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Homenagens pelos bons serviços prestados (?!?)

A polêmica desta semana foi a devolução da Medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico feita através de Carta Aberta assinada por 21 dos agraciados com a honraria. A entrega se deu, especialmente pela auto concessão da honraria pelo Presidente da República e para mais alguns dos seus ministros.

STOP! STOP! STOP!

Antes que os abençoados “seguimores” do líder vigente pensem qualquer coisa a meu respeito, vamos aos fatos e suas estranhezas!!!

A Medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico foi criada em 1993 para laurear pessoas que se destacam no campo da ciência nacional. Este destaque não é e nem deve ser de natureza política (GRIFOS PARA QUE FIQUE CLARA A MINHA POSIÇÃO). Especialmente diante do notório comportamento negacionista que os auto laureados manifestam. Ao se auto proclamarem jogam-se entre os que homenageiam. Confesso que se estivesse entre os homenageados teria feito a mesma coisa. Foi uma forma de dizer: Muito obrigado, mas não somos iguais!

Já tem um tempo que observo estes movimentos de homenagens. Até hoje, como pesquisador, recebi algumas poucas homenagens. Mas queria falar sobre duas em especial, uma que reflete o real papel de pesquisador e outra que reflete o real papel das homenagens de cunho político.

Em 2008 recebi uma homenagem da Fundação Instituto Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, durante a abertura da 4ª Olimpíada de Saúde e Meio Ambiente. Como Professor Orientador de trabalhos no Ensino Médio, levava para aquela premiação, pela quarta vez consecutiva, mais um dos meus alunos. Este foi o motivo da homenagem.

Em 2014 recebi uma homenagem da Câmara Municipal de Teresina. Medalha do mérito legislativo. Fiquei muito feliz com o reconhecimento da cidade que nasci e onde sempre morei. Depois, para minha frustração, fui informado pelo Vereador que me indicou que o meu mérito maior foi ter atendido o telefone primeiro do que outro indicado por ele. Como aceitei a homenagem, ganhei (dá pra imaginar minha cara?).

Parabenizo imensamente os cientistas que através de carta aberta devolveram a homenagem. Eu não estou entre os homenageados (provavelmente nunca estarei), mas me senti representado por vocês.

Sou sempre a favor de homenagens aos que de fato merecem. Como ando descrente de tudo, ao tomar conhecimento sobre esta situação, fico feliz por saber que entre os meus pares, ainda existe muita gente íntegra.

Boa semana para todos (as).

Tá quente por que tá queimando? Ou tá queimando por que está quente?

Por: Aníbal Cantalice

Morar no Piauí e não conhecer o famoso B-R-O-BRÓ, seria quase uma heresia. A expressão vem da junção das últimas sílabas dos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, que são os mais quentes do ano. É nessa época do ano que o piauiense se prepara para grandes ondas de calor e para as demais consequências que o período pode trazer. Dentre as consequências naturais está a falta de chuvas, alto índice de evapotranspiração (ciclo que envolve a mudança da água líquida no solo e nas plantas para a atmosfera em estado gasoso), fazendo com que o ambiente fique mais seco e propício para que aconteçam queimadas.

Então a resposta é fácil “tá queimando porque está quente!”. Se você olhar por esse lado, SIM. O que nós chamamos de inverno vai chegando, o clima vai ficando cada vez mais quente, deixando as plantas secas e o próprio calor faz com que as matas peguem fogo. Mas se o natural é assim, por que a cada ano que passa parece que se ampliam os focos de incêndio? Se você está pensando nisso, você está certo. O mês de setembro normalmente é o que apresenta o maior número de focos de incêndio. Só neste último setembro foram registrados 5106 focos de incêndios no Piauí, ou seja, um aumento de 45% quando comparado à 2020 e a 38% em relação à 2019, sendo que somente em 2010 tivemos um número de focos maior que esse¹.

O que acontece é que grande parte das queimadas são ocasionadas pelo ser humano nas mais diversas formas, desde a uma simples bituca de cigarro jogada para fora do carro em uma área com vegetação próxima até o ato de queimar a vegetação a fim de abrir espaço para a produção de gado, expansão agrícola ou apropriação de território, sendo estas três últimas as causas mais frequentes de incêndio no Piauí e no Brasil. Um dos casos mais graves e extremamente noticiado foi o incêndio que aconteceu na região do Pantanal, que teve como causa a ação humana². O aumento das queimadas ocasionados pelo ser humano, embora ocorram em áreas locais, não é uma ação única, ou seja, acontece em todo o território brasileiro e mundial.

Esse aumento de queimadas implica de diversas formas o ser humano, formas essas que às vezes não refletimos muito, ou pelo menos não nos colocamos como culpados. A principal delas é a perda da vegetação natural, que por sua vez é responsável por diversos processos ecológicos, sendo a manutenção e regulação da temperatura uma delas. Por exemplo, estudos recentes mostraram que a diminuição da vegetação entre 2000 e 2010 levaram a um aumento médio de 0.38ºC nas regiões tropicais, bem como se a devastação continuasse e tivéssemos uma perda de 50% das florestas tropicais o aumento seria entre 1.0ºC e 1.5ºC ³. Com isso, a temperatura aumenta e o ambiente fica propício para novas queimadas.

Então dessa vez parece que a resposta para a nossa pergunta seria “ta quente por que tá queimando!”. Se você olhar por esse lado, SIM. As florestas são queimadas, e por falta de árvores o balanceamento do clima é prejudicado e as temperaturas aumentam. Mas, é aí... Qual é o certo? Que lado você escolhe da história? Se essa pergunta fosse para mim, biólogo, com pesquisas em conservação da natureza e ciências sociais aplicadas, eu escolheria não ter um lado, mas sim entender que existe um processo natural que estamos intensificando, querendo ou não para o nosso bem-estar, apesar de temporário. Eu aconselharia mudarmos nossa abordagem. Começar a pensar em um bem-estar duradouro e combater esse número de queimadas que só vêm aumentando.

Para isso, precisamos nos sensibilizar que qualquer queimada precisa de supervisão adequada e antes disso de autorização dos órgãos municipais do meio ambiente, que descuidos como uma pequena bituca de cigarros ou a queima de um lixo podem gerar um grande estrago ao meio ambiente. Uma das coisas mais importantes é termos consciência que somos os culpados pelas degradações ambientais, e que somos nós que devemos reparar e mitigar as consequências da nossa existência à natureza em uma busca sensata e racional, não esperando um milagre divino ou científico como uma cura imediatista e milagrosa.

Para denunciar queimadas, você pode acionar os números da Polícia Civil (147) e Polícia Militar (190), ambos gratuitos. Para mais contatos de órgãos e entidades que cuidam de denúncias ambientais, entre em: https://www.greenpeace.org/brasil/faca-uma-denuncia-ambiental/

Vamos entrar juntos nesta luta para reduzir as queimadas?

 

 

 

¹ Banco de Dados Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE);

² Relatório da perícia do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT)

³ PREVEDELLO, Jayme A. et al. Impacts of forestation and deforestation on local temperature across the globe. PloS one, v. 14, n. 3, p. e0213368, 2019.

 

Seu pet entende: “vamos passear?”

Dia desses assisti a um vídeo daqueles que viralizam nas redes sociais, no qual uma moça ficava falando como se estivesse se comunicando com alguém e o cachorrinho dela atrás brincando com uma almofada, enquanto ela filmava. Aí ela falou a palavra “passear” e ele parou e inclinou a cabeça como se estivesse mais atento. Em seguida ela falou a palavra “petisco” e ele continuou “prestando atenção” no diálogo dela com o smartphone. Na sequência ela falou em “praia” e ele então veio para o ombro dela.

A cena toda demonstra o quanto alguns cães são bastante inteligentes. Agora, uma pesquisa publicada na Revista Animal Cognition e repercutida na Revista Science, jogou luz no que achávamos engraçado e que, na nossa experiência com animais inteligentes concluíamos, ainda que empiricamente, que eles estavam realmente entendendo, confirmou esta premissa. Segundo a pesquisadora Andrea Sommese da Universidade Eötvös Loránd de Budapeste na Hungria, a pesquisa realizada com grupos de cães da raça Border Collie (mesma raça do Galileu, morador pet aqui da nossa casa) revelou um padrão interessante em animais treinados para buscar os seus brinquedos.

Os Border Collies responderam com mais exatidão (quando comparado com outros grupos de cães) à busca de brinquedos corretos, a partir da rotulagem feita pelo nome ensinado e quase a metade dos cães tiveram o comportamento de inclinar a cabeça quando acionados pelos comandos de voz (43%). Segundo a pesquisadora e seus assistentes o movimento, que é uma das coisas mais cativantes que os cães fazem para os seres humanos, tem como objetivo estabelecer um foco maior de atenção ao que foi mencionado no comando. Diferente do que o senso comum anunciava, de que os cães viravam a cabeça para ouvir melhor ou para perceber melhor alguns tipos de ruído.

A descoberta foi feita por acaso. O grupo que trabalha com o tema inteligência canina, procurava conhecer detalhes do comportamento de algumas raças no aprendizado de comandos, e percebeu este comportamento em alguns animais pesquisados.

Resta o video para que entendam o comportamento de como ele vira a cabeça. O “modelo” do vídeo é o Border Collie Galileu que nos foi presentado pelo Prof. Hermes Castelo Branco. Galileu chegou na nossa casa em 2016, hoje é conhecido como um “lord” (pois não gosta de se “misturar” muito com os outros visitantes pet). Tem medo de chuva (quando está dentro de casa), mas adora se molhar na chuva quando está fora de casa. Gosta muito de brincar e é um animal bastante acolhedor com todos os que visitam nossa casa.

Aproveito este post para lembrar às pessoas que gostam de cães e gatos que aproveitem a campanha de vacinação contra a Raiva. A raiva mata o animal e pode ser transmitida através da saliva a humanos. Esta “onda política” de condenação de obrigatoriedade de vacina pode matar. A Raiva é considerada uma doença incurável.

Até o próximo post.

Por que a UESPI precisa de mudança?

A Universidade Estadual do Piauí (UESPI) é uma das maiores instituições de ensino superior da esfera estadual do Brasil. Aliás é bom que se diga que já foi bem maior, com a capilaridade que alcançou o gigantesco tamanho de mais de 40 unidades, inclusive em estados vizinhos como Maranhão e a Bahia. A UESPI já chegou a ter o concurso vestibular mais disputado do país, mas isso em um passado em que, ao tempo que a expansão era audaciosa, parte do que a IES ofertava não tinha tanta qualidade, pois grande parte do corpo docente era formado por professores provisórios. Eram cerca de 150 professores efetivos e mais de 1500 provisórios. Mas mesmo sem oferecer tanta qualidade, a universidade chegou aonde seria inimaginável chegar.

Depois desta expansão, a universidade passou por uma fase de organização de seus cursos e realizou grandes concursos públicos entre 2002 e 2012, que foram bem atrativos, pois a instituição ganhou um plano de cargos, carreiras e salários. Os concursos selecionaram profissionais de diferentes partes do país, para seus mais de 20 cursos-tipo, entre licenciaturas e bacharelados, reduzindo seu tamanho apenas para municípios-polo, de Parnaíba a Corrente. Entre 2010 e 2013, a UESPI viveu seu melhor momento. Conseguiu ampliar seu orçamento e organizou todos os seus cursos de graduação, tendo ampliado sua pós-graduação de cursos lato sensu para cursos stricto sensu.

De 2014 para cá a universidade passou por uma disrupção na sua gestão. As conquistas administrativas obtidas no quadriênio anterior foram sendo gradativamente perdidas, chegando ao ponto que a mínima autonomia entrou em declínio. Os sinais fortes são visíveis: desde este período a Universidade não apresenta Biblioteca Central, por exemplo. Para se recredenciar, junto ao Conselho Estadual de Educação, assinou contratos com Bibliotecas Digitais. Passado o momento do recredenciamento, estudantes e professores não conseguiram mais acessar estas bibliotecas. Com tanto tempo de gestão ausente, as estruturas que já eram frágeis, mais frágeis se tornaram. Nem precisa falar em estruturas “sofisticadas” como laboratórios didáticos e de pesquisa. Basta precisar ir a um banheiro na Universidade para perceber que já se tem quase uma década de letargia.

A universidade passa agora por um processo de escolha de seu dirigente máximo. Ainda não estão formalizados os lados, mas de cara se posicionam o candidato da situação, com uma hashtag “uespiemfrente” e um candidato de oposição, gritando “uespiquermudança”. Sou pela mudança. Acredito que a alternância no poder pode ser uma saída para, de fato, a UESPI avançar, ir pra frente.

A disrupção fez a universidade regredir bastante, em praticamente todos os indicadores. Respeito bastante quem apoia o grupo atual, especialmente aqueles que pretendem continuar na gestão mantendo suas funções gratificadas. Faz parte. Afinal professores e técnicos estão com seus salários sem correção desde 2014. E muita gente pode dizer que a culpa é do governo ou do governador, mas o que aflige a universidade inteira é uma falta de perspectiva.

Não depende do Governador, por exemplo, a universidade ter um calendário. É o mínimo e o básico. Aliás neste quesito a UESPI passa por uma crise enorme de identidade. Não sei se os dirigentes já conseguem compreender que a UESPI é uma IES do Sistema Estadual de Ensino. Isso porque em 2020 estruturaram um calendário que não seguia as premissas básicas da LDB: o período que era pra ter 100 dias tinha pouco mais de 40 dias, porque os dirigentes se baseavam em uma normativa voltada para universidades e institutos federais. Isso é desconhecimento da lei, puro e simples. No período da pandemia a Universidade parou. Isso porque os dirigentes ficaram patinando. A IES levou 60 dias para instituir um comitê de crise para ver o que fazer. Resultado: acabou em setembro de 2021 o segundo período de 2020. Não sei se a UESPI aguenta mais quatro anos disso. O modelo tá aí. O Reitor atual diz de norte a sul que é diferente do seu aliado de antes. Manteve o mesmo grupo de dirigentes – apenas mudando a cadeira que sentam: quem sentava num tamborete foi para uma poltrona, quem sentava na poltrona foi para a espreguiçadeira. Assim caminha a UESPI.

E assim segue a universidade que comemora uma lei estadual que institucionaliza o que era para ser uma política interna. Vi a campanha: Auxílio Alimentação Estudantil agora é lei. E me perguntei: precisava um programa da universidade ter que virar lei para ser implementado? Faz falta a autonomia. Até o conceito de autonomia, parece incompreendido.

Como diria um pesquisador, amigo meu, na UESPI ninguém morre de tédio, porque todo dia tem uma coisa nova. Dificilmente positiva, mas sigo com fé, na mudança.

#uespiquermudança

Boa semana para todos (as).

 

 

AquaRio: o fundo do mar sem se molhar

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Já imaginou fazer uma visita no fundo do mar? “Nadar” entre os peixes de diferentes espécies, incluindo tubarões e arraias e observar outros animais como anêmonas-do-mar, gorgônias e corais? Uma experiência incrível, né? Você pode fazer isso em pontos de mergulho em diferentes lugares. Mas se quiser fazer isso sem se molhar fica fácil, basta visitar o AquaRIO, na Praça Muhammad Ali, Via Binário do Porto na Gamboa, Rio de Janeiro, uma área que foi requalificada para o período da Olimpíada de 2016 e é chamada de Porto Maravilha.

O AquaRio, considerado o maior aquário da América do Sul, reúne uma coleção de mais de 350 espécies vivas de diferentes animais aquáticos encontrados no mar, em um ambiente bem adequado para se aprender sobre a vida marinha, os hábitos de alguns animais deste ambiente e boas lições sobre a ecologia de algumas espécies. Uma escola diferente para se aprender sobre o mar e a vida marinha. As crianças que visitam ficam encantadas com os animais que veem nos aquários. Chamam muita atenção os exemplares de peixe-palhaço e do peixe cirurgião-patela, especialmente por causa dos personagens que se baseiam nos espécimens da vida real: Nemo e Dory, do clássico desenho da Disney.

Este foi o segundo aquário de grande porte que tive a oportunidade de visitar. Em 2014 conheci o Oceanário de Lisboa. Guardando-se as devidas proporções o AquaRio não deixa a desejar em relação ao Oceanário. No acesso ao AquaRio, o visitante inicia a visitação pelo terceiro andar e percorre o espaço em torno de vários aquários, muitos dos quais interligados, proporcionando um ambiente “natural” para os espécimens de animais presentes. Além de visualizar os animais através de paredes de vidro, num dado momento o visitante passa por um túnel de vidro, “mergulhando” literalmente no maior de todos os aquários com várias espécies de peixes, dentre eles pequenos tubarões e raias de várias espécies.

Sinta um pouco do que é visitar o maior dos aquários do AquaRIO. Imagens: F.S.Santos-Filho

Se tiver oportunidade de visitar o Rio de Janeiro não perca a chance de conhecer o AquaRio. É um passeio inesquecível e que vale a pena, especialmente para crianças de todas as idades.

Até o próximo post...

 

 

 

 

 

Mais um cientista na pista...

Aprendi com minhas professoras de jornalismo (Ana Flavia Soares, Jordana Cury e Yala Sena) que um bom título pode render muitos views, foi o que me moveu a usar o título acima, pois temos mais um cientista passando a se dedicar ao público leitor dos portais e blogs.

O Portal Cidade Verde ganhou mais um colaborador da área científica. Frise-se: mais um pesquisador que, entre suas diversas atividades, usa o espaço gentilmente cedido pelo Grupo Cidade Verde para falar um pouco da ciência que desenvolve. Faço questão de deixar claro porque este é um trabalho voluntário e sem remuneração por opção do pesquisador. Quem lida com ciência tem, entre suas missões, a tarefa de fazer atividades extensionistas, que se traduzem em transformar conhecimento acessível. Fazer transposição didática do que se ensina e se pesquisa para o público em geral. Fortalecer o acesso a todos. Uma forma de educar informalmente.

Ditas estas palavras e feitos estes esclarecimentos apresento-lhes o Prof. Dr. Marcos Lira, que assina, desde a semana passada o Blog Energia Ativa (https://cidadeverde.com/energiaativa). Marcos Antonio Tavares Lira é Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPI; Mestre em Ciências Físicas Aplicadas pela UECE; Graduado em Engenharia Elétrica pela UFC; Graduado em Licenciatura Plena em Física pela UECE. Professor do curso de Engenharia Elétrica da UFPI e dos cursos de Mestrado em Engenharia Elétrica (UFPI), Mestrado em Climatologia (UECE) e Doutorado em Desenvolvimento e meio Ambiente (UFPI).

Conheci o Marcos Lira quando estávamos organizando o Pint of Science em 2018. Foi empatia imediata porque pensamos ciência de forma muito parecida. O Portal Cidade Verde ganhou um blogueiro preparado e os leitores vão poder tirar muitas dúvidas sobre uma questão muito importante que é a disponibilidade de energia. E a ciência também ganhou mais este divulgador. Salve, Marcos Lira!

Boa semana para todos (as).

 

 

Médico piauiense converte hobby em achados científicos

A natureza tem o poder de atrair atenções e olhares curiosos desde que o mundo é mundo. Com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, como diria o baiano Glauber Rocha, um médico piauiense resolveu ir a fundo na ideia de praticar fotografia e observar aves, e a brincadeira está virando uma coisa séria.

Furriel. Fonte: Alexandre Adad Alencar.

Com uma carreira consolidada como cardiologista e hemodinamicista, o médico piauiense Alexandre Adad resolveu “caçar” passarinho com uma arma diferente. De posse de uma câmera fotográfica moderna, Adad usa parte dos seus finais de semana buscando matas nos arredores de Teresina com a ideia de perseguir e capturar imagens das aves da nossa região, e expõe seus feitos nas redes sociais.

Pica pau de topete vermelho. Fonte: Alexandre Adad Alencar.

Só que o que começou como curiosidade domingueira causou uma inquietação: fotografar as aves e identificá-las. A busca pela identificação revelou coisas bastante interessantes. De repente, após consultar bibliografias e sites especializados, Adad começou a descobrir que algumas das aves das suas lentes tem uma distribuição para muito além das florestas estacionais deciduais de Teresina.

Choca-da-mata. Fonte: Alexandre Adad Alencar.

“Aqui tem espécies que são mapeadas para Amazônia, como o “bem-te-vi rajado” me falou quando comentei que deveria postar suas fotos também no WikiAves, um site especializado em registro de aves do Brasil. A bem da verdade muitas das aves que só tem registro para Amazônia ou para o sudeste do Brasil não tem por aqui pela simples falta de pesquisadores e outros curiosos, como Alexandre Adad. Apesar do Piauí ter expoentes da pesquisa da Avifauna do Brasil, como o biólogo Anderson Guzzi e os alunos que vem formando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, o PRODEMA, da UFPI, é muita diversidade para pouca gente dar conta de tanta beleza.

Ferreirinho-estriado. Fonte: Alexandre Adad Alencar.

Adad encontrou além do “bem-te-vi rajado”, um casal de choca-barrada, casaca-de-couro, ferreirinho-estriado, furriel, garrinchão-pai-avô, espécies de pica-pau e algumas aves mais comuns como cancão, canários da terra e bem-te-vis, todas em árvores das matas ainda preservadas na cidade de Teresina (PI).

Bem-te-vi-rajado. Fonte: Alexandre Adad Alencar.

A atividade de Alexandre Adad tem outros adeptos como o economista piauiense Felipe Mendes que tem brincado com as lentes de suas câmeras e compartilhado com seus amigos de redes sociais imagens incríveis. Aliás o Dr. Felipe já foi incentivado várias vezes a publicar seus achados para além do Facebook e do Instagram. Seria muito bom que tivéssemos mais “Alexandres e Felipes” para mostrar mundo afora nossas riquezas e encantos que sobrevivem à sanha de destruição das nossas matas.

Pipira-vermelha. Fonte: Alexandre Adad Alencar.

Parabéns, Dr. Alexandre Adad! Pelo seu profissionalismo como médico e agora como observador de aves.

Dr. Alexandre Adad Alencar: Fonte: Arquivo pessoal.

Bom domingo para todos (as).

Museu do Mar de Parnaíba

Em agosto passado estivemos durante um final de semana revendo o Mar e as praias do menor e melhor (o melhor é por minha conta!) litoral do Brasil. Entre dias sossegados na praia do Coqueiro resolvemos visitar um novo empreendimento do Governo do Piauí, inaugurado recentemente no Porto das Barcas, chamado de Museu do Mar.

Maquete do Delta do Parnaíba. Foto: F.S.Santos-Filho

O Museu do Mar “Seu João Claudino” foi inaugurado no mês de julho e envolveu recursos para revitalização da área e instalação da estrutura um montante do R$ 10 milhões (li isso na página do Governo do Piauí - https://www.pi.gov.br/noticias/museu-do-mar-e-inaugurado-em-parnaiba/). O museu é dividido em setores com uma coleção de apetrechos dos profissionais que tiram sua sobrevivência dos recursos do mar, como os diferentes tipos de pescadores, coletores de crustáceos, marisqueiros e demais atores que compõem o ambiente de exploração sustentável dos recursos.

Exemplares da fauna do Delta do Parnaíba. Foto: F.S.Santos-Filho.

Em outro setor o visitante se depara com a riqueza da flora e da fauna do Delta do Parnaíba com exemplares de esqueletos de grandes mamíferos marinhos como peixe-boi, golfinho e uma baleia, além de um conjunto de imagens (fotografias) de plantas e outros animais da região. Mais a frente uma imensa maquete do Delta do Parnaíba com representação das cidades e dos lugarejos, dando ao visitante uma noção do quão vasta é a Área de Preservação Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba.

Arquitetura das embarcações, com todas as peças identificadas. Foto: F.S. Santos-Filho.

O espaço guarda ainda uma coleção de apetrechos de embarcações e pequenos barcos desmontados nos quais o visitante aprende um pouco sobre a arquitetura das embarcações comuns que navegam pelas artérias fluviais do Delta e pelo mar. Chamou muito minha atenção o cuidado com o qual os organizadores dispuseram os ambientes, tudo de muito bom gosto.

Aspectos da religiosidade local também retratados no Museu. Foto: F.S.Santos-Filho

Senti falta apenas de um locus onde as pessoas que estudam a biodiversidade do mar e dos ambientes marinhos estivessem representados. No momento que o visitante se depara com informações científicas sobre os ambientes costeiros, ou sobre algum detalhe das algas, plantas e animais da região, não passa pela cabeça do mesmo que boa parte daquilo foi estudado por alguém, que entendeu sua composição (grupos taxonômicos de algas, plantas e animais), desvendou a ecologia do lugar, ou desenvolveu técnicas de manejo e conservação das características naturais daquele ambiente, que pelos últimos 20 anos, foi sendo escarafunchado por pesquisadores das mais diferentes áreas.

Mamíferos marinhos retratados. Foto: F.S.Santos-Filho.

Seria muito bom, além de homenagear as pessoas que tiram sua sobrevivência dos recursos do mar (considero bastante justa e ajuda a criar uma consciência coletiva de que devemos preservar os ambientes marinhos porque pessoas tiram sua sobrevivência dali), o Museu conseguisse mostrar para população as pessoas que estão por trás de tantas descobertas. Sou integralmente contra às homenagens post-mortem. Devem ser honradas e homenageadas as pessoas enquanto vivas. Neste particular gostaria de destacar pesquisadores como Anderson Guzzi, Jesus Lemos, Ivanilza Andrade, Maura Mendes, Gardênia Batista, Felipe Melo, Bruno Annunziata e muitos outros que estudam e orientam trabalhos que ajudam a esclarecer sobre o ambiente, sua fauna, sua flora e suas interrelações. Isso ajudaria, inclusive, a mostrar pros jovens que ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas e muitas coisas a serem descobertas.

Na sua próxima ida ao litoral visite o Museu do Mar. É educativo e ajuda na valorização dos recursos do mar e da região do litoral do Piauí.

Até o próximo post...

B34.2

De 2019 para cá a humanidade toda pegou um grande solavanco causado por um vírus, até então desconhecido, com a origem vinculada a animais nativos da China (embora não faltem teorias da conspiração de que pode ter sido um vírus manipulado pelo homem que tenha “fugido” de um laboratório na cidade de Wuhan e maltratado a humanidade).

Pior do que a doença, que tem ceifado muitas vidas (neste momento achei que 219 milhões de pessoas já contraíram a doença no mundo inteiro e mais de 4,5 milhões foram vitimadas) são as incertezas, especialmente para quem vive no Brasil. Nosso país que é conhecido no mundo inteiro como um exemplo na vacinação de diferentes enfermidades (foi uma das primeiras nações a erradicar a poliomielite por meio da adoção de vacinas), de repente, se viu imerso em um negacionismo de viés político, muitas vezes travestido em atitudes libertárias, mas cercado de uma falta imperativa de bom senso.

A insegurança sanitária foi reforçada por líderes que se digladiam: uns negando a doença (inicialmente), depois recomendando coquetéis de placebos como medida de prevenção; outros aproveitando para tirar proveito do erário, dada situação de calamidade e todos os atores contaminados com uma lama covidiana bem tupiniquim. Em nenhum lugar do mundo a situação ficou crítica por tanto tempo.

As incertezas sanitárias conduziram a decisões erradas sob o ponto de vista econômico e quem mais sofreu neste cenário foi a educação. Estamos com uma geração de infantes com deficiências na alfabetização, porque as soluções de ensino híbrido não atenderam a todos os públicos. No ensino superior, os estudantes e professores estão no salve-se quem puder. Os mais novos precisarão de anos de reforço e programas específicos para tentar minimizar os impactos de tanto tempo sem aula nos moldes presenciais, tão necessário para formação dos mais jovens. Praticamente todos os setores foram liberados com protocolos. Apenas os gestores públicos das escolas não encontram protocolos seguros para garantir aos professores, servidores e estudantes formas seguras de retornar às atividades.

Esta semana chegou a imprensa que uma pesquisa conduzida por um grande hospital da região sudeste do Brasil ocultou mortes de pacientes que eram tratados com drogas inócuas. Seria interessante que as pessoas que gravam áudios e distribuem pelas redes sociais, alimentando Fake News pusessem a mão sobre a consciência e parasse de alimentar tanta mentira. O pior do Brasil é ter uma massa considerável de pessoas que preferem acreditar em um áudio gravado por “Doutor Não Sei lá o que”, médico virologista do Hospital Albert Aintein (sic) (foi exatamente assim que estava gravado o áudio que recebi de um incauto) do parar para ler fontes seguras e recordar que, há uns dez anos atrás o Brasil batia recordes com vacinação em massa. Por que agora as vacinas não fazem mais efeito?

Não discordo quando dizem que as vacinas não foram tão testadas. De fato, a necessidade urgente em ter a proteção subtraiu tempo do processo. Nem tampouco descarto a eficiência comprometida, ou o medo dos novos métodos de fabricação (por incrível que pareça a vacina com menor eficiência usada no Brasil é que adota o método tradicional de produção de vacinas). Mas são notórios os resultados de redução de doentes diante da eficácia das vacinas e da redução da circulação dos vírus.

Reduzir a circulação dos vírus vai fazer reduzir o processo de mutação que gera novas cepas. Variantes mais infecciosas serão menos produzidas se o vírus diminuir sua circulação. Estou torcendo para chegarmos no tempo que apenas os atestados médicos de afastamento temporário trarão o CID 10 de B34.2 (o código para doença causada por coronavírus, presentes nos documentos médicos).

Boa semana para todos (as).

O que realmente atrapalha?

Há alguns dias, um dos principais ministros do Governo Federal soltou uma pérola daquelas que a gente costuma comentar com a máxima “perdeu uma boa oportunidade de ficar calado”. Foi o Ministro da Educação, Milton Ribeiro. O quarto ministro do atual governo a assumir a principal pasta da nação, vez por outra solta falas indignantes e que acertam em cheio boa parte dos brasileiros que esperavam mais de um ex-Reitor de uma das principais universidades privadas do país – a Mackenzie, ligada à Igreja Presbiteriana.

Me refiro a pérola relativa aos estudantes especiais. Ao dizer que os estudantes especiais só atrapalham, Milton Ribeiro demonstrou um profundo despreparo não só no campo da competência educacional, mas sobretudo na falta de humanidade para um conjunto de estudantes que, quando acolhidos e acompanhados de forma correta, correspondem plenamente aos resultados, como qualquer outro estudante, rotulado como “normal”. A fala do Ministro casou bem certinha com os resultados dos Jogos Paralímpicos, nos quais os atletas especiais brasileiros só “atrapalharam” bastante a vida dos seus concorrentes. Com uma posição bem superior à dos atletas ditos “normais”, os paralímpicos do Brasil brilharam nas pistas, piscinas e quadras do Japão, alcançando um resultado pra lá de significativo.

Durante 12 anos que permaneci no Conselho Estadual de Educação (CEE) acompanhei dezenas de situações envolvendo a relação entre estudantes, escolas e famílias que muitas vezes chegavam ao Conselho como uma espécie de instância recursal dos pais que procuravam o abrigo do Estado, representado pelo CEE, para fazer valer a legislação que concede direitos aos estudantes especiais e suas famílias. A lida com estudantes especiais, na maioria das vezes, não é simples. As universidades não preparam os estudantes de Licenciaturas, futuros professores, a se depararem com os mais diferentes tipos de estudantes especiais, desde aqueles que tem dificuldades de se comunicar, porque perderam a audição ou a visão, por exemplo, até aqueles que padecem de distúrbios neurológicos ou motores, ou mesmo os portadores dos diferentes quadros de Transtorno do Espectro Autista que, em grande número sequer foram diagnosticados, não contando também, em muitos casos com a aceitação das famílias. Estas crianças também têm direito ao acesso à educação. A Constituição Federal é clara quando coloca que a educação é um DIREITO DE TODOS.

Ao Ministro, espero que, sinceramente, consiga se livrar das máculas deixadas por suas falas arraigadas de preconceito e despreparo. Quando foi indicado tive a esperança de que as coisas melhorariam (afinal qualquer pessoa seria melhor do que o Weintraub). Quando pertenci ao FORGRAD, Fórum de Pró-Reitores de Ensino de Graduação tinha contato com a Pró-Reitora da Mackenzie que me parecia alguém muito sensata (fugiu-me o nome completamente). Era a visão da Pró-Reitora que me servia de referência para o Reitor Milton Ribeiro. Hoje, as falas destoantes associadas ao baixíssimo número de estudantes das classes menos favorecidas inscritos no ENEM 2021, falam por si sobre o projeto da gestão deste Ministro em relação à educação dos brasileiros, especialmente aos que tem acesso reduzido. Afinal, o que realmente atrapalha?

Já está passando da hora de se fazer algo mais concreto pela a Educação no nosso país.

Boa semana para todos (as).

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