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O novo desastre que vem de Minas Gerais

Você pode ter lido este título e ter pensado: outra barragem estourou em Minas Gerais? Apesar das incomparáveis catástrofes de Mariana e Brumadinho que deram um prejuízo ainda incalculável ao Meio Ambiente, não somente em Minas, mas ao longo da bacia do rio Doce, no caso de Mariana e do rio Paraopebas, no caso de Brumadinho. Apesar de ter sido noticiado que a poluição decorrente do desastre de Mariana chegou no Santuário de Abrolhos que fica no Atlântico, na altura da Bahia, o que dá uma extensão descomunal para o problema. O desastre anunciado aqui é outro e de natureza estrutural: a quebra da FAPEMIG.

Primeiro quero explicar para o leitor o que é a FAPEMIG. É a Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais. Todos os estados têm este tipo de órgão que pouca gente sabe para o que serve, o que inclui os políticos e tomadores de decisões. Estas estruturas governamentais foram órgãos criados logo após a Constituição de 1988 com o objetivo maior de fomentar, de financiar a pesquisa nos Estados. Aqui no Piauí temos a FAPEPI, que inclusive completou 25 anos um dia destes e eu até escrevi um post falando dela (veja aqui).

Estas fundações arrecadam recursos dos orçamentos estaduais, de fontes privadas, às vezes de fundos internacionais ou do orçamento federal para incentivar a pesquisa, a produção de conhecimento. Através de editais estas fundações custeiam projetos, tanto de pequena monta, quanto o custeio de bolsas de estudos para quem faz Mestrado, Doutorado e até a chamada Iniciação Científica. Esta última é de suma importância para formar o pesquisador quando ele ainda está na universidade. Ou seja: estas fundações investem no futuro da nossa Nação através da formação de pesquisadores, em vários níveis: da graduação ao pós-doutorado. É sempre bom lembrar que sem recursos não há pesquisa. Sem pesquisa não há produção de conhecimento. Sem produção de conhecimento uma nação viverá eternamente na dependência do que se produz em outra nação. Ou seja: será mera expectadora e consumidora de bens produzidos por quem detêm o conhecimento. Isto fere sobretudo nossa autonomia enquanto nação.

Em 2014 tive a oportunidade de presidir a FAPEPI. Participei em Belo Horizonte de uma reunião do CONFAP que é o Conselho dos Presidentes das FAPs. O encontro foi promovido pela FAPEMIG. Sai ciente dali que existiam três grandes FAPs no Brasil: FAPESP, FAPERJ e FAPEMIG, pois os diálogos e a demonstração do espectro de realizações e editais abertos para incentivo à pesquisa eram enormes. Fora as três grandes notei a existência de um time intermediário, onde figuravam as FAPs do Paraná, Pernambuco, Ceará, Goiás e outras, e um terceiro bloco onde estava a nossa FAPEPI, junto com o Acre, Rondônia, Tocantins e outras, com um dos menores orçamentos do Brasil. Ao me deparar hoje com notícias de que FAPEMIG cancelou milhares de bolsas de incentivo a Pesquisa, lançamento de editais de inovação encolhidos ou recolhidos, é visível o quanto a Ciência e a Tecnologia no Brasil estão muito longe de serem prioridade. Veja aqui.

Nenhum governo, de nenhum partido, de nenhum nível, federal, estadual ou municipal, no Brasil parece compreender a importância de valorizar a Ciência e a Tecnologia. Não conseguem enxergar os exemplos que vem de países como a Alemanha e o Japão que, mesmo depois de terem sido totalmente destruídos pelos efeitos das guerras conseguiram reconstruir suas economias incentivando a Educação e por extensão a Ciência e a Tecnologia. Não conseguem ver revoluções como as que catapultaram a Coreia do Sul de PIB similar ao Brasil na década de 1960 para uma das maiores potências mundiais, todas atreladas ao desenvolvimento de sua educação e, por extensão, da ciência e da tecnologia.

Chamo a sociedade para uma reflexão nesta Quarta-Feira de Cinzas: os políticos, tanto do legislativo quanto do executivo, precisam acordar para valorizar o que é realmente importante. Ao olharmos a lista dos principais produtos da Balança Comercial brasileira notamos um vazio muito grande de conhecimento agregado aos principais produtos que comercializamos. Dos dez produtos que mais exportamos, 9 são resultado das nossas riquezas naturais: minérios, produtos agrícolas e pecuários. Apenas um é resultado da agregação de conhecimentos: os aviões vendidos pela EMBRAER. Na lista dos dez produtos que mais compramos a situação é exatamente a inversa: nove são resultado de conhecimento agregado como medicamentos, aparelhos eletroeletrônicos e componentes eletrônicos, por exemplo.

Isto é resultado da nossa extrema pobreza. Não pobreza de recursos. Pobreza de pessoas que consigam pensar o futuro da nação investindo no alvo certo: a Educação.

Aranha das patas azuis é uma nova espécie descrita

Uma espécie de aranha encontrada nas florestas da Malásia é um dos mais novos organismos descritos pela Ciência. Trata-se da espécie Birupes simoroxigorum, chamada popularmente de Tarântula Azul. A espécie é nativa do Estado de Sarawak na Malásia tem as patas azuis bem características e um corpo de cor creme (veja imagem).

Tarântula Azul (Fonte: www.sciencemag.com)

 

A espécie recebeu este nome porque Biru é um termo para azul no idioma da Malásia. Já o nome específico é combinação do primeiro nome das três crianças que colecionavam o animal e a doaram para os pesquisadores: Simon, Roxanne e Igor.

A polêmica

A descoberta desta espécie abriu uma grande polêmica entre autoridades ambientais da Malásia e os cientistas que publicaram a descoberta. Os cientistas receberam a doação dos animais mortos de três crianças que as criavam. Entretanto, as autoridades da Malásia reclamam que não existe qualquer autorização para a saída destes animais do território malásio. O que significa que os animais typus (organismo que serviu como referência para descrição na condição de espécie nova) eram ilegais.

A Malásia é um dos países detentor de grande biodiversidade e que sofre bastante com os efeitos da biopirataria, dada a falta de controle das autoridades em relação ao fluxo de turistas que, por vezes, levam “lembranças” da fauna e da flora do país. O Brasil também sofre com este tipo de problema. Nossa hegemonia na produção de borracha natural, por exemplo, é o caso mais absurdo de biopirataria que nos causou prejuízos econômicos incalculáveis em épocas pretéritas.

Bom carnaval!!!

 

 

 

Vagalume: o mistério foi decifrado

Quando eu era criança pequena e íamos passar férias lá no interior de Valença do Piauí, algumas coisas chamavam minha atenção: primeiro como era viver num lugar sem energia elétrica e depois os mistérios das noites sem iluminação artificial.

O céu era mais estrelado e lá conheci também um inseto que piscava a noite, como se a estrela tivesse voando baixinho (era o meu pensamento de criança). E meus pais esclareciam: é um vagalume.

Muitos anos depois, quando já estudava Ciências na UFPI conheci a coleção do Prof. Almeidinha que tinha milhares de exemplares de insetos de todos os tipos. Lá vi de perto o vagalume. Trata-se de um tipo de besouro (Ordem dos Coleópteros, o mais numeroso grupo de espécies da Classe dos Insetos) que pode pertencer a pelo menos três famílias distintas onde a mais comum no Brasil é a família dos Lampirídeos.

A curiosidade é que os vagalumes produzem luz própria. Este fenômeno de produzir luz própria é chamado de Bioluminescência e também é realizado por fungos, bactérias e várias espécies de animais marinhos, com o objetivo principal de se comunicar. No específico do Vagalume é o de atrair parceiro sexual.

A reação de bioluminescência envolve a proteína Luciferina por ação de uma enzima chamada Luciferase (numa referência a Lúcifer, que em latim quer dizer “o portador da luz”). Embora se conhecesse algumas coisas sobre o processo, informações sobre a coloração da luz e detalhes químicos eram totalmente desconhecidos.

O grupo do pesquisador brasileiro, bioquímico Vadim Viviani do campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e atual presidente da Sociedade Internacional de Bioluminescência e Quimioluminescência matou a charada. A bioluminescência é fascinante: em condições variáveis de pH, temperatura e na presença de metais pesados, a cor da luz que as reações emitem pode ir do verde ao vermelho. O mecanismo que permite essa variação, misterioso há décadas, agora fica mais claro a partir do artigo publicado este mês na revista Scientific Reports pelo grupo de pesquisadores.

O grupo de Viviani examinou a interação entre as moléculas responsáveis pela produção de luz e mostrou que na família dos vagalumes mais comuns, a conformação do sítio ativo da enzima luciferase é responsável por prender a substância luciferina. Há uma reação de oxidação que gera luz, as partes ricas em cargas positivas das duas moléculas são forçadas uma contra a outra, gerando uma luz de alta energia na região do espectro verde. Mas a medida que o inseto vai envelhecendo a luz vai mudando de cor. Por vezes, o brilho laranja ou vermelho liberado pelo vagalume, indica que o mesmo está à beira da morte.

Espécies diferentes de vagalumes produzem coloração diferente de iluminação, o que evita erros nos encontros nupciais.

O vídeo abaixo, produzido pela Pesquisa FAPESP traz explicações sobre o fenômeno com o próprio Dr. Vadim Viviani.

 

 

Os mistérios da natureza, gradativamente, vão sendo esclarecidos pela ciência.

 

(Com informações da Pesquisa FAPESP)

Educação 4.0: como trabalhar a geração do futuro?

O mundo em que vivemos está em constante transformação. Isto não deixa dúvidas nem no mais cético dos cidadãos, ainda que este queira encarar algumas mudanças como perfeitamente normais, numa época em que a evolução tecnológica vem mudando nossos hábitos – desde os mais simples, até a condução e direcionamento do mundo do trabalho.

Você já parou para perguntar se a escola que está formando seu filho está acompanhando esta evolução? Será que as crianças de hoje terão conhecimento suficiente para enfrentar o mercado de trabalho quando estiverem adultas? Se você ainda não se fez estas perguntas é muito bom começar a pensar nisso, especialmente se seus filhos estão entrando na escola agora. O mundo está realmente em constante evolução.

O mundo começou a se preocupar com os destinos da educação já tem algum tempo. Antes a preocupação era formar pessoas com grande capacidade de acumular conhecimento. Hoje a preocupação é outra. Como a educação é a base para ingresso no mercado de trabalho, educadores do mundo inteiro estão muito mais preocupados com o que os estudantes conseguem fazer do que com o potencial de acumular conhecimento. Antigamente as famílias se orgulhavam em ter nas estantes de sua casa um exemplar da Enciclopédia Britânica, uma das mais completas obras de referência para assuntos de cunho mais amplo. Toda pesquisa escolar começava pelas enciclopédias. Hoje as pessoas têm excelentes opções de sites de busca como o Google que, em pequena fração de segundos consegue buscar a informação que se quer. E aí você já parou para pensar do que estão vivendo agora as pessoas (vendedores) que visitavam potenciais compradores das Enciclopédias Britânicas?

Muitas profissões no mundo estão em crise. Funções que antes chegavam a ocupar lugar de destaque no mundo trabalho desapareceram totalmente. Estudo conduzido pelo Fórum Mundial Econômico gerou o relatório intitulado The Future of Jobs (O futuro do trabalho, em tradução livre), publicado em 2016 que aponta que até 2020 muitos dos postos de trabalho simplesmente desaparecerão. Postos como o de vendedor de Enciclopédias, por exemplo, que já desapareceu tem algum tempo. E vem a pergunta: será que seu filho terá formação suficiente para ingressar no mercado de trabalho?

Algumas grandes empresas como a Google, a Microsoft e a IBM contratam profissionais sem considerar a existência de um diploma de formação superior. Para algumas empresas, o título comprovado por diploma já significa muito pouco. Algumas das maiores empresas do mundo contratam pessoas dotadas de habilidades. Estas habilidades podem ter sido aprendidas na universidade ou até por conta própria, numa ação para autodidatas, por exemplo.

Os especialistas falam da Educação 4.0, como aquela capaz de formar pessoas com habilidades para as interações tecnológicas. Uma educação que pode gerar funcionários para a Indústria 4.0. E o que é a indústria 4.0? É a indústria que está vivendo a chamada Quarta Revolução Industrial. O segmento fabril que se utiliza de recursos da Inteligência Artificial ou da Internet das Coisas, para ressignificar seu processo fabril. A educação 4.0 é a voltada para formar pessoas para viverem em uma sociedade tão imersa nas inovações tecnológicas que seria impossível conseguir postos de trabalhos sem o mínimo de traquejo com esta nova realidade. Mas todas as profissões sofrerão danos com este movimento da Educação 4.0?

Algumas profissões, segundo estudos recentes, já são totalmente substituíveis pela tecnologia. Recentemente publicou-se que cursos como Administração e Ciências Contábeis, por exemplo, já poderiam ser totalmente substituídos pelo desenvolvimento tecnológico. E não é difícil imaginar isso. É claro que existem profissionais que podem se reinventar e dificultar que a Inteligência Artificial consiga facilmente substituí-lo. Mas tenha certeza: é só uma questão de tempo.

A grande aposta para o futuro é que as crianças aprendam e cultivem desde cedo a capacidade de resolver problemas. Se a criança cresce num ambiente onde é obrigada a conviver resolvendo problemas, dificilmente chegará ao mercado de trabalho sem esta capacidade tão importante nos dias atuais.

A próxima geração a chegar ao mercado de trabalho deve ser formada dentro da perspectiva da Educação 4.0, pois os postos de trabalho exigirão conhecimentos e, principalmente habilidades que não virão se escola também não mudar um pouco da sua estrutura. As escolas também precisam acompanhar esta evolução. Nas próximas semanas vou voltar a tocar neste assunto.

Bom domingo a todos (as).

Stonehenge: registro da pré-história europeia

Quando o Windows XP chegou ao mercado mundial em 2001 trouxe mais do que as vantagens de software que, a exemplo de outros produtos da Microsoft revolucionavam o mundo da computação. Um papel de parede do Windows XP ajudava a popularizar a imagem de um monumento bastante curioso: o Stonehenge.

Em idiomas saxões o termo Stonehenge significa “pedra suspensa”, numa alusão ao arranjo formado por ciclos concêntricos de pedras, situadas no sul da principal ilha que forma a Grã-Bretanha, onde fica o Reino Unido. As pedras apresentam um arranjo que não deixa qualquer dúvida que representa um monumento, muito provavelmente de cunho religioso, com uma opinião quase consensual que de que era um local para realização de rituais e estudos astronômicos.

A novidade agora é que a cientista Bettina Paulsson da Universidade de Gotemburgo na Suécia concluiu que existem outras “Stonehenges” no continente europeu e que, muito provavelmente se constituem em uma verdadeira cadeia de monumentos pré-históricos que podem ter sido construídos pelos mesmos povos que habitavam a região e que, por serem caçadores-coletores eram nômades e, por onde passavam disseminavam a construção destes monumentos.

A pesquisadora, que publicou seu estudo na revista Proceedings of National Academy of Sciences, defende que as primeiras construções desta natureza foram feitas na região da Bretanha, noroeste da França, mas que apresentam registros por vários países do continente europeu como em Portugal, onde iniciou suas primeiras pesquisas sobre o assunto, passando por áreas da França e da Itália.

Megálitos de Carnac na região da Bretanha (França). Registro da pesquisadora Bettina Paulsson

Os Stonehenges reúnem pedaços enormes de rochas chamados de Megálitos, que podem apresentar até 5 metros de altura. Muitas das rochas, por vezes, não são comuns nas regiões dos monumentos, o que leva pesquisadores a imaginar que foram levadas de locais muito distantes e que, por alguma razão, foram usadas para edificar estes monumentos misteriosos.

Em alguma das regiões, são encontradas pinturas rupestres com indicativos de animais como baleias cachalotes, demonstrando que os habitantes daquelas regiões eram exímios aventureiros e andavam também por regiões litorâneas. A propósito, nas pinturas rupestres da nossa Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI) também ocorrem registros de animais que não pertencem a fauna da região: há registro de baleias e golfinhos e até de caranguejos.

Ainda existem muitas lições a serem aprendidas com os homens e mulheres que viveram na pré-história. Pelo menos é o que dizem os registros deixados em pedras.

Boa semana!!!

 

O Currículo do Piauí

Desde dezembro do ano passado a Secretaria de Estado da Educação do Piauí (SEDUC) entregou à apreciação do Conselho Estadual de Educação (CEE-PI) o Currículo do Piauí.

O documento tem o objetivo de subsidiar a educação estadual no que se refere aos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, na perspectiva da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada no final de 2017 através de parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE). De acordo com a BNCC todas as escolas brasileiras devem partir de um conjunto mínimo de conhecimentos em todos os componentes da Educação Básica, aprovados e regulamentados até o momento para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental. Apenas no final de 2018 foi aprovada a BNCC para o Ensino Médio, objeto de posterior análise.

A BNCC reúne, portanto, o mínimo que cada estudante deve conhecer sobre os assuntos de Matemática, Língua Portuguesa, Ciências etc. O restante do que se deve estudar é definido exatamente pelo Currículo.

O desenho do Currículo do Piauí foi construído por um conjunto de professores devidamente recrutados para esta finalidade, de diferentes áreas, que redigiram à luz da BNCC e da legislação vigente. Foram determinados acréscimos ao contido na Base, especialmente nos temas relativos aos conteúdos de cunho regional.

Esta primeira versão receberá as críticas do CEE-PI e deve retornar com estas considerações, para ser reapreciado e, se de acordo com as premissas de qualidade, será aprovado pelo Colegiado.

A BNCC é um importante marco para tentar reduzir desigualdades entre os estudantes de diferentes partes do Brasil. O Currículo do Piauí é uma oportunidade de levar aos estudantes piauienses o que há de melhor em termos de conteúdos educacionais.

Como professor é o que espero que aconteça. Até o próximo post...

Biodiversidade: o que temos para falar sobre o Meio Norte do Brasil?

Esta semana que passou recebemos da Editora mais um livro que ajudamos a organizar que traz como tema a Biodiversidade. Trata-se do Biodiversidade do Meio Norte do Brasil: conhecimentos ecológicos e aplicações – Volume 2.

Capa do Livro Biodiversidade de Maio Norte - Volume 2

O livro foi produzido numa parceria entre pesquisadores das universidades UFPI, UESPI, UFMA e UEMA e da EMBRAPA. Nesta obra selecionamos trabalhos que trazem informações sobre vírus que atuam em plantas, bactérias em sua relação com desinfetantes comerciais, diversidade de fungos, fungos parasitas de plantas e fungos que auxiliam o desenvolvimento de pastagens, além de estudos sobre a flora de regiões do Piauí e do Maranhão e estudos sobre a diversidade genética de nossas galinhas caipiras e da atividade mutagênica de plantas da nossa flora.

A temática de Biodiversidade é um dos focos da nossa pesquisa desde 2005 quando ingressei no curso de Doutorado em Botânica na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Na época me concentrei em estudar as plantas de um ecossistema altamente impactado pela atividade turística que é uma das formas vegetacionais que cresce nas regiões litorâneas: a Restinga. Depois disso me senti instado a dar vazão aos muitos estudos realizados nas universidades e que às vezes não atingem pesquisadores e muito menos o grande público.

Em 2011 organizamos uma obra sobre Biodiversidade do Piauí , trazendo alguns estudos que envolviam não somente plantas (nossa especialidade),

mas informações sobre outros organismos, fortalecendo parceria com vários colegas pesquisadores. Em 2013, o segundo volume sobre Biodiversidade do Piauí que traz uma concentração de informações que obtive a partir da minha tese de doutorado, mas que também traz importantes trabalhos de outros pesquisadores das áreas de microbiologia e zoologia, mas com estudos restritos a área geográfica do Piauí.

O livro publicado agora em 2018 é a sequência de uma parceria com o colega Eduardo Bezerra de Almeida Jr., pesquisador pernambucano radicado na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e que já havia colaborado na publicação do Biodiversidade do Piauí (Vol. 2). Em 2015, reunimos estudos de pesquisadores do Piauí e do Maranhão e publicamos o livro Biodiversidade do Meio Norte do Brasil: conhecimentos ecológicos e aplicações.

A ideia destas publicações passa também pela necessidade de alertar as populações destes dois estados sobre a importância da conservação da Biodiversidade, para manutenção do equilíbrio sustentável, uma vez que são dois estados ricos e biodiversos, mas que têm suas economias pautadas em atividades agrícolas que, se não trabalhadas sob premissas de sustentabilidade, podem levar a grandes perdas da riqueza natural que possuem.

O último artigo que publiquei, ainda em 2018, na Revista Equador, chama a atenção para o pequeno número de estudos na área de Biodiversidade, para o estado do Piauí. Neste estudo fizemos o apanhado do que havia sido publicado entre os anos 2003 e 2013. Apesar de não retratar a situação atual, este estudo aponta dados preocupantes sobre os efeitos desta falta de conhecimento sobre nossas riquezas. Se tiver curiosidade e quiser acessar a publicação clique aqui.

Além do livro recém lançado, as demais obras encontram-se disponíveis nas melhores livrarias brasileiras.

Bom domingo para todos(as).

 

Vida selvagem: os desafios de sobrevivência nas Savanas

Desde pequeno assistia documentários sobre a vida selvagem. Talvez isso tenha me conduzido a trabalhar como biólogo, muito embora tenha uma predileção por plantas, ao invés dos bichos. O que mis chamava a atenção eram as táticas ardilosas dos predadores para serem bem-sucedidos na caça às presas.

Na minha visão de criança, a expectativa era a de sempre torcer pelo mais fraco, ou seja, torcer que a presa escapasse do predador. Na lógica da natureza caberia ao vencedor o seu prêmio: ao predador, o alimento e à presa, a oportunidade de continuar sobrevivendo. Esta é a lei mais bem fundamentada das ciências biológicas: a Seleção Natural.

Dia desses me deparei com um vídeo da National Geographic mostrando uma rara situação na qual o predador é bem-sucedido na sua abordagem, porque o faz em conjunto com outros “colegas”, mas a presa é quem melhor surpreende.

Acompanhe a saga de jovens leões e uma girafa. Cenas raras.

Boa semana para todos(as).

A Tabela Periódica faz 150 anos

Desde anteontem, 01 de fevereiro, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) encarregou sua agência para questões de educação, ciência e cultura – a UNESCO, para capitanear as comemorações pelos 150 anos de criação da Tabela Periódica dos elementos.

Fonte: tabelaperiodica.org.

Considerada o ABC do universo, a Tabela Periódica dos Elementos reúne de forma extremamente precisa a organização, em disposição gráfica, de todos os elementos que constituem a natureza – os átomos – levando em consideração suas principais propriedades como peso atômico e potencial de seus constituintes, os prótons, nêutrons e elétrons.

A Tabela Periódica foi um instrumento construído pela intervenção de vários cientistas, e sua primeira versão data da idade média. Cientistas como Antoine Lavoisier e Lothar Meyer deram suas opiniões de como organizar os átomos conhecidos até as suas respectivas épocas. Mas a organização como conhecemos hoje foi obra do químico russo Dmitri Mendeleev.

A revista Science produziu uma tabela virtual que ajuda você a conhecer a evolução deste fabuloso instrumento utilizado pela química e que possui a capacidade de expressar inclusive as propriedades dos elementos, dada a forma como Mendeleev soube organizá-la. Experimente conhecer aqui.

O Ciência Viva já falou um pouco de Mendeleev quando escrevemos um post comentando sobre a história inspiradora da sua mãe, Maria Mendeleeva. Se quiser rever clique aqui.

Quando Mendeleev organizou a Tabela eram conhecidos apenas 63 elementos. Mas a forma como ele organizou permitiu que novos elementos fossem inseridos. Em novembro de 2016 houve a confirmação de inserção dos quatro elementos mais novos que foram denominados Nihonium (Nh), Moscovio (Mc), Téneso (Ts) e Oganesson (Og), cujos números atômicos são 113, 115, 117 e 118, respectivamente. Os estudos continuam pela inserção de mais dois elementos, cujos números atômicos seriam o 119 e o 120.

Apenas quatro países seguem pesquisas visando descobrir novos elementos: EUA, Rússia, Alemanha e Japão. As pesquisas que envolvem a descoberta de novos elementos são ainda muito dispendiosas. Estima-se que o descoberto até aqui corresponda apenas a 5% do que existe de fato no Universo.

A revista Science produziu um pequeno documentário sobre a Tabela Periódica dos Elementos. Acompanhe abaixo:

A tabela periódica sempre foi um grande desafio para os estudantes. Em algumas escolas os ensinamentos mais sólidos na química passavam pelo mínimo de conhecer as famílias dos elementos, algumas propriedades mais gerais e sem qualquer erro conhecer o nome do elemento a partir do símbolo e vice-versa. Lembrei agora dos muitos amigos que tiveram o privilégio de serem alunos do Padre Florêncio Lecchi, falecido em 2014, do Colégio Diocesano e que era muito exigente na lida cotidiana com a Tabela Periódica.

Padre Florêncio Lecchi. Fonte: Arquidiocese de Teresina.

Talvez, com alguns recursos atuais, o aprendizado da Tabela Periódica seria muito mais facilitado e até lúdico. Abaixo um vídeo que relaciona os elementos à suas respectivas utilidades no mundo moderno, um exemplo dos recursos atuais. Com musiquinha e tudo.

Boa semana para todos(as) e Viva a Tabela Periódica!!!

Processos erosivos destroem áreas do litoral brasileiro

Em julho de 1996 viajei com a família para apresentar o mar para o meu filho caçula, prestes a completar seu primeiro ano de vida. Como todo bom piauiense, visitamos várias praias do nosso litoral, o que incluiu a Praia de Macapá, um dos cartões postais, na época ainda selvagem, do litoral do Piauí.

Na oportunidade ouvi o depoimento de um morador da região falando que o mar estava avançando e destruindo parte daquele paraíso. Alguns anos depois voltei ao lugar e parte do que conhecera já não existia mais, porque fora tragado pelo avanço do mar.

O fenômeno de modificação do recorte costeiro é chamado tecnicamente de Progradação. A progradação pode ser positiva, quando há deposição de material sedimentar, fazendo com que a praia aumente de largura, ou pode ser negativa, quando o mar avança e provoca erosão, reduzindo a largura da faixa de praia e invadindo o continente.

Quando o mar invade o continente. Fonte: www.tvi24.iol.pt.

O processo de progradação é resultado da dinâmica marinha. Tem sido estudado por pesquisadores como o geógrafo baiano Dieter Muehe que coordenou a elaboração do livro Erosão e Progradação do litoral brasileiro, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente que concentrou estudos e mapeamentos em praticamente todos os estados brasileiros, deixando de fora apenas o litoral do Piauí (talvez por ser o menor).

A progradação é um processo que chama a atenção dos estudiosos, especialmente pela possibilidade de intensificação em razão do fenômeno de aquecimento global. Pela ideia do aquecimento global o nível dos oceanos tenderia a aumentar pelo derretimento das calotas polares, provocado pelo aumento da temperatura do planeta. A questão é polêmica e por isso suscita cuidados e olhares de especialistas do mundo inteiro.

Dada a importância da faixa litorânea brasileira, o tema já foi tratado várias vezes por pesquisadores em suas comunicações científicas e termina sendo tratado também por revistas de divulgação científica como a Pesquisa FAPESP. Semana passada um vídeo tratando sobre o tema foi disponibilizado apontando que o problema ocorre em mais de 60% da extensão do litoral brasileiro, afetando áreas de importância turística, como no caso da Ponta de Seixas, o ponto mais oriental do Brasil, situado na Paraíba.

Acompanhe o vídeo abaixo:

Até o próximo post…

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