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O medo da volta

A pandemia de COVID19 deixou todo o mundo assustado e em pânico com a perspectiva real de enfrentar uma doença terrível e que açoitou já perto de 1 milhão de pessoas no mundo inteiro (916.237 pessoas mortas neste exato momento em que escrevo o texto). A falta de solução para a doença permitiu a recomendação de paliativos como o uso de máscaras, banhos diários de álcool em gel a 70% e o pior de tudo: o isolamento social.

De todos os problemas o que mais afeta a todos, sem dúvida, é a necessidade do isolamento social. O mundo inteiro sofreu com a crise econômica, com a lida com um jeito diferente de conviver e se comportar, com a necessidade de ter paciência contra os intolerantes, com a corrupção que fez com que políticos espertalhões dessem mais um jeitinho de pôr a mão no erário etc. Enfim: um problema que desencadeou uma porção de outros problemas. Mas o segmento mais afetado, sem qualquer dúvida foi a educação.

O fato de o vírus ser facilmente transmitido de pessoa a pessoa e existirem grupos mais suscetíveis a sucumbirem ante a doença, impôs a necessidade de as escolas pararem. Persiste a grande dúvida se pessoas assintomáticas são transmissoras ou não da doença. Pais aflitos, precisando trabalhar, ainda que de casa, foram obrigados, do dia para noite, a prover a educação dos filhos com o irrestrito apoio das escolas. Escolas privadas, mais cuidadosas com o que entregam em termos de educação, assumiram meios alternativos e passaram a mesclar aulas gravadas com encontros ao vivo usando plataformas digitais que, cada dia mais aperfeiçoadas, passaram fazer parte da rotina de professores e outros atores escolares para mitigar os efeitos do isolamento.

Nas escolas públicas os problemas são bem maiores, pois as diferenças socioeconômicas empurram os mais pobres para o abandono e para o isolamento provocado por não terem meios para acompanharem as aulas, seja por falta de equipamentos ou pela falta de internet, ou porque os gestores não conseguem pensar fora da caixinha e não conseguem gerar meios alternativos de entregar um mínimo para manutenção das crianças vinculadas à escola.

O retorno, em determinados locais, tem levantado medo e ansiedade nos que se preparam para voltar. Seja pela morte de professores ou pelo aumento no número de professores doentes. Mas o que se deve fazer?

Vou emitir minha opinião, tanto como um observador desta pandemia e de suas consequências, como a de um educador preocupado com a situação. Vamos por parte:

1) Seria muito importante que as escolas planejassem um retorno de modo escalonado: apenas algumas turmas e com uma parte dos estudantes, apenas, de modo presencial.

2) Priorizassem os estudantes que vão se submeter a concursos como o ENEM.

3) Dessem a opção para os estudantes que, ou por terem comorbidades, ou mesmo não sentirem segurança, permanecessem em casa nas atividades remotas.

4) Seguissem todos os protocolos de segurança determinados pelas autoridades sanitárias. Caso não conseguissem garantir a segurança, permanecessem apenas com atividades remotas, mas cuidando para avaliar a efetividade do aprendizado remoto usando avaliações que medissem a aquisição de habilidades e competências neste período.

5) Que as escolas protejam seus professores, resguardando os que pertencem aos grupos de risco em atividades remotas.

Os prejuízos educacionais são imensuráveis, mas não seriam maiores do que perdas provocadas pelo retorno precipitado ou mal planejado. Há crianças que se adaptaram bem às atividades remotas, mas para os mais jovens a socialização é muito importante. Todavia, não há segurança para o retorno, a curto e nem a médio prazos, e este é o nó Górdio da questão.

Que a ciência consiga através de vacinas, antivirais, anticorpos monoclonais, imunização cruzada, ou qualquer outra estratégia, promover um retorno de todos ao mais próximo possível do que seria o normal. Que os educadores consigam promover estratégias que permitam aos estudantes que tirem a diferença do que deveriam ter aprendido este ano. 2020, por tudo o que já aconteceu, já pode ficar para trás.

Boa semana para todos (as) e até o próximo post...

 

O futuro da Educação

Desde muito cedo aprendi com meus pais que precisava estudar para chegar onde quisesse. A cantilena sempre começava assim: “o que temos para deixar para vocês é o que aproveitarem da escola”. Esta lição fiz questão de passar para meus filhos e acho que o discurso deu certo. Vivendo em um país com poucas oportunidades e nascidos em um estado onde estas oportunidades são ainda menores, a saída termina sendo de fato a formação escolar. Como dizia Nelson Mandela: a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.

O mundo, em constante evolução, vai mudando e alguns paradigmas descrevem alterações o que vale para educação em uma conjuntura de transformação do mundo do trabalho. Já falei aqui antes sobre a Educação 4.0, na perspectiva de que as carreiras profissionais estão em mudança constante para atender ao mundo contemporâneo.

Nesta toada, precisamos preparar nossos filhos para um mundo que sequer conhecemos, e aí é imperativo que os preparemos para adquirirem habilidades. Estas serão imprescindíveis para as ocupações do futuro, como já alertou o historiador israelense Yuval Harari. Mas será que esta mudança provocará alterações nos cursos oferecidos pelas universidades? Na minha opinião as mudanças já estão acontecendo.

A Google criou um programa chamado Google Career Certificates (Certificados de Carreiras do Google, em tradução livre). Trata-se de um conjunto de cursos para carreiras específicas no Google. Atualmente a plataforma oferece cursos na área de Gestão de Projetos, Analista de Informações e UX Designer, áreas altamente demandadas pelo próprio Google. São cursos com apenas seis meses de duração, mas que prometem formar pessoas para atuarem no mercado, segundo o site de “alta demanda”, como salários anuais entre US$ 54 mil e 75 mil, ou seja, valores entre R$ 22 mil e R$ 31 mil mensais. Aí vem a pergunta: quem trocaria um curso destes, rápido e voltado para formar uma clientela específica, por um curso superior numa faculdade ou universidade, com todas as deficiências que existem, sem qualquer garantia de empregabilidade e com ganhos projetados infinitamente menores? Confira aqui.

O certo é que as demandas que estão surgindo, para uma sociedade imersa na Quarta Revolução Industrial e a velocidade com que surgem novas funções, notadamente forçam o aparecimento de novos aprendizados. Quando uma grande corporação como o Google oportuniza de forma tão objetiva novos aprendizados, mostrando que logo adiante existem boas oportunidades de trabalho, é preciso e necessário que as corporações com compõem as velhas estruturas ponham suas barbas de molho. Quem precisará de uma carreira universitária dentro desta perspectiva? O que hoje seria classificado como um curso livre (aqueles que dispensam determinadas requisitos e não passam pelo crivo de uma oficialização por uma instituição normativa, como um conselho de educação) pode se tornar algo muito mais precioso do que uma carreira acadêmica, como ponto central para ingresso no mercado de trabalho e com um custo benefício infinitamente maior.

No futuro, muito provavelmente, as habilidades adquiridas serão muito mais importantes do que os títulos acadêmicos. Reflitamos. Boa semana para todos (as)

 

Águas Zarcas: a riqueza que veio do céu

Muita gente já testemunhou a queda de uma “estrela cadente”. Fica até meio redundante (cadente=que caiu), mas estamos falando de meteoros ou meteoritos. São corpos celestes que vagam e vez por outra invadem nossa atmosfera.

Ao entrarem em contato com nossa atmosfera, o atrito com o oxigênio faz com que se tornem incandescentes e, via de regra, incendeiam e se dissolvem em partículas. Os poucos que caem com um tamanho considerável, na maioria das vezes, caem nos oceanos.

Estes corpos celestes muitas vezes trazem elementos importantes na sua composição. Os meteoritos são, em geral, fragmentos de asteroides ou cometas, podendo ser rochosos, metálicos ou uma mistura de rocha e metal. Os metálicos em geral são compostos de níquel e ferro. Existem ainda, e são bem raros, os meteoros chamados de condritos carbonáceos, cuja composição é rica em hidrocarbonetos.

No dia 23 de abril de 2019 caiu sobre a Costa Rica o meteorito do tipo condrito carbonáceo batizado de Águas Zarcas. Fragmentos do Águas Zarcas tem sido vendido por até US$ 400 o grama (cerca de dez vezes mais caro do que o ouro). A revista Science produziu um vídeo falando do achado de alguns moradores. Veja:

No Brasil já cairam alguns meteoritos que ficaram famosos como a Pedra de Bendegó e o Meteorito de Santa Luzia, ambos em exposição no Museu Nacional e que não sofreram danos com o incêndio que o destruiu em setembro de 2018. O meteorito de Bendegó foi descoberto no século XVIII e foi transportado do interior da Bahia, onde foi descoberto, para o Rio de Janeiro, apenas em 1888. Para sua remoção foi criada uma comissão de engenheiros e seu transporte foi considerado uma das mais complexas operações de logística da época do Império. O meteorito tem 5.360 kg, é composto de ferro, níquel e cobalto e quando foi descoberto era o segundo maior meteorito do mundo (hoje é o 16º). Veja no próximo vídeo uma explicação sobre os meteoritos depositados no Museu Nacional.

Boa semana para todos (as).

 

Por que a aprovação do FUNDEB foi importante?

FUNDEB é a sigla para Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Trata-se de um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um fundo por estado e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos), formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à educação por força do disposto no art. 212 da Constituição Federal. Além desses recursos, ainda compõe o Fundeb, a título de complementação, uma parcela de recursos federais, sempre que, no âmbito de cada Estado, seu valor por estudante não alcançar o mínimo definido nacionalmente. Independentemente da origem, todo o recurso gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica.

Antes do FUNDEB (e de seu antecessor, o FUNDEF) não existia uma política unificada voltada para a educação básica no país e aí já sabe: era um faz de conta total. Não existiam metas e nem formas de avaliar como a educação ia. Os governantes pagavam para os professores o que achavam que era para pagar. Não havia sequer a profissionalização da carreira. O FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério) foi criado em setembro de 1996 pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2006, o FUNDEF deu lugar ao FUNDEB, pelas mãos do Presidente Lula.

Mas porque o FUNDEB é tão importante para educação do Brasil? Porque garante recursos para a melhoria das escolas e para um dos aspectos mais importantes da educação que é a valorização do pessoal docente. Historicamente a profissão de professor nunca foi valorizada. Exceto nos discursos do politicamente correto, governantes nas três esferas não conseguem entender que para ter bons quadros na educação é necessário que a carreira seja atrativa para os jovens. Desde muito tempo defendo a premissa de que as melhores árvores vêm das melhores sementes. Mas qual o jovem se torna atraído para uma carreira na qual não é possível se vislumbrar o sucesso? Por isso, 60% dos recursos deste fundo bilionário são destinados exclusivamente para bancar salários e planos de carreira para professores da educação básica, um passo extremamente importante para valorizar a carreira responsável por formar as demais carreiras.

O Senado aprovou em 25 de agosto de 2020 a implementação de um FUNDEB que se fortalece bastante com a aplicação de mais recursos federais, de maneira gradativa até 2026. Só para se ter uma ideia o valor anual aplicado por aluno, atualmente calculado em R$ 3.600,00 passará, até 2026, para R$ 5.500,00, um crescimento de quase 53% nos valores aplicados.

O que se chama atenção é para necessidade de que esta aplicação de recursos seja bem feita. Por vezes o problema da educação não é a falta de recursos e sim a forma como estes são aplicados. É necessário dar uma melhor otimização para o aplicado e isso vale para todo tipo de despesa, inclusive os recursos pagos pelo trabalho docente. Seria importante o estabelecimento de metas e, à medida que estas metas fossem sendo atingidas, mais melhorias fossem implementadas. A aplicação dos recursos tem que, obrigatoriamente, se revestir em resultados.

A educação melhor precisa sair do discurso para prática. Exemplos? Temos aos montes para nos espelhar.

Boa semana para todos (as).

Uma reflexão sobre o aporte de recursos em C, T & I no Piauí

Já escrevi várias vezes que o Brasil investe muito pouco em pesquisa. Nosso estado, o Piauí, menos ainda, pois até sua Constituição que falava em gastos de “no mínimo 1%” com ciência e tecnologia, foi mudada para “até 1%”, o que na minha leitura (e não somente na minha) pode ser até Zero, pois estaria dentro da lei.

Pertenci durante algum tempo às estruturas governamentais do Piauí que faziam fomento à Ciência e Tecnologia. Fui presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e depois Superintendente Estadual de Ciência e Tecnologia. Depois de sair das chefias, que juntas não chegaram a um ano completo, permaneci no corpo técnico da superintendência por mais três anos, até entender que minha missão já tinha encerrado e que não conseguia mais contribuir. Neste pouco tempo que passei, primeiro comandando e depois fazendo parte de uma equipe pequena, mas muito comprometida com trabalho, fizemos o que nossos braços alcançavam. Conseguimos lançar um edital durante minha estadia na FAP e deixar dois editais negociados, e na Superintendência, conseguimos lançar um edital que, de uma vez só, equipou 12 laboratórios de pesquisa da Universidade Estadual. Outras ações permitiram que fossem equipados mais dois laboratórios de ensino da IES Estadual. Durante quatro anos, a duras penas, conseguimos fazer certames transparentes, com regras claras, com projetos avaliados por pares, como manda o trato com recursos públicos, especialmente nestes tempos de dificuldades e nos quais se lida com governantes pouco sensíveis às necessidades do segmento. Mesmo com este comportamento, não conseguimos fazer escola para preparar quem veio depois, na sucessão destas estruturas de fomento. Pelo menos nos quesitos de maior importância.

Em 2018 dei uma virada daquelas que mexem com a estrutura de qualquer pesquisador. Com mais dois amigos, montamos um time para trabalhar com Inovação. Colocamos toda nossa expertise a serviço de um projeto arrojado, original, que tem a intenção de melhorar a educação de crianças, especialmente nas áreas de Ciências e Matemática, por considerarmos áreas essenciais para o desenvolvimento do nosso país, rico em potencialidades, mas pobre em iniciativas. Como passamos a trabalhar numa nova área de pesquisa, buscamos financiamento para o projeto de inovação. E fomos muito bem sucedidos. Vencemos edital nacional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Nosso projeto foi acolhido pelo Instituto SENAI de Inovação da área de Tecnologia da Informação e Comunicação – o ISI-TICS situado em Recife, Pernambuco. Depois vencemos edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e o mais difícil de todos, o Edital do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNDECI do Banco do Nordeste (BNB). Com estes aportes nossa pesquisa avançou bastante e transformamos os seus resultados em um produto escalável e com possibilidade de conquistar o mercado educacional internacional.

Enquanto conquistávamos estas vitórias a FAP do Piauí conseguiu lançar dois editais em parceria com a FINEP. O programa chamado Tecnova II conseguiu a proeza de reprovar por notas todos os projetos que se candidataram. Entre os reprovados, além do nosso, projetos de grupos que atuam em inovação e, como nós, já conquistaram muitos resultados positivos, mas em outros lugares.

Nos meus trinta e poucos anos de professor e pesquisador nunca tinha visto algo tão estranho. Impossível achar que em um seleto grupo de pesquisadores com larga experiência em captar recursos ninguém tenha conseguido sequer a nota mínima aprovativa. Será que ninguém teve capacidade de conseguir o mínimo? Cabe uma reflexão...

Nosso grupo segue em frente! Enquanto escrevo estas linhas acabo de saber que conseguimos mais duas vitórias, por vias meritocráticas. Que se guarde este texto para uma reflexão...

Boa semana para todos (as)!

COVID-19: a nova esperança com anticorpos

Não resta dúvida que cientistas do mundo todo perseguem uma solução contra o vírus SARS-CoV2 e os que vierem depois dele, que podem pegar o mundo de novo com as calças na mão, como se diz. Para cientistas, suas instituições e os seus países de origem, encontrar uma cura para esse mal é não somente um desafio, mas o passaporte para virar uma celebridade, ganhar um nobel e uma boa ponta de dinheiro pro resto da vida.

Para se ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) contabiliza a existência, em torno do mundo, de 139 vacinas em diferentes fases de desenvolvimento. Importante alertar que existem quatro fases de testes para vacina: Fase Pré-Clínica, Fase 1, Fase 2 e Fase 3. Na Fase Pré-Clínica é montado todo o planejamento e os primeiros testes feitos apenas in vitro, para testar segurança e eficiência, observando apenas o efeito em células, sem o uso de seres vivos. Na Fase 1 o teste é feito em animais e em pequenos grupos de voluntários humanos. O principal objetivo desta fase é testar a segurança dos pacientes. Depois disso todos os resultados são publicados em revistas, cujos pareceristas tem acesso aos metadados e fazem críticas bem contundentes, tudo isso com estes resultados sendo submetidos a robustos testes estatísticos, para eliminar o acaso das suas respostas. Na Fase 2, de posse de dados sobre a segurança, efeitos colaterais e quantidade necessária de vacina, o teste já avança para grupo com centenas de voluntários. Aí, em geral divide-se este grupo em dois grandes grupos: Grupo Controle – que recebe apenas um placebo, ou seja, uma substância inócua, sem qualquer efeito e o Grupo Experimental – que recebe a vacina a ser testada. Os resultados são avaliados e espera-se que os membros do Grupo Experimental exibam resultados satisfatórios. Na Fase 3 o negócio é para valer mesmo: milhares de pessoas recebem a vacina e são monitoradas de perto, para ver se faz realmente efeito.

De todas estas vacinas citadas pela OMS, 28 já estão na fase de testes que envolvem humanos e 8 estão na fase 3. As mais relatadas pela mídia são: vacina da Universidade de Oxford com o laboratório AstraZeneca, a vacina do Laboratório Chinês Sinovac Biotech com o Instituto Butantã, a vacina do Laboratório americano Pfizer com o laboratório alemão BioNTech e a vacina Sputinik V do Laboratório russo Instituto Gamaleia. Esta última já foi registrada e vem sendo produzida pelo Governo Russo, ainda que os dados das fases iniciais não tenham sido publicados nas revistas e, portanto, não tenham passado pelo crivo dos cientistas do mundo inteiro, demonstrando uma situação de total falta de transparência com seus resultados.

Fora desta corrida pela vacina que, além de longa oferece algum risco, seja pela insegurança dos testes terem sido abreviados ou pela desconfiança de que podem não ser tão eficazes também outra pesquisa avança com força:  a que usa anticorpos monoclonais. Os anticorpos monoclonais seriam anticorpos iguais (daí a palavra Monoclonal, um só tipo de cópia) que neutralizam regiões específicas do agente patogênico. Neste sentido, laboratórios como Lilly, AbCellera, AstraZeneca, GlaxoSmithKline, Genentech e Amgen solicitaram ao Departamento de Justiça dos EUA permissão para trocar informações sobre suas pesquisas com anticorpos monoclonais a fim de ganharem tempo. Especialistas entrevistados pela revista Science adiantaram que, nas perspectivas mais conservadoras, conseguirão, até dezembro deste ano, uma solução com este tipo de anticorpos contra a COVID-19.

Vamos aguardar, a ciência está fazendo sua parte! Boa semana para todos (as).

Mestrados profissionais: uma experiência exitosa no Brasil

Apesar de falas controversas de autoridades governamentais contra as universidades e o desenvolvimento da ciência no Brasil, apontamos a existência de experiências exitosas originadas de programas que visam tentar sanar deficiências na educação.

A deficiência da educação brasileira tem causa multifatorial. Há desde o desestímulo provocado pelos baixos salários até a inexistência de uma carreira de estado (o mesmo para o segmento privado) que não atrai novos profissionais, até condições de trabalho totalmente inadequadas, apesar dos vultosos recursos aplicados na educação brasileira, de uma forma geral.

Um dos problemas identificados, por ocasião dos planos nacionais de educação é a formação inadequada ou a necessidade premente de uma formação continuada para tornar as aulas mais atrativas, visando contribuir para um quadro de maior zelo da estudantada por uma condição maior de aprendizado. Uma das alternativas que surgiu foi o aparecimento dos cursos de Mestrado Profissional em áreas de Licenciaturas, que vem motivando os profissionais a retornarem para o ambiente universitário para uma reciclagem e aperfeiçoamento de métodos de abordagem para aplicarem, de imediato, nas suas próprias salas de aula.

Estes cursos foram regulamentados pela Portaria MEC nº 389/2017 que definiu como objetivos para Mestrado e Doutorados Profissionais: I - capacitar profissionais qualificados para o exercício da prática profissional avançada e transformadora de procedimentos, visando atender demandas sociais, organizacionais ou profissionais e do mercado de trabalho; II - transferir conhecimento para a sociedade, atendendo demandas específicas e de arranjos produtivos com vistas ao desenvolvimento nacional, regional ou local; III - promover a articulação integrada da formação profissional com entidades demandantes de naturezas diversas, visando melhorar a eficácia e a eficiência das organizações públicas e privadas por meio da solução de problemas e geração e aplicação de processos de inovação apropriados; e IV - contribuir para agregar competitividade e aumentar a produtividade em empresas, organizações públicas e privadas.

Atualmente existem 12 cursos no chamado PROEB – Programa de Mestrado Profissional para Professores da Educação Básica, contemplando as disciplinas de Letras (ProfLetras), Matemática (ProfMat), Biologia (ProfBIO), Física (ProFis), Química (ProfQUI), Artes (ProfArtes), Filosofia (Profilo), Sociologia (ProfSocio), Educação Física (ProEF), Ciências Ambientais (ProfCiamb) e Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua). Importante destacar que instituições privadas oferecem Mestrados Profissionais em outras áreas, pois a estrutura dos cursos chamados Profissionais, lidam com aplicação direta do que é essencial para as profissões, servindo para tornar os profissionais mais aquilatados na área que escolheram como profissão. Áreas como Administração, Direito, Economia, Comunicação e Marketing também são contempladas, dentre outras.

Aqui no Piauí, a Universidade Estadual do Piauí (UESPI) se destaca na oferta dos Mestrados Profissionais em Letras, Matemática e Biologia. Atuei por três anos no PROFBIO que a UESPI mantém em parceria com mais 17 universidades do Brasil, capitaneadas pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. O PROFBIO da UESPI é um dos mais concorridos do Brasil. De uma forma geral o Programa oferece 500 vagas para todo o Brasil, sendo que os candidatos precisam ser professores de Biologia atuando em sala de aula, nas redes públicas estadual ou federal.

O PROFBIO/UESPI congrega atualmente 21 professores de diferentes Centros da Universidade, com destaque para profissionais do Centro de Ciências da Natureza (CCN) e do Centro de Ciências da Saúde (CCS), além de professores lotados em Centros das cidades do interior como Campo Maior, Parnaíba e Picos. O PROFBIO/UESPI já formou 20 mestres sendo 18 da primeira turma, encerrada em 2019 e 2 da segunda turma, que se encerra em outubro, em razão da pandemia, e tem 27 estudantes no total. A terceira turma, iniciada em 2020, funciona com 29 mestrandos. Os trabalhos de conclusão de Mestrado abrangem as nuances de como se ensinar diferentes áreas das ciências biológicas como Botânica, Citologia, Genética e Ecologia, por exemplo.

O curso PROFBIO da UESPI tem marcas muito interessantes: selecionou candidatos com as médias mais altas do Brasil, foi o curso que teve a primeira defesa dentre os 18 do Programa, e a sua média de acesso tem sido a maior do país, desde a primeira turma, resultado de uma elevada e qualificada concorrência de profissionais da área das Ciências Biológicas, além de um represamento de profissionais, pois este é o primeiro curso de pós-graduação Stricto Sensu voltado para área de Ciências Biológicas no Piauí. O PROFBIO/UESPI é coordenado pelas Doutoras Francisca Lúcia de Lima e Francielle Aline Martins e atende a estudantes (na verdade professores de Biologia) dos Estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Pernambuco.

Boa semana para todos (as)!!!

Quem é o pai da Ciência?

Desde que comecei a escrever para o Ciência Viva procuro compatibilizar os textos aos períodos do ano. Assim dia das mães ou dos pais procuro temas compatíveis com o período. Ainda que, ceticamente incorpore estas datas como de cunho comercial, como escrevo para pessoas que se interessam por ciência devo, em respeito aos leitores entrar no clima de festa e homenagear aqueles que, para mim, merecem homenagens todos os dias.

Em homenagem ao Dia dos Pais, comemorado no segundo domingo de agosto, vamos falar hoje sobre o Pai da Ciência. Mas quem é o pai da Ciência? Lendo um pouco sobre história da Ciência entendemos que nomes da Grécia Antiga como Pitágoras ou Anaximandro, os precursores de explicações dentro de uma lógica que podemos considerar como um pré-método científico poderiam receber tranquilamente este título. Ao ler uma matéria da Ciência Hoje para as Crianças publicada em 2011 passei a concordar. O Pai da Ciência, sem qualquer dúvida foi Galileu Galilei.

Galileu Galilei. Fonte: https://saber-curiosidades.blogspot.com/2020/07/16-curiosidades-sobre-vida-e-o-legado.html

Galileu Galilei foi um físico e matemático nascido em Pisa e falecido em Florença, Itália, que viveu entre 1564 e 1642. Foi o responsável pela invenção de vários instrumentos dentre eles o compasso de Galileu e a Balança Hidrostática. Aperfeiçoou o Telescópio, uma invenção holandesa que lhe permitiu observações criteriosas do universo e descobertas como as crateras da Lua, quatro das 12 luas de Júpiter, os anéis de Saturno e a natureza fluida do Sol. Galileu foi o responsável pela Lei científica sobre a queda dos corpos e pela confirmação do Heliocentrismo (a ideia de que os planetas giravam em torno do Sol). Apoiar o descobrimento do astrônomo polonês Nicolau Copérnico de que os planetas giravam em torno do Sol, contrariando a ideia corrente de Aristóteles e Ptolomeu de que tudo girava em torno da Terra (Geocentrismo) chegou a lhe valer uma condenação pelo tribunal do Santo Ofício da Igreja Católica, na época comandada pelo Papa Urbano VIII. Felizmente Galileu chegou a sofrer sanções consideradas leves, como uma espécie de prisão domiciliar, mas seus livros foram listados no Index, uma espécie de lista proibida de obras da Igreja Católica.

Nesta época os livros foram publicados na Holanda, onde o Protestantismo já era vigoroso, e lá Galileu fez experimentos com o telescópio. Sua história dedicada a Ciência, junto aos riscos que correu por contrariar censores ignorantes que condenaram sua obra, o tornaram um verdadeiro exemplo para ciência. O Papa João Paulo II, no ano 2000, fez um pedido formal de desculpas a todos aqueles que haviam sido considerados hereges pela Igreja Católica, o que incluiu o ilustre cientista italiano, Galileu Galilei.

Assim, me referenciando em Galileu Galilei, o pai da Ciência (e de mais três filhos Virgínia, Lívia e Vincenzo), desejo a todos os que leem o Ciência Viva, um feliz dia dos Pais!

Boa semana para todos (as)!

 

P.S.: Um abraço especial ao Professor Francisco Soares Santos, a quem devo a honra de ter como meu pai.

COVID19: E a imunidade cruzada?

No estágio em que estamos com muitas pessoas contraindo a COVID-19 e algumas pessoas morrendo, o que vai aparecendo pela frente de novidade ficamos ávidos em conhecer e tentar investigar para dar, sobretudo, boas notícias ou esperanças reais.

Hoje vamos falar um pouco sobre Imunidade Cruzada. Todos sabemos que o SARS-CoV2, vírus que causa a COVID-19 é um vírus novo. Mas a sua família (a dos coronavirídeos) tem pelo menos 7 vírus que atacam humanos. Alguns destes vírus já circulam há décadas entre humanos nos causando gripes ou síndromes gripais sem problemas maiores. São eles

1) HCoV-229E; 2) HCoV-NL63; 3) HCoV-OC43; 4) HCoV-HKU1; 5) SARS-CoV; 6) MERS-CoV; 7) SARS-CoV2

Os quatro primeiros são causadores de gripes leves que normalmente acometem crianças. Os três últimos são os grandes vilões pelas epidemias que causaram. O SARS-CoV, é um vírus de origem zoonótica, depositado em um animal da fauna chinesa chamado Pangolim, iniciou em uma província chinesa, espalhou-se por 12 países entre 2002 e 2003. O MERS-CoV espalhou-se na Coreia do Sul em 2015 e também é de origem zoonótica, só que se deposita em camelos e dromedários. E agora o SARS-CoV2 que tem como depósito morcegos e causou este estrago razoável, dado o seu mecanismo de infecção.

Como estes vírus são todos da mesma família há a possibilidade de que, se o paciente tiver contraído uma virose com uma destas formas mais brandas, pode ter desenvolvido imunidade suficiente para não ser afetado pelo SARS-CoV2. Ou contrair a doença sem qualquer tipo de sintomas ou mesmo com sintomas leves.

Outra suspeita de imunização cruzada também recai sobre agentes patogênicos de outras doenças, cujas vacinas provavelmente podem servir para reforçar pessoas que, em tese, seriam mais resistentes em contrair o novo coronavírus. Esta suspeita tem recaído sobre pessoas, principalmente crianças, que tomaram a Vacina BCG, contra a Tuberculose (que é uma doença causada por bactérias) ou a Tríplice Viral que previne de Sarampo, Caxumba e Rubéola. Apesar de algumas evidências a Organização Mundial da Saúde ainda não tem uma posição segura sobre o tema.

Pelo sim, pelo não, seria muito interessante que a existência de vacinas para algumas doenças e já comprovadamente seguras pudessem dar garantias de reforço ao sistema imunológico contra este novo agente patogênico.

Em março passado, fiz uma viagem para o interior da Bahia e lá, no hall do hotel, havia um posto de vacinação de tríplice viral. Como estava com muito tempo que tinha tomado vacina contra o sarampo resolvi aceitar a dose. Coincidência ou não, eu e os dois colegas que comigo viajavam ainda não tivemos contato com COVID-19. Ouvi relatos de pessoas que estão na linha de frente contra a COVID-19 e que também se imunizaram para estas doenças e, até o momento também não contraíram COVID-19. Mas isso não é ciência. Por enquanto só pode ser tratado como uma coincidência.  

A Revista Science Advances da semana passada publicou um estudo que diz que os países que têm como obrigatório o uso da Vacina BCG na sua população tiveram as mais baixas taxas de morte por COVID-19. Isto é ciência, mas carece de uma explicação para tal.

Boa semana para todos (as) e até o próximo post.

COVID-19: a hora é de se reinventar

O mundo inteiro ficou de joelhos para esta doença que já chegou perto demais de todo mundo. Enquanto estava matando chineses ninguém por aqui se preocupava, nenhum leito novo de hospital era inaugurado e nem pensar em adiar o carnaval. A doença chegou no Brasil e está fazendo um estrago daqueles. Para os que perderam entes queridos tem sido mais difícil (não perdi nenhum parente, mas amigos queridos perderam e a dor deles também é a nossa dor). Para os que perderam seus empregos ou os negócios estão indo de mal a pior a marca da COVID-19 também vai ficando profunda. Mas um segmento vai ficando com marcas fortes também: a educação.

O pior de tudo, referente a educação, é a forma como as instituições se mexem diante do problema. É preciso ver que algumas instituições estão procurando alternativas: plataformas de ensino remoto com material em vídeo para ser assistido na hora que o estudante quiser (assíncrono) e encontros virtuais ao vivo (atividades síncronas). Isso para os estudantes mais jovens, da educação infantil e ensino fundamental, até para os estudantes mais velhos, do ensino médio, educação profissional e para o ensino superior. O que há de comum em todas estas realidades? Quem está correndo atrás, prioritariamente? São as instituições privadas. São aquelas que tem contratos com os pais e que dependem do pagamento de mensalidades. Há, neste sentido, um esforço superlativo. As faculdades, por exemplo, suspenderam suas atividades por uma ou duas semanas enquanto se adaptavam e retomaram o primeiro período de 2020. Microsoft Teams, Google Classroom, Cisco Webex, Google Meet, Zoom passaram a ser instrumentos de viabilização dos encontros entre estudantes e professores. As escolas estão procurando se alinhar para garantir para seus estudantes a melhor das experiências, ainda que todo mundo permaneça trancafiado em suas casas.

O mesmo não acontece com as instituições de ensino públicas. Na educação básica, a rede pública estadual tem procurado desenvolver atividades remotas, ou através das plataformas virtuais ou imprimindo materiais para os estudantes se manterem vinculados. Não está alcançando a todos, mas certamente consegue chegar em alguns locais. As universidades públicas, entretanto, só estão conseguindo chegar, em alguns casos, para os estudantes de pós-graduação. Há uma imobilidade que inquieta a todos. A instituição em que trabalho, de tão imóvel que sua administração está, levou dois meses para instalar o Comitê de crise. Interrompeu aulas no meio de um período especial. Alguns professores nem conseguiram concluir este período.

As pessoas se acomodaram muito de uns tempos para cá. Lembro, de quando era criança, que existia um programa de rádio chamado Projeto Minerva. A ideia era que as pessoas, mesmo distantes, conseguissem se manter estudando para fazer exames supletivos, utilizando para isso o rádio. Como sou filho de professores, tinha na minha casa alguns livros deste programa. Lembro ainda do cheiro das cartilhas feitas em papel jornal, com letras bem graúdas e capas padronizadas que mudavam apenas as cores de um ano para o outro.

Cartilha do Projeto Minerva.

Fonte: https://www.timetoast.com/timelines/aspectos-historicos-da-linguagem-do-radio-e-da-tv-na-educacao

 Fui pesquisar e achei no YouTube um áudio que reproduzo para vocês aqui abaixo.

No fim dos anos 1970 a Fundação Roberto Marinho também inovou com as aulas do Telecurso 2º grau. Muita coisa interessante. Por que estou comentando estas experiências? Porque o Estado do Piauí tem um canal de TV aberta e rádios. Porque a Assembleia Legislativa do Piauí tem um canal de TV que chega em praticamente todos os lugares do Estado e uma rádio de excelente qualidade. Porque embora a internet não alcance o Estado todo, existem outras formas de tentar planejar uma situação alternativa. Acompanhei pelas redes sociais as lamentações de estudantes da UESPI ao saberem que o Calendário Acadêmico foi postergado por tempo indeterminado. Percebi que tem muita gente preocupada com o seu futuro. Senti o peso de um comentário que disse “...não dá para nos calar diante de posição da faculdade (...) e também é desumano mexe(r) com sonho(s)...”. Entendo a posição dos gestores, porque sua autonomia é baseada na vontade superior, mas penso que o que a comunidade quer é ver alguma proatividade.

Em tempo: o Projeto se chamava Minerva porque Minerva era a deusa grega da sabedoria.

É hora de se reinventar...

Boa semana para todos (as).

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