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Evangélicos condenam uso de pílula do dia seguinte por vítima de estupro

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Os evangélicos do Piauí não concordam com o Projeto de Lei 03/2013, que será sancionado pela presidente Dilma Rousseff nesta quinta (1º) e prevê que o tratamento de mulheres vítimas da violência seja multidisciplinar e obrigatório nos hospitais que atendem pelo SUS. O ponto mais polêmico trata da "profilaxia da gravidez" com o uso de pílula do dia seguinte. 

Evelin Santos/Cidadeverde.com

Em debate no Jornal do Piauí desta quarta (30), o pastor Fabrício Fonseca explicou que a lei abre margem para questões mais abrangentes, como a possibilidade de realização de aborto. Para o pastor, o uso da pílula do dia seguinte não previne a gravidez se a mulher já está grávida. 


Já o médico ginecologista Maurício Nogueira explica que a pílula do dia seguinte não é abortiva, já que a pílula deve ser ministrada num período de até cinco dias após o ato sexual, antes que o feto seja formado. 

"Se a mulher engravidou, a pílula não tem efeito. Ela pode causar algum dano ao embrião mas ela não vai abortar. Só consideramos aborto no momento em que o embrião na fase de mastócitos penetre o endométrio, se fixe e vá se desenvolver. A pílula vai impedir o embrião de migrar. Eles [evangélicos e católicos] acham que no momento em que fecundou já é uma pessoa. Profilaxia é prevenir a gravidez. Se a mulher procura assistência de saúde, a maioria nem sabe que tem, a paciente vai aceitar se ela quiser a pílula. Pior é não ir. A maioria das mulheres que são estupradas ficam altamente traumatizadas, elas nem procuram um médico, uma delegacia, um advogado. Quando ela procura cada um vai dar sua orientação dentro de sua área", explica.


O pastor também não aceita o argumento de que a mulher tem o direito de escolher sobre as consequências do estupro em seu corpo. "Ela é dona do seu corpo mas ela não é dona do feto. Cientificamente, ele [o feto] é extra, é uma nova pessoa. É muito subjetivo porque o médico tem margem para fazer outras coisas. Como por exemplo uma jovem que tem uma relação com o namorado e engravida, ela pode ir ao médico dizer que não foi uma relação consentida e o médico pode entender que pode fazer o aborto", acredita.

A membro da União das Mulheres do Piauí, Norma Suely Guimarães, nega que o médico possa fazer esse tipo de procedimento. Ela assegura que a equipe multidisciplinar tem condições de avaliar se a mulher sofreu realmente o estupro e a violência sexual para poder ministrar o tratamento de forma adequada.


"A mulher que passa por estupro tem que passar por profilaxia para evitar HIV, DSTs e gravidez. A presidente Dilma vai sancionar. Historicamente, todos mandam no corpo da mulher, menos nós. A Igreja, o Estado e a medicina. Foi o movimento de mulheres que conseguiu conquistar esse direito. Uma coisa é a mulher vítima do estupro e não dá para conceber que ela precise aceitar as consequências disso. Tem uma equipe multidisciplinar para avaliar o caso dela. Não é ela chegar e dizer que foi vítima de estupro e pedir a pílula. A pílula não vai ser distribuída para todo mundo. Não somos a favor do uso indiscriminado. Tem que ter um procedimento legal", declarou.

Leilane Nunes

 
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