O ano de 2010 foi fértil na
produção cultural. No Brasil e também fora dele, muito se produziu em termos de
temática LGBT, e muita coisa boa saiu do forno. Vamos relembrar os maiores
destaques em cada área.
Artes
A exposição "Andy Warhol,
Mr. América", na Estação Pinacoteca, em SP, foi um show de talento.
Bastante completa e eclética, reuniu diversas fases, suportes e mídias
utilizadas pelo pai da Pop Art ao longo de sua carreira. A força de Andy Warhol
(1928-1987), para quem ainda não sabia, ficou ainda mais evidente.
A mostra "Selected
Works" reuniu trabalhos históricos do artista plástico norte-americano
Keith Haring (1958-1990), marcando os 20 anos de sua morte. Obras inesquecíveis
- a maioria com os seus famosos bonequinhos dançantes - puderam ser conferidas
pelo público que passou pela Caixa Cultural, no Conjunto Nacional, em SP.
Cinema
O festival de cinema gay Close
teve sua primeira edição em Porto Alegre, em outubro. Foi um sucesso, reunindo
curtas, médias e longas brasileiros com temática ligada ao universo LGBT. Que o
festival continue se firmando ao longo dos anos.
O filme "Homem no
Banho" (Man at Bath), do cineasta gay francês Christophe Honoré, foi um
dos destaques do ano. Exibido no 18º Festival Mix Brasil, tem como astro o ator
pornô François Sagat, que esteve em São Paulo acompanhando as exibições.
"Man at Bath" é um filme belo, forte, com cenas de nudez e sexo que
são ao mesmo tempo explícitas e bucólicas.
"Dzi Croquettes",
documentário sobre o lendário grupo performático dos anos 70, chegou aos
cinemas e reinou durante meses em cartaz, num sucesso surpreendente - mas, sem
dúvida, merecido. O filme, dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, é uma
obra-prima que imortaliza a história desses artistas pioneiros, transgressores
e malditos.
"Direito de Amar" foi o
título brasileiro para "A Single Man", estreia do estilista Tom Ford
na direção de cinema. Apesar do título terrível - idêntico ao de uma novela da
Globo de 1987 -, o filme é uma pérola de sofisticação e elegância, narrando o drama
de um professor gay e quarentão que fica viúvo quando morre seu namorado.
"Como Esquecer", de
Malu de Martino, trouxe a história de uma professora lésbica (Ana Paula Arósio)
que tenta se recuperar do término de um romance. Sutil, bonito e sintético, o
filme tem uma forte atuação de Arósio, e a coragem de abordar o tema de frente.
Literatura
O livro "A TV no Armário - A
Identidade Gay nos Programas e Telejornais Brasileiros", de Irineu Ramos,
marcou pontos ao apresentar um estudo inédito sobre a presença LGBT em nossa
TV. Com sua obra, o jornalista mostrou o quanto a televisão brasileira ainda
tem de melhorar nas imagens e mensagens retrógradas que transmite sobre o
universo gay.
"Eu", a autobiografia
de Ricky Martin, foi para as lojas com um bônus automático: no livro, o cantor
porto-riquenho entra em detalhes sobre sua homossexualidade, anunciada em junho
de 2010.
Música
Foi um ano repleto de shows, e no
terreno LGBT a coisa foi abundante. Tivemos Beyoncé no Morumbi, Mika e Of
Montreal no Planeta Terra; Scissor Sisters no Via Funchal; Placebo no Credicard
Hall; Air no Festival Natura Nós... Teve para todos os gostos.
Greyson Chance nem estreou em CD,
mas já marcou presença. O menino americano de 12 anos surgiu no YouTube
cantando e tocando ao piano "Paparazzi", de Lady Gaga. Virou
superstar e foi contratado pelo selo musical de Ellen DeGeneres.
Daniel Peixoto, o ex-vocalista da
banda Montage e agora cantor solo, voltou a ser cantarolado na boca dos
fervidos e notívagos, com a música "Eu Só Paro se Cair", uma
homenagem à boemia.
Teatro
O musical "Mamma Mia!",
com repertório da banda pop sueca Abba, foi montado no Brasil em produção
bem-cuidada do Teatro Abril. Boas atuações e uma bela direção musical
conseguiram acender o charme da peça, que é gay até a medula.
TV
A novela "Ti-ti-ti", da
Globo, conseguiu avançar alguns passos ao retratar personagens gays. Ao contar
a história de Julinho ( André Arteche ), que perde o namorado Osmar (Gustavo
Leão) em um acidente de carro, a autora Maria Adelaide Amaral conseguiu elevar
o nível da discussão sobre a homossexualidade, em bons e fortes diálogos entre
Julinho e a família do morto.
Um dos grandes destaques da TV em
2010 acabou sendo uma reprise. Aos 45 minutos do segundo tempo, o canal pago
Viva colocou no ar a novela "Vale Tudo" (1988-89), que virou sucesso
instantâneo. Suas frases e gírias caíram no Twitter, virando trend topics, o
público trintão passou a rever a novela, e o público "vintão" se
apaixonou pela obra que não conhecia. A reprise acabou dando ao Viva o posto de
líder de audiência na TV paga.
E a série "Glee", em
sua segunda temporada, manteve forte o frisson. Episódios com Britney Spears e
Gwyneth Paltrow, homenagens a "Rocky Horror Picture Show", beijos
lésbicos e gays, enfim - tudo foi imperdível.
Fonte: A Capa