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Coluna 12/08/24

O mapa e a estratégia do grupo de Rafael Fonteles para a eleição nos 224 municípios do Piauí

Com pesquisas, algoritmos e uma dose de intuição, é possível fazer se não mágica, pelo menos política. É assim que as cabeças pensantes no entorno do governador Rafael Fonteles (PT) estão organizando as estratégias para a eleição municipal de 2024, que como todo mundo sabe, é uma prévia para 2026. A coluna divide com o leitor as apurações advindas não de vozes da cabeça da humilde colunista, mas sim de interlocutores que sabem do que estão falando. A única missão dessa cronista é aproximar o leitor da realidade do poder. Vamos a ela. 

Para os rafaelistas, o Piauí é dividido eleitoralmente em quatro grandes grupos de cidades, acopladas por variáveis semelhantes. A cada grupo, um discurso distinto do governador é calibrado para se ajustar aos problemas enfrentados pela população. Isso é ciência (política):

GRUPO A  G5 (cinco maiores cidades)  – Teresina, com problemas clássicos como saúde, educação e violência urbana. Há três a quatro grupos políticos disputando protagonismo, sendo que cada grupo representa um deputado estadual ou federal. Em geral, todos os partidos relevantes e todos os grupos com poder participam da eleição na capital e levam seu naco de poder, voz e voto. O G5 inclui Parnaíba, Floriano, Piripiri e Picos. Problemas semelhantes ao da capital, com um viés particular.

GRUPO B- G15-  Tem de dois a três grupos candidatos a prefeito ligados a deputados federais e estaduais disputando espaço. Em média de cinco a oito parlamentares envolvidos.

GRUPO C - G48  – Pelo menos 80 cidades entre 8 e 20 mil eleitores. Asfalto é o principal problema. Disputa se dá em um contra um: dois grupos políticos adversários (às vezes vindos da mesma base, concorrem pela vitória).

GRUPO D - G160  – Cidades com menos de 8 mil eleitores. O maior problema dessas cidades são abastecimento de água e calçamento. Disputa eleitoral também se dá no um contra um.

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Lógica da distribuição de poder

A ótica da divisão acima é a distribuição de poder nas diversas regiões do estado. Uma crítica é feita ao time do adversário, o senador Ciro Nogueira (Progressistas): “Eles vendem ter muitos prefeitos, mas nem todo prefeito materializa em votos”, relatou uma fonte por dentro da sala de decisões. Um exemplo: um vereador de Teresina bem votado, pode alcançar os 5 mil votos. Isso é muito mais do que muitos prefeitos piauienses conseguem. Mesmo assim, um vereador da capital tem menos força que um prefeito de uma pequena cidade. Motivo: “A força de um prefeito está na capacidade de executar orçamento. Isso é o poder”. 

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Vamos botar força ou tirar o pé?

O leitor está acompanhando? Pois bem, tudo isso serve para indicar onde a turma do Governo vai gastar energia (discurso, presença, estrutura, etc). Um ponto ilustrativo do eixo organizacional dos conflitos políticos: em São Raimundo Nonato, pouquíssima energia será gasta. Lá é uma eleição dura dos grupos do deputado estadual Hélio Isaías (PT) versus o senador Marcelo Castro (MDB). “Dois nomes da base, que vão entrar com força total, aí o Governo não entra. Já em Parnaíba , entra, porque somos oposição”, ponderou o interlocutor da coluna, em reserva. Captaram?

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O G5 sob nova ótica

Os cinco maiores municípios do Piauí são chamados internamente na cúpula governista como G5: Teresina, Picos, Parnaíba, Floriano e Piripiri. São cinco eleições diferentes: em Teresina eles leem que há dois candidatos competitivos de oposição (Fábio Novo e Sílvio Mendes) e um prefeito com baixa avaliação (Dr.Pessoa). Em Parnaíba, o prefeito Mão Santa é bem avaliado, mas é uma campanha de sucessão, portanto, o Governo estadual é oposição. 

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Picos, Piripiri e Floriano, especificamente

Picos é uma campanha de reeleição com um prefeito com baixa avaliação popular. Em Piripiri, a campanha é de reeleição, com a candidata do Govermo, Jôve Oliveira, na situação. Floriano é o oposto de Picos: campanha de reeleição de um prefeito bem avaliado (Antônio Reis, do PSD), portanto, o candidato governista é oposição (Marcos Kalume). Fato da Ciência Política: gestores buscando a reeleição raramente são derrotados. Raramente. Portanto, campanha de reeleição e de oposição pedem posturas distintas, sendo a aprovação do prefeito a principal variável para definir a posição.

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Ele é o cara 

Na seara do discurso (que é a área que a colunista entende um pouco, mas bem pouco), tudo gira em torno da popularidade do governador Rafael Fonteles e sua capacidade de transferi-la para seus apoiados. Não existe transferência de votos automática, afinal, se fosse assim, o presidente Lula teria eleito Fernando Haddad em 2018 (o eleito foi Bolsonaro). Mas é um caminho de terra já batida a se percorrer. 

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Governo entra mas governador não e vice-versa

Em Teresina, o Governo entrou claramente na campanha (com o Prourbe e o Opa, programas estaduais de regularização fundiária e orçamento participativo). O governador Rafael Fonteles entrou na campanha? Não. Ainda não. Entrará? Sim. Quando? Meados de agosto. Mesma situação em Parnaíba. Em Picos, o contrário, vê-se mais a presença do governador do que a do Governo em si. Por limitação de espaço (já estamos chegando nas cinco laudas e contando...), a coluna irá aprofundar o tema nas demais edições.

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Por um fio

Um grupo de pré-candidatos a vereador do Avante em Teresina mandou o registro para a coluna de uma reunião peculiar. Motivo do encontro: “barrar o nome de Ricardo Bandeira como vice de Dr.Pessoa”. Segundo um dos participantes da reunião, “a indicação do Ricardo Bandeira fortalece o Sérgio (Bandeira, filho de Ricardo). E alguns têm privilégios na chapa, os chamados babões do presidente Michel (Saldanha)”. Ih, gente... Os revoltosos alegam que só permanecem na chapa de vereador “pelo grande cidadão James Guerra”. Como se sabe, James Guerra é cotadíssimo para ser eleito no Avante. Mas antes, é preciso ter chapa...

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Senta que lá vem história

Konrad Adenauer foi o chanceler da frágil democracia alemã após a II Guerra Mundial. Seu lema era “Nenhum experimento”, afinal, o povo alemão queria tocar a vida sem atropelos após o trauma vivido com Hitler. Era um formidável operador político e ia na onda da opinião pública, raramente contra. Altamente disciplinado, transmitia autoridade instintivamente. Era um realista político, um patriota que queria a unificação da Alemanha acima de tudo. 

Tinha 73 anos quando se tornou o primeiro chanceler da República Federal da Alemanha e renunciou aos 87 anos, com renome internacional. Na posse, disse o seguinte: “Meu médico me disse que eu seria capaz de exercer esse cargo por pelo menos um ano, talvez dois”. Ficou 14 anos. 

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Para ler, ver e ouvir

A coluna tem gostos muito, muito peculiares: não assiste comédia nem desenho animado, mas gosta de romance (risos), é obcecada pela II Guerra Mundial e por qualquer coisa que trate de exploração espacial. Suspenses não estão incluídos na lista, mas a coluna também gosta de quebrar algumas regras, por que não? Nos cinemas, “Um lugar silencioso: dia um”, conta a história de uma invasão alienígena na Terra. Os invasores são atraídos pelo barulho, então imagine as consequências dos ataques na barulhenta Nova York. Lá, a magistral Lupita Nyong'o é uma paciente em câncer terminal que tenta fazer uma jornada de despedida. O que faz a vida valer a pena? Como a coragem, o afeto e o cuidado podem inspirar outras pessoas? Entrelinhas que vão além dos sustos e ficam depois que sobe a tela com os créditos do filme. 

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Cifrada do Preço a Pagar

Um grupo que tenta reagir às intempéries da vida política, está fazendo uma jogada que, se der certo, pode render um fôlego extra numa disputa que se avizinha. O problema é que não se faz nada sozinho. Tentando atrair um aliado que já foi importante no passado, há um preço a pagar. É um milhão e quinhentos mil problemas para resolver e tem muita gente que acha que não vale tudo isso. O relógio corre!

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Se conselho fosse bom

Os perfeccionistas são pessoas lentas e infelizes, que nunca terminam o trabalho. Há sempre um mínimo detalhe que as prende numa teia sem fim de reflexões. No final das contas, não saem do lugar porque o ideal que projetam nas suas cabeças é inalcançável. É difícil escolher quem é o pior: os passivo-agressivos, seres humanos covardes, que atacam e se fazem de vítimas ao mesmo tempo, ou os perfeccionistas, que no fundo não passam de pessoas sem autoconfiança. Quem microgerencia coisas irrelevantes perde um tempo precioso, que poderia ser aplicado iniciando os projetos e melhorando eles depois. 

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Foto do dia

O deputado Hélio Rodrigues, ex-prefeito de Hugo Napoleão, em registro para a coluna com o vereador da capital, Venâncio Cardoso (PT). A coluna questionou o deputado sobre os significados ocultos da imagem. Ele respondeu: “Aqui não tem separação”. Como assim? É que a coluna disse que o vereador Venâncio Cardoso é cotado para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2026. Mas (sempre tem um “mas”), Venâncio, que herda os votos da mãe, a ex-deputada e conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI), Flora Izabel, apoiou Hélio em 2022 e deve seguir no apoio. Logo, a coluna que é fã de lógica, conclui: então Venâncio assume a presidência da Câmara de Teresina em 26 e tenta subir para a Alepi só em 2030? (Claro, sendo eleito agora em 24). Faz sentido, leitor?

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A frase para pensar

“Nem me lembro de ter sido atingido”, Catão, o Jovem (95 a.C a 46 a.C), político romano estoico, ao se recusar a aceitar um pedido de desculpas de um ofensor. 

 

 

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