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Cientista piauiense participa da criação de nanorobôs

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A tecnologia está avançando a passos largos para tentar contornar problemas que afetam a humanidade. Está em curso uma pesquisa que visa a construção de nanorobôs para o tratamento do câncer e outras aplicações. E o que seria um nanorobô?

Primeiro é importante esclarecer o que é um nanômetro. Nanômetro é o equivalente a um bilionésimo do metro, no sistema métrico decimal. Ao se deparar com a expressão NANO entenda que se trata de uma fração muito pequena (1 / 1.000.000.000). Então quando ouvir a expressão “nanotecnologia” estamos tratando de algo muito pequeno. Um nanorobô seria capaz de corrigir falhas no nível molecular, dado o seu tamanho.

Como é possível construir os nanorobôs? É a pergunta que surge de imediato quando se tem noção do tamanho de algo “nano”. Eu conversei com Pablo Damasceno, cientista piauiense, hoje em um Pós-Doutorado no Departamento de Farmacologia Molecular e Celular da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF) nos Estados Unidos. Ele me explicou que seu projeto, orientado pelo Dr. Shawn Douglas visa a construção de robôs construídos a partir de moléculas conhecidas como o DNA, por exemplo.

“Hoje é possível encomendarmos moléculas de DNA com sequências planejadas, possibilitando a construção artificial de estruturas moleculares complexas. Uma das habilidades desses “nano-robôs” é a de distinguir células cancerígenas de células saudáveis, um passo fundamental para a diminuição dos efeitos colaterais em tratamentos modernos de câncer”, me explicou Pablo por e-mail.

Se a técnica desenvolvida pela equipe da qual faz parte Pablo Damasceno alcançar os objetivos planejados, dentro em breve estarão disponíveis no mercado novas ferramentas para o combate de diferentes tipos de câncer, além de outras aplicações como a organização de nanopartículas que compõem materiais diversificados alterando sua organização molecular. A técnica permite a criação de nanoferramentas usando moléculas de estrutura conhecida, como o DNA.

O piauiense Pablo Damasceno é graduado em Física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), fez doutorado em Física Aplicada pela Universidade de Michigan (EUA) e hoje cumpre estágio Pós-Doutoral na Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA).

Pablo é mais um piauiense a serviço da humanidade.

Por que a RENCA é tão importante para Amazônia?

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Nestes últimos dias o Governo Federal através de um decreto extinguiu a RENCA – Reserva Nacional de Cobre e Associados abrindo a legalização para sua exploração mineral. Depois, pressionado pela opinião pública voltou atrás e suspendeu as atividades de mineração por 120 dias e reafirmou compromissos de exploração com todos os cuidados necessários aos procedimentos de extração mineral. Mas porque é tão preocupante a medida do Governo em favorecer a exploração mineral?

A RENCA é uma reserva mineral rica em cobre, ouro e manganês. Fica entre os estados do Amazonas e Amapá e tem uma área gigantesca, do tamanho do Estado do Espírito Santo. Próximo a ela existem várias unidades de conservação entre Parques Nacionais e Reservas Biológicas. O Governo alega que apenas regularizou problemas que já existem na região, mas na verdade o dano é muito maior.

Relatório recente do Instituto Mamirauá, instituto tutelado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação apontou de 381 espécies recém descobertas de plantas, mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis, entre os anos de 2010 e 2015, na região Amazônica. Muitas destas espécies em áreas próximas ou pertencentes ao território abrangido pela Reserva.

A exploração mineral é uma atividade econômica de suma importância para qualquer nação, cujo solo e subsolo são ricos em importantes matérias primas para indústria e para o consumo. Entretanto, trata-se da mais impactante atividade de exploração de recursos naturais, muitas vezes absolutamente irrecuperáveis e com danos irreversíveis ao ambiente. O acidente de Mariana (MG) que vitimou o rio Doce é um exemplo recente do que uma atividade mineral pode afetar o equilíbrio ambiental. E as autoridades brasileiras ainda não responderam à altura da lei sobre os danos e o processo de recuperação do meio ambiente causado pela empresa responsável pelos resíduos de mineração que vitimaram pessoas, animais, plantas, o rio, tendo como percurso terras de Minas Gerais e do Espírito Santo.

A exploração tutelada pelo Governo Federal das terras da RENCA abre uma preocupação sem precedentes sobre o futuro da Amazônia. A Amazônia é o maior de todos os biomas brasileiros e, apesar de avanços do desmatamento e de queimadas detectadas pelos estudos de imagens de satélite, ela ainda é o ecossistema mais preservado do Brasil. A Floresta Atlântica e o Cerrado já atingiram a categoria de Hotspots Mundiais (áreas de grande relevância em termos de biodiversidade e que já perderam mais de 50% da sua composição original).

Neste post escolhi algumas imagens do relatório da WWF com alguns dos mais recentes seres vivos conhecidos pela ciência e que, mal conhecidos, já correm risco iminente de desaparecerem junto com boa parte da Floresta Amazônica.

Roguemos para que os políticos se identifiquem com a máxima de que não comemos dinheiro e o futuro dos nossos filhos depende da preservação do meio ambiente.

Afrânio Fernandes

Na semana passada perdemos um grande expoente da Botânica brasileira: faleceu aos 90 anos o Engenheiro Agrônomo Afrânio Gomes Fernandes. Talvez aqui no Piauí pouco tenha se falado sobre o nome do Prof. Afrânio, mas apesar de ser cearense, ele foi um dos mais importantes botânicos a estudar a Flora do Piauí.

Afrânio Fernandes era um taxonomista de mão cheia. Para quem não sabe os taxonomistas são os cientistas que estudam a descrição e a identificação dos seres vivos. Neste caso ele trabalhava principalmente com a família de plantas das Leguminosas (que possui espécies bastante conhecidas nossas como o feijão, a soja, a fava, o amendoim e muitas outras). Da sua lavra, foram descritas 17 novas espécies de plantas para a ciência. Ele também foi um dos fitogeógrafos mais importantes do Brasil.

Fez várias excursões pelo interior do Piauí, seja de natureza científica, como a primeira expedição ao local que hoje está instalado o Parque Nacional da Serra das Confusões, nos anos 1970; seja de natureza técnica, em estudos de impactos ambientais como o que tive a honra de acompanhá-lo em 1998 para a região de Oeiras e Simplício Mendes, quando estudávamos os impactos da barragem sobre o rio Salinas, naquela região.

Afrânio era o mais piauiense dos botânicos nascidos em outros lugares. Sua importância não foi somente em identificar plantas daqui, mas em fazer também considerações importantes sobre outros grandes botânicos que aqui estiveram nos séculos passados e ajudaram a compor a riqueza de informações da flora do nosso estado, que ainda hoje carece de mais informações. Lembro que em nossas conversas no sertão de Oeiras ele me falou da emoção de estar na mesma trilha percorrida pelo botânico Von Martius, que passou pelo Piauí em 1819.

Afrânio era Doutor Honoris Causa pela UFPI e deixa um legado para além dos seus conhecimentos amplos sobre botânica e fitogeografia. Deixa, sobretudo, saudades.

Vá em paz grande Mestre, identificar as plantinhas dos jardins do Criador...

Coevolução pode explicar transmissão do Zika vírus pela muriçoca

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Desde o início do mês de Agosto circula no meio científico o burburinho de que a nossa popular muriçoca (inseto do gênero Culex) pode ser um dos vetores de transmissão do vírus da Zika. Atualmente sua transmissão é devida apenas ao Aedes aegypti que também transmite os vírus causadores da Dengue e da Febre Chikungunya.

O Zika vírus foi descoberto em 1947 como patogênico em macacos na Floresta de Zika, em Uganda, África. Sua manifestação em humanos foi relatada ainda da década de 1950 na Nigéria. Em 2015 o vírus foi identificado em pacientes brasileiros e o que mais causou preocupação foi a coincidência entre sua epidemia e o aparecimento de muitos casos de bebês nascendo com microcefalia. Os sintomas da Zika são dores musculares e articulares, conjuntivite, febre e dermatite. Embora incômoda, a doença não é considerada grave. O relacionamento com os casos de microcefalia levou as autoridades mundiais a se preocuparem muito com a expansão do vírus, em função dos efeitos devastadores da microcefalia nas crianças.

A transmissão do Zika vírus feita pelo Aedes já é muito preocupante, tendo em vista a incapacidade das autoridades em saúde brasileiras em conter o avanço deste mosquito como vetor, que tem um viés relacionado a questões ambientais, sociais e educacionais. Agora imaginem se forem confirmadas as relações entre o vírus e a nossa muriçoca?

Os parasitas (no caso aqui o vírus) estabelecem uma relação evolutiva com o hospedeiro (no caso aqui o mosquito). É necessário que existam condições proporcionadas pelo hospedeiro que favoreçam a sobrevivência do parasita. Estas condições decorrem de um longo tempo de relacionamento ou tentativas de relacionamento entre os dois. O que a pesquisa identificou foi a presença de Zika vírus em células das glândulas salivares e das paredes intestinais em três amostras de mosquitos: duas amostras de Aedes (uma de exemplares infectados e coletados em Recife e outra coletada em Fernando de Noronha) e em uma amostra de Culex. Os resultados contradizem outras pesquisas que investigavam as mesmas possibilidades. Mas seria possível esta situação (um novo vetor para o vírus) mudar com o tempo? A resposta é sim.

A capacidade de ajuste que as espécies apresentam na natureza é grande e não se direciona de modo racional (como o homem pensa ou planeja). A evolução, tanto da espécie de vírus, quanto da espécie de mosquito pode, com passar do tempo, convergir para o mesmo ponto. O que pode acontecer é que, de repente, condições orgânicas do mosquito, enquanto hospedeiro, favoreçam a sobrevivência do vírus em seu organismo. Só o tempo será capaz de dizer isto. Este fenômeno se chama Coevolução.

Seria terrível se as muriçocas se juntassem aos Aedes na disseminação de mais este agente patogênico. Em tempo: nas regiões tropicais as muriçocas transmitem o verme responsável pela Elefantíase.

Se quiser ler o artigo clique em https://www.nature.com/emi/journal/v6/n8/pdf/emi201759a.pdf

 

Cientistas criam técnica capaz de corrigir mutações ou modificar características

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A herança de características genéticas às vezes é um peso que precisamos suportar e que provoca desgastes cotidianamente. Quando estou na farmácia adquirindo meu estoque de medicamentos que compensam doenças hereditárias (duas cardiopatias e uma doença metabólica) sou interpelado pelo atendente e invariavelmente respondo: preferia ter herdado uma casa na praia! O que provoca risos, mas levanta o insuspeito desejo de que tudo poderia ser bem diferente, de fato.

A ciência genética vem evoluindo para um ponto em que logo será possível fazer uma seleção mais ampla de genes causadores de anomalias genéticas evitando doenças de cunho hereditário que, combinadas com o estilo de vida, são epidêmicas em todo o planeta.

O avanço mais recente sobre a possibilidade de corrigir genes causadores de doenças hereditárias em embriões foi publicado este mês na revista britânica Nature. A descoberta de pesquisadores de universidades dos EUA, Coreia do Sul e China está no artigo intitulado “Correction of a pathogenic gene mutation in human embryos” (Correção de uma mutação em gene patogênico em embriões humanos, em tradução livre) e se refere ao desenvolvimento de uma técnica chamada CRISPR-Cas9 usada para simplesmente editar o gene MYBPC3, mutação gênica responsável pelo desenvolvimento tardio de doença cardíaca.

O experimento gerou embriões livres do gene defeituoso. O desenvolvimento da técnica abre a perspectiva para uso futuro, de forma segura, no processo de conceder ao embrião que se livre de doenças hereditárias. É muito cedo pensarmos em pessoas totalmente saudáveis e livres de doenças hereditárias graves, mas a descoberta joga luz sobre o assunto ao mesmo tempo em que traz uma polêmica que reacende o pensamento eugenista.

A eugenia foi defendida no final do século XIX, início do século XX por alguns pesquisadores da área de Genética como o inglês Francis Galton e ganhou força na época do nazismo, sob os auspícios de um ditador sanguinário que desencadeou o maior genocídio da história da humanidade, buscando, entre outras razões o estabelecimento da raça ariana.

O dilema é que a correção ou a edição de genes defeituosos, capazes de gerar doenças, pode suscitar a ideia de se corrigir caracteres levando em consideração os subjetivos critérios da beleza. Uma pele mais clara, cabelos mais lisos ou íris azulada podem estar entre os caracteres a serem corrigidos usando a técnica. E é aí onde mora o perigo de se atropelarem normas bioéticas.

Depois de assistir o lamentável incidente de Charlottesville (EUA) e os ataques de fúria nas redes sociais contra a Miss Brasil 2017 tenho minhas dúvidas se a humanidade está preparada para usufruir este tipo de ferramenta.

Se quiser ler o artigo clique em https://www.nature.com/nature/journal/v548/n7668/pdf/nature23305.pdf

Espécie de vespa do Cerrado guarda o segredo da destruição das Superbactérias

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O veneno produzido por uma vespa que vive no Cerrado brasileiro se revelou uma importante arma contra as chamadas superbactérias. Pesquisa conduzida pela pesquisadora brasileira Marisa Rangel identificou um peptídeo (fração menor do que uma proteína) extraído da vespa Polybia dimorpha com grande capacidade de destruir a parede celular de bactérias.

A substância, batizada de Polydim-1, em homenagem à vespa, age assim: no momento que a substância entra em contato com a parede celular da bactéria uma reação provoca a severa destruição da parede levando a um dano mortal à bactéria. O artigo com a descoberta foi publicado na Revista Plos One e os testes já vem sendo feitos em várias instituições de pesquisa como o Instituto Butantan, Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Uma descoberta como esta ajuda a alimentar as preocupações com o processo de degradação de áreas do Cerrado. Os Cerrados brasileiros são vistos como a última fronteira agrícola do Brasil, especialmente na região que ficou conhecida como MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que ainda mantém um grau razoável de preservação. Com o avanço da atividade agrícola muitas destas potencialidades ainda não descobertas podem desaparecer antes mesmo de serem conhecidas.

A degradação da vegetação leva junto a extinção de animais. Plantas e animais resguardam informações que a ciência não teve ainda como alcançar, dado o descompasso entre o processo de avanço do conhecimento científico e a degradação do meio ambiente.

É preciso ficar muito atento a esta relação (descobertas científicas X degradação ambiental).

Quer saber mais sobre o assunto, clique: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0178785#references 

Como a floresta fóssil se formou?

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Desde domingo passado tenho recebido algumas perguntas sobre nossa Floresta Fóssil. Algumas pessoas perguntaram, por curiosidade, informações sobre sua formação, origem etc. Vamos esclarecer com base em algumas perguntas.

O que a Floresta Fóssil tem de raro?

Primeiro aspecto importante: fósseis de plantas são mais raros do que de animais. Isso é fácil de compreender. Nós animais já apresentamos várias partes do nosso corpo mineralizadas. Dentes, ossos, carapaças, conchas são partes presentes nos animais que possuem minerais na sua estrutura. Especialmente substâncias a base de Cálcio como o Fosfato de Cálcio e o Carbonato de Cálcio. As plantas, em geral não apresentam partes com tanta concentração de minerais como os animais. Em geral, a maior parte dos constituintes de uma planta são compostos orgânicos. Assim, fósseis de plantas são bem mais difíceis de serem formados, porque as plantas são mais fáceis de passarem por processos de decomposição.

O que faz da floresta fóssil de Teresina uma das mais raras no mundo?

A cena é muito comum. Onde encontramos troncos fossilizados, estes, normalmente, são encontrados rolados. É como se antes do processo de fossilização ter iniciado, um evento cataclísmico derrubou a floresta. Aí um fenômeno natural deu início ao processo de fossilização das plantas. Em todos os lugares onde são encontrados fósseis de plantas na forma de troncos percebe-se que estes estão rolados. Na Floresta de Teresina os troncos tem uma particularidade: foram fossilizados em posição de vida. Até bem pouco tempos atrás apenas aqui e no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, era possível visualizar fósseis em posição de vida. Recentemente foi encontrada uma floresta petrificada na cidade de Filadélfia, Estado do Tocantins com alguns troncos, aparentemente, em posição de vida.

Como os fósseis foram formados?

Os fósseis se formam quando não há a decomposição do ser vivo que o antecede. A decomposição é a ação de transformação do material vivo que passa por reações executadas pelos microorganismos (fungos e bactérias) na presença de oxigênio. Quando o ser vivo morre e é soterrado bruscamente, sem que se acumule oxigênio no seu entorno, o processo de decomposição fica prejudicado. Com o passar do tempo, compostos minerais vão, gradativamente, substituindo as estruturas antes vivas, que vão funcionando como moldes. A pressão exercida pelo soterramento proporciona, por exemplo, a permineralização, um dos processos de fossilização. O tempo vai passando e o organismo vai, literalmente, se transformando em rocha. Quando o processo é concluído, tem-se a formação do fóssil.

Como é possível calcular a idade de um fóssil?

Os fósseis são calculados através do uso de radioisótopos, cuja a meia-vida é conhecida. Vou explicar. Alguns dos elementos que nos constituem apresentam versões ligeiramente diferenciadas. Por exemplo o carbono. O carbono apresenta número atômico 12 (possui 12 elétrons na sua eletrosfera). Mas existe o Carbono-14 (que tem dois elétrons a mais). Um carbono 14 pode se transformar em um carbono 12, demandando um tempo, chamado de Meia-Vida. A Meia-Vida do Carbono é de 5.730 anos. A grosso modo podemos dizer que se um organismo vivo tiver 10 gramas de Carbono 14 e encontrarmos um fóssil daquela mesma espécie com apenas 5 gramas de Carbono 14, significa que aquele fóssil tem 5.730 anos, aproximadamente, pois a Meia-Vida é o tempo que leva para uma determinada quantidade de um determinado elemento diminuir sua quantidade pela metade. No caso da formação Pedra de Fogo, onde se encontra a Floresta Fóssil, o método utilizado para determinar sua idade não pode ser o Carbono 14, pois sua idade está na escala de milhões de anos. Para medições de rochas na escala de milhões de anos são utilizados métodos como Potássio 40 – Argônio 40 ou Urânio 238 – Chumbo 206, entre outros.

Além do registro de plantas que não existem mais, mas foram imortalizadas na forma de troncos fósseis, a Floresta Fóssil de Teresina registra traços do ambiente antigo no qual estes organismos viviam (o Paleoambiente). Na época em que a floresta estava viva o que existia era uma floresta úmida ambiente rico em lagoas. Os continentes ainda estavam ligados entre si. Ao invés da América, as placas tectônicas ainda estavam fundidas formando o grande continente do passado chamado Pangea.

As coisas mudaram muito de lá pra cá. Isto mais do que justifica que este patrimônio seja preservado.

Reforma do Ensino Médio

Quando a reforma do Ensino Médio foi anunciada na forma de medida provisória fiz alguns comentários em redes sociais que culminaram com o pedido de alguns amigos em escrever um artigo mais esclarecedor sobre o assunto. Escrevi e foi publicado em outubro de 2016 em um jornal de grande circulação o artigo Ensino Médio: a reforma exclusiva, onde levantei alguns aspectos da reforma proposta na época, ainda no formato de Medida Provisória.

Passados quase um ano da publicação toco novamente no tema, com o pensamento focado nas mesmas premissas que me moveram no artigo anterior: qual será o resultado prático desta reforma?

É do conhecimento de todos os atores que lidam com a educação de que a reforma do ensino médio já estava mais do que passando da hora de acontecer. O Ensino Médio no Brasil nunca disse a que veio. Na verdade, trata-se de uma etapa da educação formal que em tese poderia qualificar o estudante para o trabalho ou para a passagem para a etapa seguinte, da formação em nível superior e o que acontece na prática? Nem uma coisa e nem outra.

Na reforma já definida legalmente a ideia é oferecer para os estudantes itinerários formativos que combinem as aptidões de cada estudante com as possibilidades de engajamento na carreira universitária ou no mercado de trabalho. Os itinerários são bem similares às áreas de conhecimento já utilizadas para estruturação do Exame Nacional de Ensino Médio, o ENEM: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas, acrescidas do itinerário relacionado à educação profissional. A reforma é necessária, o foco interessante, mas a prática não parece ser exequível ao ponto de que a reforma realmente atinja tais propósitos.

O Governo Federal desenvolve uma campanha de mídia respondendo dúvidas dos estudantes e falando do que vai acontecer. A propaganda principal é assim: os atores se reúnem num ambiente de rua ou praça onde os que atuam como “alunos” tiram dúvidas com um outro ator que representa o “governo” tirando estas dúvidas. O tirador de dúvidas coloca que a partir da reforma cada estudante vai poder escolher o que quer estudar. Que não precisa escolher a profissão, mas que precisa escolher qual o itinerário que deseja seguir. Até aí tudo maravilhoso. Para quem vive num grande centro urbano, parece uma perfeição. De repente, ao optar por um itinerário formativo que não existe na escola do seu bairro, o estudante pode procurar outra escola e tá tudo resolvido. Mas uma pergunta não quer calar: e nos municípios que só tem uma escola de ensino médio? O estudante vai escolher o que?

É preciso olhar a questão nas entrelinhas. A reforma, como apresentada na mídia, lembra obra de ficção, pois na grande maioria das escolas do Brasil não chegará nem perto de acontecer como nas mídias oficiais.

Muitas escolas já se preocupam com o “como vai ser”. Mas todo o planejamento de como devem se desenvolver as mudanças dependem da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio que ainda está sendo montada (recebeu contribuição de vários segmentos, mas ainda não está em vigor). A BNCC é que vai dizer o que será obrigatório e o que a escola pode oferecer como diferencial para seus estudantes. Após a divulgação da BNCC caberá aos Conselhos Estaduais a regulamentação de como as escolas devem organizar os itinerários a serem ofertados aos seus estudantes.

Na condição de professor e operador da educação torço para que se se encontre um modelo que resulte em ganhos para a educação brasileira.

Floresta fóssil de Teresina: o tempo não pára (II)

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Teresina está assentada sobre a Formação Geológica Pedra de Fogo. Esta é uma das existentes na Bacia do Rio Parnaíba. A formação tem idade permiana (entre 298 e 250 milhões antes do presente). A bacia se estende por várias áreas próximas de Teresina, como Timon (MA) e municípios antes considerados território da Capital, como Nazária, Demerval Lobão, Beneditinos e Monsenhor Gil, todos no Piauí.

Nesta formação, além da Floresta Fóssil comentada no post anterior, são encontradas também outras evidências de seres vivos como Estromatólitos (aglomerados registrados em rochas com resquícios de microorganismos que viveram no passado), esteiras algálicas (formadas por algas, organismos típicos de ambiente marinhos), peixes, anfíbios e répteis.

Em 2015 foi publicado na revista britânica Nature artigo de pesquisadores liderados pelo professor da Universidade Federal do Piauí, Juan Cisneros, contando mais uma novidade da Formação Pedra de Fogo. Foram encontrados fósseis de três anfíbios e um réptil da época do Permiano. As prospecções dos fósseis foram feitas na cidade de Timon (MA), Nazária e Monsenhor Gil (PI).

A investigação permitiu que se descobrisse que dois dos fósseis animais encontrados são completamente novos para a ciência. A equipe inclusive utilizou nomes com base na localização dos fósseis. Um deles o Timonya anneae, em homenagem ao município de Timon, onde foi encontrado e o outro Procuhy nazariensis, aludindo à Formação Pedra de Fogo (em linguagem Timbira, Prôt = sapo e cuhy = fogo, ‘sapo da formação pedra de fogo’) e nazariensis em referência ao município de Nazária.

O fóssil do outro anfíbio encontrado não permitiu uma identificação (se era uma nova espécie ou uma espécie já conhecida) e o fóssil do réptil foi identificado como Captorhinus aguti, uma espécie já conhecida da comunidade científica.

Os quatro fósseis são pertencentes a espécies que viviam em ambiente lacustre (lagoas) e foram conservados em rochas em três áreas da formação Pedra de Fogo. No artigo os autores chamam a atenção para o baixo interesse despertado por pesquisadores para a fauna de tetrápodes (animais de quatro patas) encontrados nesta formação geológica ao longo dos últimos 50 anos.

Vê-se que além da floresta fóssil outras riquezas também precisam ser preservadas na nossa região.

Floresta fóssil de Teresina: o tempo não pára (I)

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Teresina é uma cidade de muitas particularidades. Foi a primeira Capital planejada do Brasil. É a única Capital nordestina que não fica no litoral. E uma que talvez seja novidade para muitos: é a única Capital do mundo que possui um sítio paleontológico na sua região central.

E o que é um sítio paleontológico? Vamos por partes. A Paleontologia é a parte da Biologia que estuda os fósseis. E o que são fósseis? São seres, marcas ou partes deixadas por seres que viveram no passado e que ficaram registradas em rochas. Um sítio paleontológico reúne fósseis que contam a história de determinados seres do passado. É diferente dos sítios arqueológicos, encontrados em várias cidades do mundo como Roma, Atenas e outras. Os sítios arqueológicos resguardam locais que registram a passagem do homem. Para que o leitor entenda, os sítios paleontológicos registram resquícios de formas de vida.

É comum, ao falarmos em fósseis e paleontologia nos remetermos diretamente aos dinossauros. Os dinossauros foram seres que viveram em um passado remoto, em torno de 60 milhões de anos, antes do presente. De fato os dinos são os fósseis mais conhecidos, de uma forma geral. Mas estima-se que representam muito pouco da diversidade dos seres vivos, se considerarmos o tempo de existência da vida no nosso planeta e toda a diversidade de ambientes.

O sítio encontrado em Teresina é de uma floresta petrificada de idade Permiana. Trocando em miúdos: temos um sítio formado por exemplares de árvores que existiram em uma época muito antiga, anterior aos dinossauros. O período Permiano ocorreu entre 298 e 250 milhões de anos antes do presente. Ou seja: nossos fósseis são de uma floresta que era viva antes dos Dinossauros surgirem na Terra. E que tipo de árvores eram encontradas no local? Nesta época não existiam ainda as plantas com frutos como mangueiras, cajueiros e outras. Dominavam neste período árvores parecidas com as samambaias só que dotadas de flores, que já não existem mais desde antes dos dinossauros aparecerem nas paisagens do Planeta Terra.

A estas alturas creio que o leitor estaria se perguntando: em que museu estão estas raridades? Não estão em nenhum museu. Localizam-se às margens do rio Poti na altura dos bairros dos Noivos (margem direita) e Ilhotas (margem esquerda). Ali, pertinho do Centro, ao lado da Poticabana, existem troncos fósseis com cerca de 250 milhões de anos.

Na década de 1990 uma lei municipal criou o Parque e alguns anos depois outra lei delimitou sua área. Mais recentemente o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) encomendou um estudo e tomou algumas providências referentes à proteção do local.

O tempo está passando e precisamos da proteção deste patrimônio. Como diria o poeta: "o tempo não pára".

Nos próximos posts vou comentar mais sobre a riqueza do que temos na nossa região, em termos de valores científicos.

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