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Como destruir a pesquisa em Biodiversidade de um só golpe...

Biodiversidade é conjunto de todos os seres vivos de uma determinada área geográfica. A biodiversidade da Terra ainda não é plenamente conhecida e muitos dos seres vivos são extintos antes de serem conhecidos pela ciência.

É sabido no mundo inteiro que o Brasil é o detentor da maior diversidade biológica do planeta. Só para se ter uma ideia no Brasil são conhecidas cerca de 55 mil espécies de plantas, o que corresponde a aproximadamente 22% das plantas que ocorrem no mundo inteiro (total de 250 mil espécies). Mas não somos somente os maiores no Reino Vegetal: temos mais de 82 mil espécies de insetos, quase duas mil espécies de aves, mais de 700 espécies de mamíferos, quase cinco mil espécies de peixes e por aí vai. De acordo com os cálculos dos especialistas, detemos 9% das espécies de animais do mundo inteiro, ou seja, de cada 10 espécies de animais encontrados na Terra uma é brasileira.

Estudar a biodiversidade não é simples. Muitas das espécies vivem restritas em áreas de preservação conservadas porque antes viviam em áreas que deram lugar a projetos de exploração voltados para agricultura, pecuária, mineração ou produção de energia, especialmente hidrelétricas. Para estuda-las são necessárias verdadeiras odisseias dos pesquisadores em campo. Depois trazê-las para laboratórios ou para levá-las para laboratórios ou universidades mundo a fora em busca da identificação e do conhecimento associado a aplicações como estudo de fármacos associados ou outros compostos de importância, por exemplo. Mas continuar com estes estudos está cada vez mais difícil.

O Governo Brasileiro, sob a égide de uma crise econômica mais movida por um sem fim de erros nas aplicações de recursos financeiros, tem imposto cortes sobre cortes das verbas aplicadas em pesquisa. Como se não bastasse o encolhimento dos já parcos recursos investidos na pesquisa científica, cortes maciços em bolsas de estudo, congeladas desde 2013. Para se ter uma ideia paga-se 1500 reais para um estudante de Mestrado e 2200 para um estudante de Doutorado. Como se isso não bastasse um novo golpe: aumento estrondoso da burocracia para quem estuda biodiversidade.

Parece pouco, mas cito um exemplo simples: o meu próprio! Sou um pesquisador considerado mediano: por não ser pesquisador profissional (sou mais professor do que pesquisador) me envolvi em cerca de 20 a 30 projetos nos últimos 20 anos. Trabalho com diversidade de plantas. Minha produção acadêmica não é tão grande porque tenho menos de 10 anos de Doutorado e apenas há uns quatro anos passei a atuar em Mestrados e Doutorados, onde as pesquisas são mais intensas. Pois bem: de acordo com a Lei Federal Nº 13.123/2015 combinada com o Decreto nº 8.772/2016 que a regulamentou, a fim de que eu não receba uma multa pelas minhas pesquisas do ano 2000 para cá, terão que ser registradas até 05 de novembro de 2018 no Sistema Nacional de Gestão de Recursos Genéticos e Conhecimento Tradicional Associado (SisGen). Ou registro tudo ou serei multado em até R$ 10 milhões!

Assim: como se não bastasse a falta de recursos, o cancelamento de pesquisas pelas limitações financeiras que vivemos, especialmente aqui na região Nordeste onde não conseguimos competir em pé de igualdade com colegas do eixo Sul-Sudeste, teremos que parar tudo para colocar todos os registros, de todas as plantas que coletamos num sistema que, em tese, foi criado para controlar a biopirataria. O detalhe mais tosco é o seguinte: nenhum pesquisador estrangeiro está obrigado a fazê-lo! Tudo em nome da ciência...

Quer saber mais? Dá uma lida neste artigo da Science, desta semana: http://science.sciencemag.org/content/360/6391/865.1?utm_campaign=toc_sci-mag_2018-05-24&et_rid=40167178&et_cid=2072632&sso=1&sso_redirect_count=1&oauth-code=a2b59676-2da9-4f40-8034-48a9b1fb3a42

Animador não?!?

Viva o Brasil! Antes que se morra...

 

 

 

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