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Genes para sementes já existiam nas samambaias

A maior parte das plantas que conhecemos apresentam raiz, caule e folhas como órgãos vegetativos e flores, frutos e sementes como órgãos reprodutivos. Mas nem todas as plantas têm todas estas estruturas reprodutivas. As Angiospermas (Angio=vaso; Spermae=semente – sementes guardadas em um “vaso”, alusão ao fruto) são as que possuem o conjunto completo (flor, fruto e semente). Fora as angiospermas temos vários grupos de plantas que, didaticamente, são chamadas Gimnospermas (Gimno=nu; Spermae=semente), que possuem semente, possuem estruturas que fazem o papel da flor, mas não possuem frutos. As plantas que possuem sementes são chamadas de Fanerógamas ou Espermatófitas.

Completam o Reino Vegetal as plantas que não possuem sementes, chamadas didaticamente de Criptógamas, que reúnem grupos chamados de Briófitas (conhecidos popularmente como Musgos) e Pteridófitas (as mais conhecidas destes grupos são as samambaias). Feitas as apresentações iniciais voltamos para o título: samambaias – plantas sem sementes – forneceram os genes para produção de sementes das plantas com sementes!

Artigo publicado na revista Science sob o título “Genes for seeds arose early in plant evolution, ferns reveal” (Genes para sementes surgiram no início da evolução das plantas, revelam samambaias, em tradução livre) mostra que ao se montar o genoma de três espécies de samambaias e uma espécie de Cycas (um tipo de Gimnosperma) foram encontrados genes que nas samambaias participam da produção do esporo (suas estruturas reprodutivas) também estão presentes nas angiospermas atuando na estrutura das sementes e do pólen. Ou seja: o mesmo gene que regula a reprodução nas samambaias também atua nas angiospermas.

A descoberta reforçou uma ideia que já existia, mas que nunca tinha sido provada, pois praticamente não se investe na pesquisa de genomas que não tenham finalidades com aplicações comerciais. A descoberta reforça o mecanismo de linhagem evolutiva entre as plantas, especialmente no sentido de confirmar que as estruturas mais primitivas derivam estruturas mais complexas, mas visando funções similares: reprodutivas. A descoberta foi do biólogo chinês Hongzhi Kong, um dos líderes da pesquisa, pela Academia Chinesa de Ciências. Os quatro novos genomas também estão mudando as visões sobre se as plantas experimentam a transferência horizontal de genes. Sabe-se que os micróbios trocam genes o tempo todo, ajudando-os a se adaptar a novas condições, mas os organismos multicelulares pareciam emprestar genes apenas raramente. No entanto, os genomas das samambaias e cicadáceas contêm um número surpreendente de genes de bactérias e fungos. “É notável que vemos genes de origem bacteriana e fúngica em plantas vasculares”, disse Kong à Science.

Aos poucos o que antes era uma forte suspeita vai se confirmando. Assim caminha a ciência.

Boa semana para todos (as).

 

Aprendendo a ensinar

Ao longo da minha carreira de professor descobri que os estudantes podem desenvolver estratégias bem diferentes para atingir seu aprendizado. Trabalhei em grandes escolas públicas e privadas e conheci uma razoável gama de alunos.

Em uma das minhas muitas experiências tive estudantes com certo grau de autismo. Estas crianças detinham suas dificuldades, mas quando conseguiam aprender eram incomparáveis pela forma com que conseguiam demonstrar o quanto aprenderam. Lembro de uma situação, em uma das grandes escolas por onde passei. Ministrava um tema relacionado a animais e o estudante não tinha conseguido compreender sobre a estrutura de um determinado grupo animal. A escola dispunha de farto acervo de exemplares de diferentes grupos de animais. Durante um plantão peguei alguns destes exemplares e levei até a criança. Ela pegou, olhou longamente para o exemplar, fez uma duas ou três perguntas e disse: entendi!

A premissa de que uma imagem vale mais do que mil palavras é muito significativa para o aprendizado de qualquer coisa. Você pode ter os melhores argumentos para que um estudante compreenda um determinado tema, mas colocá-lo dentro do assunto, tocando, experimentando, vivenciando, não tem paralelo.

Ultimamente tenho lido muito sobre o aprendizado por metodologias ativas. A ideia de colocar o estudante no centro do aprendizado é muito interessante. Como parte integrante daquele aprendizado, a criança ou adolescente passa a perceber o conhecimento como algo bem natural e com isso vem o sucesso e os estímulos para continuar aprendendo.

Acredito muito no Learn by doing (aprender a fazer, fazendo). Ali, com alguns elementos em mãos, a criança com alguma orientação, consegue por em prática seu aprendizado e garante uma experiência capaz de substituir muitas horas de aulas. Estas vivências são essenciais principalmente para conhecer conceitos de ciências.

A educação é mais importante meio de se formar pessoas. Mas não existe uma receita única e pronta. Porque, como humanos, não somos pessoas iguais e nem nossos cérebros funcionam exatamente da mesma forma. Estudar os meios de melhorar o aprendizado é uma missão bastante desafiadora.

Bpa semana para todos (as).

A ruptura da educação

Esta semana que passou participei de uma banca de Doutorado da Rede Bionorte (Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal) que abrange uma gama de instituições da região Norte do Brasil e mais instituições do Maranhão, estado que faz parte da Amazônia Legal. A banca foi da bióloga Ingrid Fabiana Fonseca Amorim, formada pela Universidade Federal do Maranhão, que defendeu a tese intitulada “Diversidade e Potencial de Uso das Plantas do Quilombo de Pericumã, Baixada Maranhense, Amazônia Oriental, Brasil”, orientada pelo dileto amigo, Prof. Dr. Eduardo Bezerra de Almeida Jr. (UFMA) e coorientada pelo Prof. Dr. Reinaldo Farias Paiva de Lucena (UFMS), meu colega durante o Doutorado e de PRODEMA.

No estudo, Ingrid fez um censo com moradores do Quilombo de Pericumã, situado na cidade de Bequimão, na chamada Baixada Maranhense. De casa em casa, guiada pelos moradores, ela resgatou a informação tradicional, que se transmite de forma oral, sobre as plantas e seus usos, seja para fins medicinais, alimentícios ou para outras finalidades. Este resgate é o que fortalece o chamado Etnoconhecimento (que inclusive já falei disso por aqui), que reúne a sabedoria dos povos tradicionais, e no caso específico, dos povos de origem africana, trazidos para o Brasil como força de trabalho escravo e que, nas oportunidades que tinham, construíam povoamentos em áreas distantes, constituindo os agora seus descendentes, quilombolas.

A pesquisa foi desenvolvida em plena pandemia, quando as restrições eram muito grandes, especialmente pela exigência da calamidade sanitária de que as pessoas se mantivessem isoladas. No pouco tempo que teve antes da pandemia começar, Ingrid perscrutou a comunidade em busca das informações e depois das plantas citadas nas entrevistas dos moradores da comunidade quilombola. Na minha leitura, verifiquei que havia algo a mais na pesquisa. Nas entrelinhas reconheci a legítima busca de mostrar para o mundo científico a riqueza daquela comunidade que se enraizava em cada parte do texto que li. Depois das perguntas corriqueiras que faço, pontuei sobre a identificação da pesquisadora com a comunidade de estudo. E daí percebi o maior de todos os valores que a pesquisa trazia.

Ingrid passeou sobre as dificuldades que enfrentou para chegar até ali. Desde o passado mais distante, até às vésperas de concluir uma pesquisa no meio de uma pandemia. Uma mulher, negra, de origem humilde, descendente direta de escravizados, estava alcançando o ponto mais alto de uma carreira acadêmica. E mais: em um programa de Doutorado que recebeu Conceito 5 pela CAPES e entrando pela porta da frente, do concurso, da seleção rigorosa até a avaliação por pares. Ingrid fez jus a outras mulheres de fibra como sua conterrânea Maria Firmina dos Reis, professora e escritora maranhense.

Destas suas palavras fortes fez desabar todos os que me sucederam, com base na energia emanada. Foi arguida por todos, mas respondeu com a tranquilidade de uma autoridade que se forjou na força e na resiliência. Ao final: aprovada! Com todos os méritos acadêmicos. Provando que as dificuldades existem, exatamente para serem superadas. Mostrando que “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” como um dia disse o líder Nelson Mandela.

Fiquei muito feliz em participar deste momento. Parabenizei a Ingrid pela conquista e pela representatividade do momento. Parabenizei os colegas Eduardo Almeida Jr. e Reinaldo Lucena pela orientação profícua. Além de mim compuseram a banca a Dra. Patrícia Albuquerque (UFMA), Dra. Maria Carolina Abreu (UFPI) e o Dr. Rafael Rodolfo de Melo (UFERSA).

Este exemplo mostra o quanto a educação pode romper barreiras, mudar destinos e realidades. Por mais Ingrids e Firminas!

Boa semana para todos e todas!

“Isto tem uma solução trivial!”

Costumo sempre a dizer para meus alunos da Graduação que a formação de um professor não se dá somente na universidade. O professor é um misto de tudo o que ele experimentou na vida em termos de modelo de docência. Sou professor há 35 anos e nunca tive uma aula ensinando sobre como me conduzir como professor. Esperava algo mais prático da disciplina de Didática que está na estrutura de todos os cursos de Licenciatura.

Gosto muito de dizer que somos a imitação dos melhores e dos piores modelos de professores pelos quais nós passamos. Isso não aconteceu somente comigo e continuará acontecendo com todos os que um dia tentarem entrar em uma sala de aula, de qualquer nível, em qualquer lugar e com estudantes de qualquer idade. Ao longo da construção do meu modelo peguei o que existia de melhor de todos os que professaram para mim e observei bastante o que existiu de pior, para que eu soubesse o que “não fazer”, por experiência própria, também. E posso me definir como um apanhado de grandes mestres pelos quais passei, ao longo de uma trajetória de estudante da educação básica, dois cursos universitários (sendo um abandonado no meio do caminho) e mais a pós-graduação (mestrado e doutorado). Esta semana que passou perdi um dos meus professores-modelo: Professor José Nunes de Sousa. Vítima de um câncer de cólon, Professor Zé Nunes foi um gigante na sua prática docente.

Conheci o Professor Zé Nunes através de meu pai, que deu a ele a primeira oportunidade de lecionar, na época em que a carência de professores era muito grande e os diretores de escola faziam, do seu próprio modo, a seleção de quem daria aulas na escola que dirigia. Anos depois, quando ingressei no Ensino Médio, tive a oportunidade de estudar do Colégio Sinopse, do qual Zé Nunes era sócio. Lá fui aluno de Zé Nunes no segundo e terceiro anos do ensino médio.

Era uma aula com começo, meio e fim. Me espantava com a didática dele e com a forma como finalizava o seu quadro: sempre finalizava aula na última linha, do último quadrante do quadro, no lado direito. Como se a aula tivesse sido calculada para finalizar exatamente com o espaço no quadro. Uma aula perfeita. Entendi muito bem sobre Matrizes, Determinantes e outros temas da Matemática ensinados por ele. Aulas dinâmicas, recheadas de paciência e exemplos objetivos.

Depois encontrei o Prof. Zé Nunes pelos corredores da UFPI. Era sempre muito requisitado pelos estudantes, pela facilidade com que conseguia transmitir temas considerados complicados para a maioria. Certo dia o encontrei em um evento e perguntou o que eu fazia. De pronto disse que já estava no mercado de trabalho sendo professor. Me chamou para uma oportunidade na sua escola, mas o tempo já não me favorecia, dados os compromissos profissionais que já tinha na época.

Com tristeza vi o anúncio da sua morte. Ele se junta a tantos outros professores que pude eleger como modelos a exemplo do Prof. Marcílio Rangel, Prof. Ozias Lima, Prof. Afonso Sena que também já nos deixaram. Ao ver suas fotos, nas redes sociais, ao lado dos filhos e netos, fiquei reflexivo. Há um fim em tudo, especialmente no legado que se consegue construir. Manter-se vivo não é tão fácil, mas como dizia o Prof. Zé Nunes ao finalizar um problema de Matemática, deixar um legado: “isto tem uma solução trivial!”

Até o próximo post...

 

TOI-1452b: exoplaneta com água

TOI-1452b é como se chama o mais novo planeta descoberto fora do Sistema Solar. Situado a 100 mil anos-luz da Terra, este planeta que se apresenta 70% maior do que a Terra é classificado como um Planeta-Oceano. As medições afirmam que, considerando a razão entre seu tamanho e a sua densidade, ele seria totalmente coberto por água.

Chamado de Super-Terra ou Mini-Netuno, numa alusão ao tamanho intermediário entre estes dois planetas do Sistema Solar, o TOI-1452b foi descoberto por pesquisadores canadenses da Universidade de Montreal no Canadá, liderados pelo estudante de Doutorado, Charles Cadieux.

A pesquisa contou com a participação de pesquisadores de várias instituições, dentre eles o Professor de Física Teórica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, José Dias do Nascimento.

O TOI-1452b participa de um sistema solar binário, ou seja, formado por duas estrelas situadas próximas entre si. De acordo com os pesquisadores o Planeta se situa a uma distância destas estrelas de modo que sua superfície não é tão quente e nem tão fria, possibilitando a presença de formas de vida.

Vamos esperar mais informações sobre este novo astro.

Boa semana para todos e todas e até o próximo post...

 

CO2 em um exoplaneta: um salve ao James Webb

Astrônomos que operam o Telescópio Espacial James Webb encontraram um planeta do tamanho de Saturno, situado a uma distância de 700 anos-luz da Terra com Dióxido de Carbono na sua atmosfera.

De acordo com Nikku Madhusudhan, pesquisador da Universidade de Cambridge o James Webb inaugura uma excelente possibilidade de se estudar a atmosfera dos exoplanetas. Entendendo como é a composição da atmosfera, é possível fazer inferências mais precisas sobre a habitabilidade destes planetas. O novo telescópio também consegue identificar com certa precisão a existência de outros gases como o metano e a amônia.

A diferença do Telescópio James Webb para os demais está na sua capacidade de percepção mais aguçada do espectro infravermelho, em relação aos telescópios Hubble e Spitzer. Para se ter uma ideia estes dois telescópios já haviam detectado vapor d’água no planeta gasoso gigante WASP-39b e agora o James Webb identificou também CO2, um passo importante para o entendimento da dinâmica atmosférica deste planeta de fora do Sistema Solar.

A tecnologia tem avançado para permitir ao homem um maior conhecimento sobre o universo que nos cerca. Seguimos com a ideia de que o homem pode fazer bem mais pelos seus semelhantes, achando caminhos para melhorar os caminhos da humanidade.

Até o próximo post...

 

"E porquê?"

A criança ao nascer já traz consigo um espírito cientista. Falo isso de cátedra por ter criado quatro filhos muito curiosos. Mas todo mundo sabe que as crianças passam por uma fase dos “porquês” que muitas vezes os adultos tolhem por mera falta de paciência.

As perguntas vêm no programa básico de qualquer criança. Às vezes com perguntas inusitadas e outras que deixam pais silenciosos, sem ter exatamente como explicar. De acordo com os especialistas as crianças devem ser estimuladas a perguntar e as respostas devem ser de fácil compreensão e sempre pautadas na verdade. Como nesta fase as crianças estão em pleno desenvolvimento cognitivo a fase dos porquês estimula o desenvolvimento do cérebro, o desenvolvimento da criatividade e o fortalecimento das relações sociais. Costumo a dizer que as crianças já nascem cientistas e nós adultos vamos mudando esta característica.

Há pouco mais de quatro anos iniciamos (eu e mais dois pesquisadores) uma startup voltada para educação científica com crianças. De lá pra cá mudei algumas das minhas leituras, voltando-me para conhecer este universo que só conhecia de forma empírica (mas com forte veio experimental) porque criei desde pequenos meus filhos. Nestas leituras conhecemos o STEAM e voltamos nossa startup para incentivar pais e escolas por uma educação mais pautada no método científico.

Crianças vendo a simulação do redemoinho. Foto: F.S.Santos-Filho

Na semana passada, andando por São Paulo visitei, pela terceira vez, o Museu Catavento Cultural (https://museucatavento.org.br/), mantido por uma organização social em convênio com o Governo do Estado de São Paulo. O Museu funciona em um prédio centenário que já abrigou o Palácio das Indústrias e outras estruturas ao longo de sua história, até que em 2009 virou o Museu na sua conformação atual. Durante nossa visita, crianças de excursões de várias escolas passavam pelos salões do Catavento aprendendo um pouco de Biologia, Física e outras tantas ciências. Algumas partes do Museu estão em reforma e estava sendo montada uma exposição em homenagem aos 200 anos da independência, no próximo mês.

Fila de crianças levadas pelas escolas para visita ao Museu Catavento Cultural. Foto: F.S.Filho.

Me chamou a atenção o quanto as crianças pequenas, na faixa de 8 a 10 anos se divertiam usando os “brinquedos” presentes no Museu para ensinar física, por exemplo. Postei no meu canal do YouTube e reproduzo a seguir para que entendam do que estou falando. Em um dos vídeos a criança fica tão emocionada que abraça o tubo onde está ocorrendo uma simulação do redemoinho.

Nossa ideia ao criar o THE LAB foi exatamente subsidiar pais que queiram desenvolver nas crianças o lado científico. Trabalhamos uma proposta que usa o método científico como pano de fundo para as experiências que, embora simples, trazem conceitos fabulosos sobre ciência.

A ideia que desenvolvemos corre a favor das mudanças de paradigmas propostas para o mundo do trabalho. A geração que está sendo formada agora vai se enfronhar em um mundo bem diferente do nosso atual. Um mundo dominado pelo Metaverso, pela Realidade Aumentada (RA), pela Realidade Virtual (RV) e outro conjunto de coisas que já são realidade como a Internet das Coisas (IoT) e a Inteligência Artificial (AI).

É só uma questão de tempo! Por isso precisamos preparar a próxima geração de pessoas. Estas “pessoinhas” que ficam repetindo: ”e porquê?”

Boa semana para todos e todas.

 

Professor 4.0: como acompanhar a tendência?[1]

A todo momento ouvimos falar termos que mais parecem coisas antigas recicladas por uma entonação cardinal mais “moderna” - educação 4.0, Indústria 4.0, Internet 5G e assim por diante. Mas isso é de fato uma novidade ou apenas uma “modinha” de tentar vestir coisas antigas com novas simbologias? Explico melhor.

Quando ouvimos “Indústria 4.0” estamos falando da quarta etapa do processo de revolução industrial. Do mesmo modo, ao falarmos “Educação 4.0” estamos mostrando que a educação também acompanha a tendência de modelar o seu “produto” (o estudante) a acompanhar a revolução puxada pela Indústria. Na verdade, tudo está relacionado.

A Indústria evoluiu para um tipo especial de automação que usa inteligência artificial (AI), internet das coisas (IoT), cibersegurança, integração de sistemas, computação em nuvem, manufatura aditiva, realidade aumentada entre outros elementos que melhoram os processos, otimizam os recursos, barateiam os custos, gerando um ambiente de desenvolvimento promissor. Uma verdadeira convergência de tecnologias. A indústria 4.0 só funciona se, nos seus bastidores, for constituída de “cabeças 4.0”.

Neste contexto a educação 4.0 se coloca como peça fundamental da Indústria 4.0. A ideia é um processo educacional que mire na aquisição de habilidades e competências como foco essencial, de preferência colocando o estudante como sujeito central da aprendizagem, como define Delors[3] quando diz que “a educação básica é um passaporte para vida” e o “ensino secundário é a plataforma giratória para toda uma vida”, refletindo sobre o protagonismo do estudante. Uma espécie de engenharia e gestão do conhecimento. Como a sociedade evolui muito rapidamente, é difícil planejar um processo educacional com base somente na aquisição de conhecimento. O mercado, puxado pela Indústria 4.0, exige que a escola seja capaz de formar pessoas capazes de resolver problemas. Assim, cabe à escola e ao professor que dela faz parte, o poder de avaliar o cenário e construir estratégias que possam levar ao objetivo central de formar estes “resolvedores de problemas”. Este processo só se concretiza se a escola tiver a excelência de desenvolver as competências proporcionando ao estudante a aquisição das habilidades.

Este processo deve ser alimentado por um ambiente de preparação dos espaços de aprendizagem. Não basta a sala de aula tradicional. Fortalece-se, na busca pelo foco do Learning by doing (Aprender fazendo), a presença de espaços seguros e dotados dos recursos necessários, no qual o estudante perceba ferramentas que o dotem do poder de manejar seu conhecimento aliando aos passados pelo professor, numa fusão a frio das duas “matérias”: conhecimento nato e conhecimento passado. Estes espaços não precisam ser necessariamente físicos, uma vez que vicejam as disponibilidades de recursos na forma de aplicativos, ambientes de aprendizagem virtual e recursos presentes em computadores, tablets e smartphones. Ou seja: muita coisa está à mão. A cibercultura começa a dominar espaços escolares.

Este desenvolvimento de tecnologias não resulta, por si só, no sucesso dos estudantes nesta caminhada de descobertas. As novidades não traduzem o melhor caminho se, escudando-as, não existir o viés da educação científica. Os “comos e porquês”, lá do início da epopeia do método científico são os balizadores para esta revolução de formar professores 4.0. Usar da tecnologia não garante lugar para formar esta geração de estudantes que está na escola hoje. É preciso ousar nos métodos sem descuidar da estratégia de planejar o uso dos recursos, lembrando que a curiosidade deve ser estimulada e o estudante deve ser o centro das atenções da aprendizagem. Humildade e ética são pressupostos bem necessários ao professor neste momento.

Esta é uma reflexão que considero importante neste momento de transição para Educação 4.0!

Carpe diem!

 

 

 

[1] Texto produzido especialmente para o Workshop STEAM na Escola, realizado na Sala de Treinamento do Piauí Original Hub, L2, Shopping Rio Poty, Teresina (PI) em 20 de agosto de 2022.

[2] Francisco Soares Santos Filho é professor, licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia (UFPI), mestrado e doutorado em Botânica (UFRPE). Atualmente é Professor Associado III da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), orientador de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI) e cofundador das startups THE LAB EDU e TecStories. Ex-Pró-Reitor de Ensino (UESPI); Ex-Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI); Ex-Superintendente Estadual de Ciência e Tecnologia e Ex-Presidente do Conselho Estadual de Educação do Piauí.

[3] DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 7ª ed., revisada – São Paulo: Cortez Editora; Brasília (DF): UNESCO, 2012.

Você já viu o Bob Esponja espirrando?

Dia destes publicamos aqui no Ciência Viva que o Prof. Dr. Bruno Annunziata do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) em Parnaíba havia publicado a existência de duas novas espécies de esponjas para o litoral brasileiro e uma delas homenageia o biólogo marinho criador do personagem Bob Esponja, Stephen Hillemburg. Relembre aqui.

As esponjas são animais muito simples. Na escala evolutiva, são considerados os animais mais primitivos, uma vez que são desprovidos dos diferentes sistemas que nos ajudam a sobreviver como sistema digestório, sistema respiratório, sistema circulatório etc. Todavia, apresentam um complexo sistema de filtragem que consegue reter partículas alimentares e até pequenos animais que são usados em sua alimentação.

O curioso é que, recentemente, usando vídeos de alta resolução, cientistas conseguiram flagrar um “espirro” de uma esponja. Na verdade, uma operação que durou de 20 a 50 minutos e que os cientistas, ao acelerarem o vídeo conseguiram entender de que se tratava de um movimento de expulsão de partículas, a exemplo dos espirros que acometem diferentes animais.

Espirrar é uma tarefa animal! Ainda que este animal seja uma esponja!

Boa semana para todos e todas e até o próximo post!

 

O que eu queria ganhar de presente no Dia dos Pais!!![1]

Passei os últimos dias adoentado e vez por outra chacoalhado por perguntas do tipo: Pai, de que o senhor está precisando, para ganhar no “Dia dos Pais”? Repare que o simples gesto de perguntar já coloca para quem lê o quanto fui abençoado com os filhos que tenho. É difícil, nos dias de hoje, um filho estar preocupado sequer em colocar respeito [“o senhor”] na relação com seus pais! Imaginem se preocupar com mais alguma coisa...

Não sei se estou envelhecendo mais rápido do que o simples passar dos dias, mas me aninho num sentimento que acho bobo e ao mesmo tempo me consome. Entre uma talagada e outra de xarope por uma tosse que perturba, me pego pensando no tempo passado em que os sacrifícios, sempre muito grandes, faziam da nossa casa sempre pequena e desorganizada, um lar onde crianças inebriadas pela saúde e vitalidade crescente corriam, pulavam, brincavam, gritavam, bagunçavam entre um ralhar daqui e um grito acolá...

Parecem tempos que não ganhamos mais, irrecuperáveis... Filhos saídos de casa, buscando outras experiências, desenhando seu futuro e traçando a própria vida, substituíram aqueles meninos alegres, sagazes, sempre prontos para devorar o mundo, mas que enchiam nossas vidas de uma esperança de que um dia estariam assim: prontos para voar!

Não sei se isso é alegre ou triste. Sei que fazem falta aquelas correrias, o jogo de bola, os carrinhos espalhados pela casa, o “jogueime” [videogame] badalando aqueles sons irritantes... Nossas manhãs na piscina ou jogando basquete... Realmente tempos irrecuperáveis... Mas voltando a pergunta acho que queria poder viver tudo outra vez! Queria na verdade uma máquina do tempo. Com alguns apertos de botões queria poder voar para trás e aproveitar cada momento que desperdicei. Cada minuto que requeriam da minha atenção e eu estava nas minhas infinitas demandas insólitas que me roubaram estes minutos tão preciosos de convivência de meus quatro tesouros. Queria poder voltar no tempo das festinhas da escola, nas quais meu pai quase sempre foi meu representante, porque quase sempre estava enfronhado nas salas de aula ou no meio do mato pesquisando, mundo afora.

Para quem lê esta mensagem pode até parecer que estou triste. Na verdade, estou nostálgico. E se o gênio da lâmpada me concedesse a possibilidade de escolha de um caminho, talvez tivesse trilhado o mesmo, novamente, porque, por mais ausente que tenha sido, procurei dar o melhor de mim para que nada lhes faltasse. Procurei, sobretudo, mirar-lhes o exemplo. O exemplo de probidade, de humildade, da honestidade, de disposição, de um planejamento profissional. Ainda que tenha me custado este preço de hoje, véspera do Dia dos Pais, me sentir nostálgico.

Olhem aí então meninos, aos que perguntaram e aos que não perguntaram: quero uma máquina do tempo! Mas se não tiver como adquiri-la tenho uma alternativa: sejam estas criaturas maravilhosas que amo verdadeiramente. Vocês são de um valor imensurável para mim. Longe ou perto, estão todos no meu coração. Muito obrigado por tudo o que representam para mim e pelo imenso orgulho que me dão. Especial gratidão às suas mães que, comigo, construíram esta sociedade genética que deu certo!

Dedicado a todos os meus amigos que são pais e que podem precisar um dia de uma máquina do tempo como eu! Feliz Dia dos Pais!

 

[1] Texto publicado originalmente na minha conta pessoal do Facebook em 09 de agosto de 2014. Resolvi compartilhar novamente, desta fez pelo Ciência Viva porque ele reflete o que ocorre na vida de muita gente, especialmente professores e pesquisadores: o público que lê o Ciência Viva. Feliz Dia dos Pais para todos!!!

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