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Coluna 20 e 21/06/24

Guerra de narrativas: o que Fábio fará para bater Sílvio e vice-versa?

Profecia é dizer o que vai acontecer com base em uma inspiração sobrenatural. Previsão é a capacidade de antecipar determinados acontecimentos, prevendo acertadamente. É possível prever quando se está próximo dos tomadores de decisão e se tem um acumulado de informações que permitem intuir cenários futuros. As profecias, devem ficar com os deuses. Nós, a colunista e o leitor, vamos ficar com as previsões baseadas nos fatos. O que os pré-candidatos do PT, Fábio Novo, e do União Brasil, Sílvio Mendes, farão agora que o “pré” vai dar lugar à campanha pra valer? Vejamos.

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A gente sabe que ele subiu

“Vamos lá: sabe o que você disse na sua coluna sobre o risco do Sílvio não perceber que o Fábio subiu? Percebemos, claro! Não há inocente nesse jogo. Era óbvio que ele subiria. Não subiu tanto quanto estão dizendo, mas subiu sim”, admitiu um interlocutor com lugar privilegiado na mesa de decisões do lado silvista da história. É a tal da guerra de pesquisas e etc, que o leitor está careca de saber. Tudo bem, Fábio subiu, e agora?

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Eles não sabem que é o Fábio. Vamos dizer

“Mas tem um detalhe importante em algumas pesquisas internas: parte das pessoas que dizem votar no Fábio Novo, dizem não conhecer muito bem o Fábio. Pois vamos então apresentar quem é o Fábio Novo”, argumentou a fonte. E qual história será contada pela oposição sobre o petista? Sem mistério (e sem profecia), a coluna antecipa. 

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Ele é que é a velha política

“Sabe onde estava o Fábio Novo em 2005? Vice-prefeito de Bom Jesus. E o SM (Sílvio Mendes)? Prefeito de Teresina. De ‘novo’ o Fábio só tem o sobrenome”, elencou o silvista sobre a estratégia discursiva do lado de lá. Ou seja, a oposição deve apresentar Novo como um “típico integrante da velha política”. Hum, vai colar? “Vamos traçar uma linha bem interessante pra todo mundo ver: quem realmente trabalhou e trabalha por Teresina? Essa será uma campanha de dinheiro versus sentimento”. Esse é o mote. E do lado de Fábio?.

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Fábio é frente ampla

Pode parecer trivial (mas não é). Nos discursos em agendas sequenciais com volume de gente que deixa claro que não falta estrutura de campanha, os aliados do PT quase não falam... do PT. “Falamos de junção por Teresina, ninguém lembra que é o PT”, resumiu à coluna um político que não costumava votar com os petistas até bem recentemente. A campanha de Fábio Novo, portanto, é sobre frente ampla e não sobre direita e esquerda.

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Quando o Rafael vai entrar?

“Essa vinda do Lula à Teresina é importante demais para gerar material de campanha”, frisou um vereador aliado a Fábio. Ok, Lula é super importante, mas tem alguém que é mais quando se trata do eleitorado da capital. Quem seria? “Rafael (Fonteles) só está 30% na campanha do Fábio. Os outros 70% (de envolvimento do governador) só deve acontecer de 20 de julho a 06 de outubro. O homem é matemático”, completou a fonte, sobre o gás que o governador deve dar à campanha de Novo.

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Passado ou Futuro

Resumindo, a base aliada a Rafael Fonteles vai mostrar um “mar de gente”, crescimento, força, transferir votos de Rafael para Fábio, demarcar Novo como “futuro” e Sílvio como “passado”. Falando nisso, Sílvio tem falado cada vez menos do que fez no passado. Nos discursos, a orientação parece ter sido absorvida pelo ex-prefeito: citar cada vez mais o que fará por Teresina, não aceitar ser posicionado como “passado”. É uma guerra. A guerra de narrativas. 

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Narrativas: como fazer

Ideias provocam mudanças. Por isso, controlar a narrativa e ter contranarrativas para se defender é crucial para quem vive de política. Quem se envolve num debate público, não tem como meta persuadir o oponente a mudar de ideia. Isso não vai acontecer. A meta é convencer o público de que seu lado está certo e que seu oponente está errado. 

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Não tem nada a ver com fake news

Num mundo de volatilidade e excesso de informação, quem sabe simplificar e contar as melhores histórias, ganha. Atenção: isso não tem nada a ver com inventar fatos, criar fake news. Trata-se de quem organiza melhor as informações reais em um fio de passado, presente e futuro. No fundo, só importa se a narrativa política cativa as pessoas e capta o desejo delas – mesmo aqueles inconfessáveis publicamente (como nos EUA, quando Donald Trump captou a insatisfação de muitos norte-americanos com os imigrantes).

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Vou contar o meu lado

A narrativa é o produto de um ponto de vista e como toda história, deve ter: 1) os solucionadores de problemas, 2) os criadores do problema e 3) as vítimas. No final, tudo se resolve com 4) uma boa moral da história, que é uma solução política. Numa eleição, a narrativa não tem que engajar. Ela precisa ter aderência, “pegar”. Sai na frente quem solta as histórias primeiro, é verdade, porque obriga o outro a reagir. Mas quem reage bem, também leva.

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Para ler, ver e ouvir

A coluna acha que é muito triste a vida de quem não gosta de política. Como não reservar seis horas na semana para ouvir os episódios em que o jornalista Carlos Alberto Sardenberg revisita os bastidores do Plano Real? “Plano Real – Histórias não contadas” (produção da CBN) conversa com os idealizadores, os economistas Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan, Pérsio Arida e Gustavo Loyola. Como, depois de sucessivos e fracassados planos para estabilizar a moeda brasileira, surgiu o Real – e com ele, a força política do então ministro da Fazenda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso? FHC, como se sabe, virou presidente duas vezes e o resto é história. 

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Se conselho fosse bom

Você é uma pessoa bacana e educada. Todos lhe respeitam porque 99% do tempo você é gentil e levemente despreocupado, sem aquela energia incessante de “busca”, apego e reatividade. Sua gentileza é apreciada, mas cuide para não deixar os outros a confundirem com fraqueza. Em 1% das vezes, quando necessário, aqueles ao seu redor devem saber que você é alguém que se sente confortável em entrar num conflito. Entrar numa briga com você deve ter um custo – e ele não pode ser barato. 

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Cifrada da Disputa no Reino do Sul

Um reino ao Sul de uma região em disputa, tem visto escalar a tensão entre um Rei Maduro e um Príncipe em Ascensão. Informantes do reino dão conta de um duro acerto de contas verbal entre os dois nobres. Quando questionados, no entanto, ambos negam que tenha tido dedo na cara e recados afiados. O Príncipe estaria em busca das lideranças, ops, cavaleiros, do antigo aliado, pois já conhece o caminho das pedras? A oferta pelo dobro é suficiente ou o jovem ainda precisa comer muito feijão com arroz para alcançar o ex-mentor? Vencer na região é questão de honra para um determinado grupo?

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Foto do dia

Paradoxalmente, o Nordeste é a região que Lula melhor se sai eleitoralmente, assim como é aquela em que enfrenta desafios substanciais. Em visita nessa sexta-feira ao Piauí, o petista vem de um périplo pelo Ceará e ainda passará pelo Maranhão. Não é por acaso, afinal, Lula é um “mito” na região. Isso está longe de significar vitória fácil nas capitais, locais onde os partidos tradicionais do Centrão, ligados ao bolsonarismo ou em rachas da esquerda (como o PSB), dividem o eleitorado. É a eleição de prefeitos que consolidará a base para a vitória de deputados federais e senadores em 2026. Ser fiel ao lulismo não significa ser fiel ao petismo, está bem claro. Nesse palco, o PT vem acumulando derrotas. É ganhar ou morrer. 

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A frase para pensar

“O homem tem tudo em suas mãos, e tudo escapa por entre seus dedos por pura covardia”, Fiódor Dostoiévski (1821-1881), escritor russo.

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