Cidadeverde.com

Hidrogênio verde: a nova galinha dos ovos de ouro

Já tem uns dias que o Governo do Piauí fala em atrair investimentos para produção do hidrogênio verde, como um combustível que pode substituir combustíveis à base de Carbono e que são considerados os grandes vilões ambientais do mundo moderno. Para esclarecer um pouco sobre o tema, resolvi fazer algumas pesquisas e trazer ao Ciência Viva algumas informações sobre o tema. Para facilitar, escrevi o texto no formato de respostas a algumas perguntas.

1) Por que o Hidrogênio Verde é um combustível considerado limpo?

O hidrogênio é o mais simples dos átomos presentes na natureza. Consegue acumular energia na sua forma mais simples (H2) e é chamado de “verde” porque é produzido com energias renováveis. O componente básico da fabricação do Hidrogênio é a água. Submete-se a água (H2O) a um processo de eletrólise, separando o Hidrogênio do Oxigênio. Se a energia usada vier de uma fonte renovável (eólica ou fotovoltaica), o hidrogênio pode ser chamado de Verde.

2) O Piauí tem potencial para produzir Hidrogênio Verde?

Se as duas coisas que são usadas para produzir o Hidrogênio Verde no Piauí tem em abundância (água e energia renovável), então tem-se aqui toda a condição de realização dos processos necessários. As experiências exitosas de produção de Hidrogênio Verde no Brasil têm ocorrido prioritariamente no Nordeste, exatamente em função da matriz energética da região está baseada nas fontes eólica e fotovoltaica.

3) Qual a principal dificuldade no uso do Hidrogênio Verde como combustível?

O fato de o hidrogênio ser um gás é um fator de dificuldade. Dados publicados pela revista Science da semana passada apontam exatamente este como o principal problema para o uso do Hidrogênio. Em matéria sobre o lado dos possíveis prejuízos que compostos não carbonados pudessem causar ao clima, como o hidrogênio e o amoníaco, entre outras coisas (atribuídas em maior parte ao uso do amoníaco), a matéria traz a possibilidade do hidrogênio, escapando para atmosfera, reagir com compostos à base de carbono e ampliar os níveis de metano (CH4) e outros gases do efeito estufa na atmosfera.

Seria um grande ganho para a economia do estado, se o Piauí virasse referência na produção de hidrogênio verde. As dificuldades são muito menores do que as vantagens. Resta saber se o governo vai conseguir atrair investidores para apostarem na produção desta forma de energia que é vista como uma grande alternativa para minimizar os efeitos das mudanças climáticas e de outras mazelas provocadas pelos poluentes à base de carbono. Os governos das potências econômicas mundiais têm feito reservas financeiras para financiar na pesquisa e no desenvolvimento de plantas energéticas que envolvam o Hidrogênio Verde como o combustível do momento.

Vamos torcer para as coisas virarem a nosso favor!

Boa semana para todos e todas!!!

Curtas & Rápidas em Ciência (#4)

FÍSICA DO ESTADO SÓLIDO

Amolecimento da rede induzido por elétrons

Em materiais de estado sólido, as mudanças na rede cristalina são frequentemente acompanhadas por mudanças no sistema eletrônico. Se a rede ou os elétrons são o principal condutor de uma transição pode, no entanto, ser difícil de determinar. Noad e outros pesquisadores mediram o módulo de Young no material extremamente limpo Sr 2 RuO4 durante uma transição eletrônica (Lifshitz). Os pesquisadores encontraram uma grande queda no módulo de Young na transição, sugerindo que os elétrons de condução conduzem uma resposta elástica não linear neste material. Entender os reais estados da matéria é e será sempre um grande desafio.

ENZIMOLOGIA

Interruptor de metal expande atividade

As DNA polimerases, como a maioria das enzimas, são específicas para seus substratos nativos, os desoxirribonucleotídeos, e possuem uma química de sítio ativo cuidadosamente ajustada que pode ser difícil de adaptar. Lelyveld e outros autores realizaram cristalografia de raios X resolvida no tempo em uma variante da DNA polimerase que aceita um açúcar 3'-amino, catalisando a formação de ligações fosforamidato em vez das ligações fosfodiéster naturais. Eles descobriram que os dois íons metálicos responsáveis pela catálise na enzima nativa foram rompidos, e apenas um único íon metálico divalente estava envolvido na catálise nesta enzima variante. Os autores usaram esse insight para propor íons trivalentes de metais de terras raras como um cofator alternativo. A adição de escândio (III) produziu a variante fosforamidato-DNA polimerase mais proficiente. A cada dia percebe-se que o conhecimento em torno dos mecanismos biológicos ainda precisam ser decifrados pela ciência.

DIFERENCIAÇÃO

Decodificando o destino das células endócrinas do intestino humano

As células enteroendócrinas (EECs) residem no epitélio do trato digestivo e produzem vários hormônios envolvidos no metabolismo. A geração de diferentes linhagens EEC é governada por uma rede dedicada de fatores de transcrição. No entanto, dada a baixa eficiência da especificação EEC a partir de células estaminais adultas, tem sido difícil elucidar os componentes desta rede reguladora. Lin e seus companheiros de pesquisa usaram um sistema otimizado de cultura organoide do intestino delgado humano para realizar uma triagem sistemática e imparcial de fatores de transcrição que regulam a diferenciação do EEC. A descoberta revelou o ZNF800 como um fator chave que exerce um papel repressivo dominante no controle da rede de fatores de transcrição endócrinos. Este trabalho mostra o uso de organoides humanos otimizados para telas funcionais baseadas em CRISPR, abrindo caminho para a identificação de reguladores adicionais na fisiologia e fisiopatologia do intestino humano.

(com informações da Revista Science)

A inteligência humana pode ser substituída por uma IA?

Já tem um tempo que as pessoas discutem sobre os “riscos” da Inteligência Artificial (IA) tomar de conta da vida, substituindo em muitos casos a Inteligência Humana, mas a pergunta que não quer calar: seria possível haver um domínio das inteligências artificiais sobre a “inteligência natural”?

De certo modo, em algumas situações, já percebemos algoritmos de IA substituindo postos que seriam de seres humanos, quando temos a necessidade, por exemplo, de tirar uma dúvida no aplicativo do Banco, ou quando precisamos agendar uma consulta médica. Já são coisas mais simples, mais fáceis de serem automatizadas e que já detêm uma certa precisão no momento de ocupar o papel de uma ser humano, neste particular.

Em 1950, o escritor russo Isaac Asimov, um dos maiores autores de ficção científica, preocupado com um mundo ocupado por robôs e com o domínio da Inteligência Artificial criou as três leis da Robótica, prevendo, entre outras coisas, o avanço da IA. Veja as leis criadas por Asimov:

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal;

2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei;

3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

A preocupação de Asimov foi exatamente imaginar um mundo dominado pela automação que pudesse trazer transtornos para o mundo das pessoas. Mas cabe uma reflexão: o uso de uma IA substituindo um trabalhador já não seria uma agressão ou um transtorno sério?

Outros autores como Arthur Clarke, autor da série Odisseia no Espaço que deu origem ao filme de Stanley Kubrick “2001: uma odisseia no espaço”, considerado um filme clássico de ficção científica, já colocou as possibilidades do comando exercido por uma máquina. No filme aparece o HAL9000 um robô (personagem) que tem vontade própria e que exerce um certo controle sobre tudo que ocorre na nave Discovery e que, durante a trama, descobre que outros personagens estão planejando sua desativação, estando como o principal vilão da história narrada no filme.

Ao vermos o desenvolvimento de IA’s que realizam tantas tarefas com muita perfeição (basta abrir qualquer rede social que logo você se depara com alguém ensinando o uso de uma nova IA para o desenvolvimento de tarefas diversas como construção de sites, construção de apresentações, formulações de desenhos com base em descrições, construção de textos etc.), a sensação que toma conta é a de que isso pode se virar contra os humanos a qualquer momento. Na minha opinião, assim como as atitudes que tomamos são inesperadas, o desenvolvimento de sistemas heurísticos pode resultar exatamente no mesmo: no inesperado.

Torço que o desenvolvimento de IA’s promova sempre a melhoria da qualidade de vida humana, sem desobedecer aos princípios estabelecidos pelas leis de Asimov.

Boa semana para todos e todas!

Curtas & Rápidas em Ciência (#3)

ESPINTRÔNICA

Controlando ondas de spin com um supercondutor

A capacidade de controlar o spin e o transporte de carga em um chip revolucionou a tecnologia da informação. Para a espintrônica, as excitações coletivas de spin de materiais magnéticos, conhecidas como ondas de spin, surgiram como uma plataforma promissora que pode oferecer novas funcionalidades devido à sua natureza ondulatória. No entanto, o controle das ondas de spin continua sendo um desafio formidável. Borst e outros pesquisadores mostraram que o diamagnetismo de um supercondutor pode ser usado para moldar o ambiente magnético que governa o transporte de ondas de spin em um filme fino magnético. A imagem magnética mostrou como o diamagnetismo leva a ondas de spin com comprimentos de onda fortemente alterados e ajustáveis à temperatura. O controle do transporte de ondas de spin usando a resposta diamagnética de uma porta supercondutora será importante para o desenvolvimento de aplicações de dispositivos. O controle das ondas de spin podem revolucionar a tecnologia dos aparelhos que utilizam processadores e chips.

CIÊNCIA DE PLANTAS

Iniciando a faixa de Caspary

As raízes das plantas contêm uma barreira de difusão à base de lignina chamada faixa ou estrias de Caspary, que controla o equilíbrio de nutrientes. Gao e outros pesquisadores descobriram que uma família de proteínas dirigentes controla a síntese de lignina na faixa de Caspary. Os pesquisadores estabeleceram um processo de síntese em dois estágios, nos quais as proteínas dirigentes iniciam a biossíntese da lignina em placas de membrana plasmática. Depois disso, as lacunas entre as manchas são preenchidas pela via Schengen descrita anteriormente. O trabalho amplia nossa compreensão do padrão complexo de polissacarídeos no espaço extracelular da planta. Com esta descoberta é possível entender o fluxo de substâncias pela raiz e caule das plantas.

IMUNOLOGIA

Geração de IL-17 dependente de tradução

Células T auxiliares CD4 + produtoras de interleucina-17 (IL-17) (TH 17) mediam a inflamação crônica em doenças autoimunes. Revu e seus colaboradores descobriram um papel nuclear para o fosfolipídio PIP 2 na produção de IL-17 pelas células TH 17. Durante a diferenciação de células T CD4 + humanas virgens em células TH 17 in vitro, o PIP 2 foi enriquecido em núcleos de uma maneira dependente da quinase PIP5K1?. O PIP 2 nuclear facilitou a tradução do mRNA de IL17A e a produção da proteína IL-17. As células T CD4 + de pacientes com esclerose múltipla tratados com um inibidor PIP5K1a secretaram menos IL-17A do que as células não tratadas. Estudos de imunologia são sempre bem vindos, especialmente dados os parcos conhecimentos ainda nesta área e a diversidade imensa de doenças existentes.

(Com informações da Revista Science)

Cinco curiosidades científicas (#1)

Procurei diversificar os textos do Ciência Viva visando levantar temas curiosos, escritos por pesquisadores de diferentes áreas e publicados em uma série norteamericana chamada It’s a Fact! Resolvi garimpar apenas algumas curiosidades e publicarei ao longo das próximas semanas. Se os leitores se sentirem atraídos, persistirei neste formato de aguçar a curiosidade. Vamos lá!

Quilometragem sob o solo

Se todo o intrincado sistema de raízes de um pé de abóbora (planta da família das Cucurbitáceas, que abriga também os melões, melancias, pepino e outras) fosse colocado em linha reta, estender-se-ia por mais de 24 quilômetros.

Atividade em repouso

À noite, durante o sono, a maioria das pessoas se move cerca de quarenta vezes. As que sofrem de insônia se movem até setenta vezes.

Campeão de resistência

O camelo é um dos animais que melhor otimiza o uso da água. Um camelo pode passar até 30 dias sem ingerir um gole de água. Para isso ele tem uma série de adaptações como: pelos claros e densos, redução das glândulas de suor, ausência de bexiga, alta concentração de fluidos corpóreos como saliva e urina. Quando um camelo vai beber, consegue repor de uma vez só até 100 litros de água. Para se ter uma ideia, considerando o tamanho do camelo em relação ao homem, seria um homem de 70 kg beber, de uma vez só, cerca de 17 litros de água. O camelo é um campeão de resistência.

Bom de ouvido

A maior parte das músicas compostas por Beethoven foram criadas depois que ele ficou surdo. A genialidade de algumas obras deste compositor alemão ganha um valor maior quando se sabe desta condição especial que ele tinha. Depois de sua morte a autópsia revelou que seu aparelho auditivo era bem danificado. As causas não são consensuais: especialistas atribuem a consequência de outras doenças que afetavam o músico, até uma relação com uma sífilis congênita que atrapalhou a vida de muitos europeus.

Bom de adivinhação

Nostradamus, um astrólogo francês que viveu na Europa na época que o Brasil estava sendo descoberto (Século XVI), previu a Revolução Francesa (que aconteceu no Século XVIII), a ascensão e queda de Napoleão Bonaparte (Séc. XIX), a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais (que ocorreram no Século XX), a ascensão de dirigentes fascistas e nazistas, como Mussolini e Hitler (Século XX). Algumas das descrições feitas por Nostradamus são muito precisas, como a destruição por explosões de cidades (por bombas) por pássaros metálicos (aviões). Com medo da Inquisição, suas profecias foram escritas na forma de versos, embaralhados, escritos em vários idiomas como grego, latim, francês e francês provençal.

 

Curtas & Rápidas em Ciência (#2)

Satélites espiões encontram fortes romanos

ARQUEOLOGIA | Sobrevoando o deserto da Síria na década de 1920, um aviador francês avistou os contornos quadrados e retangulares dos fortes romanos. Ele finalmente contou 116, em um arco de 1.000 quilômetros de extensão. Durante décadas, os historiadores presumiram que eram os restos de uma rede defensiva usada para afastar o Império Sassânida, rival de Roma no leste, começando por volta de 200 dC. Esta semana na Revista Antiguidade, arqueólogos relatam uma nova interpretação . Em imagens desclassificadas de satélite dos EUA das décadas de 1950 e 1960, encontraram mais 396 fortes espalhados pelo que hoje é o Iraque e a Síria, muitos deles muito a oeste da fronteira entre os antigos impérios. Em vez de uma barreira linear defensiva como a Muralha de Adriano, erguida na fronteira romana em Inglaterra, os fortes sírios foram criados para proteger e tributar caravanas e comerciantes que se deslocavam ao longo da Rota da Seda, argumentam os autores. O desenvolvimento recente provavelmente destruiu alguns fortes: oitenta por cento dos identificados nas antigas imagens de satélite não são mais visíveis do espaço, diz um dos autores do estudo, Jesse Casana, do Dartmouth College.

Excel corrige formatação científica

SOFTWARE | A Microsoft modificou suas planilhas do Excel para permitir que os usuários desativem funções de formatação automática que há anos frustram os cientistas porque introduzem erros ou prejudicam entradas sobre pesquisas. Um desses recursos converte automaticamente texto em datas de calendário – por exemplo, o Excel renderizou SEPT2, uma abreviatura comum para o gene Septin-2 , como 2 de setembro. Um em cada cinco artigos sobre genética nas principais revistas científicas continha erros do programa, descobriu um estudo de 2016. Em uma postagem de blog na semana passada, a Microsoft disse que o Excel agora exibirá uma mensagem de aviso quando detectar que pelo menos uma das conversões automáticas de dados está habilitada, e as opções para desativá-las ficarão mais visíveis no menu do Excel (em Arquivo > Opções > Dados > Conversão Automática de Dados). As opções, testadas no ano passado, estarão disponíveis apenas para usuários do Windows versão 2309 e Mac versão 16.77 e posteriores.

China planeja grande coletor de neutrinos

ASTRONOMIA | A China planeja construir um dos maiores detectores de neutrinos do mundo nas profundezas subaquáticas para capturar os esquivos mensageiros do espaço profundo. O Tropical Deep-sea Neutrino Telescope (TRIDENT), anunciado este mês, estaria operacional em 2030. Os neutrinos são subprodutos de reações nucleares em estrelas. Eles rivalizam em número com os fótons, mas raramente interagem com a matéria comum. Para observá-los, os pesquisadores colocam detectores de luz em uma grande massa de água ou gelo e procuram os raros flashes cada vez que um neutrino atinge um átomo. O TRIDENT usaria 24 mil detectores ancorados no fundo do Mar da China Meridional, 3.500 metros abaixo da superfície, para examinar um espaço medindo 7,5 quilômetros cúbicos. Esse volume de coleta é aproximadamente o mesmo planejado para uma atualização do Observatório de Neutrinos IceCube dos EUA, no Pólo Sul, o que tornará os dois novos instrumentos muito mais sensíveis do que os existentes.

(Com informações da Revista Science)

Marcas da COVID-19

Nestes últimos dias tenho deparado com situações novas na minha carreira de professor e pesquisador. Esta semana que passou fiquei sabendo de um colega que entrou em profunda depressão por não conseguir manter-se produtivo no seu trabalho de pesquisador. Há alguns dias soube de um antigo aluno que trancou o seu curso de pós-graduação porque sua saúde mental não estava perfeita.

Já tem um tempo que observo os danos provocados pela pandemia ou, ainda que não tenham provocado dano direto, de certa forma vieram a prejudicar pesquisas em andamento e, especialmente professores e estudantes, ainda impactados com os efeitos da COVID-19. Na última sexta-feira, dia 27/10, participei de modo remoto de uma banca de uma estudante de Doutorado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A doutoranda mostrou um trabalho fabuloso desenvolvido exatamente no período da pandemia, avaliando os impactos da doença na atividade física. No final de tudo, já aprovada, fez um agradecimento aos filhos e ao esposo por terem ajudado na coleta de dados durante o período, especialmente por causa do quadro depressivo que a arrebatou durante a pesquisa.

Os efeitos da pandemia vão perdurar por muitos anos na vida de todos. Os efeitos sobre a educação, na minha opinião são os mais severos, uma vez que uma série de ciclos foram quebrados pela pandemia e seus efeitos: o medo, as medidas, as proibições, as mortes, o pânico provocado quando alguém da família adoecia, e o papel nefasto desenvolvido por alguns órgãos de imprensa que, de modo equivocado, ajudaram ainda mais a transformar o período em um caos, transmitido via satélite.

As marcas da COVID-19 deveriam ser observadas pelos órgãos de fomento que não arrefeceram as cobranças por produtividade sem qualquer tipo de trégua. Parece até que os tomadores de decisão nesta área não viveram o período. Da minha parte, tenho tentado acalmar meus alunos, especialmente aqueles que tinham projetos grandiosos e que tiveram que encolher para comportar nos novos prazos e diante das circunstâncias pós-pandêmicas.

Se faz importante que as pessoas tomem consciência que, só agora, já podemos deflagrar uma situação de calma em relação ao processo pandêmico. Com o alcance das vacinas, a vida começou a voltar ao normal. Mas o produtivismo exigido pode vir com mais calma.

Boa semana para todos e todas.

 

Curtas & rápidas em Ciência (#1)

Amostras de asteroide contém água e compostos orgânicos

A primeira observação do material do asteroide Bennu, que chegou à Terra pela espaçonave OSIRIS-REx da NASA, revelou altos níveis de água e moléculas orgânicas. Análises mais aprofundadas poderão fornecer pistas sobre como os impactos de asteroides na Terra há bilhões de anos podem ter ajudado a vida a começar. De acordo com técnicos do Johnson Space Center, que ainda não abriram o recipiente principal da amostra, os testes iniciais de poeira e areia que vazaram para um compartimento circundante mostram indícios de carbonato, que pode ter precipitado da água corrente no corpo de Bennu durante a infância do Sistema Solar.

IA decifra pergaminho queimado

Pesquisadores revelaram na semana passada a primeira palavra inteira a ser identificada no que resta dos rolos de papiro incinerados pela erupção do Monte Vesúvio em 79 dC: “porphyras”, que significa “roxo” em grego antigo. Tentar desenrolar os pergaminhos, recuperados de uma biblioteca em ruínas na antiga cidade de Herculano, quase certamente os destruiria. Mas os pesquisadores conseguiram ler letras dentro de um deles treinando um algoritmo de inteligência artificial para decifrar os caracteres granulados e pouco legíveis revelados pelos raios X. Ao decodificar essa primeira palavra, Luke Farritor, um estudante de ciência da computação da Universidade de Nebraska, Lincoln, ganhou um prêmio de US$ 40.000 em uma competição, o Desafio Vesúvio, que começou em 2019. Ainda não reclamado está o grande prêmio de US$ 700.000 para o primeiro a decifrar. quatro passagens de dentro de um dos pergaminhos; o prazo termina no final deste ano.

Pesquisa coleta genomas negros

Pesquisadores anunciaram esta semana planos para criar o primeiro banco de dados de genomas exclusivamente de pessoas com ascendência africana. Estão entre os mais geneticamente diversos do mundo, mas continuam sub-representados nas bases de dados genéticas e, por extensão, nos estudos genéticos: apenas 0,48% dos participantes neste tipo de investigação em todo o mundo se identificam como afro-americanos ou afro-caribenhos e apenas 0,18% como africanos. Como resultado, alguns tratamentos – para o cancro, por exemplo – podem não funcionar bem neste grupo porque foram testados principalmente em pessoas de ascendência europeia. O novo esforço, denominado Juntos para Mudar os Cuidados de Saúde para Pessoas de Ancestrais Africanos através de uma Genómica e Equidade Internacional, visa recrutar pelo menos 500.000 voluntários. Está sendo liderado pela Meharry Medical College, uma faculdade historicamente negra, e pelas empresas farmacêuticas AstraZeneca, Novo Nordisk, Regeneron e Roche. Cada empresa está contribuindo com US$ 20 milhões. O grupo espera formar parcerias com outras instituições historicamente negras dos EUA e com universidades em África. Todos os parceiros terão acesso exclusivo aos dados resultantes.

Quais espécies de serpentes viviam no Egito antigo?

Os cientistas deram nomes a algumas das misteriosas espécies de cobras que picaram os antigos egípcios. Os pesquisadores há muito discordam sobre as identidades de 34 cobras mencionadas em um pergaminho, datado do século VI aC e guardado no Museu do Brooklyn, que descreve como tratar picadas de cobra e é considerado um dos primeiros textos médicos. Uma equipe da Universidade de Bangor analisou 19 variáveis que descrevem o clima de distribuição de espécies de cobras conhecidas e concluiu que nove - incluindo a altamente venenosa víbora e a mamba negra - que não vivem mais no Egito moderno poderiam ter vivido no clima predominante no antigo Egito.

Guerra paralisa pesquisas

Países em Guerra sofrem de todas as formas. A ofensiva do grupo terrorista Hamas contra Israel tem provocado um apagão nas pesquisas em universidades tanto de Israel quanto as situadas na faixa de Gaza e na Cisjordânia.

De acordo com Asher Cohen, Presidente da Universidade Hebraica de Jerusalém no clima de guerra não é possível manter estruturas de pesquisa funcionando plenamente. Algumas famílias choram pela morte de pesquisadores, estudantes e funcionários das instalações de pesquisa mortos nos ataques surpresa do Hamas, iniciado em 08 de outubro.

O lado palestino coleciona mais prejuízos. Segundo Marwan Awartani, Presidente da Academia de Ciência e Tecnologia da Palestina, com sede na Cisjordânia, “a prioridade não é a Ciência. A prioridade é se manter vivo”.

Na Universidade Bem Gurion, situada a 41 km da Faixa de Gaza, mais de 240 estudantes de pós-doutorado estrangeiros foram aconselhados a voltar para seus países de origem. A universidade já perdeu certa de 50 pessoas entre estudantes, funcionários e pesquisadores. Um número ainda desconhecido encontra-se como refém nas mãos dos terroristas do Hamas. Dentre as perdas já confirmadas estão o físico teórico Sergey Gredeskul e sua esposa, a matemática Viktoria Gredeskul, mortos na primeira ofensiva contra Israel.

Outra perda ocorre quando pesquisadores são convocados para servir o exército para realizar a contraofensiva. De acordo com o pesquisador Yuval Dor, da Universidade Hebraica de Jerusalém, cinco dos 20 membros do seu laboratório foram convocados para servir o exército, o que resultou na paralisação de pesquisas na área de Diabetes e outras doenças metabólicas.

A guerra traz o terror para a população em geral. Os prejuízos são imensuráveis. Passemos a refletir melhor sobre o terror de viver em regiões nas quais não há nenhuma certeza sobre o dia de amanhã. A vida nestes locais tem outro significado.

Boa semana para todos e todas.

 

Sitio Paleobotânico de Altos: uma riqueza ameaçada

  • fossil21.jpeg Francisco Soares Santos Filho
  • fossil13.jpeg Francisco Soares Santos Filho
  • fossil2.jpeg Francisco Soares Santos Filho
  • fossil1.jpeg Francisco Soares Santos Filho

No dia 08 de outubro de 2023, por iniciativa de alguns colegas do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), foi organizada uma excursão exploratória à Floresta Petrificada existente no município de Altos, Piauí. A missão foi organizada pela Profª Drª Gardênia Batista, especialista em algas da UESPI, que montou equipe formada pelo Prof. Henrique Moita (geólogo), Prof. Paulo Lopes (biólogo) e por mim, Prof. Francisco Soares (botânico). Ao chegarmos em local combinado nos encontramos com a Profª Joira Fernandes (professora de Biologia e ex-aluna da UESPI), Prof. Ivan Azevedo (professor de História), Prof. Rubem Félix (professor de História) e a Profª Natiele Cruz (professora de Língua Portuguesa, acadêmica de Arqueologia da UFPI).

A ideia inicial era conhecer este local, cujas primeiras informações científicas foram trazidas na década de 1990 pelo Prof. Henrique Moita, que na época publicou resumos em eventos científicos e até um artigo na Revista do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), o que deu ampla repercussão na imprensa local, com a publicação de fotos dos fósseis e a narrativa da equipe liderada pelo geólogo da UESPI.

Chegamos ao ponto do assentamento do INCRA no qual o sítio paleontológico encontra-se inserido, deixamos os veículos e seguimos a pé até chegar nas proximidades dos fósseis, numa caminhada de uns 15 minutos. Visualizamos e registramos com fotografias alguns dos fósseis, um pouco diferentes dos encontrados na Floresta Fóssil do Rio Poty, em Teresina e que já tive a oportunidade de escrever sobre ela algumas vezes. Se quiser rever os textos que escrevi bem no início do Ciência Viva sobrea Floresta Fóssil de Teresina, às margens do Rio Poty, clique aqui, aqui e aqui.

Na área são encontrados um conjunto de quase 70 fósseis de troncos de árvores que viveram na região há pelo menos 280 milhões de anos antes do presente. De acordo com estudos anteriores, a área pertence à formação geológica Pedra de Fogo, uma formação com idade entre os períodos Permiano e o Carbonífero, da Era Paleozóica, ou seja, bem antes da passagem dos dinossauros pela Terra. Na área são registrados exemplares in situ (expressão usada para identificar que ali surgiram e ali permanecem até hoje, para contrastar com a expressão ex situ, que se refere a uma peça que estava em um local e foi removida para um museu, por exemplo), rolados e em posição de vida dos gêneros Psaronius, Artropitys, Amyelon e Cycadoxylon. Seriam plantas de grupos que ainda existem nos dias atuais como as plantas Gimnospermas (grupo dos pinheiros, Cycas e ciprestes) e grupos que já desapareceram como intermediários entre os pinheiros e samambaias (pteridospermófitas), que desapareceram no fim da Era Paleozóica.

Necessidade de conservação

O sítio atualmente padece do básico: proteção. Fica situado dentro de um assentamento do INCRA, órgão do Governo Federal. Mas poderia ser protegido, ambientalmente por qualquer esfera (federal, estadual ou municipal). Poderia se transformar em um Parque ou, numa hipótese de pouca proteção, mas pelo menos, alguma proteção, virar uma Área de Proteção Ambiental. Durante a visita vimos o movimento para construção de uma estrada que corta a área. Segundo relatos das pessoas que nos acompanhavam nenhum estudo ou encaminhamento ambiental foi feito. Um dos nossos guias mostrou um fóssil que fora removido pela máquina que abria a estrada.

Pesa sobre esta situação a ação de quem está construindo a estrada, por fazê-lo sem o devido zelo, bem como de órgãos de fiscalização como Secretaria de Meio Ambiente, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e o Ministério Público, responsável por fiscalizar a lei.

Boa semana para todos e todas.

 

Posts anteriores