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Diversidade

Um Chamado Ecumênico e carinhoso para Defesa da Vida

Carta aberta para a vida,

Um chamado ecumênico e carinhoso para a defesa da vida

 

Otacílio Batista Netto

Emídio Matos

 

Carta aberta para a vida,

Um chamamento a responsabilidade cidadã

A minha, a sua, a individual de cada um,

A coletiva, a de todos os uns

A responsabilidade de hoje a noite

E a de amanhã de manhã, a nossa de todos os dias

Convidamos a todas as autoridades

A todos os poderes constituídos

A todas as universidades, a UFPI, a UESPI, o IFPI, a Embrapa, as particulares, seus mestres, doutores, pós-doutores

Convidamos nossos colégios, o Colégio das Irmãs, o Dom Barreto, o Diocesano, o Liceu, todos

Convidamos o mercado velho, nosssos mercados municipais,

Convidamos nossas praças, o calçadão, nossas comidas típicas

Todas as cidades do interior que aqui chegaram e chegam

Convidamos todo o povo negro e indígena,

Esperança Garcia, Mandu Ladino

Convidamos o povo do Piauí

De quem emana o poder mais legítimo, e ainda assim, mais invisível

Convidamos nossos homens e mulheres, nossos mestres

Amadeus, Tonis, Gabrieis, os cordeis dos violeiros de Teresina, os santeiros

Pedimos a benção das águas dos nossos rios Parnaíba e Poti, que se encontram aqui e não nos deixam mentir

Convidamos o mano crispim, o cabeça de cuia, num se pode,

Convidamos com máximo respeito Nossa Senhora das Dores, São Benedito, Frei Serafim, Dom Severino, Dom Avelar Brandão Vilela, o Motorista Gregório,

Convidamos os evangélicos e todos os povos de terreiros, Erês, Cosmo e Damião, pretos velhos, sacis, da Santa Maria da Codipi ao Angelim

Convidamos todos os espíritas, agnósticos, ateus

Convidamos a poesia de Torquatos, os Paulos Machados, Hgdobais, Cineas, Validuatés, Danilos, Claras, Moisés, Eevestrés, Thiagos és

Reverenciamos Abraães, Cornélios, Raimundos, o suco, o pão, o canto lírico

Convidamos os que creem na força da vida

Convidamos todos os que nasceram aqui, e os que aqui, depois chegaram

Edificaram suas vidas, seus amores, suas dores, gostando ou não de cajuína

Convidamos todos os bairros, dos vales do gavião, do avião, do vale quem tem, a quem nada tem,

Somos muitos, do povo dos palácios aos que tem como lastro, as ruas

Convidamos Amarilis, Joaquins, Amparos, Lianas, Dadás, Tatianas, Jaciras (nossa guerreira que partiu ontem-hoje)

Honremos nossos teresinenses, grandes e pequenos,

O pequeno Pedro Malta Ramos, filho de nossa colega Denise,

O grande José Ivaldo e suas lutas por tantas vidas no SAMU

Convidamos as minas e os manos

Cada vida vale

Cada vale tem muitas vidas

Na Chapada do Corisco

Onde o som e a luz é trovão e relâmpago

Toda vida é para ser bem vivida

Carta aberta a vida

Por alguns dias, os próximos dias durante esta pandemia

Onde ainda não temos a quantidade de vacina que precisamos

Os hospitais e seus trabalhadores, por mais que lutem e lutam muito,

Tem limites claros e estes limites já chegaram

Não temos muitas margens de atitudes a serem tomadas

Resssignifiquemos a luta

O que precisa ser feito nas UBSs e nas UPAs

Por algum tempo restrinjamos a nossa cidade ao que for estritamente essencial

Deixemos apenas, comida, remédio, transporte e saúde

E um pouquinho mais do que não pode faltar

Defendamos a vida, cuidemos de todas as vidas

Não paremos por parar

Não abandonemos o que não pode ser abandonado

Sejamos coletivamente responsáveis

Existamos no coletivo

Que a fome seja cuidada

Que o auxílio esteja onde for preciso

Se a ciência vale, para de algum modo melhorar nossas vidas

Se a ciência vale, para dar de algum modo mais e melhores explicações

Se a ciência pode ser cúmplice da vida

Que não se cale, pede humilde: para Teresina

Para tu

Para ele

Paremos nós, parai vós,

Parem todos

Paremos todos por um tanto de dias

E não descansemos enquanto precisarmos levar ar, remédio, comida, alento

Para todos os que precisam.

 

“Exposição Nêga Ana” na Casarão Cultural celebra mulheres e cultura regional na Rua das Flores/Amarante-PI

A Exposição Nêga Ana: cores, amores e artes amarantinas  ocupa a cena de Amarante na Casarão Cultural, Rua das Flores, para saudar  as lutas de várias mulheres com a obra da artista amarantina que nos ilumina com a força das mulheres, a prosperidade da raça negra e a diversidade cultural de Amarante. São quadros, telhas, luminárias, garrafas, jarros que dão colorido especial às paredes da Galeria que leva seu nome.

As artistas e curadoras Negro Val, Vicente de Paula e Paulo Gomes fundaram a Galeria na Casarão com o nome Nêga Ana, como forma de valorizar a trajetória da artista reconhecida pela sua sensibilidade em expressar as culturas e costumes da região. A visitação cumpre protocolos sanitários e exige distanciamento e uso de máscaras. Além da exposição também serão comercializadas peças da artista na lojinha de souvenires da Casarão Cultural.

A galeria Nega Ana, a sala de dança Sibita e o hostel Rosimary são os três principais ambientes da Casarão que levam o nome de personalidades amarantinas. A galeria foi inaugurada com a exposição “Ré-Trans-Poctiva”, uma retrospectiva das ilustrações de Vicente de Paula, jornartista (jornalista artista) que está realizando residência artística no Casarão fazendo mediação de exposições, mostras, saraus e demais ações culturais da casa. O cronograma prevê oficinas e rodas de conversa (virtuais/presenciais) com a presença de artistas teresinenses e outras localidades do Piauí e Brasil.

 

Na sala dedicada à Sibita, além de aulas de dança e teatro, estão previstas para o segundo semestre apresentações de espetáculos, performances e outros eventos balizados nos protocolos de combate à Covid-19. O hostel Rosimary contém amplo espaço com opções de refeições e roteiros turísticos que incluem rotas ecológicas e culturais da região banhada pelos rios Parnaíba, Mulato e Canindé.

Peça-chave no Casarão é o artista cênico Paulo Gomes - ator, figurinista e cenógrafo com experiência em arte drag e palhaçaria. Ele é um dos coordenadores do espaço e dá suporte técnico/estético para artistas de várias linguagens desenvolverem suas produções no Casarão. Paulo, Vicente e Negro Val formam a equipe do Casarão Cultural e compõe a experiência cênica musical As Bixanikas, promessa do carnaval virtual de 2021.

O trio de artistas busca dialogar com diferentes vulneráveis da sociedade e pautam combater violência através do debate sobre inclusão, gênero, sexualidade, raça em articulação com projetos pautados em emancipação econômica e social através de ações artísticas. Seguindo todas as medidas de segurança e saúde pública necessárias, o Casarão já realizou exposições, lives com diversos artistas, aulas abertas de dança na Rua das Flores e o festival Sankofa em parceria com o Encrespa Amarante.

*Link para imagens no Google Drive: https://drive.google.com/drive/folders/1UsJhNgUt4MzCkOBw1OEr0KKCJvcQX1rW?usp=sharing

Fotos: Vicente de Paula

**Serviço:

Funcionamento: Segunda à Sábado de 09:00 às 21:00 horas com intervalo para almoço das 13:00 às 15:00 horas.

A Casarão realiza projetos gratuitos voltados à interação da comunidade como aulões de dança, exposições, oficinas, residências artísticas e outras ações voltadas à arte e cultura popular.

***Contatos para entrevistas:

Negro Val – (86) 9 9561-5514

Paulo Gomes – (86) 9 9433-5166

Vicente de Paula – (61) 9 9293-3164

 

Festival Artes de Março: Nossas Raízes e Piauiensidade

A edição do Festival Artes de março 2021, realizado pelo Teresina Shopping, lança o desafio para segmentos artístico  tematizar  “Nossas Raízes” e ‘Piauiensidade’. A ideia é efervescer os corações e mentes dos artistas para traduzir, poetizar, exaltar a alma piauiense nas artes da escultura, fotografia, arte santeira, artes plásticas e caricatura.

Uma das obras babadeiras é “Kaapora na Pedra Furada”, da artista Lu Rebordosa. É uma discurso visual potente sobre memórias ancestrais, afetos e ReXistência. Rebordosa é Graduada é Artes Visuais e Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí.  Fez mestrado em Antropologia na mesma universidade e atualmente cursa doutorado no Programa de Pós-graduação em Educação.

O Festival Artes de Março já tem duas décadas promovendo música, dança, cinema, exposições e caldeirão cultural na cidade de Teresina.

Para votar nas obras que concorrem a premiação clique aqui ARTES DE MARÇO: NOSSAS RAÍZES

Por Herbert Medeiros

"Influenciadores Digitais colocam em circulação estilos de vida, gostos e bens culturais", analisa Psicóloga Flora Fernandes -Entrevista

A cultura digital vem passando por mudanças ao longo de seu desenvolvimento. Na década de 90 tem-se a Web 1.0: comunicação pela rede mundial de computadores marcada por internet discada e  incipiente interação entre usuários do universo virtual. No Brasil, o burburinho com mundo digital inicia em 1995 com acesso via surgimento de vários provedores e plataformas de conteúdo como UOL, BOL.

Novos tempos se anunciam com a chegada da Web 2.0: maiores fluxos informacionais, possibilidades de ampliar e intensificar interações por meio de Blogs, Mídias Sociais colaborativas, Chats. A multiplicidades de vozes subjetivas, de grupos organizados, de segmentos identitários, de sujeitos  narcisistas, todos  encontraram meios de ecoar  discursos  via produção de conteúdos   personalizados de acordo com demandas especificas. 

Neste contexto, o advento da vida digital 2.0  possibilitará à  cultura contemporânea passar por metamorfoses e processos de amplificação de   suas formas influir, organizar,  pensar e agir dentro  das relações sociais, políticas, econômicas e socioculturais. É um terreno propício para surgimento do cenário de narrativas protagonizadas pelos denominados Influenciadores Digitais.

Afinal, como compreender o papel e impactos dos discursos desses personagens urbanos na vida configurada dentro da cibercultura? Qual a responsabilidade ética dos influenciadores com Direitos Humanos? A Escola está sabendo organizar sua prática pedagógica e educativa para dialogar/refletir/problematizar  o impactos das  mídias sociais e presença significativa de Influenciadores Digitais na cultura juvenil? 

Para fazer uma reflexão provocativa sobre o tema dos Influenciadores Digitais, o blog traz entrevista com Psicóloga e pesquisadora Flora Fernandes Lima: mestra em Comunicação Social, Especialista em Psicoterapias Corporais, servidora pública municipal, atuante  na área de psicologia comunitária e hospitalar.

 

P. Do ponto de vista psicossocial, quem são os Influenciadores Digitais na era das mídias sociais?

Resp. Os blogs constituíram-se os  primeiros espaços de apropriação de construção de falas e funcionaram em sua grande parte como locais para publicar diários pessoais, páginas informativas e espaços de opinião. Cessou então a necessidade de intermediação para declarar opiniões em público e o início da possibilidade de fomento da própria visibilidade. Os antes conhecidos como blogueiros, em decorrência da origem,  passaram a partir de 2015 a ser conhecidos como influenciadores digitais devido a uma reapropriação do termo e de sua funcionalidade pelo mercado, uma vez que seu campo de influência já não mais se restringia aos blogs e sim a toda uma diversidade de mídias sociais. 

  Considera-se que os influenciadores digitais podem colocar discussões em circulação e influenciar decisões com relação ao estilo de vida, gostos e bens culturais daqueles que estão em sua rede. Alguns possuem muitas conexões com alto volume de comentários e interações e podem atuar como referências e como legitimadores de conteúdos e produtos.

 Os influenciadores produzem  conteúdos diversos: fotos, vídeos e outras práticas discursivas.  Percebe-se  uma narrativa de construção de pessoa pública que gira em torno do próprio eu. Nesse sentido, uma  cultural de exibição do eu favorece  espaço para que algumas pessoas de fato alcancem visibilidade, deixando o local de usuário comum da rede e passando a ser visualizado como uma marca e, como importante diferencial, filtram as informações que chegam aos mais variados públicos.

Apesar da distância efetiva, a presença dos influenciadores digitais é visível no cotidiano, dando uma sensação de familiaridade, proximidade e confiabilidade, não viáveis na mídia tradicional. O destaque do grupo, a distinção em meio aos demais, tem a ver com um processo de reconhecimento alcançado por meio do uso de estratégias de linguagem na construção da imagem de si mesmo e administração da própria visibilidade. São pessoas que conseguem ler e movimentar-se dentro da linguagem que é demandada e constroem narrativas a respeito de si mesmos, um “eu” passa a ser, na verdade, também um personagem.

  Estamos vivendo um momento em que se processam novas formas de construção de identidades, agora atravessadas pelas redes sociais e demais conexões virtuais, arranjo que possui cada vez mais frequente. Não seria possível falar em influenciadores digitais em uma época que não fosse a nossa por que são um fenômeno emergente nas atuais formas de organização social, econômica e tecnológica em que se apresentam – uma forma de comunicação e relação específica de nossa época.

Estamos em um momento em que a busca pela construção da imagem de si cada vez mais valorizada e sua possibilidade de ver e ser visto intensificada acarreta inclusive em mudanças na relação entre limites entre o público e o privado. Essa relação é o que inicialmente sustenta o despontar dos blogueiros, são pessoas que mostram sua intimidade.

Assim como as marcas, passam a ter também valores agregados e podem também associar-se a produtos ou idéias. É possível, além disso, nesse contexto moldar a imagem e filtrar apenas aquilo considerado conveniente. Dessa forma conseguem administrar dentro desse espaço de relações a construção de uma legitimidade, consolidada através dessas mesmas relações em interação com a imagem que constroem

 

P. Durante segunda metade do século XX até hoje, a indústria cultural produziu personalidades mitificadas pela linguagem e discursos do cinema, da TV, do mundo esportivo, do showbusiness. Eram/são celebridades representativas que representam um modo de ver e viver as relações sociolturais. Os Influenciadores Digitais contemporâneos representam/reproduzem que visão de sociedade e cultural?

Resp. As identidades são o resultado de um processo de construção interpessoal influenciado pela cultura. Não são mais, em muito por influencia da internet, restritas às referências do local onde se nasce e sim de vários elementos integrados e mesclados de várias outras culturas, em um processo denominado por autores como Garcia Canclini como “hibridização da cultura”

De certa forma, todos são possíveis consumidores dos mesmos bens, serviços e também identidades culturais. Existem, então, várias “possibilidades” de identidades a serem “vestidas” e que não necessariamente levam em consideração a história e vínculos sociais prévios, a exemplo de muitos jovens que integram elementos da cultura japonesa as suas vivências. As diferenças culturais reduzem-se e passa a haver a tendencia a uma “homogeneização cultural” uma identidade com padrões universalizantes e que gera subjetividades e formas de pensar muito similares.

 As múltiplas identidades e possibilidades também geram efeito que se traduz num impasse entre desejo por segurança e necessidade de adaptação continua rumo as novas possibilidades,  a modernidade liquida já bem conceituada por Bauman. Sob esse aspecto, faz-se importante pontuar que a razão da quantidade de identidades relaciona-se com o fluxo de consumo em que estas, e todos os bens que precisam ser consumidos para que a mesma se sustente, são valorizados.

A construção das identidades e personas reflete processos simbólicos e sociais performados através de janelas de exposição proporcionadas pela virtualidade. Os cliques, fotos de refeições, preferencias ou mesmo parcerias declaradas em influencers que “testam” produtos não são, portanto, aleatórios e traduzem um fluxo que perpassa, para além da cultura e estruturas sociais, questões que são também econômicas

O lugar adotado pelos influenciadores, que não visam um publico único e sim uma multiplicidade destes fragmentados em diversas audiências, mostra-se conforme as leituras e valores simbólicos do grupo ao qual pretende-se atingir que existem ainda, mesmo a despeito da grande tendência a homogeneização de subjetividades.

P. Como pensar o papel ético dos Influenciadores Digitais no sentido de terem responsabilidade de produzir conteúdo sem reforçar violação de Direitos Humanos de Grupos Vulneráveis?

Resp.As opiniões emitidas pelos influenciadores digitais são, em maior ou menor grau, amplificadas por meio da internet que influencia e passa também a fazer parte, quase indissociavelmente, dos processos de comunicação e, nesse sentido, acaba por influenciar também na construção das identidades.

Não é possível esquecer, no entanto, que os processos comunicativos realizados por influenciadores digitais que fazem disso sua profissão, são atividades monetizadas, ou seja, estão associadas a divulgação de produtos, idéias ou serviços em troca de pagamentos, seja através de propaganda ou parcerias. Sua credibilidade é utilizada no sentido de buscar influenciar, de forma rápida, através de sua proximidade com o público, o consumo de determinados produtos.

O influenciador utiliza sua credibilidade junto a audiência para promover sua reputação diante de um nicho específico de pessoas. A ética nesses casos deveria ser pensada com atenção ao se tentar passar credibilidade para tal produto, a fala é do sujeito ou do marketing? Pode haver uma confusão no que diz respeito a produção de sentidos e efeito de verdade daquilo que é transmitido.

Se for uma narrativa construída publicitariamente, como no caso de personalidades que afirmam que determinado produto serve para emagrecer, não fica claro para os seguidores que outros procedimentos estéticos possam ter sido aliados ao citado emagrecimento. A naturalização de padrões estéticos tidos como ideais a serem atingidos, sejam eles corporais ou de comportamento, induz a tentativa de adaptação ou mesmo marginalização de pessoas que não estejam dentro desse perfil.

 Um influenciador também pode ter como habilidade influenciar debates e inserir pautas de discussão com efeitos de verdade, sem que seja percebido que se tratam de fato de um recorte da realidade e não da tradução literal da mesma. São narrativas por vezes assumidas como verdade absoluta. Nesse sentido, alguns padrões de comportamento homogeneizante podem ser disseminados e, especialmente no atual momento social de polarizações em que estamos vivendo, ser revestidos de intolerância as diferenças.

 Além disso, a possibilidade de acesso a publicação de opiniões por todos faz com que até mesmo falas repletas de ódio e intolerância encontrem repercussões e propagadores e, nesses casos, o direito a liberdade de expressão não pode ser confundido com a disseminação de discurso de ódio.

Qual o papel da Educação Formal para dialogar e refletir sobre os impactos de Influenciadores Digitais e da cultura das redes sociais?

Resp. O ambiente online, inclusive quando utilizado como ferramenta pedagógica e que visa a construção de conhecimento, pelo menos a principio, proporciona igualdade de acesso a informações. Nesse sentido é possível produção de conteúdo por todos, e o acesso a circulação de narrativas subjetivas com perspectivas diversas, até mesmo pela parte da população considerada minoria e historicamente negligenciada em seu acesso a direitos. 

 Apesar disso, mostra-se também um ambiente ambíguo uma vez que, paralelamente ao fornecimento de vias para amplificação do discurso pela busca de direitos, conforme já mencionado, também vem nos últimos tempos também sendo cada vez mais espaço para disseminação do ódio e intolerância ao diferente.

Não se pode minimizar, no entanto, a importância desse recurso como ferramenta com potencial para aprendizagem e partilha de conteúdos que, se bem direcionados, podem servir como meio de acesso a direitos. Esse acesso indiscriminado parece precisar passar por direcionamento que pode, claro, ser construído também como habilidade através da educação formal no trabalho para adicionar senso crítico e valores humanitários aos novos modelos de comunicação que se apresentam.

A convivência com a diversidade, possível nesse ambiente, traz oportunidade para o desenvolvimento de uma noção de alteridade e multiplicidade de diálogos, bem como construção coletiva de identidades através do reconhecimento, aceitação e convivência de diferentes formas de existir e se portar no mundo.

"Depressão é sofrimento compatível com Neoliberalismo" afirma Pscanalista Christian Dunker

Em entrevista, psicanalista e professor da USP Christian Dunker fala sobre o contexto atual da doença que é tema de seu novo livro, "Uma Biografia da Depressão", e que atinge 5,8% dos brasileiros.

A depressão é um problema sério no Brasil. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença afeta 5,8% da população, um índice maior do que a média mundial (de 4,4%). Nas Américas, o país só fica atrás dos Estados Unidos, com 5,9%.

De olho nesse fenômeno, o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto e Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) resolveu esmiuçar as origens, a história e o contexto atual da depressão.

Ele encontrou diversas explicações contemporâneas para o agravamento do transtorno: dos discursos neoliberais de meritocracia — em que sucesso e fracasso tendem a ser individualizados — à crise dos últimos anos em que os horizontes prometidos deixaram de ser cumpridos. Deparou-se também com questões como a ascensão do neopentecostalismo, com igrejas vendendo a ideia de prosperidade. E transformou isso no livro Uma Biografia da Depressão, lançado em fevereiro pela Editora Planeta.

Dunker concorda que as redes sociais contribuem para, ao expor imagens e histórias perfeitas, agravar a depressão. Mas reconhece também o seu papel positivo. "Não devemos demonizar as redes sociais. Porque elas estão fornecendo práticas de reconexão de contato e de narrativização de sofrimento, isso tudo está disponível", diz ele.

DW Brasil: Segundo a OMS, 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão, um índice maior do que a média mundial (de 4,4%). Nas Américas, só perdemos para os Estados Unidos, com 5,9%. A que pode ser atribuído isso?

 

Christian Dunker: De fato, o Brasil tem a maior taxa da América Latina. É também preocupante porque se trata de uma taxa crescente, se pegarmos estudos comparativos da OPAS [Organização Pan-Americana da Saúde] e da OMS. Isso se associa com o alto índice de ansiedade, especialmente nas grandes metrópoles. Podemos atribuir isso a pelo menos quatro fatores. Primeiro, a forma como as transformações da vida laboral aconteceram no Brasil de dez anos para cá, interrompendo um ciclo de alta mobilidade social — com muitas pessoas passando da pobreza para a classe média, ou da condição de miseráveis para a condição de pobres. [Essa ascensão] projetou uma perspectiva de continuidade de crescimento, o que não se revelou. A ideia de criar novos horizontes e, depois, vê-los decepcionados concorre para a experiência da depressão.

O segundo fator está ligado aos modos de criação e a compreensão da família brasileira. A família brasileira deixou de ser ou está mudando seu lugar social. Cada vez menos funciona como um lugar de reserva para conflitos sociais, tanto porque houve uma politização intensa nos últimos cinco anos, como porque emergiu uma nova forma de religiosidade, como o neopentecostalismo de resultados, que estimula fortemente a orientação para o sucesso.

Outro fator é que o Brasil se tornou rapidamente um consumidor pesado de plataformas de redes sociais, o que está associado com o aumento do sentimento de solidão, com certas crises narcísicas, especialmente com o reconhecimento um pouco deformado das diferenças sociais que a gente tem no país. O último elemento, mais histórico, é que o Brasil é um dos países que têm a pior distribuição de renda, não só [do ponto de vista] financeiro, mas também cultural e social. Essa grande desigualdade social, demonstrada pelos péssimos índices [sociais], ela depende de narrativas para ser suturada — da narrativa do mérito, da educação como elemento de prosperidade para as pessoas... Isso foi seriamente abalado, nos últimos cinco anos.

 

Podemos dizer que a depressão é a grande doença do mundo contemporâneo?

Dá para dizer, sim. É a grande doença do século 20, não sei se do século 21. […] Não é um fenômeno brasileiro. A depressão é a forma de sofrimento compatível com o neoliberalismo. Começa a prosperar nos anos 70, com a implantação prática das ideias da escola de Chicago, e bom, com a ideia de uma autoavaliação permanente, da individualização dos fracassos, da excessiva idealização sobre resultados e sobre si mesmo. A ideia de que a produtividade é fator fundamental na apreciação da vida pelo próprio indivíduo e de que as vidas devem ser apreciadas, entendidas e interpretadas como se o eu fosse uma empresa. Tudo isso concorre para a variedade de depressões que a gente vai ter.

Depressão tem cura?

Um dos problemas é que a gente tende a achar que ela é um único transtorno. Olhando de perto para o DSM [como é conhecido o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, por causa da sigla em inglês], são 17 formas de depressão descritas, muito mal descritas. Então é uma doença? Tem cura? Depende de qual. E depende de qual o conceito de cura que a gente está mobilizando aqui. Mas, sim, depressão tem tratamento, muitas vezes não é um tratamento rápido, não é um tratamento de resposta inicial. Existem muitas formas de depressão, mas pensando numa resposta mais unificada, em geral é muito bem-vinda a combinação entre  medicação e psicoterapia, além de alguma prática de revinculação social, uma prática de transformação na relação do corpo com os prazeres.

Como reconhecer um quadro depressivo?

Tem alguns sinais. O principal é a anedonia, a perda de satisfação com as coisas, com o outro, portanto um certo recuo do estar junto com o outro. A pessoa não quer sair de casa, não quer ver os amigos, a família, tem alteração de sono, de alimentação, de libido. […] Tristeza, recolhimento do humor, uma hora estar chorando e na outra muito alegre… Tudo isso pode comportar o quadro depressivo.

Segundo a OMS, em 2030 a depressão deve se tornar a doença mais comum no mundo. A que podemos atribuir isso?

Isso pode ser atribuído a uma espécie de alargamento dos critérios diagnósticos, à compatibilidade da depressão com o modo neoliberal de produção e o modo digital de vinculação com os outros, especialmente aquele que despersonaliza a relação.

As pessoas tendem a ficar mais deprimidas em um mundo de super-exposição nas redes sociais e onde impera um discurso quase de felicidade obrigatória? Como evitar cair nesse paradigma?

Não devemos demonizar as redes sociais. Porque elas estão fornecendo práticas de reconexão de contato e de narrativização de sofrimento, isso tudo está disponível. Mas o nosso funcionamento em bolha, em lacração, em negacionismo, em redução do tamanho do mundo e, portanto, redução da diversidade […], à medida que você cria uma realidade artificial excluindo isso você se fragiliza para os transtornos mentais em geral, e a depressão em particular. Uma dica importante é aumentar o tamanho do seu mundo digital e tentar reduzir a expansão do narcisismo do eu, do tamanho do eu, as idealizações, as histórias maravilhosas, os roteiros de sucessos, os coachs de resultados extraordinários. Isso tudo faz mal.

 

Fonte: DW Brasil 

Cultura do Cancelamento e consequência Sociojurídicas

A cultura do cancelamento tem sintomas  de relações humanas interpressoais e sociais  deterioradas e inflamadas  por discursos de ódio, vingança e silenciamento  dentro do tribunal inquisitorial das redes digitais. Ao mesmo tempo que cultura digital pode representar espaço de  possibilidades de intercâmbios, aprendizagens, compartilhamento de saberes, articulação de lutas, também tem se mostrado lugar para ecoar ressentimentos e linchamento virtual com implicações na vida off-line. 

Em entrevista ao programa“Tá na Rede”, do Jornal O Dia, o estudioso sobre Direito do Entretenimento, José Estevam Macedo Lima,  analisa o tema a partir da perspectiva sociojurídica e como a cultura do cancelamento representa movimento de exclusão e violência, sendo a “conduta de cancelamento pode se enquadrar em um dos tipos penais, na maioria das vezes acaba se enquadrando nos crimes contra honra”.

O especialista aponta ainda o fato de que Liberdade Expressão é uma clausula pétrea da Constituição Brasileira, no entanto, a mesma Carta Constitucional prevê limites quando liberdade de expressão e opinião viola a honra, a vida privada, a intimidade e a imagem.

José Estevam também alerta para o cuidado que pessoa públicas e comuns precisam ter a cerda com o  impulsionamento das mensagem de ódios e como agir em tais situações extremas para proteger sua reputação,  Direito à Vida e  Privacidade.

Para ver todas as análises e reflexões da Entrevista sobre Cultura do Cancelamento e efeitos jurídicos, CLIQUE AQUI

Por Herbert Medeiros

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