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Uma reflexão sobre o aporte de recursos em C, T & I no Piauí

Já escrevi várias vezes que o Brasil investe muito pouco em pesquisa. Nosso estado, o Piauí, menos ainda, pois até sua Constituição que falava em gastos de “no mínimo 1%” com ciência e tecnologia, foi mudada para “até 1%”, o que na minha leitura (e não somente na minha) pode ser até Zero, pois estaria dentro da lei.

Pertenci durante algum tempo às estruturas governamentais do Piauí que faziam fomento à Ciência e Tecnologia. Fui presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e depois Superintendente Estadual de Ciência e Tecnologia. Depois de sair das chefias, que juntas não chegaram a um ano completo, permaneci no corpo técnico da superintendência por mais três anos, até entender que minha missão já tinha encerrado e que não conseguia mais contribuir. Neste pouco tempo que passei, primeiro comandando e depois fazendo parte de uma equipe pequena, mas muito comprometida com trabalho, fizemos o que nossos braços alcançavam. Conseguimos lançar um edital durante minha estadia na FAP e deixar dois editais negociados, e na Superintendência, conseguimos lançar um edital que, de uma vez só, equipou 12 laboratórios de pesquisa da Universidade Estadual. Outras ações permitiram que fossem equipados mais dois laboratórios de ensino da IES Estadual. Durante quatro anos, a duras penas, conseguimos fazer certames transparentes, com regras claras, com projetos avaliados por pares, como manda o trato com recursos públicos, especialmente nestes tempos de dificuldades e nos quais se lida com governantes pouco sensíveis às necessidades do segmento. Mesmo com este comportamento, não conseguimos fazer escola para preparar quem veio depois, na sucessão destas estruturas de fomento. Pelo menos nos quesitos de maior importância.

Em 2018 dei uma virada daquelas que mexem com a estrutura de qualquer pesquisador. Com mais dois amigos, montamos um time para trabalhar com Inovação. Colocamos toda nossa expertise a serviço de um projeto arrojado, original, que tem a intenção de melhorar a educação de crianças, especialmente nas áreas de Ciências e Matemática, por considerarmos áreas essenciais para o desenvolvimento do nosso país, rico em potencialidades, mas pobre em iniciativas. Como passamos a trabalhar numa nova área de pesquisa, buscamos financiamento para o projeto de inovação. E fomos muito bem sucedidos. Vencemos edital nacional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Nosso projeto foi acolhido pelo Instituto SENAI de Inovação da área de Tecnologia da Informação e Comunicação – o ISI-TICS situado em Recife, Pernambuco. Depois vencemos edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e o mais difícil de todos, o Edital do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNDECI do Banco do Nordeste (BNB). Com estes aportes nossa pesquisa avançou bastante e transformamos os seus resultados em um produto escalável e com possibilidade de conquistar o mercado educacional internacional.

Enquanto conquistávamos estas vitórias a FAP do Piauí conseguiu lançar dois editais em parceria com a FINEP. O programa chamado Tecnova II conseguiu a proeza de reprovar por notas todos os projetos que se candidataram. Entre os reprovados, além do nosso, projetos de grupos que atuam em inovação e, como nós, já conquistaram muitos resultados positivos, mas em outros lugares.

Nos meus trinta e poucos anos de professor e pesquisador nunca tinha visto algo tão estranho. Impossível achar que em um seleto grupo de pesquisadores com larga experiência em captar recursos ninguém tenha conseguido sequer a nota mínima aprovativa. Será que ninguém teve capacidade de conseguir o mínimo? Cabe uma reflexão...

Nosso grupo segue em frente! Enquanto escrevo estas linhas acabo de saber que conseguimos mais duas vitórias, por vias meritocráticas. Que se guarde este texto para uma reflexão...

Boa semana para todos (as)!

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