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Coluna 24/06/24

Rafael e Lula no Piauí: a mochila, o despacho e os planos; bastidores

A colunista tem uma formaçãozinha em Análise de Discursos. Calma, isso não está sendo falado para dar nenhum tipo de carteirada, não. É que, por gostar de analisar símbolos e seus significados adjacentes, a coluna cravou o olho na foto do governador Rafael Fonteles ao lado do presidente Lula, descendo do avião no aeroporto de Teresina e ficou sem entender o que aquela mochila estava fazendo nas costas de Rafael na última sexta, 21. Um secretário estadual respondeu, questionado pela coluna: “Ah, é que o Rafael jantou com o Lula no dia anterior em Fortaleza (CE) e veio no outro dia no avião sem ajudante de ordens nem nada. Foi a mochila que ele levou com as coisas dele e não tinha pra quem entregar”.

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Os Mochilaboys

“Todos eles (secretários e nomes mais próximos de Rafael do tempo de escola, os Rafaboys) usam mochila. É uma característica deles”, pontuou um vereador à coluna, sobre o mesmo fato observado por ele. A mochila é um símbolo. Assim como o café remete à produtividade e os óculos à alguma sabedoria. A mochila significa (sem precisar dizer): ser autônomo, independente e livre (você leva suas coisas, não depende de ninguém). É também sobre ser um eterno aprendiz. Tem seus significados, conscientes ou não. Lula, maduro e de cabelos brancos, com o jovem governador de mochila ao seu lado. Mas, foi só coincidência mesmo...

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Foi bom pra gravar e tirar foto

Bom, tirando detalhes como esse, qual o saldo da presença de Lula no Piauí? É sempre melhor olhar os fatos com o filtro do distanciamento temporal. Três dias depois, um político com farta experiência (ele é petista), resumiu: “Não foi uma presença genuína de campanha política, mas serviu para tirar fotos e gravar algum material, sem falar que foram dois dias completos de mídia. Fábio  (Novo) e vários candidatos do interior souberam colar na imagem de Lula, que deverá vir ao Piauí mais uma vez na campanha”, destacou o interlocutor privilegiado. No registro abaixo, com o deputado Pablo Santos, do MDB, que disputa a prefeitura de Picos.


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Aqui pelo menos tem chance

Teresina e Fortaleza são as duas capitais onde o PT terá mais possibilidades de ganhar. O cenário não é dos melhores para o PT nas outras capitais. A turma da estrela ficou mesmo animada. Um outro petista, esse mais jovem, pontuou dessa forma: “O PT nacional está confiante e vai ajudar mesmo com a campanha!”.

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40 min de cara com Lula

No Piauí, fontes do alto escalão dão conta de que Rafael Fonteles teve um despacho privilegiado de 40 minutos, frente a frente com o presidente. “Nesse dia, de uma vez por todas, Lula comprou a ideia do Piauí”, enfatizou um político da esfera decisória. E o que isso significa na prática? Um exemplo pode ser visto quando presidente brincou (pela segunda vez com o mesmo mote) de “estar preocupado quando Rafael for pra Brasília concentrar todas as atenções”. Dessa vez, com outra abordagem, falou que o governador não o chamou “nem pra comer um capote” e que iria antecipar a ida para Brasília antes que Fonteles chegasse lá. 

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Aproximação

A colunista não tinha nenhum informante... ops, abelhinha, participando desses 40 minutos de despacho a portas fechadas. Portanto, fiquemos com as projeções. É percepção unânime no mundinho da política (planeta onde a colunista e os leitores vivem) que a gestão Fonteles mira alto. Traça projetos com relevo nacional que, se concretizados, podem alçar o governador e sua equipe, à vitrine de um tipo de gestão do PT mais afeita ao desenvolvimentismo tecnológico. Parece ser a meta colateral. A relação de Lula com o ex-governador e ministro Wellington Dias é antiga, dos idos de fundação do PT. A de Rafael está sendo construída e reforçada agora, no primeiro governo conjunto de ambos. Tudo conta.

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Não chamem para andar junto I

O leitor quer briga? Se quiser, pode chamar para um café bem forte dois secretários municipais da capital. A coluna ouviu – não foi ninguém que veio contar não – de um deles: “Rapaz, o Y (secretário de uma pasta importante) se acha. Ali é um tocador de fogo profissional. Vive de fazer inferno. Só aturo por causa do Z (um pré-candidato a vereador competitivo), se não já tinha mandado pra xxx (censurado)”. Ih, gente...

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Não chamem para andar junto II

Em outro time, também há os seus desentendimentos internos. Um jovem pré-candidato a vereador de um grupo político que disputa Teresina não anda em nenhum evento político em que o pré-candidato a vice esteja presente. Motivo: desceu quadrada a adesão até hoje. A coluna não aposta e tem verdadeira aversão ao ato, mas a turma do balcão de apostas diz que o vereador não quer nem cogitar em ter sua imagem agregada a do político. Complicado... 

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Se conselho fosse bom

O mundo real é assim: faladores (maioria), fazedores (minoria). Os covardes (o pior tipo de ameba a andar ereta) anseiam por uma vida mole. Geralmente são pessoas famintas por atenção, que não tiveram validação na infância e estão dispostas a sacrificar qualquer senso de propósito para ter uma migalha de atenção. Os corajosos vão atrás da dificuldade. Eles sabem que esse é um pré-requisito para crescer. Têm uma ideia clara de quem são e fazem esforços diários nesse sentido. É seu principal dever na vida correr riscos e arcar com a possibilidade de sofrer. Agora, prepare-se. Arriscar-se sem saber jogar é semelhante a jogar-se voluntariamente de um precipício. A vida não é um filme da Disney.

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Cifrada da Bola Mais do Que Fora 

A coluna é uma verdadeira entusiasta da inclusão e contra qualquer tipo de discriminação. Dito isso, vamos às informações. Um político altamente experiente deu uma bola fora dia desses no evento de um forte pré-candidato a prefeito. Quando um apoiador da população LGBTQIA+ subiu no palco, o político se virou para o pré-candidato e falou, acreditando que estava elogiando: “Ele é assim, mas é gente boa demais!”. Um leitor da coluna estava no palco e ouviu tudo, incrédulo. Foi tudo muito rápido, mas o suficiente para um outro político alertar o autor da colocação: “Chefe, cuidado!”. A turma não aprende mesmo...

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Foto do dia

A região de Picos tem quase mil advogados inscritos na OAB-PI. Não por acaso, Beto Simonetti, presidente da OAB Nacional, desembarcou na cidade no sábado à tarde. A sua ida ao estado pelo segundo ano consecutivo é reflexo da proximidade com o presidente da OAB-PI, Celso Neto. Na recepção no aeroporto, convidados restritos. E ali, apenas um pré-candidato à presidência posou ao lado de Simonetti e Barros, o advogado Einstein Sepúlveda. Simonetti inaugurou um prédio da subseção de Picos, que recebeu recursos do Conselho Federal e faz parte do projeto de interiorização, mais Brasil e menos Brasília. Curiosamente, em frente à sede, havia um restaurante chamado “Rala bucho”, gíria para referir-se à advocacia de balcão, termo muito utilizado pelo principal opositor da gestão, o advogado Raimundo Júnior. Sinais de uma campanha acirrada chegando?


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A frase para pensar

"Pense em quão estúpida é a pessoa média... Então perceba que metade da população é mais burra do que isso", Georges Carlin (1937-2008), humorista norte-americano, ganhador de cinco Grammys.

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A música da semana

A dupla australiana Royel Otis fez um cover icônico (um não, “o” cover) da música “Linger”, imortalizada pela banda “The Cranberries”, na voz da inconfundível Dolores O'Riordan. A música voa pela voz doce do vocalista, com apenas numa guitarra no acompanhamento. A faixa deve ter sido ouvida mil vezes pela colunista no último mês (numa estimativa baixa). É a prova de que simplicidade e essência vencem sob qualquer antônimo de suntuosidade e alarde. “Linger”resistiu ao teste do tempo. Ouça sem moderação. 

 

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