Cidadeverde.com

Botânicos do Piauí assumem a Regional Nordeste da SBB

A Sociedade Botânica do Brasil é uma entidade civil, sem fins lucrativos que reúne pesquisadores de todos os níveis que atuam na pesquisa botânica no país. Criada em 1950, a SBB é uma das mais antigas sociedades científicas do Brasil.

Com sede em Brasília (DF), a SBB tem como missões prover a ampliação do conhecimento sobre a flora brasileira; incentivar a formação de recursos humanos em Botânica e; fornecer subsídios, dados e parâmetros para a tomada de decisões e políticas de meio ambiente, relacionadas aos diferentes ecossistemas do País e sua cobertura vegetal.

Além da Diretoria principal, a SBB tem seis diretorias regionais. São elas: Regional Sul, Regional São Paulo, Regional Rio de Janeiro, Regional Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo, Regional Centro-Oeste e Regional Nordeste.

A Regional Nordeste vinha sendo presidida pelo Prof. Francisco Soares Santos Filho, na condição de Pro-Tempore (até que fosse feita uma eleição para ocupação da Diretoria) este ano de 2020. A eleição ocorreu no início de dezembro e o mandato da nova diretoria será para o biênio 2021-2022.

Conheça a nova Diretoria da Sociedade Botânica do Brasil na Região Nordeste

Presidente:

Profa. Dra. Josiane Silva Araújo

Doutora em Botânica (UFV), Mestre em Botânica (UFV), Licenciada em Ciências Biológicas (UESPI). Professora Adjunto IV da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), lotada no Campus Heróis do Jenipapo em Campo Maior (PI). É especialista em Anatomia Vegetal, com foco na Anatomia Taxonômica de diversos grupos, com destaque para as famílias Malpighiaceae e Sapotaceae.

Vice-Presidente:

Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho

Doutor em Botânica (UFRPE), Mestre em Botânica (UFRPE), Licenciado em Ciências (UFPI).

Professor Associado II da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), lotado no Centro de Ciências da Natureza do Campus Poeta Torquato Neto em Teresina (PI). É especialista em vegetação de ecossistemas costeiros, atuando também como taxonomista vegetal com ênfase para família Euphorbiaceae.

Secretária:

Profª Drª Maria Carolina de Abreu

Doutora em Botânica (UFRPE), Mestre em Botânica (UFRPE). Bacharel em Ciências Biológicas (UFPI).

Professora Associado I da Universidade Federal do Piauí (UFPI). É especialista em taxonomia vegetal,  família Oxalidaceae, atuando nas áreas de Florística e Ensino de Botânica.

Tesoureiro:

Prof. Dr. Hermeson Cassiano de Oliveira

Doutor em Botânica (UEFS), Mestre em Botânica (UEFS), Licenciado em Biologia (UVA-CE).

Professor Adjunto II da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), lotado no Campus Heróis do Jenipapo em Campo Maior (PI). É especialista em Taxonomia e Ecologia de Briófitas, tendo integrado a missão de cientistas que pesquisa a Biodiversidade da Antártida.

Ensino híbrido: uma realidade necessária

Uma das coisas que a pandemia de COVID-19 nos ensinou é que a vida vai demorar muito a voltar ao que era antes. Conhecendo o efeito e a forma como os vírus têm se comportado, na condição de parasitas intracelulares obrigatórios, creio até que o mundo jamais voltará ao que era antes.

A educação, que foi um dos segmentos mais afetados pela manifestação mundial do SARS-CoV2, terá que ajustar-se à nova realidade. Este processo envolverá muitas atividades híbridas, que desafiam escolas e professores a se reinventar e criam necessidades para o estudante. Atribuímos ao Ensino Híbrido um meio de ajustar a amálgama entre escola, professores e alunos. Mas o que o Ensino Híbrido?

A forma de ensinar terá, da pandemia pra frente, que combinar atividades presenciais e não presenciais. Isso porque, mesmo com o arrefecimento da doença e a chegada da vacina, ainda levará um período razoável para que os pais tenham segurança para mandar seus pequenos para escola. A doença se manifesta de modo muito mais letal em idosos e portadores de comorbidades, mas as crianças também podem ser afetadas, também podem manifestar sequelas e o principal, podem se tornar vetores da doença, levando para casa o agente contaminante.

Neste sentido, as boas escolas devem incorporar práticas de aulas gravadas e atividades a serem desenvolvidas a distância para aquelas crianças, cujos pais optarem por mantê-las em casa. Mesmo sabendo que há um prejuízo muito grande para o processo de socialização, uma das mais importantes características da educação para esta faixa etária. O cardápio de opções remotas inclui o uso de plataformas com atividades de tela para serem usadas pelas crianças, sob orientação dos pais.

Pelo lado das escolas há todo um investimento em equipamentos, especialmente a presença de estúdios e computadores e softwares cada vez mais sofisticados, seja para gravação das aulas, seja para transmissão e para proporcionar a interação entre estudantes e professores. Os professores estão precisando se reinventar, pois precisam transferir o processo de ensino para plataformas que funcionam como salas de aula virtuais, para permitir que suas aulas cheguem, conduzidas pelos bits da internet, uma ferramenta de integração cada vez mais necessária, nestes tempos de isolamento social.

O certo é que levará muito tempo para retornarmos à tranquilidade de vermos pais deixando suas crianças na escola, sem o medo constante destas retornarem trazendo no seu corpo um vírus tão perigoso quanto este que circula por todas as partes do mundo. As vacinas chegarão, mas não são garantias imediatas de que o mundo voltará ao normal. Os vírus têm o poder de modificarem seu material genético com grande rapidez e o SARS-CoV2 tem como material genético o RNA, um conjunto de informações formado por uma fita simples que, exatamente por isso, consegue modificar-se rapidamente, gerando novos vírus já modificados em relação ao modelo inicial. Novas mutações são novos vírus, ou seja, uma nova necessidade de se continuar estudando formas de combatê-los.

Temos muito a aprender, na convivência com esta nova realidade. Precisamos nos reinventar todos os dias e, principalmente, combater o negacionismo e a desinformação que assolam a sociedade, seja por ignorância ou por uma crença em políticos ignorantes. Estarmos abertos e informados é a maior e mais poderosa de todas as armas.

Bom domingo e boa semana para todos e todas.

O maior de todos os desafios

Desde 16 de março começamos uma nova jornada nas nossas vidas. O início da pandemia e das medidas adotadas para evitarmos um desastre maior começaram neste dia e vamos passar muitos anos para superar os problemas decorrentes de todas as decisões adotadas, derivadas do medo da proliferação da doença. De todos os segmentos afetados, sem qualquer dúvida, o que mais sofreu foi a educação.

Daqui para frente a ideia será a de tentar minimizar o prejuízo causado com o fechamento das escolas e a suspensão das aulas presenciais. Aqui no Piauí o fechamento e a suspensão das aulas presenciais atingiram de cheio alguns segmentos como creches, infantários, escolas de educação infantil, escolas de ensino fundamental, 1º e 2º anos do ensino médio e universidades públicas. O problema tem diferentes aspectos.

Para as crianças menores a estratégia de aulas remotas não surte o mesmo efeito da escola presencial. As escolas se desdobraram na produção de aulas para aplicação assíncrona, bem como nas aulas ao vivo. Escolas privadas se esmeraram em produzir cenários, vinhetas e professoras para lá de estimuladas na gravação das aulas com os pequenos. Entretanto, nada substitui o contato da professora com os pequenos e principalmente a socialização destes com os coleguinhas. Ouvi de alguns pais que no começo até funcionou muito bem, mas depois as crianças já estavam enjoadas das aulas televisionadas. Um amigo chegou a dizer que a filha só queria assistir as aulas ao vivo, uma prova de que a interação faz muita falta. Já nas escolas públicas o que aconteceu mesmo foi a suspensão total de atividades, embora os conselhos de educação tenham se desdobrado em regulamentar as atividades remotas para que pudessem valer como atividades letivas.

Para o ensino fundamental, as aulas remotas já apresentaram outro resultado. Algumas crianças, embora reclamando, continuaram suas aulas, fazendo atividades síncronas e assíncronas. Os pais estranharam o comportamento de algumas. Mas são aqueles pais que, em geral, não conhecem os filhos que tem, ou pelo menos até antes da pandemia, não conseguiam acompanhar ao ponto de conhecê-los e saber quando se comportam quando estão em atividades de aprendizagem. Neste caso algumas verdades sublimaram.

Os maiores, do ensino médio, especialmente os da série terminal, tiveram a possibilidade de concluir seus cursos de forma presencial. Mesmo com adiamento do ENEM, as atividades desenvolvidas vão deixar poucas sequelas. Exceto para os que, naturalmente, já apresentam algumas dificuldades.

No ensino superior, valeu a máxima de que quem paga sai de fato na frente. As instituições privadas rapidamente adaptaram suas aulas por meios remotos. As diferentes plataformas viraram rotina para professores e estudantes e apenas as aulas práticas ficaram prejudicadas, e só agora, no final do ano, estão se desenvolvendo, mas observando os protocolos de saúde. Nas instituições públicas ficou patente o lado mais obscuro da inoperância. As atividades de pesquisa continuaram, com algumas restrições. O ensino de pós-graduação sofreu um adiamento inicial, mas logo em seguida, ajustou-se de forma remota, o que incluiu atividades de orientação e até defesas de qualificações e de dissertações e teses. Já o ensino de graduação permaneceu cambaleante. As universidades federais voltaram de forma incompleta. Muitos professores alegaram não possuírem condições para ministrar aulas de modo remoto, e a grande maioria dos estudantes não tem condições de acompanhar aulas por meio digital, seja pela falta de equipamentos ou por deficiência da internet. A pandemia escancarou as dificuldades que já existiam e expôs a incompetência de muitos gestores universitários.

E 2021?

O ano que vem será uma continuidade do ano de 2020. Os sistemas educacionais esperam que as escolas e redes entendam que o biênio 2020-2021 seja um continuum. De fato, o mais importante será diagnosticar o que as crianças aprenderam em 2020. E 2021 deve tentar recuperar o que não ficou bom em 2020 e complementar com o que vem pela frente. A ideia é de que o ensino será híbrido. Seja porque muitos pais não confiarão em mandar seus filhos para escola, seja porque as escolas estarão incumbidas de fazer esta transição. Neste sentido, o uso de plataformas e metodologias ativas pode ser um diferencial.

O melhor de tudo é que para professores, escolas, pais e, principalmente, estudantes, a travessia desta pandemia separará os resistentes e resilientes num outro patamar. Em essência é a teoria da seleção natural posta à prova. Escapar vivo e ajustado é o maior de todos os desafios.

Boa semana a todos (as)

Montezuma ou Pessoa: eis a questão!

Hoje é o dia do segundo turno da eleição para Prefeito de Teresina, 29 de novembro. Dois candidatos se colocam para o eleitor escolher o que, na opinião de cada um, seria o melhor para cidade. De um lado o Professor e Economista Kleber Montezuma (PSDB), do outro o médico José Pessoa Leal (MDB).

O Prof. Kleber, meu colega de UESPI, reúne larga experiência administrativa, embora nunca tenha conseguido ocupar cargos eletivos. Já atuou como secretário de várias pastas, com destaque para educação, conseguindo levar Teresina à condição de melhor educação entre as capitais do país, conforme os indicadores oficiais.

O Dr. Pessoa, já reúne vários cargos ocupados no âmbito de eleições proporcionais, pois já foi Deputado Estadual e Vereador. Nunca teve experiência no executivo, tendo tentado se eleger prefeito em mais de um município, sem sucesso.

Fiz a minha escolha desde o primeiro turno e agora, no segundo turno, resolvi fazer uma leitura dos planos de governo de cada um dos candidatos e me surpreendi: não votaria em nenhum dos dois se fosse me basear apenas nos planos de governo! E explico: escrevo nesta coluna desde 2017 e foco meus textos em quatro temáticas: Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Educação. Não há, em nenhum dos planos de governo nada que seja atrativo para qualquer destas áreas. Vamos aos detalhes: visitei os dois planos de governo e usei as palavras-chave Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Educação de forma separada, usando o comando Control-F. Os resultados foram os seguintes.

Ciência

No plano do candidato Kleber Montezuma (KM) o termo Ciência aparece 13 vezes. Em 12 aparições está relacionado com as palavras Consciência, Deficiência e Eficiência. Apenas uma vez aparece no contexto correto, informando de uma parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, no projeto de Smartcities (cidades inteligentes). Fiz o mesmo exercício no plano de Dr. Pessoa (DP). Foram 70 menções, com mais ou menos 90% das vezes também compondo as palavras Consciência, Deficiência e Eficiência. Nas poucas vezes que apareceu aplicado corretamente se referia a dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, ou se referindo a laboratórios escolares ou compondo a expressão Ciência de Dados no segmento que fala sobre Inovação.

Tecnologia

O plano de KM faz 16 menções ao termo, mas sempre de forma genérica: “usar tecnologias...” em diferentes segmentos do plano desde coleta do lixo, transporte, educação etc. O plano de DP faz 17 menções, e também usa o termo de forma genérica.

Meio Ambiente

O plano de KM faz 10 menções à expressão, mas todas de forma genérica. Já o plano de DP faz 37 menções. Fiz uma leitura mais acurada e descobri um plano bem elaborado sobre o Meio Ambiente, incluindo facilitação de processos de licenciamento ambiental e alguns avanços como o IPTU Verde. Fui até uma lista de nomes que estavam encimados com expressão agradecimentos e lá vi o nome do colega Euller Paiva, biólogo, professor e advogado, técnico do IBAMA, com bastante conhecimento técnico sobre a área ambiental. Vi, sob meu ponto de vista, propostas factíveis e outras nem tanto, mas considero um avanço ver um plano que se preocupa com redução de carbono, numa saída local para um problema global.

Educação

No plano de KM constam 22 menções ao termo Educação. Algumas vezes usada de forma mais genérica “mais saúde e educação”, mas com um foco alinhado com o aspecto mais forte do candidato, visto que ocupou a secretaria de educação por um tempo longo. Embora menos detalhado do que o de DP, que menciona “educação” 98 vezes no seu plano, o plano de KM traz o que ele chama de vetores bem factíveis e antenados com os problemas atuais do segmento educacional. Com relação a temática, o Plano de DP também traz propostas bem fincadas na realidade e nas necessidades da cidade. Detalha pormenores que são a bandeira da atual gestão (o foco nas Olimpíadas Escolares e Escolas de Tempo Integral, por exexmplo) e que embora não sejam novidades, são importante menções e comprometimentos com a população, especialmente em continuar o que vem de fato dando certo.

Deste modo, como diria em artigo qualquer, “à guisa de conclusão”, o que vi foram dois planos que tem muito do “arroz com feijão” e uma atenção pouco direcionada para temas que são de grande relevância como o conhecimento científico. O plano de DP traz um diagnóstico interessante e completamente verdadeiro de que o Piauí é um dos últimos estados em aplicação de recursos para áreas de Ciência e Tecnologia. Atuei na gestão de três governos e assino embaixo deste diagnóstico. Uma vez discuti com um colega que defende a ideia de que Ciência é um luxo, frente aos problemas que estados e municípios passam em segmentos mais básicos, como saúde, educação, transporte, segurança e assistência social. Mas se a semente não for plantada, a planta nunca surgirá.

Rogo para que o eleitor saiba escolher hoje o prefeito pelos próximos quatro anos. Que vote consciente. Consciente do seu erro ou de ser acerto. E se o melhor não for o eleito na próxima eleição o jogo vira. Viva a Democracia!

Até o próximo post...

 

Pesquisador piauiense descobre ação de substâncias contra microrganismos

Pesquisa realizada nos laboratórios da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Universidade do Porto (Portugal) revela a importância de plantas, até agora negligenciadas, para o tratamento contra bactérias e fungos.

A pesquisa do biólogo piauiense André Ricardo Rocha, mestre em Biodiversidade, Ambiente e Saúde pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) ganhou as páginas de um dos mais importantes periódicos europeus, a revista Lebensmittel-Wissenschaft & Technologie ou LWT – Food Science and Technology. André pesquisou extratos de duas plantas da família Euphorbiaceae encontradas tanto no Piauí quanto no Maranhão: Croton betaceus e Croton lundianus, e foi orientado pela Profª Drª Eliana Lago, professora do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (PPGBAS) da UEMA. Estas plantas estão entre as espécies da Comunidade de Pioneiras que surgem em diferentes áreas das fisionomias de Cerrado. As que ele usou na experiência foram coletadas nos municípios de Caxias (MA) e Lagoa Alegre (PI).

André Ricardo Rocha, Me. Fonte: Arquivo pessoal.

A experiência consistiu em produzir extratos das folhas destas plantas que são relativamente comuns, mas que nunca haviam sido estudadas. Foram realizados vários testes contra diferentes microrganismos como bactérias comuns no trato digestivo e responsáveis pela sepse e fungos que infestam áreas do trato urogenital, como a temida Candida albicans, micose de controle relativamente complicado.

A. Croton betaceus. B. Croton lundianus. Fonte: Rocha et al. (2020)

A pesquisa com os microrganismos foi iniciada no Laboratório de Microbiologia (LABMICRO), dirigido pela Dra. Francisca Lúcia de Lima, da Universidade Estadual do Piauí. Testes sobre a genotoxidade dos extratos foram feitos no laboratório comandado pela Dra. Francielle Alline Martins, também da UESPI. Os estudos finais foram realizados na Universidade do Porto, em Portugal, onde André fez estágios científicos financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa, Ciência e Tecnologia do Maranhão – FAPEMA.

Os extratos foram muito promissores para o controle de microrganismos como Enterococcus faecalis, Streptococcus mutans, Eikenella corrodens, Lactobacillus acidophilus e Candida albicans.

Neste sentido é muito importante lembrar da importância do financiamento em Ciência e Tecnologia. Com a bolsa da FAPEMA, foi possível o pesquisador passar um período em contato com pesquisadores de ponta de uma das mais importantes instituições da Europa, a Universidade do Porto. A possibilidade de uso da biodiversidade só se realiza com o conhecimento das plantas que a natureza subsidia. Se mais coisas não são descobertas deve-se, principalmente, aos baixos recursos destinados para o financiamento da Ciência e Tecnologia.

O artigo publicado pela LWT – Food Science and Technology contou com a participação de 12 pesquisadores, sendo dois da UEMA, cinco da UESPI, três da Universidade do Porto, um da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPAR) e um da Universidade de Brasília (UnB), demonstrando a força da cooperação na pesquisa científica.

Até o próximo post...

 

O que a COVID-19 está nos ensinando?

O ano de 2020 fecha a segunda década do século XXI com algo que não passava nem perto da nossa imaginação. Nem nos nossos piores pesadelos imaginávamos uma doença que desafiou a medicina, colocou a intelligentsia mundial para trabalhar diuturnamente por uma solução e expôs o que existe de pior dos nossos governantes: a incapacidade de reagir de forma racional.

Andando pelos espaços comuns vemos marcações espalhadas pelo chão para marcar o distanciamento social, pessoas com um novo petrecho necessário – a máscara, barreiras de acrílico, dispensadores de álcool em gel e toda a sorte de novos comportamentos balizados pelas autoridades sanitárias como meios de minimizar o contato e, consequentemente, a transmissão do SARS-CoV2.

Vê-se, vez por outra, a intolerância de alguns às novas regras, a insana queda de braço entre políticos que insistem em pegar uma onda e ganhar algum dinheiro com compras superfaturadas de insumos e equipamentos, como respiradores e outros itens, e uma sociedade com medo, porque a imprensa, de modo às vezes aterrorizante, tornou o que já é grave, algo apavorante. Os políticos do executivo suspenderam as aulas, fecharam as portas do comércio, suspenderam muitos serviços importantes, suspenderam o transporte público, abalaram a economia de todos os lugares. A justiça mandou soltar presos, suspendeu a análise de muitos processos, estabeleceu audiências remotas que muitas vezes não funcionaram.

Durante todos estes meses, aqui no Ciência Viva, procuramos sempre por novidades, evitando todo o tipo de notícia ruim que se originasse da tal COVID-19. Mostramos como evitar a doença, a verdade sobre a necessidade de achatar a curva de contágio, sobre o uso da máscara, sobre as descobertas de drogas de inibição, sobre o passo a passo das vacinas, sobre tratamento com anticorpos, sobre imunização cruzada, sobre as experiências e pesquisas com produtos naturais e tudo que poderia ser um bom presságio, ou uma nesga de esperança.

Neste período, sentimos a dor dos amigos que perderam parentes, com a dor adicional de não poder velá-los, de enterrá-los sem poder dar o último adeus. Padecemos com o isolamento, especialmente dos idosos, por dias, semanas, meses sem poder abraçar nossos pais, avós, amigos dos grupos de risco. O isolamento mexeu com a saúde mental de muita gente. Mexeu com o bolso de muitas pessoas, suspendeu formas de ganho que dependem da dinâmica das cidades, do movimento. Despertou nas pessoas ruins os sentimentos mais avassaladores, como o recebimento do auxílio do governo para quem não tinha outra alternativa de sobrevivência.

A COVID-19 vai deixando lacunas nas nossas vidas. Como já disseram muitos estudiosos: o mundo jamais voltará ao que era antes da pandemia. Como as pessoas que perdemos. Jamais voltarão. Não podemos perder a esperança e devemos lutar com as armas que temos. Saudemos os que se sacrificaram, vítimas da COVID-19 e de outras doenças, que continuaram matando da mesma forma. Os que não aguentaram esperar cirurgias canceladas. Os que interromperam seus tratamentos e abreviaram a vida. Jamais devemos nos descuidar, pois apesar de tudo, vamos superar isso. Com a ciência, consciência!

Ontem perdemos um colega da Universidade Estadual do Piauí. Um professor que fazia a diferença, reconhecido por todos os seus colegas. Uma unanimidade. Teve COVID-19 em junho, não ficou curado totalmente, voltou para o hospital e ontem perdeu para uma pneumonia. Um grande abraço Prof. Josafá Ribeiro. Meus sinceros sentimentos para a família, colegas, amigos e alunos.

Prof. Dr. Josafá Ribeiro. Fonte: Arquivo Pessoal.

O que a COVID-19 está nos ensinando? Está nos mostrando que precisamos nos proteger, nos reciclar e ressignificar a própria vida.

Até o próximo post...

Novembro Azul: por que o homem deve cuidar da saúde?

Prevenir é sempre melhor do que remediar. Isso todo mundo já sabe. Mas porque se investe maciçamente em campanhas como esta que estamos passando agora no mês de novembro, chamada de Novembro Azul?

A campanha Novembro Azul surgiu em Melbourne na Austrália em 2003 como um movimento para chamar a atenção para que os homens cuidem de sua saúde. Como o câncer que mais mata os homens é o câncer de próstata e, em 17 de novembro é o dia dedicado para se falar sobre este tipo de câncer, os movimentos foram associados, dado que, historicamente os homens não tem o hábito de visitar regularmente médicos, em especial na área de urologia, por mero tabu.

Diferente da mulher, a grande maioria dos homens só procuram o serviço médico quando já sentem efeitos da doença. No caso específico da próstata quando o homem vai várias vezes ao banheiro, não consegue esvaziar totalmente a bexiga ou o jato de urina é fraco. Estes são sinais de próstata aumentada que pode ser um crescimento benigno ou a presença de tumor prostático. Todavia, só é possível ter certeza com o acompanhamento médico.

O diagnóstico do câncer de próstata é feito a partir de uma combinação de exames como as taxas do Antígeno Prostático Específico (PSA), uma proteína produzida pela próstata que é detectável no sangue e o toque retal, no qual o urologista examina o tamanho e a superfície da próstata, além de outros exames recomendáveis quando estes dois estão alterados a partir de uma determinada idade do paciente. A polêmica maior gira em torno exatamente do toque retal. Questões que fogem à racionalidade são impeditivos para que alguns homens passem por este procedimento.

Na semana que passou estive acompanhando meu pai na ida ao urologista. Em conversa com o Dr. Rodrigo Beserra, um ex-aluno para quem tive o prazer de ensinar Biologia, ele nos explicou que a próstata precisa ser examinada vez por outra por prejudicar fortemente o cotidiano do homem. E a prevenção é muito importante, dado que a necessidade de intervenção pode levar a quadros de incontinência urinária (o paciente não consegue segurar a urina o que o obriga a usar fraldas geriátricas) ou a impotência sexual. Impedir todas estas situações é possível, dado que o aumento da próstata pode ser evitado logo no início do processo.

Prevenir é sempre melhor do que remediar, especialmente no caso da saúde da próstata. Aproveite que estamos em novembro e procure seu urologista.

Boa semana para todos (as).

O Stress e o Assobio

Ia ser só mais um domingo de pandemia: trancados em casa, liga o computador e se põe a trabalhar em pareceres, artigos, pesquisas, leituras de trabalhos científicos etc. até a hora do almoço. Depois de um tempinho, volta-se à rotina que entra pela noite. Como em todos os finais de semana, desde que a COVID-19 limitou os rumos de tudo, seguimos fazendo assim.

Coloco uma música da playlist e tento assobiar... nada do fiu-fiu de sempre... só um sopro descoordenado de quem nunca conseguiu assobiar na vida. Minha Ana se desespera: vamos ao hospital!!! Tá parecendo algo mais grave do que uma simples inabilidade. Sorriso meio assimétrico, olho lacrimejando... Vou ao banheiro e não consigo segurar a água na boca. Escorre um fio pelo cantinho. Perda temporária do domínio sobre alguns músculos da face.

Onde tem uma fitinha tinha um músculo paradinho. Fonte: Arquivo Pessoal.

Não dá para se desligar de um susto destes. No hospital, espera pouca, atendimento preciso. “Não é um acidente vascular cerebral”. Ufa! Alívio! “Mas vamos eliminar as chances: Tomografia!”. Ufa! Outro alívio! Diagnóstico: paralisia facial de Bell!

Até o atendimento do médico, fomos ao Google: doença caracterizada pela inflamação de nervos faciais. Motivo: infecção ou reinfecção de um vírus como o da Herpes ou o Herpes Zoster, que causa a catapora e depois fica voltando para dizer: estou aqui! Tratamento proposto pelo médico: fisioterapia e corticoidoterapia. E o mais importante: diminua sua carga de trabalho! O stress do excesso de trabalho impõe rebaixamentos no sistema imunológico. O vírus já está no corpo. Aí cai a sopa no mel! Defesas frágeis, guarda baixa, doença volta!

Tratamento complicado: corticoides ajudam a piorar a vida do diabético! Fisioterapia especializada, precisa! As coisas vão voltando devagar. Os amigos e colegas de trabalho compreenderam e apoiaram os afastamentos. Deixei para trás uma pilha de trabalhos para outras pessoas assumirem. É a necessidade de dar um tempo maior. De relaxar e assumir menos funções. A família deu apoio. Fisioterapeuta buco-maxilo, deu conta do recado!

O olho ainda lacrimeja, a boca ainda está meio tortinha e um zumbido no ouvido direito ainda persiste. Apesar de tudo: já consigo fazer fiu-fiu...

Fica também o exemplo de que a COVID-19 não faz das suas apenas na forma desta infecção que mexe com o trato respiratório e outros sistemas. Mexe, sobretudo, com nossa cabeça. O medo do desconhecido, o stress de ter que fazer tudo trancado de casa, as sobrecargas de quem atua em um segmento bastante prejudicado - a Educação. Tudo isso soma para explicar problemas como este.

Gratidão a minha família, aos amigos que foram mais do que solidários e a Dra. Julia Moita, fisioterapeuta... O povo que dizia todo dia: vai dar certo! Parece que tá dando certo!

Boa semana para todos (as)

Planta abundante no Piauí tem múltiplos efeitos no tratamento de várias doenças

A biodiversidade vegetal brasileira ainda guarda muitas novidades em favor da humanidade. É preciso apenas que o homem a trate com respeito, especialmente enquanto este potencial em favor da indústria farmacêutica ainda não é totalmente conhecido.

Veja artigo aqui

Em agosto passado foi publicado no Journal of Ethnopharmacology uma revisão sobre uma planta muito abundante na região da Caatinga e nas áreas de Restinga (litorânea) do Piauí. Trata-se da espécie popularmente conhecida como Catingueira, ou Poincianella pyramidalis, nos meios científicos. O estudo destacou as propriedades de vinte e cinco substâncias isoladas importantes para o tratamento de doenças respiratórias e gastrointestinais, diabetes, febre, cólicas e situações de inflamação em geral. Diversos preparos envolvendo diferentes partes da planta como raiz, cascas do caule, folhas, flores e frutos revelaram um grande número de propriedades biológicas como antibacteriana, antifúngica, anti-helmíntica, antiinflamatório, antinociceptivo (efeito neutralizante da dor), atividades neuroprotetoras e gastroprotetoras.

Poincianella pyramidalis (Catingueira). Fonte da Imagem: https://www.researchgate.net/profile/Elizanilda_Rego

O estudo foi conduzido pelas pesquisadoras Leide Maria Soares de Sousa do Programa de Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), conduzida sob orientação da Dra. Lina Clara Gayoso Moreno e Dr. Lívio Nunes com o suporte de mais cinco pesquisadores, dentre eles este botânico que vos escreve.

A revista é considerada uma das maiores referências para o segmento do uso farmacológico das plantas e de outros recursos decorrentes do conhecimento tradicional, sendo de alto impacto no meio científico (Qualis A1 para quase todas as áreas e com Fator de Impacto de 3,69).

A P. pyramidalis e a P. bracteosa são duas plantas bastante parecidas, ambas tratadas como Catingueira e com as quais já me relaciono, enquanto botânico, há muito tempo, pois auxilio grupos de pesquisadores na área de farmacologia, lideradas pela Dra. Lina Clara (minha ex-aluna e amiga) e Dr. Lívio Nunes (UFPI), e da área de genotoxidades e citotoxidade, lideradas pelo Dr. Pedro Almeida e pela Dra. Francielle Martins (UESPI).

Boa semana para todos (as)!

Alguns esclarecimentos do mundo acadêmico

Hoje resolvi tirar algumas dúvidas de alguns dos leitores do Ciência Viva que não pertencem ao meio acadêmico e que vivem a cair na lábia de quem, por algum motivo, quer se engrandecer por meio de falácias. Isso pode até ganhar um tom politizado, mas antecipo que polemizar não é minha intenção. Vou facilitar colocando algumas perguntas que já me fizeram, aí respondo esclarecendo.

Por que algumas pessoas mentem no Currículo Lattes?

Esta foi uma pergunta que me fizeram duas vezes: quando um ex-Ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, caiu em desgraça com algumas inverdades postas no currículo e, mais recentemente, um indicado para o STF também o fez. O Lattes é o espaço onde qualquer pessoa pode construir o Currículo. Um dia um ex-aluno disse que o Lattes era a “Rede Social dos Nerds”. Na verdade, o Lattes é uma referência na área de pesquisa. Um banco de dados de informações sobre pesquisadores. Mas as informações são de total responsabilidade dos seus autores. É como diz aquela passagem da música do Capital Inicial: “O que você faz quando / Ninguém te vê fazendo / Ou o que você queria fazer / Se ninguém pudesse te ver”. Então robustecer o Lattes é uma situação de status, pelo menos no meio acadêmico. É uma mentira fácil de pegar, mas que as pessoas não se preocupam muito em fazê-la, exceto se tiverem que provar o que colocaram ou ocupar cargos públicos como o ministro e o desembargador que caíram nesta tentação.

O que era melhor eu fazer: uma pós-graduação ou um mestrado?

Recebi esta pergunta de um ex-aluno recém-formado. Vamos por parte. Pós-Graduação é um curso que se faz depois da graduação. Assim o mestrado, o doutorado ou a especialização, são todos cursos de PÓS-Graduação, porque são cursos realizados DEPOIS da Graduação. Agora, existe a Pós-Graduação Lato Sensu (Lato quer dizer Largo, Amplo) que são as Especializações e Aperfeiçoamentos, e são cursos mais amplos, aproveitando concludentes de quaisquer áreas. Não preparam para o trabalho, por isso os concludentes recebem, apenas, Certificados. Mestrado e Doutorado são cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (Stricto quer dizer estreito, numa alusão às especificidades do curso). São cursos mais específicos e formam para o trabalho, por isso os concludentes recebem Diplomas.

Professor, quando o senhor vai fazer seu “PhD”?

Me perguntaram isso em um seminário depois que apresentei dados da minha tese de Doutorado. Devolvi a pergunta: o que você acha que é um PhD? O interlocutor falou: não seria o título de Pós-Doutorado? Muita gente não sabe de fato o que um pós-doutorado. Pós-Doutor não é um título acadêmico. O último título da carreira acadêmica é o Doutorado. Pessoas com doutorado podem ter feito um Philosophy Doctor ou Doutor em Filosofia (PhD) ou Doctor in Science ou Doutor em Ciência (DSc). O Pós-Doutorado ou Estágio Pós-Doutoral é um estágio que se faz depois do Doutorado. E porque alguns pesquisadores recorrem ao Pós-Doutorado? Em geral pesquisadores que querem se reciclar, aprender algo novo, ou mesmo voltar a produzir e publicar depois de passado o tempo de Doutorado. Mas muitas pessoas insistem que estão com um novo título, o que termina causando esta confusão na cabeça das pessoas que não pertencem ao meio acadêmico.

Assim, encerro este texto com algumas dicas importantes:

1) Preencha seu Lattes com as informações verdadeiras. Mentira tem “pernas curtas” e não demonstra nenhuma vantagem para um candidato a pesquisador.

2) Recomendo que, antes de entrar em um Mestrado, procure fazer um curso Lato Sensu. A experiência mais importante de um curso de pós-graduação é o seu trabalho final. Quem entra em um mestrado ou em um doutorado e não o completa, em geral é porque não conseguiu concluir a dissertação ou a tese, que são, sem qualquer sombra de dúvidas o maior de todos os desafios.

3) Se você concluir um doutorado e tiver ânimo, siga fazendo um ou mais estágios pós-doutorais. Procure experiências em centros mais desenvolvidos, de preferência em locais que disponibilizem equipamentos e técnicas mais sofisticadas para que você consiga crescer mais na sua área. A possibilidade de estágios pós-doutorais no exterior é uma opção muito interessante.

Boa semana para todos (as).

Posts anteriores