolvido por Ramires. Para ele, a pesquisa no Brasil ainda carece de integração entre empresas e pesquisadores.

“Essa pesquisa só foi possível porque uma empresa veio nos procurar. Então, a parte de financiamento ela custeou, e ela obteve o retorno do custo da pesquisa”, disse.

“O ponto chave é a integração. [Para iniciar uma] pesquisa você precisa de ter um problema. O problema quem tem é a empresa. A empresa leva a pesquisa para a universidade, a universidade resolve e, nessa troca, a gente pode até obter financiamento da própria empresa, em vez de pegar uma bolsa [de pesquisa], porque a própria empresa vai se beneficiar com isso”, completou.

[Com informações da Agência Brasil]

 

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